segunda-feira, 7 de março de 2016

RTP - Início das Emissões Regulares (7 Março 1957)


Apesar de as emissões experimentais terem tido inicio a 4 de Setembro de 1956, a televisão portuguesa só "nasceu" realmente no dia 7 de Março de 1957 - uma quinta-feira - às 21:30 horas.
Sobre o período anterior, a Wikipédia resume-o desta forma:

"Entre 1954 e 1955, o Gabinete de Estudos da então Emissora Nacional estuda o projecto para o início de uma rede de televisão nacional, sendo um dos principais impulsionadores Marcelo Caetano, que aconselhou Salazar nesse sentido. Por iniciativa do Governo, foi constituída a RTP - Radiotelevisão Portuguesa, S.A.R.L., a 15 de Dezembro de 1955, sociedade anónima com o capital social de 60 milhões de escudos, tripartido entre o Estado, emissoras de radiodifusão privadas e particulares."
Estranhamente, a primeira emissão regular não foi assunto de primeira capa no dia seguinte - pelo menos no "Diário de Lisboa" - mas no próprio dia foi diferente:



O artigo: "Uma visita ao mundo da Radiotelevisão Portuguesa que hoje, às 21 e 30, inicia as emissões directas dos seus estúdios na Alameda das Linhas de Torres"
"Diário de Lisboa" 07 Março 1957.
 Um texto descaradamente institucional:

"(...) o trabalho é intenso, naquele conjunto que vai ser a base do êxito da Televisão no nosso País; e, ao mesmo tempo que se preparam as emissões directas (pois, durante as realizadas na Feira Popular de Lisboa, as outras têm sido de filmes), pôem-se á prova candidatos e candidatas a futuros locutores."
"Diário de Lisboa" 07 Março 1957.
"A partir de hoje, vão realizar-se emissões de ensaio, com programas regulares, diferentes em cada dia, das 21 e 30 ás 23 horas, prolongando-se, ás quartas-feiras, até ás 23 e 30, e com uma suplementar, aos domingos, das 18 ás 19."
Além de descrever a prova de uma candidata a locutora, e o funcionamento do estúdio, o artigo refere ainda os realizadores Rui Ferrão, Artur Ramos e Álvaro Benamor; e o locutor Nuno Fradique e arquitecto Peiroteo que estavam em estágio na BBC.


Só na semana seguinte encontrei alguma referência no "Diário de Lisboa"



"Diário de Lisboa" 12 Março 1957.
 "Convém aqui assinalar que este bailado foi o  único numero do programa que correspondeu a expectativa criada em volta daquela emissão."
Olhemos à programação seleccionada para o primeiro dia:



"Diário de Lisboa" 07 Março 1957.
Uma lista da programação da primeira semana das emissões da RTP:



07 de Março de 1957 - Quinta-Feira
  • 21:30 - Inauguração das emissões de ensaio: Presente e Futuro da R.T.V.;
  • 21:40 - Canções a granel, com Maria de Lourdes Resende, Rui de Mascarenhas, Conjunto de Domingos Vilaça e Raul Solnado (Produção de Francisco Mata, Realização de Rui Ferrão);
  • 22:00 - Noticiário e actualidades nacionais e internacionais;
  • 22:25 - Futebol militar (os jogos de Paris e Lisboa comentados por Lança Moreira);
  • 22:40 - A T.A.P. por dentro;
  • 23:00 - Os Enganos do Amor (Bailado com Agueda Sena e Fernando Lima, Produção de Tomás Ribas, Realização de Artur Ramos);
  • 23:25 - Ultimas noticias;
  • 23:30 - Fecho da emissão.

08 de Março de 1957 - Sexta-Feira
  • 21:30 - Abertura da emissão;
  • 21:33 - A juventude no Mundo;
  • 21:45 - Vida feminina;
  • 22:00 - Noticiário e actualidades nacionais e internacionais;
  • 22:45 - Viagens sem rumo certo;
  • 22:50 - Ultimas noticias;
  • 23:00 - Fecho.

