sábado, 26 de fevereiro de 2022

O Cacilheiro Do Amor (1990)

 

O início dos anos 90 foram férteis em termos de ficção nacional televisiva em vários géneros, com várias série a serem exibidas na RTP e no advento da SIC, embora nem todas com os melhores resultados. Foi o caso desta série que partia de uma premissa bem interessante e embora a execução não tenha sido a melhor, julgo que merecia ter tido mais atenção.


"O Cacilheiro Do Amor" foi uma série da autoria de Júlio César e Mário Lindolfo, sob realização de Nicolau Breyner e produção de Carlos Paço D'Arcos. Dos oito episódios, os cinco primeiros foram exibidos nas tarde de quinta feira entre 16 de Agosto a 13 de Setembro de 1990 na RTP1. Porém, com a entrada da nova grelha, a emissão da série foi descontinuada e, segundo consta no portal de arquivos da RTP onde a série já se encontra disponibilizada, os três restantes episódios só viriam a ser exibidos a 31 de Dezembro de 1991, mais de um ano depois e tem sido reposta algumas vezes na RTP Memória. 

Como o próprio título deixa antever, a série era uma paródia à famosa série "O Barco Do Amor" (que, nem de propósito, estava na altura a ter uma temporada exibida na RTP2), com um humor nonsense ainda pouco visto na teledramaturgia nacional. 




E se tal como nos luxuosos cruzeiros de "O Barco Do Amor", uma travessia no Tejo a bordo do cacilheiro, entre Cacilhas e o Seixal, proporcionasse a mesma experiência aos portugueses amantes de viagens e aventuras? Como tal, existe "O Cacilheiro Do Amor" sob comando do Comandante Alves Teodósio (Manuel Cavaco), que ostenta orgulhosamente as suas medalhas, e do temperamental imediato Octávio (Luís Aleluia). Josefa Linhares (Margarida Carpinteiro) é a diretora do cruzeiro, mulher acesa, versada em provérbios e que comunica tudo em português do Portugal e do Brasil. O médico do navio é Tito Gaspar (Luís Vicente), que divide as preocupações entre os cuidados com os pacientes e os números do Totoloto, auxiliado pela enfermeira Lisete (Alexandra Diogo). No freeshop, a doce Betinha (Cristina Paço D'Arcos) vende galos de Barcelos e outros souvenirs enquanto suspira pelos cantos pelo Doutor Tito. Albino (Aristides Teixeira) é o barman do cacilheiro, que também dispõe de um salão de barbeiro, onde o dito (Octávio Matos) está sempre a par das fofocas. A segurança do navio é assegurada por Simões (António Rocha), um segurança tão feroz que ruge em vez de falar e tão competente que raramente precisa de sair do seu camarote. 
O trio As Estares proporcionam momentos de entretenimento a bordo. Antes de cada partida, os passageiros têm de passar pelas trovas do bilheteiro (Rui Luís), um velho do Restelo dos tempos modernas. E há uma passageira (Adelaide João) sempre acompanhada de uma boia em forma de pato, dividida entre o seu medo de andar de barco e o vício na adrenalina que sente ao fim de cada viagem.       


Ao longo dos oito episódios, era possível ver alguns actores sem papel fixo desempenhando papel de passageiros, geralmente comentando entre si sobre os acontecimentos de cada episódio, como por exemplo, José Raposo, Licínio França, Rui Paulo, Mafalda Drummond, Carlos Areia e Marcantónio Del Carlo



Um gag recorrente do humor nonsense característico da série era o facto do barco ser movido pela força de remadores descamisados, que pareciam saídos de uma galé romana, com um baterista e um guitarrista a marcarem o ritmo. 

Na exibição original, eu só vi os três primeiros episódios, e o que mais se destacou foi o segundo episódio onde o Cacilheiro Do Amor recebe um grandioso evento: a eleição da Miss Tejo. Sob o controlo férreo da Frau Grünchen (Noémia Costa), são cinco as candidatas ao título: Sandra Isabel (Miss Douro), Sandra Cristina (Miss Guadiana), Sandra Filomena (Miss Mondego), Sandra Floripes (Miss Nabão) e Sandra Raquel (Miss Ribeira de Loures, interpretada por Maria João Abreu). Mas eis que rebentam dois escândalos: o cronista social Nelson Vanderley descobre que uma candidata é casada e mãe de dois filhos e o ceptro para premiar a vencedora é roubado! Mas claro, no final tudo se resolve.

Como já referi, "O Cacilheiro Do Amor" foi uma série que merecia ter tido mais atenção, embora nem sempre as piadas fossem as mais acertadas. Também sou da opinião que, para fazer mais jus ao título e à fonte de inspiração, talvez tivesse sido melhor explorar uma vertente mais romântica e refrear um pouco o humor nonsense. 

Segundo o sempre indispensável "Brinca Brincando", a série acabou por causar uma disputa legal entre dois dos sócios da produtora EV, Nicolau Breyner e Carlos Paço D'Arcos, com este a acusar Breyner, que também era o realizador, de causar prejuízos devido aos seus preciosismos na direção e aos atrasos nas gravações. 

O actor Luís Pavão, que disponibilizou no YouTube algumas cenas da sua participação no 4.º episódio, conta por exemplo sobre esta cena: "No estúdio estavam um módicos 53 ou 54 graus, o leitão fedia a quilómetros. A cena foi adiada repetidamente vários dias... Um perfume!



Entre os aspectos mais positivos da série, está sem dúvida o tema do genérico, da autoria de José Cid.

Do Montijo a Cascais
Da Moita à Caparica
Tudo pode acontecer
Num cais onde ninguém fica

Do Barreiro a Belém
De Almada e Lisboa
Solta as velas à deriva
Curte esta vida à toa

Vamos todos embarcar
No cacilheiro do amor
Aqui é bem português
Só fica neura, quem não for

Vamos todos embarcar
No cacilheiro da aventura
Emocionante que vai ser
Dar uma chance à loucura


Link RTP Arquivos: https://arquivos.rtp.pt/programas/o-cacilheiro-do-amor/

  

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