terça-feira, 13 de setembro de 2016

Modas de vestuário dos anos 90

por Paulo Neto

Há uns tempos, numa das minhas navegações pelo YouTube, descobri um vídeo que falava sobre as dez modas dos anos 90 que definiram a década, e dei comigo a voltar atrás no tempo e a lembrar-me de roupas que eu, os meus conhecidos e toda a gente em geral usava nessa década e é curioso recordar algumas dessas tendências. Comparados com os excessos fashion dos anos 80, as modas dos anos 90 são consideravelmente menos embaraçosas, mas algumas delas não dão para ser lembradas sem evitar algum rubor no rosto. Vejam se lembram destas roupas e acessórios aqui revelados.

 


Calções de ciclista: Além dos inevitáveis fatos de treino (que no início da década até primavam por cores garridas e materiais vistosos), a principal peça de roupa que prolongou nos anos 90 a tendência de usar-se roupa para desporto fora de contextos desportivos da década anterior, foi sem dúvida os calções de lycra pelo joelho que anteriormente pertenciam quase exclusivamente à indumentária dos ciclistas. Mas as peças de lycra continuaram em força na transição entre décadas e os calções de ciclista tornaram-se um must-have para ambos os sexos, sobretudo para a prática desportiva mas não necessariamente apenas para tal. A cor de eleição desses calções era o preto, mas existiam em diversas cores. 


Recordo-me de ver na escola raparigas que saíam à rua e iam às aulas (que não de Educação Física), tanto isoladamente como por debaixo de saias, calções ou vestidos e de rapazes a jogar à bola com esse calções debaixo de calções normais. Eu tive um par de calções pretos mas limitei o seu uso às aulas de Educação Física e para andar em casa.





Botas da tropa femininas: Se as botas de estilo militar já eram um artigo popular entre o mercado masculino (como por exemplo as famosas Doc Martens), nos anos 90, as raparigas perceberam que essas botas não precisavam ser apenas domínio exclusivo das indumentárias das punks e das metaleiras e que podiam ser conjugadas com as mais diversas peças de roupa como mini-saias e até vestidos mais ou menos de gala. Por exemplo, Liv Tyler conjugou como ninguém essas botas com um top e uma mini-saia no filme "Empire Records" (aliás o guarda-roupa da personagem de Liv Tyler nesse filme é quase uma síntese da moda dos anos 90) e recordo-me de Dulce Pontes no Natal dos Hospitais de 1995 a cantar o seu hit "A Brisa do Coração" com um vestido preto curto com tules e umas botas até ao joelho e de a minha mãe a dizer "Se não ficavam melhor ali uns saltos altos com aquele vestido em vezes dessas botas!"


E alguns rapazes também se afoitaram a fazer algumas combinações inéditas com os seus pares de botas, como por exemplo eu no Verão de 1993 que cheguei a usar botas com calções de ganga e uma T-shirt de capuz. E por falar nisso...



T-shirts de capuz: Foi nos idos de 1991 que foi decidido que os capuzes deixariam de ser exclusivos dos kispos e das sweat-shirts e que fazia todo o sentido serem incluídos em T-shirts. No primeiro catálogo da La Redoute que veio parar à nossa casa, a T-shirt de capuz era descrita como must-have desse Verão para ambos os sexos. E embora não tivessem assim grande utilidade, apesar do calor do Verão e do estilo que alguns rappers tinham com o capuz enfiado na cabeça, a sério é que não tardou a que, das barracas de feira às lojas mais conceituadas, as T-shirts de capuz vendiam-se que nem pãezinhos quentes. Eu tive duas, uma azul-escura com cordões brancos e uma vermelha em que os cordões da mesmas cor estavam enfiados por uma série de atilhos. E mesmo sem motivos para usar o capuz, eram peças de eleição do meu armário nessa altura.