09 de Março de 1957 - Sábado
  • 21:30 - Abertura da emissão;
  • 21:33 - O Jardim Zoológico de Lisboa;
  • 21:48 - Desportos - o domingo visto de véspera;
  • 22:00 - Noticiário e actualidades nacionais e internacionais;
  • 22:25 - Orquestra feminina cubana "Nereida y su Ensueño Tropical" (apresentado por Raul Solnado);
  • 22:45 - Revista da Semana;
  • 22:55 - Ultimas noticias;
  • 23:00 - Fecho da emissão.

10 de Março de 1957 - Domingo
  • 18:00 - Abertura da emissão;
  • 18:03 - Vida desportiva;
  • 18:20 - Passatempo infantil;
  • 18:35 - Viagem ao parque Kruger;
  • 18:55 - Noticiário;
  • 19:00 - Interrupção da emissão;
  • 21:30 - Reabertura da emissão;
  • 21:33 - O Mundo através dos selos;
  • 21:46 - Cinema 57;
  • 22:00 - Noticiário e actualidades;
  • 22:25 - Música para todos - Patrícia Mungel (coro e orquestra sob a regência do maestro Howard Barlow);
  • 22:45 - Imagens do domingo desportivo;
  • 22:55 - Ultimas noticias;
  • 23:00 - Fecho da emissão.

11 de Março de 1957 - Segunda-Feira
  • 21:30 - Abertura da emissão; 
  • 21:33 - desenhos animados;
  • 21:43 - Tribuna desportiva (Debate conduzido por Lança Moreira);
  • 21:52 - Conímbriga;
  • 22:00 - Noticiário e actualidades nacionais e internacionais;
  • 22:25 - Inauguração das emissões teatrais da R.T.P. - o "Monólogo do Vaqueiro" (de Gil Vicente, Realização de Álvaro Benamor)
  • 22:45 - Música e Artistas - pianista Maria Leonor Fernandes;
  • 22:55 - Ultimas noticias;
  • 23:00 - Fecho da emissão.

12 de Março de 1957 - Terça-Feira
  • 21:30 - Abertura da emissão;
  • 21:33 - A juventude no Mundo (serviço internacional de actualidades para crianças);
  • 21:45 - Miradoiro:
  • 22:00 - Noticiário e actualidades nacionais e internacionais;
  • 22:25 - Vida Feminina;
  • 22:40 - A Ciência ao alcance de todos; "Átomos para a Saúde";
  • 22:55 - Ultimas noticias;
  • 23:00 - Fecho da emissão.

13 de Março de 1957 - Quarta-Feira
  • 21:30 - Abertura da emissão;
  • 21:33 - "Fado, história de uma cantadeira" (filme de Perdigão Queiroga, com Amália Rodrigues e Virgílio Teixeira);
  • 22:00 - Noticiário e actualidades nacionais e internacionais;
  • 22:25 - Continuação do filme "Fado, história de uma cantadeira";
  • 23:25 - Ultimas noticias;
  • 23:30 - Fecho da emissão.
 14 de Março de 1957 - Quinta-Feira 
  • 21:30 - Abertura da emissão;
  • 21:33 - Cavalos selvagens;
  • 21:43 - "História de um 'ás': Manuel Faria";
  • 22:00 - Noticiário e actualidades nacionais e internacionais;
  • 22:25 - Lisboa á noite: fados por Celeste Rodrigues e Arminda Vidal (acompanhadas pelo guitarrista Adelino dos Santos e o violista Nicolau Neves);
  • 22:40 - Cidades da Europa: Veneza;
  • 23:25 - Ultimas noticias;
  • 23:30 - Fecho da emissão.
O Blog "Restos de Colecção" tem um interessante artigo, fartamente ilustrado sobre os primórdios da televisão pública: "RTP - Rádio Televisão Portuguesa".

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sexta-feira, 4 de março de 2016

A Roda da Sorte (1990-1993)



