sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Morangos Com Açúcar - 2.ª série (2004-2005)

por Paulo Neto




Quando em 2003, a TVI lançou "Morangos Com Açúcar", uma telenovela destinada ao público adolescente, o sucesso foi imediato e a estação apercebeu-se que tinha aí um enorme filão. Por isso, a fasquia estava alta para a segunda temporada mas foi uma aposta ganha, ao ponto de muitos fãs considerarem esta como a sua temporada preferida. A segunda temporada regular de "Morangos Com Açúcar" estreou a 18 de Outubro de 2004, com um elenco de jovens actores (muitos deles viriam a dar cartas na teledramaturgia nacional nos anos vindouros) apoiado por actores mais experientes. Alguns actores da primeira temporada regular e da respectiva temporada de Verão transitaram para esta como foi o caso de Rodrigo Saraiva (Rafa), Guilherme Filipe (Professor Sapinho), Tiago Aldeia (Rodas), Diogo Martins (Dani) e Núria Real (Patrícia). Já outros apareceram somente nos episódios iniciais, como foi o caso do casal protagonista da primeira temporada, Pipo e Joana (João Catarré e Benedita Pereira). Houve ainda o caso de uma personagem que levou um reset: Mitó, uma personagem interpretada por Ana Guiomar na temporada de Verão, ganhou um novo nome e outro rumo.

Simão (Pedro Teixeira) e Ana Luísa (Cláudia Vieira)


Nesta temporada, o casal protagonista foi desempenhado por Pedro Teixeira e Cláudia Vieira, nos papéis de Simão Navarro e Ana Luísa Rochinha e foi sem dúvida um dos principais trunfos da segunda temporada, até porque como se sabe, a química entre os dois actores não tardou a transpor para a vida real e que esteve bem patente no romance tipo "Romeu e Julieta" que as personagens viviam.   
Ana Luísa e Simão conhecem-se durante uma prova de motocrosse e mais tarde reencontram-se no início de um novo ano lectivo no Colégio da Barra, onde graças a uma iniciativa de Filipe "Pipo" Gomes (que tinha terminado a temporada anterior como dono do colégio), é criado um programa de bolsas para que alunos mais economicamente desfavorecidos, como é o caso de Ana Luísa e dos seus três irmãos, Soraia (Rita Pereira), Tojó (Diogo Valsassina) e Gongas (Gabriel Cândido). Os quatro são filhos de Júlia (Maria D'Aires) e Artur (Carlos Areia), uma família que apesar de várias privações e desaguisados, é uma família feliz.
O mesmo não se pode dizer de Simão já que ele e a sua irmã Marta (Ana Guiomar) vivem em permanente conflito com o pai, o Tenente José Luís Navarro (Carlos Mendes), um homem frio e severo que tenta controlar ao máximo a vida dos filhos. Tudo só piorou quando José Luís casou com Vanda (Joana Seixas), uma mulher interesseira e dissimulada, que os enteados detestam.

Rodas (Tiago Aldeia) e Marta (Ana Guiomar)
Lola (Joana Borja) e Tojó (Diogo Valsassina)
Artur (Carlos Areia)
Vanda (Joana Seixas) e Carlota (Mafalda Pinto)

Como se não bastassem as diferenças sociais, no colégio não tarda a surgir um conflito entre os antigos alunos privilegiados que não se conformam em ter de conviver com alunos mais pobres no colégio e os novos alunos que pretendem acabar com a primazia dos mais ricos, deixando Simão e Ana Luísa em lados diferentes da barricada. Do lado dos pobres, ou os dreads, estão os melhores amigos de Ana Luísa, Xana (Marta Melro), Zé Milho (Vítor Fonseca), Topê (Paulo Vintém) e Ruca (Edmundo Vieira) que claro está, não vêem com bons olhos o interesse dela por Simão. No lado dos mais ricos, ou os betos, estão o melhor amigo de Simão, Henrique (Hélio Pestana) - que se vai revelar um amigo da onça - e Carlota (Mafalda Pinto), com quem Simão namora intermitentemente e que depressa vê em Ana Luísa um alvo a abater. Até porque cedo se descobre que apesar das aparências, Carlota não é rica e vive humildemente com a avó Prazeres (Catarina Avelar) e os irmãos Miguel (David Persone) e Caty (Melanie Santos) e pretende manter-se como a namorada de Simão para subir na vida, ao mesmo que se faz amiga da ingénua Inês (Ana Rita Tristão), prometendo-lhe um arranjinho com Henrique. Quando a sua prima Vitalina ou Vicky (Rita Viegas) também ganha uma bolsa para estudar no Colégio, Carlota fica embaraçada pelos modos provincianos dela mas inesperadamente Vicky acaba por se tornar bastante popular devido ao seu talento para cantar.
Além de Vicky, também Topê, Ruca e Zé Milho fazem furor na música, juntando-se a David (Angélico Vieira), o jovem tio de Patrícia, para formar uma boyband chamada D'ZRT - cujo sucesso, como é bem sabido, passou da novela para a realidade. 

