quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Colectânea Número Um (1996)

por Paulo Neto


Com o primeiro volume editado no final de 1991, a série de colectâneas de êxitos "Número Um" foi um sucesso de vendas ao longo dos anos seguintes até que em 1996 foi lançado aquele que seria o décimo e último volume. Ao contrário do que sucedera entre 1992 e 1995, naquele ano não tinha sido editado nenhum volume por altura do Verão, mas o Fido Dido, a mascote da Seven Up que tinha adornado as capas de alguns volumes (ao ponto da série também ser conhecida como a das colectâneas do Fido Dido), tinha surgido na capa da compilação "Romantic Rock".    


 
Editado pela BMG, com o apoio da Sony Music e da EMI - Valentim de Carvalho, este derradeiro volume, pensado para a época natalícia, reunia 26 dos principais hits de 1996 (alguns até do ano anterior) abrangendo vários géneros musicais.  

CD 1

1. Queen "You Don't Fool Me": Em Novembro de 1995, os Queen editaram o álbum "Made In Heaven" composto por várias composição de várias sessões de gravações da banda, desde o início dos anos 80 até aos últimos anos da vida de Freddie Mercury. Quatro anos após o falecimento de Mercury, o mundo ainda tinha bem presente a sua perda pelo que este disco ajudou a matar saudades. Entre as faixas dos disco estava por exemplo uma versão de "Too Much Love Will Kill You", editado em 1992 por Brian May, na voz de Freddie Mercury. "You Don't Fool Me" foi o terceiro single do álbum, e segundo Brian May, foi criada pelo produtor David Richards quase a partir do nada, com Richards a pegar em vários versos que Mercury tinha deixado gravado e juntando-os numa só faixa, que depois foi completada pelos três membros sobreviventes. 
2. Pet Shop Boys "Se A Vida É (That's The Way Life Is)": "Bilingual", o sexto álbum dos Pet Shop Boys, tinha nos ritmos latinos uma das principais influências, vindas das viagens que Neil Tennat e Chris Lowe fizeram à América do Sul. E essas influências estavam bem patentes no segundo single que tinha título em português "Se A Vida É", com percussões de samba a marcar o ritmo. Com a sua atmosfera solarenga e o videoclip filmado num parque aquático (onde pode ser vista uma jovem Eva Mendes), tornou-se um dos mais populares singles dos Pet Shop Boys da década de 90. 
3. Céline Dion "Falling Into You": Depois de ter tido um ano de 1995 em cheio graças ao sucesso do seu álbum em inglês "The Colour Of My Love" e do álbum em francês "D'Eux", Céline Dion voltava aos discos com o álbum "Falling Into You" que viria a ganhar o Grammy de Álbum do Ano. O primeiro single era a faixa-título, um original 1994 da cantora argentina Marie-Claire D'Ubaldo. 
4. Take That "How Deep Is Your Love": Originalmente gravado pelos Bee Gees para a banda sonora de "Febre de Sábado À Noite", os Take That, agora já reduzidos a um quarteto depois da saída atribulada de Robbie Williams no ano anterior, lançaram a sua versão de "How Deep Is Your Love" para a promoção do álbum de "Greatest Hits" e como despedida após o anúncio do fim da banda. 
Ainda em 1996, Gary Barlow lançaria o seu primeiro álbum a solo. Os Take That regressariam ao activo em 2006 e desde então têm editado vários álbuns, com mesmo Robbie Williams juntando-se para o álbum de 2011 "Progress". 
5. Oasis "Don't Look Back In Anger": O seu segundo álbum "(What's The Story) Morning Glory?" catapultou os Oasis para um novo patamar de sucesso, tornando-se o álbum mais vendido da década de 90 no Reino Unido e vendendo mais de 22 milhões de cópias em todo o mundo. "Don't Look Back In Anger" foi o quarto single do álbum e o segundo single da banda a chegar ao n.º 1 do top britânico. Foi também o primeiro single dos Oasis cantado por Noel Gallagher em vez do seu irmão Liam.  
