No que diz respeito ao futebol, sempre me interessei mais por competições de selecções nacionais do que de clubes. Embora seja assumidamente do Benfica (e retire o ocasional regozijo dos desaires do Sporting e do FC Porto), nunca perdi sono por causa de períodos de maus resultados dos encarnados ou fui de clubismos desenfreados (e agora muito menos). No entanto, vibro quando joga a selecção nacional (ainda não acredito que já não morro sem ver Portugal a ganhar um grande título!) e sempre gostei de seguir os Europeus e os Mundiais de Futebol, mesmo nos tempos em que era costume Portugal ficar de fora da festa, o que felizmente deixou de ser hábito.
Espanha 1982 foi o primeiro Mundial (ou como também se diz, a primeira Copa) da minha existência mas o meu eu de dois anos não guardou qualquer memória do certame, nem sequer a do mítico Naranjito. As minhas primeiras memórias de uma Copa remontam portanto ao México 1986, o dos Saltillos de Portugal e da Mão de Deus de Maradona. Seguiu-se Itália 1990, que muitos consideram o pior Mundial de sempre, em que somente a irreverência dos Camarões contrariou o futebol pouco emocionante e demasiado agressivo que foi jogado em terras transalpinas.
Porém creio que o Mundial que mais me terá marcado foi o de 1994 nos Estados Unidos, do qual guardo várias memórias. Por exemplo, o belíssimo golo do saudita Al-Owairan à Bélgica, os equipamentos ultra-fluorescentes do guarda-redes mexicano Jorge Campos, a poderosa dupla Romário-Bebeto e na final Brasil-Itália, o desalento de Roberto Baggio ao falhar a penalidade decisiva e a homenagem dos brasileiros ao recém-falecido Ayrton Senna. Também houve memórias menos boas como a de Maradona apanhado nas malhas do doping (não sem antes marcar um belo golo à Grécia) ou o assassínio do colombiano Andrés Escobar, que marcara um autogolo que ditou a eliminação de uma selecção da Colômbia que prometia tanto, quando este regressou ao país.
Uma das minhas principais memórias do Mundial do Futebol de 1994 foi precisamente a cerimónia de abertura, que decorreu em Chicago no dia 17 de Junho antes do jogo inaugural entre a Alemanha e a Bolívia. Na altura, o soccer era um desporto de segunda linha (se tanto!) nos States mas não foi por isso que os americanos deixaram de montar um espectáculo de arromba, conduzido por Oprah Winfrey. Para mim continua a ser a cerimónia inaugural de um Mundial que mais se aproximou da espectacularidade uma cerimónia de abertura de uns Jogos Olímpicos. O que não quer dizer que não tenha tido vários momentos cromos, bem pelo contrário.
Eis o vídeo da cerimónia através da transmissão da televisão brasileira:
- A cerimónia começou com centenas de voluntários a formar o logótipo oficial da competição no relvado do Estádio Soldier Field em Chicago do qual são largados centenas de balões azuis e vermelhos.
- Oprah Winfrey dá as boas vindas aos 60 mil espectadores presentes no estádio (incluindo Bill e Hilary Clinton, o chanceler alemão Helmut Kohl e o presidente boliviano Gonzalo Sanchez de Lozada) e aos milhões de telespectadores de todo o mundo.
- Diana Ross corre pelo relvado para cantar uma medley dos seus êxitos, começando com "I'm Coming Out". Ao lado vêem-se muitos voluntários/bailarinos vestidos de branco segurando círculos com um lado branco e um lado preto para algo a ser utilizado num quadro posterior. Antes de subir ao palco, um momento caricato: Diana Ross deveria marcar um golo de penalti numa baliza à frente do palco que se partiria em duas mas...não é que ela rematou bem ao lado?
Uma vez em palco, Miss Ross continuou a sua medley com "Why Do Fools Fall In Love", "Chain Reaction" e "Ain't No Mountain High Enough", acompanhada por bailarinos e alguns habilidosos da bola devidamente equipados.