Xana (Marta Melro) e Rafa (Rodrigo Saraiva)

ToPê (Paulo Vintém), David (Angélico Vieira),
Ruca (Edmundo Vieira) e Zé Milho (Vítor Fonseca)

Vicky (Rita Viegas) e TóPê (Paulo Vintém) 



Enquanto a irmã é bondosa, batalhadora e humilde, Soraia é o oposto, lamentando-se de ser pobre e procurando as coisas pelo caminho mais fácil, como por exemplo entrar em negócios sujos e tentar seduzir o professor Nuno (Carlos Vieira) para subir as notas, num mal-entendido que quase compromete a relação do docente com Madalena (Dalila Carmo). Já Tójó é algo tímido com o sexo oposto - o que até faz o pai, num acesso de machismo, desconfiar que ele é gay - mas com o tempo vai ter romances com Caty e Lola (Joana Borja), prima de Patrícia e sobrinha de David, acabado a namorar com Marta (em mais um caso de um romance que passou para vida real entre Diogo Valsassina e Ana Guiomar, e que é o único que perdura até hoje). Antes de Tójó, Marta envolve-se com Rodas. Por seu turno, Gongas rapidamente torna-se amigo de Dani, Susana e Patrícia.

Soraia (Rita Pereira)



Henrique (Hélio Pestana)

Inês (Ana Rita Tristão) e Zulu (António Lima)


Com o avançar da trama, descobre-se que Vanda não é mesmo flor que se cheire, pois não só está envolvida em contrabando de motos (chegando a planear um assalto à garagem dos Rochinha para roubar o protótipo de mota desenhado por Artur que resulta na morte de Júlia) como trai o marido com Henrique, o amigo do enteado.

João (Raúl Abrantes) e Sofia (Joana Nunes)
Carmo (Cláudia Cadima) e Mário (Paulo Matos)

Henrique é o mais velho de três filhos de Mário (Paulo Matos) e Carmo (Cláudia Cadima), que vivem em permanente discussão embora no fundo os dois ainda gostem um do outro e não têm coragem para se separar. Os outros filhos são João (Raúl Abrantes), o típico nerd caixa-de-óculos que namora com Sofia (Joana Nunes), e Mafalda (Marta Remos) que também se junta ao grupo de amigos de Gongas. Entretanto, Carmo descobre que está grávida do quarto filho e no final da temporada dá a luz uma menina chamada Raquel, que selará a reconciliação definitiva entre os seus pais.       

Bárbara (Patrícia Tavares) e David (Angélico Vieira)

Entre os novos professores, destaca-se a história de Bárbara (Patrícia Tavares), a nova professora de Educação Física e uma jovem mãe solteira que esconde um segredo: o seu filho é fruto de uma relação que teve com Hugo (Afonso Pimentel), um aluno da sua escola anterior. Para piorar as coisas, Bárbara acabará por se envolver com David.
Também me recordo que a certa altura, o professor Sapinho consegue realizar o seu sonho e tornar-se dono do Colégio, obrigando os alunos a usar uniforme e seguir as suas regras estritas e absurdas.

Simão (Pedro Teixeira) e Maria (Dânia Neto)
Liliana (Maria Sampaio)


Numa fase mais avançada da trama, o romance de Ana Luísa e Simão sofre a sua maior ameaça quando surge um vértice para um triângulo amoroso em Maria (Dânia Neto). Mimada e habituada a ter sempre tudo aquilo que quer, Maria decide conquistar Simão por capricho mas o feitiço vira-se contra o feiticeiro, e ela acaba mesmo por se apaixonar pelo rapaz. E quando mais um mal-entendido separa Ana Luísa e Simão, este decide dar uma oportunidade a Maria, e este triângulo amoroso acaba por ser um dos pilares da segunda temporada de Verão. Enquanto isso, Maria vive um divertido drama familiar quando a sua mãe Dadá (Adelaide Ferreira) se perde de amores por Joca (José Meireles), o pai da Xana, e os dois ficam determinados em se casar embora as respectivas filhas se odeiem.

Dois dos livros publicados com histórias das personagens desta temporada



CD banda sonora




Cartaz da temporada de Verão
O primeiro álbum dos D'ZRT


  
Outros pontos a salientar:
- Além dos já referidos Cláudia Vieira/Pedro Teixeira e Ana Guiomar/Diogo Valsassina, outros casais da vida real que saíram desta temporada dos Morangos foram Rita Pereira/Angélico Vieira e Marta Melro/Rodrigo Saraiva. 
- O tema do genérico da segunda temporada era "Mesmo Sem Saber" dos Lulla Bye. Outras canções que marcaram a banda sonora foram "Picture Of My Own" (que ilustrava as cenas românticas entre Simão e Ana Luísa), "Curtain Calls" dos Blue (geralmente para algumas das cenas mais dramáticas) e claro está, "Para Mim Tanto Me Faz" dos D'ZRT. 
- Embora tivesse sido editado o livro sobre a primeira temporada, que era uma espécie de prequela, foi a partir desta temporada que foi iniciada uma colecção de livros com histórias das personagens da telenovela, com três livros: "As Confissões de Ana Luísa", "Uma Viagem Inesperada" e "Mistério No Motocross".
- Durante a temporada de Verão foram introduzidas algumas personagens que entrariam na terceira temporada, em especial Fred (Paulo Rocha), Alice (Inês Castel-Branco) e Dino (Francisco Adan), mas há que destacar a surfista Liliana (Maria Sampaio), a primeira personagem LGBT da franchise.
- Rita Viegas (Vicky) e Edmundo Vieira (Ruca) foram concorrentes na primeira edição da "Operação Triunfo". Paulo Vintém (TóPê) foi um dos pré-seleccionados da segunda edição mas foi eliminado logo no primeiro programa e não chegou a entrar na academia.
- Em 2007, Hélio Pestana foi inesperadamente incluído na votação promovida pela RTP para eleger os 100 maiores portugueses de sempre (aquela em que António Oliveira Salazar ficou em 1.º lugar), ficando no 79.º lugar. Após os Morangos, Hélio Pestana entrou na telenovela "Dei-te Quase Tudo) e fez teatro e participações especiais em telenovelas e séries. Actualmente, tem feito notícias devido aos seus problemas de foro mental.



