quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Destino X (1994)

por Paulo Neto

Nos anos 90, a SIC empenhava-se em trazer novos conceitos de programas de televisão, diferentes daqueles a que o nosso país estava até então habituado. E na rentrée de 1994, por entre estreias de programas como "All You Need Is Love" e a segunda edição do "Chuva de Estrelas", a estação de Carnaxide incluiu na nova grelha um programa cuja primeira parte começava em Portugal e a segunda se passava num país bem distante, geralmente um apetecível destino turístico.

"Destino X" passou às terças-feiras à noite entre Outubro e Dezembro de 1994, com apresentação e produção de Teresa Guilherme. Infelizmente (e como é frequente no espólio da SIC dos anos 90 e inícios dos anos 2000), encontrei muita pouca informação sobre o programa, e muito menos excertos do programa. O máximo que consegui foram promos ao programa de Hong Kong e ao último programa com os melhores momentos perdidas no meio de vídeos de blocos publicitários da SIC. 
Por isso, muito deste texto sobre o programa vai ter como base aquilo que me lembro dele, mas também uma das crónicas do livro "Isso Agora Não Interessa Nada" de Teresa Guilherme. (Já agora, posso referir que algumas das crónicas desse livro estão também no mais recente livro editado por TG, "Cheguei Aonde Me Esperavam".) 



Como referi, a primeira parte do programa passava-se em Portugal num estúdio, onde duas equipas compostas por um elemento feminino e outro masculino, geralmente um casal de esposos ou namorados, competiam pela oportunidade de viajarem ao destino turístico onde seria gravada a segunda parte, através de um conjunto de vários jogos. Lembro-me que o primeiro jogo era precisamente descobrir qual era o destino, seguindo-se várias provas tanto de exigência física como de perguntas e respostas. Entre os assistentes do programa estava uma então desconhecida Adelaide de Sousa, à qual os operadores de câmara pareciam focar com maior frequência do que às outras, mas também Patrícia Henrique, que passou por outros programas como "Ai Os Homens" e "Paródia Nacional" como assistente/bailarina e a brasileira Valéria Carvalho, que ficaria conhecida na sitcom "Não Há Pai" e que actualmente integra o elenco da telenovela "Espelho de Água".  


Na segunda parte gravada já no respectivo destino, os concorrentes faziam vários desafios que os permitiam conhecer mais a cultura do país. Lembro-me por um exemplo que um dos desafios do programa de Macau era ver se os autóctones respondiam quando os concorrentes lhes falavam em português, o que não era muito fácil pois apesar de na altura ainda ser território português, a língua de Camões já praticamente era só utilizada sobretudo nos órgãos governativos e nos tribunais locais. Na Cidade do México, o rapaz teve de aprender uma dança tradicional de um ritual azteca. E um dos desafios do programa de Hong Kong foi, dada a multiculturalidade do então ainda território britânico na China, foi tentar encontrar pessoas de 10 nacionalidades diferentes em menos de uma hora...e não é que encontraram lá um português? 

Entre os países onde o programa foi gravado, dois deles tiveram direito a dois episódios: o Brasil teve um programa na Baía e outro no Rio de Janeiro, enquanto o México teve um programa em Cancún e outro na sua cidade capital. Outros países e territórios pelos quais o programa passou foram Filipinas, Hong Kong, Macau, Tailândia, Peru, Chile e República Dominicana. 



Mas se estes destinos eram de sonho para serem visitados, segundo conta Teresa Guilherme, eram quase de pesadelo para serem gravados:

"Nas Filipinas chovia, chovia e voltava a chover, apesar dos autóctones nos garantirem que não estávamos na época das chuvas.
No Brasil apanhámos uma caloraça e não foi do sol, mas sim de andar a fugir à polícia. Para nos deixarem gravar fosse onde fosse queriam sempre uns trocadinhos, ou dois, ou mesmo vinte, para um "chope".
No México os agentes da alfândega apreenderam-nos todo o material técnico por causa de um mal-entendido qualquer, que apenas se esclareceu em inglês, ou melhor em americano. Não há nada mais eficaz que a linguagem universal dos dólares.
No Peru a altitude, em vez de nos elevar o espírito, baixou-nos a tensão e lá nos andámos a arrastar.
Na Tailândia, fomos escoltados por um polícia que tinha de visionar tudo o que gravávamos. Provavelmente, tinha receio de que filmássemos "segredos" que as outras televisões do mundo já estão fartas de mostrar.
O único sítio onde tudo correu bem foi em Macau, que ainda era território nacional. Tirando o pequeno detalhe de os concorrentes terem sido apanhados numa greve em Frankfurt e terem chegado três dias depois da data marcada, com o coração nas mãos e as malas sabe-se lá onde."

As dificuldades fizeram-se logo sentir no primeiro programa a ser gravado, nas Filipinas, que começou logo com uma grande molhada, e não foi só da chuva.

"Deus deu-nos um sinal das dificuldades que tínhamos pela frente logo no primeiro dia de gravações nas Filipinas.
O local chamava-se Pacsanjan. Era lindo. Um rio que desaguava em duas cascatas maravilhosas. Para quem se lembra do Apocalypse Now, basta dizer que foi ali filmada a verdejante cena com Marlon Brando. O desafio do concorrentes era descer o rio em canoas muito modestas, passar por detrás das cascatas que escondiam uma gruta e recolher o troféu.
Quando, uns meses antes, eu tinha estado nesse local a fazer a visita técnica (...), o rio era calminho, apenas com uma correntezita. As cascatas eram grandes, mas domesticadas. Só que no dia das gravações o cenário não era bem esse. Chovia a potes, a corrente era feroz e as cascatas rugiam assustadoramente.
Uma apresentadora, um operador de câmara, muito material técnico e uma valente tempestade, tudo metido dentro de uma canoazita, estávamos mesmo a pedi-las.
A canoa virou-se e foi tudo por água abaixo: a câmara, as cassetes, o microfone, o operador e eu. Nós lá nos salvámos, agora o material é que foi desta para melhor e ainda está a banhos nas Filipinas.
Foi um princípio que mais parecia um fim. Claro que tínhamos material para usar em caso de emergência. O que não imaginávamos é que íamos começar logo por uma emergência."

Daquilo que me lembro, acho que o sítio que me deu mais vontade de ir foi Cancún, no México, com tantas praias e paisagens de encher o olho. Ficou-me especialmente na retina, uma imagem de Teresa Guilherme e os concorrentes num bar que ficava...no meio de uma piscina!
Eu acho que, numa altura mais financeiramente favorável e com as devidas actualizações, "Destino X", seria um programa que poderia ser recuperado para os tempos actuais.


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