sábado, 30 de janeiro de 2016

"Wonderful Life" Black (1986)

por Paulo Neto

Janeiro de 2016 tem sido uma enorme ceifa em termos de óbitos de nomes conhecidos, em Portugal e no estrangeiro, em várias áreas. Neste mês já nos despedimos de David Bowie, António Almeida Santos, Alan Rickman e René Angelil, bem como dos actores Abe Vigoda e José Boavida, dos músicos Glenn Frey (Eagles) e Paul Kantner (Jefferson Airplane), do realizador Ettore Scola, do esquiador campeão olímpico Bill Johnson e da fundadora da Associação SOL Teresa Almeida

Neste mês faleceu também o cantor inglês Colin Vearncombe que não resistiu aos danos cerebrais de um acidente de viação e faleceu no passado dia 26 aos 53 anos. Por este nome talvez ninguém o conheça e até o seu nome artístico Black pode não parecer familiar, mas certamente que todos conhecem a sua canção mais conhecida, "Wonderful Life", que se tornaria uma canção intemporal. 



Inicialmente Black era de facto o nome de um grupo, fundado em 1981 por Vearncombe. Entre 1982 e 1984, o grupo também integrou Dave Dickie e Jimmy Sangster, tendo editado os singles "More Than The Sun" e "Hey Presto", que apesar dos elogios da crítica e de alguma atenção na Austrália, não tiveram sucesso comercial. Em 1985, com a saída oficiosa dos outros elementos, Black passaria a tornar-se efectivamente um stagename para Vearncombe.



"Wonderful Life" foi originalmente editado em 1986, tendo chegado ao n.º 72 do top britânico e o single seguinte, "Everything's Coming Up Roses" ainda ficou mais abaixo. Porém, o terceiro single "Sweetest Smile" foi um inesperado sucesso tendo chegado ao n.º 8. Foi então que "Wonderful Life" foi re-editado e não só igualou a posição do single anterior no Reino Unido como tornou-se um sucesso internacional, tendo sido n.º 1 na Áustria e n.º 2 na Alemanha, França e Suíça.

Em "Wonderful Life", Vearncombe canta a sua solidão onde até parece que o sol que brilha parece fazer troça disso, mas ainda assim constata no refrão que não vale a pena fugir, rir ou chorar porque no fundo, a vida é maravilhosa. A música encaixa-se perfeitamente no tom agridoce e melancólico da letra e da melodia e talvez por isso, a canção soe tão transcendente ao seu tempo: é uma canção dos anos 80 mas que também podia ser feita nos anos 70 ou 90. 




O respectivo videoclip a preto e branco, filmado na estância de Southport, é igualmente belíssimo e não fossem as roupas claramente anos 80 de alguns dos figurantes, quase que também era difícil de adivinhar em que altura é que teria sido feito. Realizado por Gerard De Thame, o vídeo ganhou um prémio no Festival de Cinema de Nova Iorque.

Na altura Black foi comparado a Bryan Ferry e a Morrissey. Apesar de nunca mais ter igualado o sucesso de "Wonderful Life", Black continuou a actuar e a editar música até ao abrupto fim da sua vida, com apenas um interregno em meados dos anos 90. Regressou ao activo em 1999, quando fundou editora independente Nero Schwarz (nome super-apropriado já que são as palavras em italiano e alemão para a cor preta), onde editou o seu material quer sob o nome Black, quer pelo nome verdadeiro. O último álbum foi "Blind Faith" de 2015.
Entre o repertório posterior a "Wonderful Life", destacam-se "Paradise" (1988), "The Big One" (1988), "Now You're Gone" (1989) e "Feel Like Change" (1991). 

Mas ao longo destes anos "Wonderful Life" tem continuado o seu sucesso intemporal, tendo sido utilizado em vários anúncios e séries de televisão e até mesmo numa campanha das Nações Unidas contra o tráfico humano. O tema também foi versionado por nomes como Lara Fabian, Tina Cousins, Katie Melua, Ace Of Base e Zucchero.



Apesar de curta e tragicamente findada, pode-se dizer que a vida de Black foi maravilhosa, já que viveu a fazer a música nos seus próprios termos, preferindo a sua liberdade criativa ao sucesso imposto pela indústria musical. E deixou-nos uma canção que haverá de tornar a vida de muitos outros mais maravilhosa, pelo menos durante quatro minutos e meio.

"Sweetest Smile"




"Everything's Coming Up Roses"


   

   
  

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1 comentário:

  1. Um bem-haja ao cantor, criador de uma das canções mais belas de sempre de todo o Mundo.
    De facto, este ano tem sido muito maligno na cultura. Desde o falecimento de Fernanda Peres até José Boavida, passando por Beatriz da Conceição e David Bowie, parece que alguém nos rogou uma grande praga.
    Mas que se há-de fazer? Quando a hora chega, é porque tem de chegar. Nascem uns, morrem outros... É o ciclo da vida.
    Por mais que nos custe, há-que aceitar a realidade tal como ela é.

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