Camisas de flanela: Se bandas como Nirvana e Pearl Jam tinham a ambição de marcar a história da música com o estilo grunge, decerto que não teriam em mente que ao fazê-lo, deixariam também um fashion statement. Mas como até era um estilo bastante acessível, não tardou a fazer sucesso até mesmo para quem não era fã do género. Bastava uma camisa de flanela em xadrez, umas calças rasgadas e uns ténis gastos ou umas já referidas botas estilo militar. Mas apesar dessa simplicidade, não tardou até os designers da indústria de moda também elaborarem as suas criações high end do estilo grunge. Mesmo depois do fim do auge do grunge, o estilo prolongou-se pela segunda metade da década até porque também encaixava no polémico estilo heroin chic. Mas do estilo grunge, a peça mais icónica era sem dúvida a camisa de flanela: abotoada, desabotoada ou enrolada à volta da cintura, não só dava um estilo do caraças como também era confortável. Eu tive algumas camisas dessas, não que eu fosse fã do grunge (aliás só comecei a apreciar mais o repertório dos Nirvana e dos Pearl Jam uns anos mais tarde), mas porque eram extremamente confortáveis nos meses mais frios. Cheguei mesmo ter duas sobrecamisas de flanela para usar debaixo das camisas normais.



Saias com meias altas: Antes de Britney Spears causar pensamentos libidinosos em grande parte da população masculina com o vídeo de "Baby One More Time" em 1998, o estilo colegial já tinha tido uma vaga de sucesso quando em meados da década se popularizou a moda de se conjugar vestidos ou saias mais ou menos curtas com meias altas que tanto podiam ir ao joelho como até a meio da coxa em vez dos tradicionais collants. Como essas meias eram dos mais diversos materiais, da lycra até à malha, era um look que até se podia usar no Inverno, e vinham em todo o tipo de cores e  padrões. Não tardou que várias raparigas e mulheres adoptassem esse look feminino que era bastante agradável aos olhares masculinos. As personagens do filme "Clueless - As Meninas de Beverly Hills" ilustraram bem esta moda.



Colares chokers: No que diz respeito ao que se usava ao pescoço a peça de eleição eram os colares cingidos à volta do pescoço, cujo termo em inglês é "choker". E os chokers são como os chapéus, há muitos. Podiam ser umas tiras simples, outras mais grossas com um pendentes como usaram Sharon Stone em "Sliver - Violação de Privacidade" e Natalie Portman em "Léon - O Profissional". Também havia uns de plástico que davam uma ilusão de tatuagem. 


Para os rapazes, a versão do choker mais popular era aquela com imitações de conchas, como usou Adam Sandler no filme "Airheads- Cabeças Ocas".






Sapatos de plataforma: Na segunda metade da década, os sapatos de plataforma invadiram todos os tipos de pavimentos. Fossem botas, sapatilhas, sandálias ou saltos altos, o importante eram aqueles cinco a dez centímetros de sola que acrescentavam mais altura àquela que os calçasse. Outra vantagem é que quando se quisesse matar o caruncho lá de casa em 1998, bastava dar uma festa e ter muitas convidadas femininas. Com tanto sapato de plataforma a palmilhar o soalho, não havia caruncho ou barata que sobrevivesse.


As grandes incentivadoras desta moda foram as Spice Girls, sobretudo a "Scary Spice" Melanie B, a "Baby Spice" Emma e a "Ginger Spice" Geri (já que a "Sporty Spice" Melanie C. e a "Posh Spice" Victoria eram praticamente inseperáveis respectivamente dos seus ténis e dos seus stilettos), que exibiam orgulhosamente as suas plataformas de cores garridas e de alturas vertiginosas.




Tops pelo umbigo: os anos 90 foram a década da libertação do umbigo. Nunca antes os umbigos femininos foram tão vistos a olho nu, libertos das barreiras de tecido que outrora os ocultavam. Primeiro porque os biquínis massificaram-se e passaram a estar disponíveis para todo o tipo de corpos. Depois porque os crop tops tornaram-se omnipresentes assim que chegavam os primeiros dias mais quentes de cada ano, em diversas cores e feitios: de alças, com mangas curtas ou compridas, em cai-cai, ao estilo camiseiro, atados nas costas, tudo valia para mostrar ao mundo o umbigo, sobretudo se este tivesse um piercing. Cantoras como Gwen Stefani, Britney Spears e Christina Aguilera ajudaram a tornar esta peça num ícone.   