Muito se escreveu - e escreve - sobre as emissões televisivas que em mais de meio século marcaram os telespectadores da "caixinha mágica que mudou o Mundo": os Jogos Olímpicos de Berlim, a chegada à Lua, a tragédia do Challenger, os Festivais da Eurovisão, etc.  Mas se existiu uma emissão nacional que nos anos 90 marcou a minha jovem mente de teenager inconsciente - e aposto que toda uma legião de jovens e menos jovens: a histórica  última sessão da "A Roda da Sorte".
O concurso substituiu outro concurso, apresentado pelo Sr. Contente (Nicolau Breyner): "Jogo de Cartas (1989-92)". Começando as emissões no dia 17 de Setembro de 1990, "A Roda da Sorte" foi apresentado pelo inimitável Herman José, e era a adaptação do clássico formato norte-americano "Wheel of Fortune". Nunca vi um episódio do original, mas a nossa "Roda" era muito melhor, por motivos óbvios. O que podia ter sido apenas mais um concurso de adivinhas e cultura geral, graças a Herman José e sua equipa era um divertido espaço de humor diário. Além do "man itself", eram parte integrante deste programa de  sucesso a ajudante Ruth Rita, a cara simpática, "vítima" das brincadeiras do apresentador e  a voz off mais famosa do país: Cândido Mota. O público sempre reagia histericamente, melhor que as gargalhadas "enlatadas" de outros programas.

O jogo de tabuleiro da MB "Roda da Sorte".
Joguei muitas vezes ao jogo em tabuleiro, e prometo que porei fotos dele aqui na Enciclopédia. Sucedeu-lhe outro concurso com o mesmo gang, "Com a verdade m'enganas", mas essa, é outra história...


A mecânica do concurso era simples (os concorrentes giram a roda, pedem consoantes e adquirem vogais  para tentar revelar e adivinhar a palavra escondida), mas divertido de seguir porque com um host como Herman José era impossível ficar aborrecido! Era quase sagrado, mudar a televisão para ver, antes do Telejornal, e tentar adivinhar as palavras e divertir-se com Herman, a envergonhada Ruth Rita e o Rei da voz off Cândido Mota.

Os prémios da ultima edição.
O programa mais recordado é precisamente o fantástico final, algo nunca visto, nem antes nem depois, em que Herman José, munido de casaco de cabedal, óculos de sol e uma caçadeira - sim, criançada, uma caçadeira - chacinou sem piedade os prémios que os concorrentes podiam ganhar. Fiquei fascinado!







Recentemente consegui uma cópia da mítica ultima emissão de "A Roda da Sorte", que partilho convosco, no canal de Youtube da Enciclopédia TV:
Também disponível no Vímeo - "Roda da Sorte - Última Sessão".





Um artigo do jornal Observador destacou várias expressões que Herman José e companhia inscreveram no vocabulário dos espectadores. Sobre a fase d' "A Roda da Sorte":
"Veio depois a fase dos concursos, que o próprio Herman considerou o seu auge de popularidade. No início dos anos 90, Herman ocupou os finais de tarde de semana com “A Roda da Sorte” (1990-93) (...) foi pródigo em expressões repetidas pelo público em estúdio, o coro das porcazinhas (onde se destacava o Gimba d’Os Irmãos Catita). A farfalota pimpinela, o engrelope ou ah! que bem escolhido! são apenas alguns exemplos desses chavões. Duas músicas do inaudito cantor Victor Peter ficaram então famosas: Paula, eu sofro por você e Ó Ivone, goodbye my love – ainda hoje há quem se despeça com um Goodbye Maria Ivone!" in Observador - "Dez expressões que devemos a Herman José".
A épica ultima emissão foi ao ar a 31 de Dezembro de 1993. Foi um belo final de sexta-feira e final de ano!

Exemplar de um boletim para concorrer á "Roda Da Sorte":


Curiosamente, o programa voltou em 2008, noutro canal [SIC] mas com o mesmo apresentador, agora ajudado por Vanessa Palma. Mas esta versão não conquistou o público e desapareceu da grelha sem deixar saudades...

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Refrigerantes BB (1969)


Os refrigerantes BB "são Bem Bons" segundo a publicidade à "gasosa e a super-laranjada familiares BB". Uma pesquisa no Google não rendeu nenhuns resultados sobre a empresa indicada no fundo do anúncio: "Coporel, Lda" de Linda-A-Velha. Como já devo ter mencionado noutros cromos, até há umas poucas décadas existia uma miríade de pequenas fabricantes de refrigerantes espalhados pelo país. E se pensavam que "BB" seriam as iniciais de "Brigitte Bardot" o mais provável é que fosse "Bem Boa", como gravado nas garrafas. Mas, acrescento eu, poderia ser as duas, visto que Bardot nesta época não era nada de jogar fora!