Para terminar: eu não sou de ter crushes por celebridades, mas não pude deixar de ficar starstruck quando conheci Cláudia Vieira na festa do 25.º aniversário da SIC, até porque fiquei com ainda melhor impressão dela. Afinal de contas, foi numa zona onde os actores não eram obrigados a ir ter com o público, mas mesmo assim ela e alguns dos actores disponibilizaram-se para tal. E para a posterioridade fica a minha selfie com a Ana Luísa.

Genérico da segunda temporada:




Best of Simão e Ana Luísa:









D'ZRT cantam "Para Mim Tanto Me Faz"









segunda-feira, 14 de outubro de 2019

“Quantos cabem num Mini?” - Passeio dos Alegres (1981)


Os portugueses recordam vários momentos da história da nossa TV com carinho: o Duarte e a levar com a mala da sogra nas trombas, Cavaco Silva a ruminar Bolo-Rei, Carlos Lopes e Rosa Mota a cruzar a meta para ouro, ou as 27 pessoas espremidas dentro de um Morris Mini n'O Passeio dos Alegres. Na época eu tinha pouco mais que 2 anos de idade, naturalmente só me recordo das imagens exibidas noutros programas e imprensa.

E que melhor modo de recordar o evento do que com um excerto do Facebook de Júlio Isidro? O mítico comunicador recorda este episódio a propósito de uma recriação do mesmo desafio, como comemoração dos 60 anos da marca. Apesar da contar novamente com a apresentação de Júlio Isidro, em 2019 apenas 19 voluntários conseguiram encaixar-se no interior da viatura, longe dos 27 portugueses encafuados no Mini nos anos 80 que bateram um recorde mundial.
"Foi no dia 15 de Março de 1981, já lá vão 38 anos!
O ainda jovem autor e apresentador do agora mítico Passeio dos Alegres da RTP 1, levava o país ao rubro com um dos muitos passatempos criados ao longo de mais de quatro anos.
"Quantos num mini?"
Pois nesse dia entraram neste minúsculo e mítico automóvel 27 pessoas maiores de treze anos!
Em dois minutos acontecia um recorde do mundo, noticiado pelas televisões internacionais com especial destaque do serviço de notícias da televisão japonesa!
Entre nós, o passatempo foi primeira página do Correio da Manhã e de outros jornais, mas não deu no TeleJornal.
Santos da casa...."


Procurando no arquivo do jornal "Diario Lisboa", encontrei um pequeno apontamento, com direito a foto ( a mesma do CM), sobre a proeza alcançada pelo grupo "Os Maiores de Olivais", o colectivo que venceu as outras equipas, "provenientes dos mais variados pontos do país".
"Diário de Lisboa" [26/03/1981]
O "DL" menciona que o recorde mundial anterior da "especialidade" era de 24 estudantes ingleses. Com bancos, como no caso português, porque num carro sem bancos a equipa da Universidade de Oxford conseguiu acomodar 29 pessoas.
O site "Motor24" acrescenta que
"Para garantir que todos estavam ‘hermeticamente’ confinados, Fecharam-se as portas durante 10 segundos. Nunca tanta gente entrara e saíra do pequeno automóvel. Todos saíram ilesos e o próprio carro também suportou bem o peso graças à suspensão que tinha sido propositadamente reforçada para o efeito" e que a gravação do feito "passou na Eurovisão e foi visto na televisão japonesa."
No site da RTP é possível assistir a um vídeo sobre o "Passeio dos Alegres" com recordações sobre este passatempo: "Recordar O Passeio dos Alegres - Agora Nós".


quarta-feira, 9 de outubro de 2019

A Noite da Má Língua (1994-97)

por Paulo Neto

Ao fim de sete anos de blogue, já não restam muitos mais programas da fase imperial da SIC nos anos 90 para falar aqui, mas este era sem dúvida uns dos que ainda faltava mencionar.



Uma vez mais na onda transgressora face às convenções televisivas de mais de 30 anos da RTP, que foi a imagem de marca da SIC nos seu primórdios e que sem dúvida terá contribuído para a sua rápida ascensão ao canal de maior audiência, "A Noite de Má Língua" era um programa, que como o nome indica, comentava a actualidade socio-política no país e no mundo com um tom mordaz, ácido e sim, maledicente, embora evitando cair no insulto gratuito. O que sem dúvida foi uma pedrada no charco num Portugal que sempre se regeu pelo "respeitinho".