Bolsa de cintura: Também conhecidas como saco-banana ou pelo termo inglês "fanny pack", as bolsas de cintura tornaram-se por um breve espaço de tempo um acessório fashion e depois disso ainda perduraram mais algum tempo devido à sua funcionalidade. Para elas, porque há sempre qualquer coisa que é urgentíssimo trazer antes de sair para à rua e não cabe tudo na mala de mão, e para os homens, porque não tinham aquele cunho ameninado das malas a tiracolo e deste modo não era preciso trazer tudo nos bolsos das calças. Eu acho que cheguei a ter um ou dois, mas não me recordo de ter-lhes dado grande uso. E como não podia deixar de ser, havia em todas as formas e feitios. Das cores mais discretas às mais berrantes, de apenas um fecho a uma data de compartimentos, da lona ao cabedal.





A febre das marcas: Outra herança dos anos 80 que passou para a década seguinte foi a importância das marcas. Quanto mais roupa de marca se tivesse, maior era o status que se tinha. Essa ideia sempre me fez confusão pois sempre achei que pagar o dobro do preço por uma peça só porque tem um certo logótipo cosido é algo absurdo e porque não é por não usar roupa de marca que uma pessoa anda melhor ou pior vestida. E não conseguia deixar de fazer um sorriso trocista sempre que alguém, rapaz ou rapariga, na minha escola fazia grande alarde quanto às marcas das roupas que trazia vestida. (Nunca me esqueci de uma vez em que uma colega minha contou à turma que uma conhecida dela fez questão de lhe mostrar em plena rua que trazia um soutien da Peter Pan!) 
Nas gangas, as Levi's ainda reinavam, mas as Diesel  e das Pepe Jeans também eram apreciadas e suplantaram as Lois e as Lee, referências dos anos 80. E quanto a sapatilhas, assistiu-se à ascensão da Reebok que rompeu com o triunvirato Adidas-Puma-Nike, bem como o ressurgimento das Converse All Stars. Tal era a ditadura destas marcas que dava a ideia que era crime não ter pelo menos um par de ténis de uma destas cinco marcas que a minha mãe soube dessa lei não-escrita e ofereceu-me aos 15 anos uns ténis da Puma sem sequer eu lhes ter pedido. Da Reebok, não tive ténis, mas comprei uma T-shirt no Gaia Shopping durante uma visita de estudo da minha turma do 11.º ano ao Norte do país.   

De que outras modas de vestuários dos anos 90 é que vocês se lembram? Escrevam nos comentários ou no Facebook e quem sabe se este texto não tem uma sequela.

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Sport Goofy no Mundo do Desporto - Os Jogos Olímpicos (1983)

por Paulo Neto

O Pateta pode não ser a mais atlética das personagens Disney mas nos anos 80, esteve associado ao desporto de várias maneiras, através da designação de Sport Goofy. Nos anos 40 e 50, a Disney produzira várias curtas metragens de temática desportivo em estilo paródio-documentário sobre vários desportos com o Pateta a ilustrar as regras e as práticas de cada modalidade em toda a sua habilidade (ou falta dela), muitas delas exibidas por cá no "Clube Amigos Disney", e em 1987 essa ideia foi recuperada num mini-filme de 20 minutos, "Sport Goofy in Soccermania". Além disso havia também na altura toda um merchandising ilustrado com imagens do Pateta vestido de forma desportiva, desde roupa e têxteis-lar a material escolar e livros educativos, e até um jogo para o Atari. O sucesso deste alter-ego desportivo do Pateta até inspirou uma loja de artigos de desporto no Entroncamento a denominar-se "Goofy Sport".  

Há dias, o David Martins, ao saber do meu interesse por tudo o que é relacionado com os Jogos Olímpicos, deu-me a conhecer um livro de 1983 sobre a história dos Jogos Olímpicos até aquele momento. Tratava-se de um volume da série de livros "Sport Goofy no Mundo do Desporto", editada por Círculo de Leitores.


De entre as imagens da capa, quero destacar a maior delas, ao centro, com dois adolescentes canadianos, Stéphane Préfontaine e Sandra Henderson, ele francófono, ela anglófona, escolhidos para acender a pira olímpica nos Jogos Olímpicos de 1976 em Montreal, representando a juventude canadiana e mundial. A Wikipédia conta que durante anos houve uma lenda urbana de que Stéphane e Sandra ter-se-iam casado. 