Publicidade retirada da revista Tintin Semanal Ano 2Nº 08, de 1969. 
Uploader original desconhecido. Imagem Editada e Recuperada por Enciclopédia de Cromos.

Actualização: O blog "MADE IN PORTUGAL" tem a mesma publicidade em melhor estado:
Entretanto, também vi algumas garrafas dos mesmo refrigerantes com a indicação "Madibel, S.A.R.L." e Funchal.


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Novidades da Programação da RTP1 para 1992/93

Por Paulo Neto

A nova grelha de programação para a rentrée 1992/93 era um grande desafio para a programação da RTP, pois foi o período em que surgiria a concorrência das estações privadas, a SIC já em Outubro de 1992 e a TVI cinco meses depois. Por isso, o anúncio das novidades na sua programação para a rentrée de 1992 foi aguardado com expectativa, com uma nova grelha a começar no dia 14 de Setembro desse ano. Uma das principais mudanças foi a nova designação da RTP 2, que passava a ser designada por TV2 (recordo-me até de um anúncio de uma mulher grávida que à medida que a câmara de aproximava da barriga, surgia na mesma as formas de uma televisão com o slogan "Dia 14, nasce uma nova TV"). E claro está, a RTP1 - então designada como Canal 1 - apostava fortemente em vários conteúdos em todos os géneros.  

Entretanto, descobri o blogue Citizen Grave, da autoria de Francisco Grave, que fez parte da direcção de programas da SIC no arranque das suas emissões, onde foi o responsável pelo sector do cinema e dos programas estrangeiros. Francisco Grave faleceu em 2013 mas o seu blogue continua online e inclui vários textos sobre o seu trabalho na SIC e como foi o início da estação em 1992, quebrando por fim o monopólio da RTP. Alguns desses textos contêm recortes da imprensa sobre esse período que agora já se podem considerar documentos históricos.

Por entre esses recortes, descobri nesse blogue o de um anúncio de dupla página da RTP onde apresentava todas as novidades para a rentrée de 1992/93 para RTP 1, uma nova grelha com a qual pretendia enfrentar a iminente concorrência da SIC e da TVI.   




Informação:
- O Telejornal tinha uma nova roupagem, com José Rodrigues dos Santos e Manuela Moura Guedes a conduzirem alternadamente as emissões daquele que na altura ainda era o principal bloco noticiário televisivo em Portugal. E sim, foi nesta altura que MMG popularizou o seu famoso bordão "Boa noite, eu sou a Manuela Moura Guedes."


José Rodrigues dos Santos e Manuela Moura Guedes alternavam-se na apresentação do Telejornal.

- Por seu turno, o marido de MMG e então director de programação da RTP José Eduardo Moniz teve direito ao seu próprio programa, "De Caras", um espaço de debate em directo onde a cada semana uma personalidade pública tinha de enfrentar uma assistência de cem convidados, que podiam intervir e fazer as perguntas que quisessem ao entrevistado.  
- Artur Albarran, que em 1991 tornara-se conhecido do grande público como o enviado especial da RTP para a cobertura da Guerra do Golfo, conduzia o programa "Repórteres", dedicado ao jornalismo de investigação com três reportagens por programa. Se não me falha a memória, "De Caras" e "Repórteres" alternavam em cada semana nas noites de terça-feira.  
- O "Domingo Desportivo", o espaço de informação desportiva das noites de domingo, passava-se a chamar "Grande Área", com Mário Zambujal a comandar as hostes. Neste espaço era eleito por votação pública o melhor golo de cada jornada do Campeonato Nacional.

Mário Zambujal apresentava o espaço desportivo "Grande Área"


- Mas um dos novos programas que mais frisson causou foi "Sexualidades", o primeiro programa de sempre da televisão portuguesa sobre educação sexual, apresentado pelo psiquiatra Júlio Machado Vaz. Segundo o artigo, ia para o ar às quintas-feiras às 22:30.  




Júlio Machado Vaz apresentava "Sexualidades"

O cinema continuava a ser uma forte aposta da RTP com vários espaços dedicados à sétima arte como a "Lotação Esgotada", a "Sessão Da Noite" e a "Última Sessão". Para 1992, apresentavam-se as estreias em televisão de grandes filmes como "E.T.", "Pretty Woman", "Passagem Para A Índia", "Gémeos""Dick Tracy", "Apocalypse Now" e "Um Peixe Chamado Wanda".