Promo da estreia do programa em 1994:



Exibido em três temporadas entre 1994 e 1997, o programa era conduzido por Júlia Pinheiro e tinha em estúdio quatro convidados para analisar os temas em discussão numa época marcada pela transição de poder do PSD de Cavaco Silva para o PS de António Guterres. Era transmitido nas noites de quinta-feira e estreou-se na rentrée de 1994. Os quatro primeiros painelistas eram Miguel Esteves Cardoso, à altura a cara do semanário de "Independente" que não recuava perante críticas ao governo cavaquista, Manuel Serrão, empresário nortenho sempre militante contra os centralismos de Lisboa, Alberto Pimenta, poeta e ensaísta defensor do inconformismo político (entre as suas acções mais controversas conta-se a de em 1977 fechar-se numa jaula dos macacos do Jardim Zoológico de Lisboa com uma tableta a dizer Homo Sapiens) e Helena Sanches Osório, jornalista do "Independente" que em 1993 esteve no centro de uma polémica em que afirmou num programa de televisão de que sabia que um ministro tinha pago 120 mil contos para acrescentar uma vírgula num decreto-lei (ficando conhecido como o Caso Vírgula) que chegou à discussão na Assembleia da República.  Mas a primeira temporada foi marcada por muitas mudanças no alinhamento no painel de comentadores, tendo por ele também passado a actriz Graça Lobo, a jornalista Constança Cunha e Sá, Luís Coimbra, um ex-deputado do PPM e fundador do partido MPT e o escritor Rui Zink.




O quarteto de comentadores do programa ficaria definitivamente consolidado a partir da segunda temporada com Rita Blanco a juntar-se a MEC, Serrão e Zink, e juntamente com uma hábil moderação de Júlia Pinheiro, ficou criada uma sinergia idela para o programa. 
Outro interveniente no programa era o jornalista Victor Moura Pinto com a sua hilariante e mordaz rubrica "SIC Transit Gloria Mundi" onde se abordava os acontecimentos do país e do mundo com um olhar jocoso, com música a condizer como por exemplo, no resumo da campanha das eleições legislativas de 1995

Também todas as semanas era atribuído o Prémio da Noite da Má Língua à personalidade que se tivesse destacado mais. Uma das primeiras pessoas a aceitar receber o prémio foi o cantor José Cid, graças à sua famosa sessão fotográfica onde surgia despido e apenas coberto por um troféu de disco de platina. Essa aliás será a transmissão do programa mais recordado pois as coisas ficaram bastante tensas entre Cid, Manuel Serrão e Miguel Esteves Cardoso. 

Como seria de esperar, num país cujas elites não primavam pelo sentido de humor e pouco habituado a ser analisado de forma tão ácida, o programa gerou mal-estar junto da classe política e outra autoridades e Júlia Pinheiro afirmou que tanto ela como Pinto Balsemão e Emídio Rangel receberam mensagens bem aziagas de alguns políticos. Mas eventualmente o espírito do programa foi-se entranhando quer junto do público quer dos políticos e aos poucos, alguns deles foram aceitando o prémio ou até mesmo aparecendo no programa para o receber, como foi o caso de Durão Barroso. 



O nosso camarada Hugo Silva, do blogue "Ainda Sou Do Tempo", no seu texto dedicado a este programa salienta ainda o cenário do programa na primeira temporada, com cadeiras enormes de corres berrantes e cheias de picos (uma cenografia da autoria de um certo Tomás Taveira), um cenário adequado ao programa onde tudo e todos eram picados. Mais tarde o programa passaria para um mais convencional cenário em mesa redonda. O Hugo acrescenta que "A Noite de Má Língua" apelava aos adolescentes da altura que começavam a ter consciência social e de facto, acredito que o programa tenha mudado um pouco a percepção das novas gerações ao encarar a política.



Como não podia deixar de ser, o programa foi também parodiado por Herman José na rubrica "Herman Zap" do programa "Parabéns" sobre o título de "A Noite dos Maus Fígados" com Lídia Franco como Júlia Poleiro, José Pedro Gomes como Miguel Esteves Cabroso, Vítor de Sousa como Rui Estaline, Maria Rueff como Rita Bluff e o Herman como Manuel Serrabulho, com os cinco a explorar as carcterísticas mais cómicas de cada um, como a sopinha de massa de Rui Zink e a gargalhada de Manuel Serrão. O próprio Herman José foi convidado especial do programa numa das suas emissões em 1996.       

Excerto de um programa:



O programa em que Herman José foi convidado especial:
  


Reunião do elenco do programa em 2014


"A Noite dos Maus Fígados" (Herman ZAP):



Excerto (Grandes Momentos SIC 20.º aniversário)





Júlia Pinheiro recorda "A Noite da Má Língua"



domingo, 22 de setembro de 2019

Friends (1994-2004)

por Paulo Neto

Nas palavras de Sérgio Godinho cantadas pelo próprio e/ou "Os Amigo do Gaspar": "É tão bom uma amizade assim, ai faz tão bem saber com quem contar..." Quem não concorda que a amizade é uma das coisas mais belas desta vida? Por isso, não é de estranhar que uma das sitcoms mais lendárias de sempre tenha sido sobre a amizade.





Criada por Dave Crane e Martha Kauffman, "Friends" estreou na televisão americana a 22 de Setembro de 1994 e durou dez temporadas, com o último capítulo transmitido a 6 de Maio de 2004. Ao longo de dez temporadas acompanhámos um grupo de seis jovens amigos nos seus altos e baixos da sua vida pessoal, profissional e amorosa, ao ponto do telespectador sentir que também era amigo deles e quase que podia sentir o aroma do café e o cabedal do sofá no qual o grupo se reunia para conversar no café Central Perk.