No livro são explicados os significados dos símbolos olímpicos, como os anéis entrelaçados, o percurso da tocha olímpica, o juramento olímpico dos atletas e a cerimónias protocolares de entrega de medalhas.

 


No livro são ainda descritos os desportos que na altura faziam parte do programa olímpico, quer nos Jogos de Verão, quer nos de Inverno, com recurso a imagens de cenas desportivas de edições passadas dos Jogos Olímpicos (sobretudo as três mais recentes em Munique 1972, Montreal 1976 e Moscovo 1980, e dos Jogos Olímpicos de Inverno de 1976 em Innsbruck, na Áustria) e, como não podia deixar de ser, a divertidas ilustrações do Pateta em plena acção desportiva.




Nesta página existe mesmo uma participação especial do BFF do Pateta, o Rato Mickey, na ilustração de cima, sobre uma fotografia da atleta alemã (da então República Federal da Alemanha) Heide Rosendahl, campeã olímpica do salto em comprimento em 1972. 


Em jeito de antevisão, existe também um menção a dois desportos que se estreariam no programa daquela que seria à data a próxima edição dos Jogos Olímpicos: a ginástica rítmica e a natação sincronizada. O livro termina com uns quadros com factos e dados sobre as edições passadas dos Jogos Olímpicos. Por exemplo, há a menção ao facto de Eddie Eagan ser (ainda hoje) o único atleta a ganhar medalhas de ouro tanto em Jogos Olímpicos de Verão (boxe, 1920) e de Inverno (bobsled, 1932). 



Curta-metragem: "Pateta, Campeão Olímpico"



"Sport Goofy in Soccermania" (1987)


Para terminar, falta referir um produto do avatar Sport Goofy que foi exclusivo dos nossos irmãos brasileiros. Em 1983, a jovem cantora Ana Paula Aguiar gravou um single com duas versões em português do Brasil de duas canções produzidas pela Disney: "Pateta Supercampeão" ("You Can Always Be Number One") e "Cuidado Com O Pateta" ("Watch Out For Goofy", incluída no disco "Mickey Mouse Disco", do qual já se falou por aqui). E claro que se impunha que Ana Paula fosse fotografada para a capa do disco ostentando um par de perneiras, essa peça de roupa tão eighties.   


Ana Paula "Pateta Supercampeão"




Ana Paula "Cuidado Com O Pateta"









quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Star Trek 1966-1996 - Parte 2




Data Estelar 70154.6

A série de culto "O Caminho das Estrelas"/"Star Trek" ("Jornada nas Estrelas" para o Brasil) gerou - desde a sua estreia nos ecrã norte-americanos em 8 de Setembro de 1966 - uma saga de filmes e outras séries de TV, além de toneladas de produtos derivados, entre banda desenhada, novelas, música, figuras de acção, etc.
Há algum tempo disponibilizei um artigo de uma revista nacional - "Heróis" - de 1996, publicado por altura das comemorações do 30º Aniversário da estreia de "Star Trek" e nesta parte 2 apresento um artigo também de 1996, mas desta vez da excelente e saudosa Wizard Brasil nº 2 de Setembro de 1996.

Como habitual, clique sobre as imagens para ler em tamanho maior:







Como sempre, o leitor pode partilhar experiências, corrigir informações, ou deixar sugestões aqui nos comentários, ou no Facebook da Enciclopédia: "Enciclopédia de Cromos". Visite também o Tumblr: "Enciclopédia de Cromos - Tumblr".

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

O Caminho das Estrelas 12 (1978)



Esta colecção da Agência Portuguesa de Revistas, com 35 números previstos na capa do verso, era a versão portuguesa da  edições norte-americanas da Gold Key (que perdeu a licença para a Marvel no inicio dos anos 80) das bandas desenhadas da clássica série em imagem real "O Caminho das Estrelas" ("Star Trek: The Original Series", estreou nos EUA a 8 de Setembro de 1966, até ao cancelamento em 1969). A maioria das 61 histórias tinha roteiros originais (e incongruências) em relação ao episódios da série de TV original. O número 12 que hoje nos ocupa é a tradução do número 16 da colecção americana, "Day Of the Inquisitors", história de 1972, literalmente traduzida para "O Dia dos Inquisidores", aquelas figuras simpáticas da história do fanatismo religioso.
Compare as capas:

A edição nacional acrescentou um planeta gigante no céu, decerto para garantir aos leitores que era uma BD do "Caminho das Estrelas" e não do "Príncipe Valente".
Mas, ao folhear o interior, mais surpresas: a versão yankee era colorida, enquanto a portuguesa era apresentada num glorioso...preto e branco.