6. Tina Turner "On Silent Wings": Aos 57 anos, Tina Turner continuava em boa forma e o seu álbum "Wildest Dreams" foi bem recebido, chegando mesmo ao n.º1 dos tops da Nova Zelândia e da Suíça. Este "On Silent Wings" foi o terceiro single e contou com a participação de Sting.
7. Simply Red "Fairground": "Fairground" foi o single de apresentação do álbum "Life" e causou alguma surpresa por ser uma música atípica no repertório da banda de Mick Hucknall, destacando-se os ritmos afro-brasileiros de percussão (retirados do tema "Give It Up" dos The Goodmen de 1993). "Fairground" seria o único n.º1 dos Simply Red no Reino Unido (chegando também ao topo das tabelas de single em Irlanda e Itália). 
8. Scorpions "You And I": Já com mais de trinta anos no activo, os Scorpions continuavam em forma e o seu 13.º álbum "Pure Instinct" gerou "You And I" mais uma powerballad que rapidamente se tornou essencial no repertório da banda alemã e que foi muito tocada nas rádios portuguesas em 1996.    
9. Eros Ramazzotti "Piú Bella Cosa": O álbum de 1993 de "Tutte Storie" foi um campeão de vendas em Portugal e três anos volvidos, o italiano Eros Ramazzotti regressava aos discos com o álbum "Dové C'é Música", do qual este "Piú Bella Cosa" foi o single de apresentação, que Ramazzotti cantou durante a primeira gala de sempre dos Globos de Ouro da SIC em Maio de 1996. 
10. Toni Braxton "You're Making Me High": Tendo começado com as suas irmãs no grupo The Braxtons, Toni Braxton tinha-se estreado a solo em 1993 com o seu álbum homónimo e em 1996 lançava o seu segundo álbum "Secrets" cuja faixa mais popular foi a esmagadora balada "Un-break My Heart". No entanto, nesta compilação foi incluído o single de apresentação "You're Makin' Me High" que lhe valeu o Grammy de Melhor Interpretação Feminina de R&B e que tinha um vistoso videoclip com a participação das actrizes Vivica A. Fox, Erika Alexander e Tisha Campbell-Brown. 
11. Jamiroquai "Virtual Insanity": 1996 viu a edição do terceiro álbum dos Jamiroquai "Travelling Without Moving" e o primeiro single "Virtual Insanity" depressa se tornaria o maior hit da banda, muito por culpa do icónico videoclip em que Jay Kay se movimentava numa sala em que o chão estava em andamento (na verdade eram as paredes). 
12. Mike & The Mechanics "All I Need Is A Miracle 96": Originalmente uma faixa do álbum de estreia de 1985 dos Mike & The Mechanics, uma nova gravação de "All I Need Is A Miracle" foi gravada em 1996 para o álbum best of da banda "Hits". O tema era cantado por um dos dois vocalistas da banda, Paul Young (não confundir com o cantor de "Every Time You Go Away" do mesmo nome) que infelizmente viria a falecer em 2000 aos 53 anos vítima de ataque cardíaco. 
13. Enrique Iglesias "Si Tu Te Vas": Reza a história que quando o terceiro filho de Julio Iglesias decidiu fazer carreira na música, estava determinado a fazê-lo sem a influência do seu famoso apelido, pelo que gravou demos sob o nome de Enrique Martinez e só depois de conseguir um contrato é que a sua editora descobriria de quem ele era filho. O seu álbum estreia homónimo de 1995 foi editado em Portugal no início de 1996 e rapidamente reproduziu o sucesso vindo de Espanha e da América Latina e elevou Enrique Iglesias a ídolo adolescente. Este "Si Tu Te Vas" foi o primeiro single. Ainda nesse ano, foi editada uma versão do álbum com versões em português (do Brasil) de quatro faixas.    