"Dick Tracy", "Apocalypse Now" e "Um Peixe Chamado Wanda" eram alguns dos filmes 
a serem exibidos na RTP1 em 1992

Quanto a programas recreativos: 
- "Isto Só Video": muito antes dos vídeos de fails no YouTube, foi o espaço em que Portugal podia rir com as desventuras captadas em câmara em Portugal e no estrangeiro. Já existe cromo sobre este programa que ia para o ar às terças-feiras, apresentado por Virgílio Castelo.

"Isto Só Vídeo" com Virgílio Castelo

- "A Feira Da Música": ainda antes do fenómeno pimba que explodiria em meados da década, já havia um espaço dedicado aos cantores da música popular, alguns deles que nunca tinham aparecido antes na televisão, embora vários deles vendessem muitos discos por esse Portugal fora. Foi por exemplo neste programa que ouvi falar pela primeira vez da cantora Chiquita. "A Feira Da Música" dava aos sábados à tarde e era apresentada por Júlio César.
- "Apanhados": depois de conduzir alguns programas (como aquele que tinha o seu nome) com segmentos de apanhados onde um grupo de actores envolvia incautos portugueses em situações caricatas, Joaquim Letria dava a cara por este programa de apanhados, exibido nas noites de segunda-feira, em que apresentava algumas dessas situações, muitas delas protagonizadas por um ainda não muito conhecido Guilherme Leite.

"Apanhados" com Joaquim Letria

- "Entre Famílias": também à segunda-feira, um concurso apresentado por Fialho Gouveia, onde equipas compostas por cinco membros de uma família disputavam vários prémios, através de jogos onde tentavam adivinhar quais as respostas mais dadas a certas perguntas feitas por questionário a cem portugueses. Recordo-me de uma família, de apelido Salvado, que dominou na primeira temporada, ganhando três vezes o prémio monetário final. "Entre Famílias" foi descontinuado ao fim de duas temporadas, mas teve um breve ressurgimento em 2006, sob o nome "Em Família" com apresentação de Fernando Mendes. O original americano "Family Feud" continua no ar nos States desde 1976 e é actualmente apresentado por Steve Harvey, que fez notícia há tempos pela sua gaffe na última edição da Miss Universo.

Fialho Gouveia apresentando "Entre Famílias"



- "Sons Do Sol": depois de "E.T, - Entretenimento Total", Júlio Isidro tinha novo programa para as tardes de domingo, onde se divulgava a música portuguesa passada e presente. Recordo-me que foi neste programa que teve lugar a fase pré-eliminatória do Festival da Canção de 1993, onde foram escolhidas oito canções para o evento final de entre um grupo de vinte.


Anabela interpretando "A Cidade (Até Ser Dia)" na fase pré-eliminatória 
do Festival da Canção de 1993 no programa "Sons Do Sol" (Vídeo)

Curiosamente o último programa de "Sons Do Sol" foi transmitido directamente do Aquaparque a 27 de Junho de 1993, precisamente um mês antes da tragédia que se abateu sobre aquele local com a morte de duas crianças sugadas pelas tubagens.




- "Olha Que Dois!!": Sim, foi neste programa que se criou a ideia de que Teresa Guilherme e Manuel Luís Goucha eram um casal. Nas tardes de domingo, os dois conduziam este magazine com um convidado especial em cada semana, uma plateia interventiva e pequenas rábulas. Foi também neste programa que apareceu a Agente Isabel Silva, protagonista de um dos mais famosos "Tesourinhos Deprimentes" dos Gato Fedorento com o seu "Toma, bandido!". E foi ainda aqui que Manuel Luís Goucha previu que Pedro Passos Coelho seria primeiro-ministro.

O "casal" Teresa e Goucha apresentava "Olha Que Dois!!"

- "Clube Disney": o espaço infantil com toda a magia do universo Disney, na altura conduzido por Vítor Emanuel, Anabela Brígida e Pedro Gabriel passava das manhãs de domingo para as tarde de sábado.