Mas quando esta revista de 1978 me veio parar ás mãos - lá para os anos 90, no alfarrabista local - um dos aspectos que mais me chamou a atenção foi esta revista da velhinha Star Trek incluir publicidade para produtos derivados de êxitos de final dos anos 70: as adaptações a banda desenhada dos filmes "Encontros Imediatos do Terceiro Grau" e "A Guerra das Estrelas".
Creio que anteriormente a ter adquirido esta revista, já fazia parte da minha colecção o álbum gigante número 2 d'"A Guerra das Estrelas" (Star Wars).
No verso, a capa do número seguinte, o 13, "Choques Emocionais" ("The Brain Shockers", o número 11).


Como disse acima, além do conteúdo das revistas em si - uma aventura em que a tripulação clássica da Enterprise fica prisioneira num planeta com uma sociedade muito similar à Idade Média terrestre - o que mais me chamou a atenção foram algumas das publicidades. Podem consultar mais no álbum no Facebook da Enciclopédia de Cromos: "O Caminho das Estrelas 12 (1978) APR".
Vejam também as restantes capas, sinopses e descrições nos sites:


Como sempre, o leitor pode partilhar experiências, corrigir informações, ou deixar sugestões aqui nos comentários, ou no Facebook da Enciclopédia: "Enciclopédia de Cromos". Visite também o Tumblr: "Enciclopédia de Cromos - Tumblr".

terça-feira, 6 de setembro de 2016

"Take On Me" A-Ha (1985)

por Paulo Neto

É um dos clássicos dos anos 80, indispensável em qualquer festa "Remember the 80's" por esse mundo fora, presente em várias colectâneas de música dessa década e o disco mais vendido de sempre por um artista ou grupo norueguês. No entanto, "Take On Me" dos A-Ha foi daquelas canções em que foi precisa muita insistência e retoques para alcançar o sucesso.



Os A-Ha formaram-se em 1982 quando Morten Harket, Pal Waaktaar e Magne Furuholmen decidiram deixar as bandas em que estavam e tentar uma carreira internacional em conjunto, mudando-se de Oslo para Londres. Escolheram o nome A-Ha porque era algo que significava o mesmo em inglês e norueguês, e era o nome de uma das composições de Waaktaar.

Capa da primeira edição de 1984

Uma das canções da banda anterior de Waaktaar e Furuholmen era "The Juicy Fruit Song" continha elementos de "Take On Me". Morten Harket gostava dessa canção e sugeriu que trabalhassem uma outra canção baseada nessa. Quando finalmente conseguiram um contracto com a Warner Brothers, "Take On Me" foi editado duas vezes em 1984, mas apenas conseguiu algum sucesso na Noruega. Porém o manager da banda conseguiu convencer a Warner Brothers americana a investir no grupo e foi feita mais uma tentativa. Com uma nova remistura a cargo de Alan Tarney, a versão definitiva de "Take On Me" ficou pronta para ser lançada no Outono de 1985.



E foi aí que entrou outro elemento-chave: o videoclip. E "Take On Me" é daquelas canções que é impossível não ouvir sem pensar no respectivo videoclip. Com o conceito inovador de misturar imagem real com sequências animadas em estilo de banda desenhada, filmadas na técnica do rotoscópio, a história de uma rapariga que está a ler um livro de BD num café (a bailarina Bunty Bailey, com quem Harket tinha começado a namorar pouco tempo antes) que é puxada por um Morten Harket animado para um mundo onde tudo é banda desenhada a preto e branco e com os dois acabando a serem perseguidos por dois sujeitos mal encarados e armados com chaves inglesas, para no final ela vê-lo numa espécie de exorcismo (numa cena decalcada do filme "Viagem Alucinante" de 1980) para se transformar de personagem animada em ser humano. O videoclip realizado por Steve Barron venceu seis prémios nos MTV Video Music Awards de 1986.