O palco estava decorado com faixas com as bandeiras e os nomes dos 24 países participantes: Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Bélgica, Bolívia, Brasil, Bulgária, Camarões, Colômbia, Coreia do Sul, Espanha, Grécia, Holanda, República da Irlanda, Itália, Marrocos, México, Nigéria, Noruega, Roménia, Rússia, Suécia, Suíça e Estados Unidos
- Alan Rothenberg, presidente do comité organizador do Mundial de Futebol de 1994, faz o seu discurso de boas-vindas.
- Oprah Winfrey anuncia a parada das 24 nações participantes da competição através das suas respectivas danças tradicionais, executadas por um grupo de bailarinos de cada país e com uma espécie de pavão humano com uma cauda gigante das cores da bandeira do respectivo país. Claro que a Argentina foi representada pelo tango, o Brasil pelo samba, a Itália pela tarantela e Espanha pelas sevilhanas. Mas também há que destacar para a performance "Andes meets Las Vegas" da Bolívia, a alegria dos ritmos africanos de Camarões e Nigéria, as jovens bailarinas da Irlanda (1994 foi o ano em que surgiu o fenómeno "Riverdance"), as rotações coreográficas da Coreia do Sul e as espadas da Arábia Saudita.
No relvado, os voluntários usam os círculos com um lado preto e um lado branco para "escrever" o respectivo código FIFA de três letras de cada país (por exemplo BRA para Brasil, NGA para Nigéria ou SUI para Suíça), rodeados pelas bandeiras dos países. Após a sua actuação em palco, a trupe de cada país e o "pavão" dirige-se para sua respectiva bandeira.
- O brasileiro João Havelange, então presidente da FIFA, convida (em portunhol) o então presidente americano Bill Clinton a declarar o Mundial oficialmente aberto.
- O cantor Richard Marx (de "Hazard" e "Right Here Waiting") canta o hino americano.
- Segue-se a actuação do cantor cubano-americano Jon Secada que apresentava dois temas do seu repertório: "If You Go" e "Do You Believe In Us". E eis outro momento caricato com a imagem de Secada a cantar dentro de um buraco. Veio-se a saber mais tarde que o cantor caiu acidentalmente lá para dentro (o mesmo aconteceu a Oprah Winfrey depois de anunciar Diana Ross) tendo mesmo deslocado um braço. Mas imbuído pelas máximas de "quem canta seus males espanta" e "the show must go on", Jon Secada não se deixou abater pelo percalço (nem com um pequeno enredamento no fio do microfone) e deu tudo na sua actuação, enquanto os bailarinos dos países davam a volta ao estádio.
- Por fim, a canção oficial do torneio "Gloryland" interpretada por Daryl Hall (conhecido sobretudo pelos seus êxitos em dupla com John Oates) e The Sounds Of Blackness.
Durante a actuação, alguns bailarinos com fatos dourados formam uma espécie de réplica gigante do troféu da FIFA (e por pouco que a bola não caía do topo!)
Por fim, Franz Beckenbauer, seleccionador da Alemanha vencedora da Copa anterior em 1990, sobe ao palco trazendo consigo o verdadeiro troféu.
- Depois foi o jogo em que a Alemanha venceu a Bolívia por 1-0. Os alemães venceriam o grupo C e chegariam até aos quartos de final onde perderam para a Bulgária (que seria uma surpreendente quarta classificada) e os bolivianos (que tinham surpreendido na qualificação ao ganharem 2-0 ao Brasil) deixaram os Estados Unidos após a fase do grupos, após nova derrota com a Espanha e um empate com a Coreia do Sul, e desde então nunca mais se qualificaram para um Mundial. O único golo da Bolívia foi marcado contra a Espanha por Erwin Sanchez que na altura jogava no Boavista e também passaria pelo Benfica.
Daryl Hall & The Sounds Of Blackness "Gloryland"
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