por Paulo Neto
Apesar do Brasil ser um país enorme e repleto de grandes nomes musicais, existe um relativo consenso em se considerar Roberto Carlos como o rei da música brasileira. Pelo menos em termos de produtividade, bem que merece esse epíteto pois em mais cinquenta anos de carreira,
Roberto Carlos editou mais de sessenta discos (41 deles de originais) e vendeu mais 120 milhões de álbuns em todo o mundo. Analisando a sua discografia é curioso notar que a grande maioria dos seus álbuns são homónimos ou seja são intitulados "Roberto Carlos", pelo que para se distinguirem uns dos outros são designados ou pelo ano de edição ou pelo primeiro single do disco. Por exemplo, o álbum "Roberto Carlos" de 1985 também é conhecido como
"Verde e Amarelo", o grande hit desse disco.
Portugal é obviamente um dos países onde Roberto Carlos tem mantido um enorme sucesso e como tal, são muitos os lares portugueses que por entre a sua colecção de discos, sobretudo nos anos 70 e 80, incluíam um álbum de Roberto Carlos. A minha casa não era excepção e por entre os vinis cá de casa, existe um álbum "Roberto Carlos" de 1981, o qual eu bem me lembro de ouvir tocar em petiz no nosso velho gira-discos.
Para já, é destacar o facto de Roberto Carlos aparecer vestido de preto na capa, quando é sobejamente conhecida a sua predilecção em se vestir de branco. Contudo, mesmo com todo o cabedal e ganga, parecia mais um padre motard do que um badboy, até porque sempre cultivou a imagem de bom rapaz.
De entre as dez faixas do disco, recordo-me de três delas: uma delas é
"Cama e Mesa" que começa com Roberto Carlos a dizer "
Eu quero ser sua canção, eu quero ser seu tom/ Me esfregar na sua boca, ser o seu batom" e depois "
O sabonete que te alisa embaixo do chuveiro/A toalha que desliza pelo seu corpo inteiro". (Felizmente que ele não chega aos níveis do Príncipe Carlos que já afirmou desejar ser um peça ainda mais íntima da higiene feminina de Camilla Parker-Bowles...).
Outra faixa é um dos clássicos do repertório de Roberto Carlos,
"Emoções" com o seu lendário verso inicial: "
Quando eu estou aqui, eu vivo esse momento lindo..." E no fim de contas, que melhor verso para resumir o que é viver esta vida do que "
Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi!"?
Porém a faixa mais mítica do álbum "Roberto Carlos - 1981" é sem dúvida "As Baleias". Numa altura em que as causas ecológicas e de protecção dos animais ainda não tinham a atenção devida, já Roberto Carlos denunciava as atrocidades da caça à baleia num refrão simplesmente demolidor (da autoria do seu eterno parceiro de composição Erasmo Carlos):
Seus netos vão lhe perguntar em poucos anos
Pelas baleias que cruzavam os oceanos
Que eles viram em velhos livros,
Ou nos filmes dos arquivos
Dos programas vespertinos da televisão!
O gosto amargo do silêncio em sua boca
Vai te levar de volta ao mar e à fúria louca
De uma cauda exposta aos ventos
Em seus últimos momentos
Relembrada num troféu em forma de arpão
Apesar de toda a sua carga emotiva e acusadora, tratava-se sem dúvida de uma refrão bastante sing-along pelo que quando esta música tocava, eu cantava em coro. E como não podia deixar de ser, esta música também continha um outro histórico mondegreen da minha infância, pois eu não sabia o que queria dizer "vespertinos", então eu cantava "nos programas desportivos da televisão!" embora tivesse noção suficiente que a caça à baleia não era nenhum desporto e que seria inconcebível mostrar cenas dessas num programa como o "Domingo Desportivo". Por essas razões e outras mais, "As Baleias" é a canção que me vem logo à cabeça dentro do vastíssimo repertório do Rei Roberto e decerto que, tal como eu, foi a primeira canção ecologista que muita gente ouviu na vida.
Além disso, foi a única faixa do álbum "Roberto Carlos - 1981" com direito a videoclip com Roberto Carlos a cantar a bordo de um veleiro: