por Paulo Neto
Os anos 80 marcaram um ponto de mudança na definição da identidade dos géneros no mundo ocidental. Mais que nunca, as mulheres aspiravam cada vez mais a uma carreira profissional de sucesso e cada vez menos a uma vida doméstica. Por outro lado, os homens deixavam de lado os complexos e iam interessando-se cada vez mais pelas lidas domésticas. A ilustrar de forma divertida mas edificante esta inversão no papel dos géneros, esteve a série que hoje recordamos: "Chefe...mas pouco" (Who's the boss, no original).
Angela Bower (Judith Light) é uma bem-sucedida executiva no mundo de publicidade, recém-divorciada, que vive numa aprazível casa no Connecticut com o seu filho Danny (Danny Pintauro) e a sua mãe Mona (Katherine Helmond). Sem tempo nem jeito para as tarefas domésticas, Angela decide contratar uma empregada interna para tomar conta da casa. Só que quem lhe bate à porta é Tony Micelli (Tony Danza).
Antiga estrela do basebol, Tony tem criado sozinho a sua filha Samantha (Alyssa Milano) desde que enviuvou. Para providenciar uma vida mais segura e confortável à filha, fora de Brooklyn, Tony candidata-se ao emprego. Após a surpresa inicial, os Bowers acolhem Tony e Samantha na sua casa e depressa criam com estes uma dinâmica semelhante à de uma verdadeira família.
Angela, naturalmente introvertida e emocionalmente frágil apesar do seu sucesso, deixa-se cativar pelo espírito alegre e descontraído de Tony e entre os dois nasce uma amizade que evolui para uma atracção mútua que não se atrevem a explorar para não complicar as coisas. Tony torna-se também rapidamente amigo de Mona, que ao contrário da filha, é uma mulher extrovertida, espalhafatosa e com vida amorosa - e sexual - activa (uma personagem que bem podia fazer parte de "Sarilhos com elas", série que já abordei na Enciclopédia). E tal como Tony torna-se uma figura paternal para Danny, Mona e Angela providenciam a Samantha todo o apoio e aconselhamento feminino de que ela precisa.
Aliás, ao longo de toda a série vemos Samantha passar de pré-adolescente a mulher feita. Alyssa Milano revelou que muitas vezes a realidade e a ficção quase se esbatiam: por exemplo, o seu primeiro beijo da vida dela foi também o primeiro beijo da personagem. Ao longo da série, enquanto encantava o resto do mundo no pequeno ecrã, Alyssa teve uma carreira musical de sucesso no Japão.
"Chefe...mas pouco" teve oito temporadas entre 1984 e 1992 (exibida em Portugal pela primeira vez em 1989). Na última temporada, Tony e Angela reconhecem finalmente que se apaixonaram, mas em vez de terminarem casados como é típico nas séries, as coisas não correm bem e decidem ficar apenas amigos. O próprio Tony Danza defendeu este rumo porque achava que contradizia o propósito essencial da série.
A série teve várias adaptações noutros países: Alemanha, Argentina, Colômbia, México, Polónia, Rússia e até uma adaptação indiana! Em Itália, o nome de Mona foi alterado para Moira porque em italiano, "mona" é um termo com conatação sexual.
À excepção de Danny Pintauro (que segundo consta, ganha a vida a vender Tupperwares), todos os actores principais prosseguem a carreira na televisão. Alyssa Milano conseguiu por fim fazer esquecer Samantha Micelli, ao encarnar Paige Halliwell em "Charmed". Nos anos mais recentes, vimos Judith Light em "Betty Feia" e Katherine Helmond em "Todos gostam do Raymond". Tony Danza teve o seu talk show entre 2004 e 2006 e continua a fazer várias participações especiais em séries.
O tema do genérico intitulava-se "Brand New Life", que ao longo da série, teve três intérpretes: Larry Weiss, Jonathan Wolff e Steve Wariner.
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