Mas pessoalmente para mim, as minhas cenas preferidas não são aquelas que envolvem animação: aquela em que a empregada do café, pensando que a rapariga deu à sola sem pagar a conta, amarrota furiosa o livro de BD e aquela em que Bailey, recém-escapada do mundo em BD e dos gunas que perseguiam a ela e Harket, reaparece no caixote de lixo do café para espanto de todos lá presentes.

Numa estratégia ainda nova para a altura, o vídeo estreou um mês antes da edição da nova versão de "Take On Me", gerando expectativa no público. Tudo isso, mais o apelo da canção em si, com o ritmo frenético ao longo de toda a canção, o inconfundível riff de sintetizador e a nota impossivelmente aguda que Morten Harket atinge no refrão (ele é praticamente o único que consegue cantar essa nota sem parecer a sirene da Lisnave), gerou o sucesso que o tema estava destinado a alcançar. Atingiu o n.º 1 do top americano e de vários outros países. No Reino Unido, apesar de ter impedido de atingir o 1.º lugar do top britânico por "The Power Of Love" de Jennifer Rush, foi o nono single mais vendido de 1985. Desde então, o single já vendeu sete milhões de cópias no mundo inteiro e é uma das canções dos anos 80 com mais downloads no iTunes. (E nos idos de 2004, foi o meu toque de telemóvel, nessa gloriosa era dos toques polifónicos.)

Apesar de nunca mais terem igualado o sucesso do "Take On Me" nos Estados Unidos, onde são considerados one hit wonders, os A-Ha viriam a somar mais hits no resto do mundo nos anos seguintes. Por exemplo, o single seguinte "The Sun Always Shines On TV" (pessoalmente a minha canção preferida dos A-Ha) deu-lhe o primeiro lugar do top britânico que tinha sido negado a "Take On Me". Entre outros sucessos da banda nos anos 80 contam-se "Hunting High And Low", "Stay On These Roads", "Touchy!" e "The Living Daylights", o tema do filme "007 - Risco Imediato".

"The Sun Always Shine On TV" (1986)


"The Living Daylights" (1987)



Entre as muitas covers de "Take On Me", quero destacar quatro: uma versão ska de 1998 dos Reel Big Fish que fez parte do filme "BASEketball" dos criadores de "South Park"; uma versão de 2000 da boyband anglo-norueguesa A1 que foi n.º 1 do top britânico; uma versão punk-rock de 2001 dos alemães Emil Bulls; e uma versão acústica de 2009 da espanhola Anni B Sweet. (Ah, e parece que em 2013, foi samplada num tema de Pitbull e Christina Aguilera.)



Com alguns hiatos de permeio, os A-Ha continuam a actuar pelo mundo fora e a editar discos. O álbum de 2000 "Minor Earth Major Sky" marcou o regresso da banda após seis anos e foi bem recebido junto do público e da crítica, demonstrando que os A-Ha não eram relíquias dos anos 80 e que a sua música adaptava-se bem ao século XXI.

"Summer Moved On" (2000)



Em 2015, o norueguês Kygo, um dos DJs e produtores do momento, editou uma nova remistura de "Take On Me". Eis um vídeo de uma actuação onde se constata que, aos 56 anos, Morten Harket  continua a atingir aquela nota de castratto (se bem que não consta que alguma vez tenha sido removida alguma parte da sua anatomia para tal)!



sexta-feira, 2 de setembro de 2016

A Minha Mãe É Uma Sereia (1990)

por Paulo Neto

Embora a TVI tivesse iniciado as emissões a 20 de Fevereiro de 1993, para mim só começaram quase nove meses mais tarde, quando certo dia em finais de Novembro desse ano, decidi ir ao manual de instruções da nossa televisão e perceber como se sintonizavam os canais. Até porque, como já disse aqui algumas vezes, só no Natal anterior é que o nosso televisor deixou de ter apenas a RTP1 sintonizada. Por isso foi com satisfação que vi surgir no ecrã o 4 que era o primeiro logótipo da TVI, sinal de que a partir de agora também eu podia ir ver "A Amiga Olga", o "Parker Lewis", o "Queridos Inimigos" e tudo o mais que esta estação, então ligada à Igreja, pudesse oferecer na sua programação.