Eis os seis amigos (por ordem de aparição no genérico):




Rachel Green (Jennifer Anniston): é a personagem com maior evolução. No primeiro episódio, ela surge ainda vestida de noiva a fugir de um casamento quando percebe que a vida que parecia ser traçada para ela como mulher de um tipo endinheirado por entre as futilidades da alta sociedade não é que ela quer. Depois de um começo rocambolesco como desastrada empregada de mesa no "Central Perk" -o que lhe vale é que o seu chefe Gunther (James Michael Tyler) tem um grande crush por ela- Rachel vai aos poucos navegando fora da vida protegida que sempre teve e com determinação e alguma sorte vai subindo na vida pelo seu próprio pulso. E claro, ao longo da série, há os avanços e recuos telenovelescos da sua relação com Ross. A certa altura, um dos seus penteados tornou-se um dos mais icónicos dos anos 90, requisitado em muitos salões de cabeleireiro por esse mundo fora - embora conste que a própria Anniston não gostasse nada dele.   



Monica Geller (Courteney Cox): a haver alguém que pode ser considerado líder do grupo, é ela. Chef profissional, Monica costuma transladar o seu perfeccionismo para outras partes da vida, desde a arrumação do apartamento aos festejos cuidadosamente planeados de ocasiões como Dia de Acção de Graças. Por detrás dessa obsessão pela perfeição, está um passado algo doloroso onde sofreu com o bullying por ter sido gorda na infância e adolescência e pelos pais não esconderem a preferência pelo irmão. A sua relação mais significativa é com Richard (Tom Selleck) que não só é um homem mais velho como amigo da família, até que de forma inesperada Monica descobre que Chandler pode ser muito mais que um bom amigo.



Phoebe Buffay (Lisa Kudrow): com uma mãe que se suicidou, um pai que a abandonou e vários anos a viver praticamente como sem abrigo, seria de esperar que Phoebe se tornasse uma pessoa amarga e egoísta como a sua irmã gémea Ursula (que também apareceu na série "Doido Por Ti"), mas na verdade é um espírito optimista e alegre. E apesar de ser a última adição ao grupo dos seis, o seu jeito inconvencional é como que o ingrediente secreto do grupo. Massagista de ofício e cantora de vocação, é autora do hit "Smelly Cat" (cuja tradução portuguesa deu nome a um certo célebre colectivo de humor no nosso país - não é preciso dizer qual, pois não?). Mas após ter vivido uma vida tão fora da caixa, Phoebe apercebe que também precisa de algo convencional na sua vida e por isso, quando o amor surge entre ela e Mike (Paul Rudd) - que vai-se tornando o mais parecido com um sétimo amigo do grupo - após alguns altos e baixos da relação, não hesita em aceitar o seu pedido de casamento.


Joey Tribbiani (Matt Leblanc): o típico pateta alegre, que ora parece ser uma criança em ponto grande e burro que nem uma porta, ora revela surpreendentes rasgos de extrema maturidade e inteligência. Actor em busca do seu grande papel, conquistador básico mas eficiente (nunca subestimar o poder de um sorridente "How you doin'"!) e comedor incansável, Joey tem no grupo de amigos o seu porto de abrigo, tanto para lhe acarinhar como para lhe dar as palmadas quando precisa. Apesar de se apaixonar por Rachel numa temporada mais avançada, é com Phoebe que Joey terá mais química, onde por vezes pinta um clima de sedução entre ambos, embora nunca ao ponto de comprometer a amizade. 



Chandler Bing (Matthew Perry): quando se é filho de uma transsexual e de uma escritora de romances apimentados e se cresce com vários tormentos interiores e exteriores, é possível que essa pessoa faça do sarcasmo uma forma de arte. E embora o temperamento ácido e a sua casca dura tenham ajudado Chandler a ser bem-sucedido financeira e profissionalmente, sendo executivo numa empresa (que não se sabe bem de quê), esses modos têm-lhe provocado alguns dissabores e é no seio do grupo de amigos que ele tem o seu porto de abrigo, sendo prova do poder da amizade. Antes de amizade com Monica passar a amizade colorida e mais tarde a amor, a mulher mais constante na sua vida (quer ele e os outros amigos queiram ou não) é Janice (Maggie Wheeler), dona do riso mais irritante que os tímpanos humanos já ouviram.



Ross Geller (David Schwimmer): Paleontólogo de profissão, dizer que o irmão de Monica tem uma vida amorosa atribulada é dizer pouco. Quando a série começa, a sua ex-mulher Carol (Jane Sibbett) deixou-o por outra mulher Susan (Jessica Hecht), enquanto esperava o filho de ambos, Ben. E depois há a alucinante história com Rachel, por quem sempre foi apaixonado: a alegria da amizade gradualmente transformada em amor, o triste incidente que acabou com a relação e imortalizou o bordão "We were on a break!", dizer o nome de Rachel durante a cerimónia do seu casamento com Emily (Helen Baxendale), o casamento com Rachel regado a álcool que ambos julgavam não ser válido mas afinal era, e a filha que resultou disso e a reconciliação final. ("I got off the plane.") E depois há Marcel, o seu endiabrado macaco de estimação…

Claro que algumas piadas envelheceram mal, claro que o decurso da série teve os seus momentos menos brilhantes e de lazy writing, claro que as críticas de falta de diversidade no elenco terão a sua validade, mas não há dúvida que na sua essência, "Friends" continua a ser uma série que se vê com bastante agrado.

Em Portugal, começou a ser exibida na RTP em 1995 mas só teve uma exibição regular quando a RTP2 passou a exibir desde o seu início de segunda a sexta feira à hora do jantar. Recordo-me que em 1998, na estreia de uma das temporadas, experimentou-se uma dobragem em português (por exemplo com Maria João Luís a fazer a voz de Monica e Rui Paulo a de Joey) mas o resultado foi tão mal recebido pelo público que essa experiência só durou três episódios. 



