por Paulo Neto
Vistas bem as coisas, é estranho que a mais popular história de amor da literatura mundial seja um insta-love entre uma pita de 13 anos e um rapaz de 15 anos que até momentos antes dizia-se perdida e completamente apaixonado por outra. Mas a verdade que "Romeu e Julieta" de William Shakespeare tem persistido ao longo dos séculos como uma das maiores histórias de amor alguma vez contadas. E a história dos dois apaixonados de Verona que vêem o seu amor contrariado pelo ódio das respectivas famílias e por uma série de acontecimentos infelizes e mal-entendidos que resulta no fim trágico de ambos já foi por diversas vezes contada, recontada, reconvertida e adaptada ao cinema.
Acredita-se que a primeira adaptação da peça para o cinema seja uma curta-metragem de 1908, nos tempos do cinema mudo. Entre as versões mais famosas estão a de 1936 realizada por George Cukor e sobretudo a de 1968 por Franco Zefirelli e a adaptação directa mais recente da peça é de 2013. Isto para não falar nas diversas variações, como "West Side Story".
Mas para quem cresceu nos anos 90, a adaptação cinematográfica mais marcante é sem dúvida a de 1996 realizada por Baz Luhrmann (com o título estilizado como "Romeu + Julieta") com Leonardo Di Caprio e Claire Daines como protagonistas. Embora muito do texto original fosse mantido, tratava-se de uma modernização da peça, com a acção a decorrer nos anos 90 numa fictícia Verona Beach. Com as espadas substituídas por pistolas, perseguições automóveis, um Mercúcio drag queen e os Capulets e Montagues como famílias mafiosas, não seria de espantar se William Shakespeare desse algumas voltas no túmulo.
Além de Di Caprio e Daines, do elenco também faziam parte Paul Sorvino (Capulet), Brian Dennehy (Montague), Christina Pickles (Lady Montague), Diane Venora (Lady Capulet), Pete Postelthwaite (Father Lawrence), Harold Perrineau (Mercúcio), John Leguizamo (Tebaldo), Miriam Margoyles (Ama), Paul Rudd (Paris) e Vondie Curtis Hall (Captain Prince, o equivalente do Príncipe de Verona).
Apesar de todas as modernices, lembro-me de ter apreciado bastante esta adaptação nineties da peça e de gostar de alguns detalhes como o coro introdutório da peça lido por uma pivot de telejornal. Algo me dizia que se Shakespeare fosse realizador de cinema em 1996, criaria algo semelhante. Leonardo Di Caprio, que desde muito cedo tinha dado provas do grande actor que era em filmes como "A Vida Deste Rapaz" ou "Gilbert Grape" (que lhe valeu a sua primeira nomeação para um Óscar aos 19 anos), foi muito elogiado pelo seu desempenho tenho ganho o Urso de Prata no Festival de Cinema de Berlim e este papel foi uma espécie de antecâmara para a sua ascensão a superestrela de Hollywood com "Titanic" (onde Claire Daines também chegou a ser considerada para a protagonista feminina).
"Romeu + Julieta" foi a primeira vez que Portugal reparou em Claire Daines, até porque só depois da estreia do filme é que passou por cá a série "Que Vida Esta!" que a tinha revelado nos Estados Unidos, pelo que antes só a conhecíamos como uma das "Mulherzinhas" da adaptação cinematográfica de 1994. Lembro-me de na altura, antes de ver o filme, eu achar que Daines não era suficientemente bonita para ser uma Julieta mas a cena do baile em que surge numa indumentária literalmente angelical fez-me mudar de opinião. Mesmo sem nunca ter tido grandes píncaros de fama, Claire Daines continuou bastante activa em Hollywood e voltou a ter papel marcante em televisão em "Homeland - Segurança Nacional". (Inicialmente, o papel de Julieta foi atribuído a uma Natalie Portman de 14 anos, mas foi substituída por parecer demasiado nova até para um Di Caprio de 21 anos).
"Romeu + Juliet" foi nomeado para o Óscar de Melhor Direcção Artística e ganhou prémios BAFTA para Melhor Realizador, Melhor Argumento Adaptado e Melhor Banda Sonora.
Banda sonora essa que aliás foi outro dos grandes trunfos do filme. O álbum, editado antes da estreia do filme, continha canções de Radiohead, Garbage, Everclear, The Wannadies, Kym Mazzelle e Stina Nordenstam, além do conhecido "Lovefool" dos Cardigans.
Porém a canção mais marcante do filme é sem dúvida o tema romântico do filme, "Kissing You" interpretado por Des'Ree que aparece no filme a cantar essa canção durante a cena mais famosa do filme quando Romeu e Julieta vêem-se pela primeira vez através de um aquário.
Destaque também para duas versões gospel interpretadas por Quindon Traver de "When Doves Cry" de Prince e "Everybody's Free To Feel Good" de Rozalla.
Esta última foi a base para o tema "Everybody's Free (To Wear Sunscreen)" de 1999, composto por Baz Luhrmann inspirado num artigo de jornal de Mary Schmich e declamado pelo actor Lee Perry, que se tornou um inesperado hit nesse ano, tendo sido n.º 1 do top britânico e alvo de uma versão parodiada de Chris Rock.
Trailer:
Quindon Traver "Everybody's Free (To Feel Good)" (versão curta)
Baz Luhrmann "Everybody's Free (To Wear Sunscreen)" (versão longa)
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