segunda-feira, 14 de junho de 2021

Mundial de Futebol Sub-20 de 1991


por Paulo Neto


Há 30 anos, Portugal recebia um dos maiores eventos desportivos até então em solo nacional, ao organizar o Mundial de Futebol de Juniores, actualmente denominado Campeonato Mundial de Sub-20. Ainda estávamos a treze anos do Euro 2004 e a um quarto de século do nosso primeiro grande troféu sénior, aliás Portugal ainda não era o freguês habitual das grandes competições que viria a ser mas os alicerces da afirmação internacional do futebol português já estavam a ser estabelecidos. Além disso, as expectativas estavam altas em relação à seleção nacional sub-20 até porque Portugal era o então detentor do título após a excelente campanha na edição anterior, disputada dois anos antes na Arábia Saudita. 

O antigo Estádio da Luz em Lisboa, o Estádio das Antas no Porto, o Estádio D. Afonso Henriques em Guimarães, o Estádio 1.º de Maio de Braga e o Estádio São Luís em Faro receberam os jogos da competição que decorreu entre 14 e 30 de Junho de 1991. Além de Portugal, apuraram-se Espanha, Inglaterra, Suécia, República da Irlanda e União Soviética pela Europa, Brasil, Argentina e Uruguai pela América do Sul, México e Trinidad & Tobago pela América do Norte/Central, Egipto e Costa do Marfim por África e pela Ásia, Síria e uma equipa unificada das duas Coreias, competindo sob uma bandeira branca com um mapa azul da Península Coreana, com 10 jogadores do Sul e 8 do Norte. 



Inserido no Grupo A, Portugal venceu a República da Irlanda por 2-0 nas Antas, e depois a Coreia por 3-0 e a Argentina por 1-0 na Luz. Mesmo com nomes como Mauricio Pochettino e Juan Esnaider (que passaria pelo FC Porto), a prestação da Argentina foi bastante fraca, ficando em último lugar do grupo.  

Todos os jogos do Grupo B se disputaram nas Antas, com Brasil e México a superiorizarem-se à Suécia e à Costa do Marfim. Entre a selecção canarinha, destaque para Roberto Carlos, que integraria o Brasil campeão mundial de 2002, e Paulo Nunes, que passou pelo Benfica.
Braga e Guimarães repartiram os jogos do Grupo C onde a Austrália surpreendeu vencendo os três jogos do grupo contra a União Soviética, o Egipto e o Trinidad & Tobago (com um jovem Dwight Yorke). O Grupo D, com os jogos realizados em Faro, Espanha e Síria apuraram-se face a Inglaterra e Uruguai. Os uruguaios aliás não marcariam qualquer golo e ainda sofreram meia-dúzia da Espanha.

Nos quartos-de-final, Portugal bateu o México por 2-1 no prolongamento na Luz, o Brasil goleou a Coreia por 5-1 nas Antas, a Austrália superou a Síria nos penáltis em Braga após empate a uma bola, e os soviéticos venceram a Espanha por 3-1.

Momento tenso entre Luís Figo e Roberto Carlos


Com cinco golos, Sergey Cherbakov (URSS)
foi o melhor marcador do torneio


Nas meias-finais, o Brasil venceu a URSS por 3-0 em Guimarães e um golo de Rui Costa na Luz foi suficiente para apurar Portugal para a final, eliminando a Austrália. No jogo de apuramento do terceiro lugar, os soviéticos vingaram-se da derrota infligida pela Austrália na fase de grupos ao vencer nos penáltis após 1-1. O jogador mais em destaque desta jovem selecção soviética foi o ucraniano Sergey Cherbakov que com cinco golos, foi o melhor marcador do torneio e que viria a assinar com o Sporting no ano seguinte até que um acidente de automóvel em 1993 interrompeu bruscamente a sua carreira aos 22 anos, deixando os membros inferiores paralisados. 


Por fim, no dia 30 de Junho de 1991, o antigo Estádio da Luz, quando ainda tinha o terceiro anel, encheu-se por completo e mais de 120 mil pessoas assistiram à final entre Brasil e Portugal. Mas o jogo acabou por ser algo morno terminando sem golos após os 120 minutos de jogo pelo que a vitória foi decidida nas grandes penalidades e aí os portugueses foram os mais certeiros acertando quatro vezes na baliza canarinha enquanto os brasileiros falharam duas vezes as redes defendidas por Fernando Brassard. E assim Portugal se sagrava bicampeão mundial de sub-20 e se confirmavam os alicerces de uma geração que poria como nunca antes o futebol português no mapa e cujo legado as gerações seguintes souberam continuar. 



Comandados por Carlos Queiroz, os dezoito campeões mundiais de júnior foram Fernando Brassard, Gil, Luís Figo, Emílio Peixe (eleito o melhor jogador do torneio), Rui Costa, Jorge Costa, Abel Xavier, Paulo TorresLuís Miguel, Nelson, Rui Bento, Tó Ferreira, Capucho, João Vieira Pinto, Tulipa, Cao1, João Oliveira Pinto e Toni. Brassard e João Vieira Pinto também integraram a selecção campeã de 1989. 

1 Em 2002, vir-se-ia a descobrir que Carlos Fortes a.k.a Cao tinha na verdade 24 anos na altura do torneio, fora da idade do escalão júnior, mas nem o jogador (à parte ser-lhe retirada a nacionalidade portuguesa) nem a Federação Portuguesa de Futebol sofreram sanções




Mas mais até do que os jogos, a minha maior memória do Mundial de juniores de 1991 foi o hino que a equipa portuguesa gravou para o evento. Eis a letra para cantarem com os nossos craques:

O futebol é para nós a nossa festa
Foi com ele que aprendemos a sorrir
Fazemos golos com os pés e com a testa
Vamos em frente, não podemos desistir

Vamos viver, vamos sorrir
Vamos vibrar com nova emoções
Vamos cantar, vamos ganhar
Pois queremos ser de novo campeões.

Neste mundo de injustiças e de guerras
Nós escolhemos a melhor situação
Viver em paz, amor e harmonia
No seio da nossa selecção

Vamos viver, vamos sorrir
Vamos vibrar com nova emoções
Vamos cantar, vamos ganhar
Pois queremos ser de novo campeões.

Como se pode ver e ouvir, das duas uma, ou os nossos jogadores eram particularmente afinados ou então neste outro desporto das cantigas, foram feitas algumas "substituições". 

A campanha da selecção portuguesa:


Vídeo de um canal espanhol sobre a vitória portuguesa de 1991:







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