E agora eis alguma trivia aleatória:
- Entre os títulos considerados para série estavam "Six Of One" e "Insomnia Café".
- Na primeira temporada, os seis protagonistas ganhavam 22500 dólares (antes das filmagens Matt Leblanc só tinha 11 dólares na sua conta). Nas duas últimas temporadas, cada um ganhava um milhão por episódio.
- Courteney Cox era uma das primeiras opções dos autores da série para fazer de Rachel mas ela pediu para fazer de Monica.
- A moldura dourada que se vê na porta do apartamento de Monica era de um espelho que um membro da equipa de filmagens partiu por acidente.
- "Shiny Happy People" dos R.E.M. esteve quase para ser o tema do genérico.
- O último episódio da série continua a ser o programa não-desportivo com a taxa de publicidade mais cara nos seus intervalos no Reino Unido.
- Quase todos os episódios da série têm um título que começa por "The One...". As únicas excepções foram o 100.º episódio ("The Hundredth One") e o último ("The Last One").
- Lisa Kudrow estava grávida nos episódios em que Phoebe está grávida de trigémeos. Mesmo assim, teve de usar uma barriga falsa.
- Na cena em que se descobre que Monica e Chandler foram para a cama juntos, o público presente nas gravações aplaudiu durante quase meio minuto. 
- Gunther é a personagem que aparece em mais episódios depois dos seis protagonistas. O actor James Michael Tyler pintou o cabelo de louro ao longo de toda a série e diz que foi escolhido para o papel porque foi o único figurante contratado no piloto que sabia trabalhar com a máquina do café.
- Entre nomes famosos que entraram na série estão Brad Pitt, Julia Roberts, Bruce Willis, Reese Witherspoon, Hugh Laurie, Jennifer Grey, Helen Hunt (na sua personagem de "Doido Por Ti"), Hank Azaria (que fez duas audições para o papel de Joey), Ellen Pompeo, Jean-Claude Van Damme, Ben Stiller, Winona Ryder, Sean Penn, Danny DeVito, Anna Faris, George Cloonet e a ex-Duquesa de York Sarah Ferguson.

Genéricos de todas as temporadas


"I'll Be There For You" The Rembrandts








sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Buck Rogers (1979-81)







O herói Buck Rogers nasceu nas páginas das novelas pulp em 1928, cinco décadas antes da série de finais dos anos 70. Em 1929 passou para a banda desenhada com tal sucesso que surgiram muitos imitadores desse estilo de aventura e exploração espacial, como o famoso "Flash Gordon". O seu criador foi Philip Nowlan que provavelmente não imaginava que quase um século depois ainda subsistissem várias adaptações do seu herói em meios tão diversos como a rádio, os filmes em folhetins, videojogos ou séries de televisão, além das formas impressas, é claro.

Nos anos 50 já tinha existido uma série, mas a maioria das pessoas vivas recorda é claro a que hoje nos ocupa, estreada no dia 20 de Setembro de 1979 até Abril de 1981, ao longo de duas temporadas.
A sonda carregando o corpo congelado de Buck Rogers só aterrou em Portugal, a 10 de Março de 1984, na RTP-1, ás 18h dos Sábados. Pelo menos foi a data mais recuada de que encontrei registos, até ao momento. E a meio do ano já andava em exibição os episódios da segunda temporada. As emissões prolongaram-se até o final de 1984, até 17 de Novembro. Na semana seguinte, as aventuras de Buck Rogers deram lugar ás aventuras do "Automan - O Homem Automático" e o seu carro que fazia curvas de 90 graus (no ar na RTP até Fevereiro de 1985 tempo suficiente para emitir os 12 episódios desta série cancelada prematuramente).
Tal como produtos como "Galactica", "Buck Rogers In The 25Th Century" - ambos produzidos por Glen A. Larson ("O Justiceiro", "Automan", "Magnum P.I", "Manimal", etc) - foi desenvolvido para aproveitar o filão aberto por "A Guerra das Estrelas" em 1977. E tal como "Galactica", "Buck Rogers" testou a aceitação do conceito nas salas de cinema primeiro e depois no formato de episódios semanais, neste caso um total de 37 episódios. 

O filme "Buck Rogers no Século 25" (segundo o IMDB teve estreia em Portugal a 12 de Outubro de 1979) foi editado, com cenas suavizadas, outras cortadas e também acrescentadas para o transformar nos primeiros episódios da série. O plot é simples: numa missão espacial no futurista ano 1987, o astronauta capitão William Rogers, "Buck" para os amigos, sofre um acidente que o deixa inanimado por 500 anos. Buck é reanimado em 2491 e tem que se adaptar à vida com os humanos sobreviventes de um cataclismo nuclear, que além de reconstruir o planeta são ameaçados por extraterrestres hostis. 

Entre os vilões destaca-se a bela Princesa Ardala (Pamela Hensley), apostada em conquistar a Terra e o mulherengo Buck Rogers interpretado pelo galã Gil Gerald (conhecido basicamente pelo desempenho de...Buck Rogers. E pouco mais). 

A companheira de aventuras e possível interesse amoroso ficou a cargo da modelo Erin Gray, como a coronel Wilma Deering.