Tudo isto para dizer que o primeiro filme transmitido pela TVI que eu vi, em princípios de Dezembro de 1993, foi "A Minha Mãe É Uma Sereia" (simplesmente "Mermaids" no original), filme de 1990 realizado por Richard Benjamin, protagonizado por Cher, Bob Hoskins e então duas jovens actrizes, Winona Ryder e Christina Ricci.



Baseado no romance de Patty Dann, trata-se de uma comédia dramática que tem lugar em 1963. Rachel Flax (Cher) é uma mulher excêntrica sempre a saltar entre aventuras amorosas, duas das quais resultaram no nascimento das suas filhas: Charlotte (Ryder) de 15 anos e Kate (Ricci) de oito. A relação entre mãe e as filhas é algo bizarra, já que Rachel é uma mulher de trinta e muitos com a mentalidade de vinte e poucos e bastante displicente (embora nunca negligente) nas suas funções como mãe. Além disso, nenhuma das filhas a trata por mãe: Kate trata-lhe pelo nome e Charlotte por Mrs. Flax, e as três nunca tomam as refeições juntas à mesa, preferindo ir cada uma para o seu lado.
Kate é um prodígio de natação, tendo aprendido a nadar desde bebé. Charlotte é obcecada pela religião católica (embora tenha sido educada como judia), pela vida dos santos e pelo pai que nunca chegou a conhecer e de quem guarda preciosamente as suas duas únicas recordações dele: uma fotografia rasgada e um par de botas que ela usa sempre.



Quando as coisas correm mal no caso de Rachel com o seu patrão casado, as três mudam-se para uma pequena cidade do estado de Massachussetts, para uma casa perto de convento, que exacerba ainda mais os fascínios de Charlotte, que passa a idolatrar as freiras que lá vivem. Mas Charlotte também fica fascinada por Joe Peretti (Michael Schoeffling), um rapaz de 26 anos que trabalha como jardineiro do convento e como condutor do autocarro da escola. Como tal, a adolescente vê-se um turbilhão de emoções e alucinações, como pensar que está grávida após ter sido beijada por Joe. Entretanto, o dono da sapataria local, Lou Lansky (Hoskins) interessa-se por Rachel e engraça com as suas filhas, mas apesar de lhe corresponder, Rachel hesita em aprofundar a relação, temendo mais uma desilusão.
Através de uma sucessão de acontecimentos, alguns cómicos, outros trágicos (como o assassinato do Presidente Kennedy), Rachel e Charlotte vão crescer e aprender a superar a tensão não só na relação entre ambas, mas também com os outros.





Não sendo nada do outro mundo, "A Minha Mãe É Uma Sereia" é um filme que se vê com agrado e cuja história parece simples mas que acaba por abordar questões bastante pertinentes e universais como dinâmicas familiares, problemas psicológicos e dores de crescimento. Sem dúvida que o melhor do filme são as contracenas entre Cher, Winona Ryder (nomeada para o Globo de Ouro neste papel) e Christina Ricci (que já então mesmo com 10 anos já mostrava que era uma senhora actriz), com Bob Hoskins a contribuir também com a sua habitual competência. Este foi também o penúltimo filme de Michael Schoeffling, conhecido pelo seu icónico papel de Jake Ryan em "Dezasseis Primaveras", que deixaria a representação em 1991.


Outro factor de sucesso do filme foi a banda sonora, cheia de clássicos dos anos 60, bem como duas versões interpretadas por Cher, sendo que uma delas, "The Shoop Shoop Song (It's In His Kiss)", originalmente gravada por Betty Everett, tornou-se um hit mundial, tendo sido n.º 1 na Áustria, Irlanda, Noruega e no Reino Unido, e quiçá até então o seu maior hit na Europa desde o clássico "I Got You Babe". E como não podia deixar de ser, as suas "filhas" do filme Winona e Christina participaram do videoclip.  


Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...