- "Parabéns": Mas a grande aposta do entretenimento da RTP era para as noites de sábado, com Herman José a apresentar este concurso onde a cada semana dois concorrentes que faziam anos nessa altura habilitavam-se a ganhar bastantes prémios de presente, além de uma grande entrevista a um convidado semanal, vários momentos de música e de humor como as rábulas "Dora & Dário", "Entrevista Histórica" e "Boião Da Cultura". O programa durou até 1996 e foi um dos últimos bastiões da RTP a nível de audiências.


Ana Bola e Vítor de Sousa como "Dora e Dário"


A ficção também era uma forte aposta, das tradicionais telenovelas a séries marcantes:
- "Cinzas" marcava o regresso da RTP às telenovelas portuguesas, três anos depois de "Passerelle". Escrita por Francisco Nicholson, a trama passava-se entre Lisboa e o Ribatejo e narrava a saga da abastada família Veiga, a braços com uma misteriosa onda de incêndios nas suas propriedades que desenterram segredos do passado. Entre o elenco estava nomes como Nicolau Breyner, Armando Cortez, André Gago, Fernando Mendes, Helena Isabel, Helena Laureano, Julie Sargent, Maria João Luís, Ricardo Carriço, Rosa do Canto, Rui Mendes e Sofia Sá da Bandeira. Aliás "Cinzas" acabaria por ser a primeira de uma série quase ininterrupta de telenovelas exibidas pela RTP ao longo do resto da década.

André Gago e Ricardo Carriço num momento tenso da telenovela "Cinzas"


- "Marina, Marina": já falámos aqui desta adaptação nacional da mítica sitcom "I Love Lucy", onde Marina Mota brilhou como a esposa de um famoso cançonetista (Carlos Cunha) que pretende por todos os meios alcançar também um pouco dessa fama, arrastando o marido e os vizinhos (Raquel Maria e Henrique Viana) para todo o tipo de sarilhos.

Marina Mota protagonizou "Marina, Marina"


- "Mico Preto" era a nova telenovela para a hora do almoço, protagonizada por Luiz Gustavo no papel de Firmino, um simples e humilde funcionário que sempre teve pouca sorte na vida  mas que de repente se vê a gerir a fortuna de uma milionária desaparecida, lutando contra os planos dos três filhos interesseiros da milionária. Do elenco também fizeram parte José Wilker, Glória Pires, Tato Gabus Mendes, Marcos Frota, Louise Cardoso, Elias Gleizer, Miguel Falabella e Marcelo Picchi. Estes dois últimos formavam um divertido casal homossexual. Esta também foi a primeira telenovela de Deborah Secco, então com apenas dez anos.

Glória Pires fez parte do elenco de "Mico Preto"

- Mas a grande aposta era sem dúvida "Pedra Sobre Pedra", uma co-produção da Globo e da RTP. Já falámos aqui sobre esta inesquecível telenovela, da autoria de Aguinaldo Silva, sobre o amor proibido de dois jovens oriundos das duas famílias rivais da cidade de Resplendor, por entre intrigas que envolvem fantasmas, ciganos, diamantes, acontecimentos sobrenaturais. Além do luxuoso elenco brasileiro, também por lá estiveram os actores portugueses Carlos Daniel e Suzana Borges.

As inesquecíveis personagens de "Pedra Sobre Pedra"

- E como bom filho à casa torna, o regresso de "Os Simpsons" aos ecrãs nacionais era aguardado por miúdos e graúdos. Depois de terem chegado a Portugal no ano anterior e ter logo conquistado tudo e todos, eu e muitos outros queriam ver mais aventuras e desventuras de Homer, Marge, Bart, Lisa e Maggie. Curiosamente, nos primórdios da SIC, foi também exibido o "Tracy Ullman Show", o programa onde os Simpsons tinham surgido pela primeira vez na televisão americana, em pequenos segmentos animados, (Dan Castellaneta e Julie Kavner, as vozes de Homer e Marge, também faziam parte do elenco fixo de "Tracy Ullman Show), pelo que na altura foi possível ver a família amarela tanto na RTP como na SIC.