E o que recordo melhor da série que devo ter visto muito novo é o irritante sideckick "Twiki" o robot amigo/criado dos defensores do planeta. Pelo menos nas minhas memórias é irritante, como uma versão criança do C3-PO ou o Alpha 5 dos Power Rangers. Sinceramente não faço ideia, nunca mais revi os episódios desde que os vi lá para inícios dos anos 80 na RTP. E consegui recentemente confirmar, a minha sensação que entre nós a grafia do título da série era "Buck Rogers no Século XXV".


A segunda temporada trouxe uma grande mudança de estilo mais perto da "Star Trek" - em busca de antigas colónias da Terra a bordo da nave Searcher - entre outras que contribuíram para o cancelamento em 1981. 



Consegui localizar no "Diário de Lisboa" a crítica de Jorge Leitão Ramos ao filme:



terça-feira, 10 de setembro de 2019

Anúncio Campanha Anti-Tabagista (1988)

por Paulo Neto




Eu confesso que não sou uma pessoa que tem máximos cuidados com a saúde, mas pelo menos existe uma coisa saudável de que me orgulho ter praticado ao longo da minha vida: não fumar. Nunca fumei um cigarro inteiro na vida e creio que não devo ter dado mais de sete ou oito passas. Pura e simplesmente o tabaco nunca me atraiu, não gosto do sabor e odeio o cheiro, e com todos os malefícios que se conhecem e o preço cada vez mais galopante dos maços, não será agora que vou começar.   

Seja como for e apesar de tudo, o tabaco ainda é bastante consumido no nosso país. O que não impede que aqueles que fumam possam deixar de o fazer se assim quiserem e que o Estado organize periodicamente campanhas para alertar contra os malefícios do tabaco (desde o mau-estar imediato às doenças mais possíveis de serem contraídas devido ao seu consumo). Se hoje em dia, a lei actual proíbe o acto de fumar em espaços fechados e coloca outro tipo de restrições, nos anos 80, podia-se fumar em muitos mais sítios, o que estava a tornar-se um problema de saúde pública quer para os fumadores quer para os que tinham de lidar com o fumo deles, até porque foi nesta altura que ficou provado que aqueles, que não fumando, frequentavam ambientes cheios de fumo de tabaco eram mais afectados pelos seus malefícios do que os próprios fumadores. 


Foi por isso que em 1987, o Ministério da Saúde lançou aquela que seria a sua maior campanha de publicidade institucional anti-tabagista sob o slogan "Não Fume Pela Saúde" e tendo como logótipo a imagem de um coração asfixiado por um cigarro, que se prolongou ao longo dos anos seguintes e que resultou em diversos cartazes nas ruas e estabelecimentos de saúde e anúncios publicitários que passavam na RTP. 

O canal do YouTube de Vasco Ferreira publicou recentemente aquele que para mim e para muitos foi o anúncio mais marcante dessa campanha, inserido neste mini-bloco publicitário de Dezembro de 1988.Como é na adolescência que a maioria das pessoas começa a consumir tabaco, este anúncio destinava-se sobretudo para a sensibilizar o público mais jovem. (0:11-0:51 neste vídeo)





Uma bonita rapariga loirinha sai do antigo Museu da Cidade (actual Museu de Lisboa) em Campo Grande. Enquanto ela se prepara para ir-se embora de mota, chegam dois rapazes: um louro de casaco vermelho e um moreno com uma camisola azul que diz "Mr. Wonderful" (e que doravante irei referir-me a ele com esse nome). O louro e o Mr. Wonderful, que entretanto acende um cigarro, tentam chamar a atenção da loirinha que lhes devolve apenas um breve olhar antes de arrancar na mota. 
Mas eis que mal ela arranca, o material escolar da loirinha cai da mota e os rapazes percebem que têm a oportunidade ideal para impressioná-la. Os dois apressam-se a apanhar os livros e os cadernos caídos e correm freneticamente atrás da mota até que o Mr. Wonderful, sempre com o cigarro na mão, pára todo exausto enquanto o louro continua até alcançar a loirinha na mota. Esta tira o capacete, faz um cinematográfico sacudir de cabelo e sorri para ele.

E enquanto o louro e a loirinha engraçam um com o outro (quiçá atraídos pela loireza um do outro), o ainda ofegante Mr. Wonderful, sentindo-se tudo menos maravilhoso, olha para o cigarro na mão, deita-o ao chão e esmaga-o com o pé (na altura ainda não se pagava multa por atirar beatas ao chão). O anúncio termina em freeze-frame com o close-up do cigarro esmagado no chão aos pés do rapaz, a voz que debita o slogan "Não fume, pela sua saúde",  e aparição no ecrã do dito slogan, do logótipo da campanha e das palavras "Conselho de Prevenção do Tabagismo". Inclusivamente esse frame final acabou por ser utilizado como cartaz da campanha, que me recordo de ver em hospitais, centros de saúde e em outdoors.



Gosto de imaginar que devido a este anúncio, muito rapaz terá pensado duas vezes antes de acender um cigarro, não fosse terem de correr com um amigo atrás de uma rapariga e ficarem para trás…

    
Entretanto, no Facebook da "Enciclopédia de Cromos", o nosso seguidor Pedro Henriques referiu que a loirinha do anúncio era uma jovem sueca que na altura estudava na Escola Americana em Lisboa.

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Anúncios da Prevenção Rodoviária Portuguesa (Anos 80)


por Paulo Neto



Infelizmente, o nosso país é conhecido pelos seus elevados índices de sinistralidade rodoviária. E se hoje em dia os números não são favoráveis, nos anos 80, quando havia bem menos regulação, registavam-se níveis verdadeiramente preocupantes. Foi nessa década que a Prevenção Rodoviária Portuguesa lançou diversas campanhas institucionais com anúncios que ficaram na memória de todos.