CD 2
1. Robert Miles "Fable": Foi em 1996 que o DJ e produtor italiano de origem suíça Roberto Concina, ou Robert Miles, teve um grande êxito com "Children", um tema instrumental que fez furor nas pistas de dança de todo o mundo e considerando um marco na história da música de dança. Para o segundo single, Miles jogou pelo seguro e editou um tema semelhante, "Fable", cuja versão principal (que é a  aquela foi incluída nesta compilação) é instrumental, mas também existia uma versão cantada. Mesmo sem repetir o sucesso destes tempos, Robert Miles continuou activo como DJ e produtor até infelizmente falecer de cancro em 2017, com apenas 47 anos.   
2. Spice Girls "Wannabe": É impossível falar na música de 1996 (ou até de toda a década de 90) sem mencionar a ascensão meteórica das Spice Girls. Quando em 1994, foi posto um anúncio de audições para um grupo pop feminino, de certo que ninguém envolvido no processo, em especial as cinco eventuais selecionadas Melanie Brown, Melanie Chisholm, Geri Halliwell, Victoria Adams e Emma Bunton (que substituiu o quinto membro original Michelle Stephenson), imaginaria que dois anos mais tarde, após alguns percalços, esse grupo iria conhecer um sucesso estrondoso à escala global, reinventar a música pop e tornar-se sinónimo da década de 90. Mas foi isso que aconteceu e quando o primeiro single "Wannabe" foi lançado e depressa ficou na cabeça de toda a gente, o primeiro passo para o império das Spice Girls estava dado.    
3. George Michael "Fastlove": Depois de uma atribulada batalha judicial com a sua anterior editora, a Sony Music, George Michael regressava aos discos com o álbum "Older", do qual o segundo single "Fastlove" foi a faixa mais popular muito devido ao visualmente impactante videoclip (onde se podia descobrir um shade à Sony Music, nuns auscultadores com um logótipo semelhante ao da Sony mas onde estava escrito Fony).  
4. Peter Andre "Mysterious Girl": Nascido em Londres e crescendo na Austrália, em 1996 Peter Andre tornou-se um ídolo teen, graças a uma mão cheia de hits do quais o maior foi de longe "Mysterious Girl". (O facto de Peter Andre ter um six pack abdominal bem definido e profusamente exibido também terá ajudado.) Mas a verdade é que "Mysterious Girl" é daquelas canções que sabem mesmo a Verão. Em 2004, após a sua participação num reality show britânico, "Mysterious Girl" foi reeditado e chegou ao n.º 1 do top do Reino Unido. Mesmo sem o êxito de outros tempos, Peter Andre continuou activo na música (e em outros reality shows).     
5. Coolio "Gangsta's Paradise": Já houve aqui um artigo sobre este grande hit do rapper americano Coolio, creditado como um dos responsáveis por levar o gangsta rap ao público mainstream. Como se sabe, "Gangsta's Paradise" foi o tema da banda sonora do filme "Mentes Perigosas" com Michelle Pfeiffer, tinha um sample de "Pastime Paradise" de Stevie Wonder e o refrão era cantado pelo cantor gospel LV, que também editou uma versão a solo do tema.   
6. Mr. President "Coco Jamboo": Outro tema com artigo aqui no blogue e que fez a banda sonora do Verão de 1996, "Coco Jamboo" do trio eurodance alemão Mr. President. Um êxito que se estendeu a toda a Europa, chegando ao n.º 1 dos tops de Áustria, Hungria, República Checa, Suíça e Suécia, com a sua fusão de reggae e eurodance. 
7. Los Del Rio "Macarena": Mas quando se fala em dança no Verão de 1996, tem de se falar na Macarena do duo sevilhano de flamenco Los Del Rio, que graças a uma remistura do colectivo americano Bayside Boys, a adição das partes cantadas por Carla Vanessa, um videoclip cheio de beldades de várias etnias e sobretudo uma coreografia criada pela francesa Mia Freye, foi um autêntico fenómeno mundial. Só nos Estados Unidos, "Macarena" foi n.º 1 do top durante dezasseis semanas e até o Vice-Presidente Al Gore se afoitou a fazer a dança. E quem nunca o tentou fazer que atire a primeira pedra! Ah, em Outubro passado, os Los Del Rio actuaram nos Globos de Ouro. 
8. Delfins "A Nossa Vez": Desde meados dos anos 80 que os Delfins foram paulatinamente se tornando uma das mais populares bandas nacionais, mas nem os próprios poderiam prever que o seu álbum best of "O Caminho Da Felicidade", lançado no final de 1995, catapultá-los-ia para um ano de 1996 que seria o absoluto auge da carreira. O disco foi acumulando discos de platina e tornando-se um dos álbuns mais vendidos de sempre em Portugal e a banda correu o ano inteiro em concertos por todo o país. Mas mesmo com uma agenda preenchidíssima, Miguel Ângelo ainda arranjou tempo para apresentar o programa "Cantigas Da Rua" da SIC e no final de 1996, quando parecia que o único novo material da banda seria o tema "Não Vou Ficar" para o filme "Adeus, Pai", os Delfins editaram um novo álbum "Saber A~Mar". Além dos principais hits dos Delfins, o "Caminho Da Felicidade" incluía dois temos inéditos que foram editados como single, "Sou Como Um Rio" que se tornou um dos seus hits incontornáveis e este "A Nossa Vez", não muito recordado hoje em dia mas que vale a pena uma nova audição.     
9. Rui Veloso "Já Não Há Canções De Amor": Depois do álbum conceptual "Auto Da Pimenta" (1991), o cantor de "Chico Fininho" e "Não Há Estrelas No Céu" regressara aos discos no final de 1995 com o álbum "Lado Lunar". A faixa-título é o tema mais popular do disco, mas nesta compilação foi incluído o segundo single: "Já Não Há Canções De Amor".   
10. Luís Represas "Foi Como Foi": Depois do sucesso do seu primeiro álbum a solo, "Represas" de 1993, o ex-vocalista dos Trovante lançava agora o segundo álbum "Cumplicidades" do qual o primeiro single era este "Foi Como Foi". Entre uma e outra reunião esporádica dos Trovante, Luís Represas continuou a gravar discos mas o seu álbum mais recente, "Cores", já é de 2014. 
11. Pólo Norte "O Grito": A banda de Miguel Gameiro continuava a promover o álbum "Expedição" lançado no ano anterior, e que já tinha gerado o hit "Lisboa". Tendo feito a primeira parte de vários concertos dos Delfins nesse ano de 1996, a colaboração em disco das duas bandas era inevitável e para a edição do single "O Grito", a versão principal era aquela em dueto com Miguel Ângelo. No entanto para esta compilação, a versão que se ouvia era a do álbum.     
12. Ritual Tejo "Nascer Outra Vez": Em 1996, os Ritual Tejo lançaram o seu terceiro álbum, "Histórias De Amor E Mar" e o single de apresentação foi a faixa-título, mas seria o segundo single "Nascer Outra Vez" que se tornaria o maior hit da banda. As crianças que se ouvem a cantar no refrão eram as filhas da cantora Isabel Campelo. 
13. Donato & Estefano "Estoy Enamorado": Para encerrar o segundo CD, um dos temas mais marcantes da telenovela "Explode Coração", a balada "Estoy Enamorado" da dupla Donato & Estefano. Donato Poveda era natural de Havana, Cuba, e o Estefano, de seu verdadeiro nome Fabio Alfonso Salgado, era colombiano, da cidade de Cali. Várias duplas sertanejas brasileiras versionaram depois o tema em português e em Portugal, recebeu o tratamente dos Onda Choc. 