Os Simpsons regressavam aos ecrãs nacionais

Ao recordar todos estes programas, não há como mais uma vez sentir a nostalgia de que a programação televisiva de então, mesmo que ainda temporariamente restringida à RTP, era bem mais variada e de maior qualidade. Mas isso são outros tempos... 

quinta-feira, 3 de março de 2016

O Fantasma - Figuras PVC Yolanda (1993)

"O Fantasma" ("The Pantom") ao longo da sua carreira foi gerando variado merchandising, como esta colecção de 2 figuras em PVC fabricados em 1993 pela marca Yolanda.
Clique sobre as fotos para as ver em tamanho maior:






Sobre o aspecto diferente do uniforme destas figuras suspeito que seja inspirado na versão "sem cuecas por cima das calças" vista nos desenhos animados "Defensores da Terra", com o Fantasma na sua 27ª encarnação.

Recorde o artigo que escrevi por altura do 80º Aniversário deste clássico super-herói: "O Fantasma" | Enciclopédia de Cromos.


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terça-feira, 1 de março de 2016

Diana Pereira - Super Model Of The World 1997

por Paulo Neto

Dizer que a indústria da moda em Portugal sofreu um enorme boom nos anos 90 é dizer pouco. Nesta década, a moda nacional e internacional deixou de ser um nicho que só interessava a uma certa elite para ser algo de interesse do grande público. A par dos estilistas consagrados surgiram novos nomes e os passos das modelos portuguesas mais conhecidas, como Sofia Aparício, Nayma, Fernanda Serrano e Luísa Beirão, eram tão acompanhados pela imprensa nacional quanto a imprensa mundial seguia aqueles das top models internacionais. Na televisão, destacavam-se programas dedicados à moda como "86-60-86", "Moda Roma" e a cobertura da SIC das semanas da moda em Paris. A ModaLisboa afirmou-se como o grande evento da moda nacional e o Portugal Fashion no Porto trouxe ao nosso país top models famosíssimas como Claudia Schiffer, Elle McPherson, Karen Mulder, Helena Christiansen e Linda Evangelista.
E se bem que a eleição da Miss Portugal ainda fosse então um acontecimento, nos anos 90 também os concursos de manequins reuniam a mesma atenção. Um deles era o Supermodel Of The World, o evento em que se elegia a representante portuguesa no concurso internacional do mesmo nome, promovido pela reputada agência de modelos Ford.

A edição do ano 1997, transmitida pela SIC, foi um grande acontecimento. O certame teve lugar no Museu da Electricidade, com apresentação de Catarina Furtado e actuações das maiores bandas nacionais da altura como GNR, Delfins, Ritual Tejo e Pólo Norte. A produção esteve a cargo de Teresa Guilherme
Numa passadeira em forma de S, doze candidatas desfilaram várias vezes em vários trajes, cada uma esperando ser aquela eleita para viajar até Los Angeles para representar Portugal na final internacional do "Super Model Of The World". Pelo menos quatro delas tornaram-se sobejamente conhecidas posteriormente, e não só apenas no domínio da moda: a candidata n.º 1 era Anabela Moreira, hoje uma das melhores actrizes da nossa praça, presença regular na televisão e no cinema (vimo-la por exemplo na nova versão de "O Pátio Das Cantigas" no papel de Susana), a n.º 4 era a luso-sueca Anna Westerlund, casada há já vários anos com o actor Pedro Lima e a n.º 7 era Liliana Aguiar (na altura concorrendo simplesmente como Liliana), que viria a ser concorrente na terceira edição do Big Brother e presença regular na imprensa cor-de-rosa desde então. Mas a candidata n.º 2 era um diamante em bruto que faria Portugal resplandecer de orgulho, pois não era outra senão Diana Pereira, então uma adolescente de 14 anos, que frequentava as aulas do 9.º ano e as actividades dos escuteiros em Coimbra, antes de ver o seu sonho de se tornar manequim cumprir-se da forma mais espectacular. Isto porque algum tempo depois, Diana Pereira viria a vencer a final internacional do Supermodel Of The World, provando que no nosso país havia beldades capazes de ombrear com as manequins de outros países nas passerelles internacionais.



