Em 19 de Fevereiro de 1991, Portugal já tinha saído do nevoeiro salazarista há quase duas décadas, mas ainda não estava preparado para um filme artístico com sexo explicito ser exibido na televisão do Estado, o mítico "O Império dos Sentidos" ["Ai no korîda"] de 1976, o vigésimo-terceiro filme de Nagisa Oshima [1932-2013], livremente baseado numa historia real do Japão da década de trinta. A película colocou Oshima no radar e esteve proibida em vários países. Em terras lusas o arcebispo conservador Eurico Nogueira declarou "em entrevista ao Expresso: “Aprendi mais em meia-hora a ver O Império dos Sentidos do que em 67 anos de vida”, disse, acrescentando ter tido “horríveis vómitos”. Ao Público sugeriu que o melhor horário para “filmes assim” seria “às duas ou três da noite, que será hora adequada para marginais e certos doentes”. Imagino que a RTP tenha recebido muitos telefonemas e cartas furiosas da parte dos defensores da moral e dos bons costumes. Sem adiantar mais detalhes, posso afirmar que nunca mais olhei para ovos da mesma forma...
Como o Paulo Neto recordou há alguns anos, na passagem de ano o Hermanias não deixou passar a polémica em branco.
TRAILER:
Praticamente no inicio da Enciclopédia publiquei uma página da programação para a noite em questão.
Realmente, antigamente não existia a noção de SPOILERS, contanto o final do filme à bruta:
"Um homem casado, Kichizo, seduz Sada, uma criada. Aquilo que no inicio era uma simples relação sexual vai-se tornando a pouco e pouco numa relação erótica intensa para ambos, atingindo uma dimensão a que o amor não e alheio. A cada minuto, esse amor exige a redescoberta de novos prazeres, gestos, apetências e êxtases, levando o casa a procurar ir cada vez mais longe no campo do erotismo, que se identifica pela perpetua erecção de Kichizo e pelo desejo insaciável de Sada. Este ritual de prazer acaba, no entanto, por trazer consequências nefastas quando, num momento de loucura, Sada mutila o seu amante, cortando-lhe o sexo e passeando com o mesmo pela rua."
Eu, na época um adolescente de 12 anos, não perdi a hipótese de ver um filme com badalhoquice, embora eu pudesse jurar que só o tinha visto anos mais tarde que esta data. E o leitor, viu esta emissão histórica, ou fez parte do grupo de indignados?
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Eu vi o filme mais recentemente, para aí em 2012. A história é baseada é factos verídicos passados em 1936 e Sada Abe tornou-se uma figura mítica, inspirando romances e filmes. Inclusivamente outro filme sobre ela, "A Woman Called Sada Abe", surgiu mais ou menos na mesma altura de "O Império dos Sentidos". Além do conteúdo explícito, o filme de Nagisa Oshima também se destaca de todas as obras sobre essa história ao focar-se sobretudo em dois temas: as dinâmicas de poder (quando a relação entre Kichi e Sada começa, ele é que tem todo o poder entre ambos mas no final o poder fica todo nas mãos dela) e o apelo da transgressão na natureza humana.
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