Quem não se recorda nos idos de 1988 do Pepito equilibrista da campanha "Vamos & Vivos"? Num desenho animado algo tosco, uma voz circense anuncia o número do equilibrista que no percurso de volta, emborca uma caneca de cerveja (um cópito para ganhar córagem!) e estatela-se no chão, como uma metáfora para os efeitos do álcool durante a condução automóvel. 




Um anúncio do qual confesso que já não me lembrava era este de 1989, com imagens de um jogo de futebol (ao que parece da Selecção Nacional) aparentemente diante de um Estádio Nacional no Jamor praticamente vazio. Tudo isto para assinalar os alarmantes números de sinistralidade rodoviária que se verificava na altura, chegando ao ponto de encher um estádio. 



Regressando aos malefícios do álcool, este anúncio de 1986 com um lápis a percorrer uma maqueta de estrada com árvores e tudo até ao inevitável partir do bico (isto é, despiste na estrada) é um dos mais míticos que se fizeram sob a premissa do ainda mais mítico slogan "Se conduzir não beba!"


Outro anúncio lendário tinha como slogan "dê mais tempo a quem precisa" e tinha como protagonista um simpático casal de idosos. Um senhor de bengala vê-se em palpos de aranha para atravessar uma rua e ir ter com a senhora que o espera do outro lado. Esta assiste com ar assustado ao esforço do companheiro a avançar lentamente no meio dos carros que não abrandam nem sequer parecem dar conta que ele está ali a tentar atravessar. Finalmente um carro pára para que o idoso atravesse sem mais problemas e se reúna com a senhora. Uma vez juntos, ambos agradecem o gesto.



Os ciclistas também não foram esquecidos nas campanhas da PRP e este anúncio de 1989 advertia para uma nova legislação que obrigava a que os velocípedes sem motor, vulgo bicicletas, a incluir diversos apetrechos reflectores, nomeadamente na rectaguarda, nos pedais e nas rodas (que podiam ser três reflectores de forma circular e ou dois em forma de coroa circular). E de facto, a partir deste anúncio, comecei a reparar mais nas bicicletas com que eu ia-me deparando para ver se tinham os reflectores nas rodas. Esta campanha gerou mais um célebre slogan: "Quem me avista, meu amigo é".



Já este anúncio alertava para os perigos do vandalismo de sinais de trânsito. Existe uma outra versão em que um grupo de jovens passeia alegremente na rua e decidem passar uma lata de tinta de graffiti sobre um sinal de sentido proibido, ao passo que neste vídeo vemos alguém a investir directamente num sinal de STOP com uma marreta. Mais tarde, em plena noite, devido a esse gesto, ocorre uma violenta colisão entre dois carros, sendo possível ver uma figura feminina de balandrau negro, a representar a Ceifeira. E em voz-off e escrito no ecrã surge a frase: "Não faças dos sinais a morte".


     




Como à partida, todos nós andamos a pé na rua, os peões foram sempre um dos mais importantes alvos das campanhas da PRP . Por acaso, também não me lembrava destes dois anúncios de 1988 em que uma rapariga sardenta e de cabelo encaracolado observa os comportamentos correctos e incorrectos de pessoas ao caminhar na rua, dando o sinal de aprovação quando eles procedem bem e abanando a cabeça quando fazem mal, como é o caso num dos vídeos em que um senhor decide dar uma de radical e atravessar uma atarefada praça fora das passadeiras.







Para terminar e depois de anos antes terem dado cara a uma campanha contra a droga, em 1989 os Ministars abraçaram a causa de prevenção rodoviária dos pedestres sob a forma do tema "Só Se Vive Uma Vez", que depressa se tornou tema original mais popular do grupo e um videoclip onde eles surgiam dentro de sinais de trânsito e que me lembro de passar várias vezes ao dia, por exemplo antes da "Rua Sésamo", pelo que eu e os meus colegas de escola tínhamos bem presente o refrão: "Todos somos iguais/de vez em quando/ somos peões neste xadrez/ e só vivemos uma vez".  

Infelizmente já não está no YouTube, um anúncio que eu me recordo bastante bem é aquele sobre a importância de utilizar o cinto de segurança. Um casal tipicamente eighties - ele de bigode, ela de permanente - entra no carro e enquanto o homem coloca o cinto de segurança, a mulher parece mais preocupada com as aparências, ao ponto de querer usar o espelho retrovisor para retocar a maquilhagem. A senhora acaba por pagar caro a sua vaidade pois enquanto está distraída a olhar para o espelho da pala lateral enquanto aplica batom nos lábios, há uma travagem e a mulher bate de cabeça no para-brisas. Ao ver a esposa inanimada, a primeira reacção do ileso senhor de bigode é agarrar com força no cinto e o anúncio termina com a frase "Há um cinto que o prende à vida" dita em voz-off e a aparecer escrita no ecrã. (Esperemos que a sua  reacção seguinte é verificar como estava a mulher e chamar ajuda.) Também me recordo de haver depois uma versão bem mais ligeira do anúncio onde o homem lembra a mulher para colocar o cinto e ela obedece, e o anúncio termina aí com a frase final no plural: "Há um cinto que OS prende à vida."

Espero que um dia também venha a surgir na internet outro anúncio mítico da PRP, o do "Comigo o miúdo vai sempre atrás."
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