Por causa disso, é fácil pensar que a vitória de Diana Pereira na final nacional de Super Model Of The World foi por demais evidente. Porém, segundo Teresa Guilherme, o triunfo da muito jovem conimbricense foi bastante inesperado para muitos. No seu livro "Isso Agora Não Interessa Nada", Teresa Guilherme escreve que a equipa de produção do programa era da opinião geral que seria outra candidata, "uma lindinha de 18 anos, com um bonito palminho de cara, despachadinha" (quem seria?) seria a representante ideal de Portugal para a final mundial do concurso. Porém a decisão estava a cargo de um painel de especialistas de vários países, liderado por um italiano habituado a correr o mundo em busca dos futuros talentos que irão brilhar nas passerelles internacionais. 
Por isso, quando foi necessário divulgar de antemão o resultado à equipa de produção, a surpresa foi geral para TG e a sua equipa. Conta Teresa Guilherme:
"Para que tudo fosse perfeito, combinei com o tal especialista italiano que, cinco minutinhos antes de a apresentadora revelar quem era a vencedora, eu ficaria a saber a notícia em primeira mão. Era a única forma de assegurar que todas as câmaras estariam prontas para mostrar ao mundo a carinha de surpresa e as primeiras lágrimas da vencedora.
Quando ele me comunicou o número da eleita, tive de ir verificar quem era a felizarda, porque não me lembrava sequer da sua cara. O mesmo aconteceu com os meus colegas depois de eu ter dito através do intercomunicador; «Quem ganha é a número 2.» A confusão foi mais que muita: «Ganhou quem? Qual é a número 2? Têm a certeza? Importas-te de repetir?» Foi um verdadeiro sururu. Tive mesmo de ir ao carro de exteriores confirmar a informação, ao vivo e a cores, de quem é que realmente tinha ganho, porque ninguém queria acreditar."



E de facto, o tal olheiro italiano tinha mesmo olho para a moda, uma vez que Diana venceria a final mundial de entre 50 candidatas de todo o mundo. Porém, apoiada pelos pais, Diana decidiu ficar em Portugal e recusar o prémio monetário do concurso que implicava a obrigação de viver dois anos em Nova Iorque. Ainda assim, não só desde logo Portugal elevou-a a nova princesa da moda nacional como foi requisitada para vários trabalhos além fronteiras. Nos anos que se seguiram, a carreira de Diana foi seguida bem de perto pela comunicação social nacional e até os seus pais e o irmão mais novo eram reconhecidos na rua. Devido à sua parca idade, também gerou-se algum discussão sobre se seria prejudicial uma jovem iniciar uma tão activa carreira de manequim desde tão cedo. Recordo-me que Herman José uma vez fez uma piada sobre isso, dizendo que Diana Pereira era a única manequim que podia "desfilar com lingerie de Ana Salazar e fraldas de José António Tenente."

O triunfo de Diana Pereira, aliado à qualidade da produção da final nacional, fez com que no ano seguinte, fosse Portugal o país organizador da final internacional do Super Model Of The World 1998 que teve lugar no Coliseu dos Recreios e cuja vitória sorriu à britânica Katie Burrell.



No próximo dia 1 de Abril, Diana Pereira fará 33 anos. Embora ainda faça algum trabalho ocasional como manequim, está hoje por hoje mais dedicada à família e aos seus negócios pessoais. Uma eventual paixão pelo automobilismo, tendo participado em provas de todo o terreno e ralis, juntou-a ao seu marido, o às do volante Tiago Monteiro, de quem tem dois filhos. Publicou três livros infantis, lançou uma linha de jóias e outra de roupa fitness e em 2015, estreou-se como apresentadora na RTP Internacional.


Quando eu fui para Coimbra estudar na universidade no final dos anos 90, confesso que tive uma certa esperança de encontrar Diana Pereira na sua cidade natal. Acabei por vê-la certa vez, ainda no meu primeiro ano de faculdade, na baixa de Coimbra, por entre um grupo de pessoas que conversava em círculo no meio da Rua Ferreira Borges, não sei se amigos, se gente envolvida em algum trabalho de moda. Não fosse o seu inconfundível rosto, e mal daria por ela. Vestida com um kispo largueirão e fato de treino, sem maquilhagem evidente e longe do glamour com que aparecia na televisão e nas revistas, Diana parecia uma adolescente de quinze anos como tantas outras. Mesmo assim, e embora não tivesse sequer abrandasse o passo ao passar por ela, foi um dos meus primeiros momentos starstruck da minha vida, pois se no meu exterior não houvesse senão um ligeiro sorriso, por dentro eu gritava "VI A DIANA PEREIRA!".        

Vídeo com todos os desfiles e actuações musicais do "Super Model Of The World 1997 Portugal" (muito obrigado ao canal de Marco Lopes)


  
        
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