A par de um catálogo com um respeitável número de artistas que iam do fado à música ligeira portuguesa (que anos mais tarde seria absorvida pelo complexo fenómeno a que se convencionou chamar de música pimba), alguns bem conhecidos outros nem tanto, a editora Discossete editou algumas compilações, como por exemplo de medleys de músicas dos anos 60, que durante anos a fio podiam ser vistas nos escaparates das lojas de discos ou nos expositores de cassetes das tabacarias e bombas de gasolina.
Mas em 1990, a Discossete reuniu alguma da prata da sua casa para um projeto que tentava apelar tanto ao patriotismo tuga como a um pé de dança. A qualidade do resultado final era discutível, mas não foi por isso que deixou de ter sucesso nem de animar bailaricos por esse país fora.
Inspirado pelas medleys com batidas eurodisco como "Balla Balla" de Francesco Napoli ou os volumes "Max Mix" de Toni Peret e José Maria Castells, "Portugal Mix" reunia várias temas conhecidos do nosso cancioneiro popular com ritmos eurodisco e vários efeitos sonoros à mistura.
Ao leme do projeto estava Ricardo Landum, hoje um credenciado e prolífico compositor para um sem-fim de artistas nacionais, mas que na altura tanto na sua carreira a solo como na sua ligação aos Da Vinci (foi o compositor do incontornável "Conquistador") assinava apenas como Ricardo tout court. Além dele no primeiro volume de "Portugal Mix", colaboraram nomes conhecidos como José Malhoa, Ana e Manuela Bravo, bem como António Passão, Deolinda Maria, Alexandre Calisto e Lígia.
No segundo volume, também editado de 1990, juntaram-se também Toy, Anabela, Ilda de Castro e, com um lado A dedicado sobretudo ao fado, fadistas como António Severino, Fernanda Maria, Lena Silva e até a icónica Cidália Moreira.
Mas apesar de todas as manhosices incluídas no produto final, creio que a grande maioria dos artistas envolvidos conseguir dar dignidade à sua interpretação, sobretudo os mais veteranos. Até porque estou em crer que o projeto não recuperou gravações anteriores e os artistas fizeram novas gravações expressamente para o efeito. Pergunto-me qual foi, por exemplo, a reação de Cidália Moreira ao ouvir a sua rendição de "Quem Me Dera Ter Outra Vez Vinte Anos" ser acompanhada daqueles efeitos sonoros a fazer lembrar os Chipmunks.
Seja como for, os dois volumes de Portugal Mix tiveram um sucesso considerável. Não sei se foram editados mais volumes, creio que em vez disso, a Discossete aproveitou as medleys de canções portuguesas para uma nova série, Popular Mix.
Além de outras utilidades dos dois discos, como por exemplo para encher chouriços nas emissões das rádios locais, lembro-me de ter lido certa vez nos comentários da página de Facebook da "Caderneta De Cromos" o relato de uma pessoa cujo trabalho incluía acompanhar grupos de idosos em excursões, e que descobriu em "Portugal Mix" a solução ideal para animar as viagens no autocarro, com os idosos a cantar e bater palmas alegremente ao som da medley.