Playlist com as 26 canções

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1 comentário:

  1. Como quase sempre nestas compilações, uma grande salganhada.
    Mais importante que isso é verificar como o derradeiro volume desta série não acabou realmente em grande. Sim, as canções dos Oasis, dos Jamiroquai, das Spice Girls, do Coolio, dos Mr. President, dos Los Del Rio e dos Ritual Tejo conseguiram, de um modo geral, sobreviver e fazer parte das playlists das M80 e RFM da vida e amassar números de streaming suficientes para sugerir que o pessoal se lembra destas canções.
    O resto, no entanto, alterna entre fenómenos completamente localizados no tempo ("Estoy Enamorado", Peter Andre, Robert Miles, esta canção em particular da Toni Braxton), êxitos mais ou menos menores de gente em fase maior de carreira (Céline Dion, Delfins) ou na ressaca de êxito maior imediatamente anterior (Simply Red, Eros Ramazzotti, Luís Represas, Take That a caminho do primeiro epitáfio), inícios ainda tímidos (Enrique Iglesias, Pólo Norte). E, sobretudo, tudo o resto: últimos fôlegos de veteranos em fase descendente. Há quem possa questionar a minha inclusão do George Michael neste lote, mas o tempo não foi especialmente generoso com a "Fastlove".
    De resto, há que dizer que estas considerações não são, de todo, um equivalente à minha opinião pessoal sobre as canções e/ou artistas em si, mas mais uma análise à capacidade de sobrevivência ao tempo deste lote de canções. Apenas e só.

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