segunda-feira, 18 de março de 2019

A saga Academia de Polícia (1984-1994)

por Paulo Neto





"Academia de Polícia" é uma das mais prolíficas sagas cinematográficas da comédia americana. Decerto que quando o primeiro filme estreou em 1984 sobre um grupo de excêntricas personagens que ingressam na academia e contra todas as expectativas se tornam destemidos agentes da polícia, nunca se imaginaria que se seguiriam mais seis filmes, além de duas séries (uma de animação, que passou na RTP no início dos anos 90, e outra de live action em 1997).

Entre as várias personagens que surgiram ao longo da saga, há que destacar dez: Carey Mahoney (Steve Guttenberg), o protagonista dos quatro primeiros filmes, um vigarista matreiro de coração de ouro que é obrigado a entrar na Academia para evitar ir para a prisão e que descobre que a sua esperteza de rua é mais eficaz se utilizada no lado da Lei; Moses Hightower (Bubba Smith), um ex-florista cuja impressionante estatura e força descomunal escondem um ser extremamente bondoso; Eugene Tackleberry (David Graf), o agente obcecado por armas e como tal nunca sai à rua sem um bom arsenal a tiracolo; Zed McGlunck (Bobcat Goldthwait) o vilão do segundo filme que apesar da voz estridente e do aspecto tresloucado, no fundo até nem é mau rapaz; a diminuta e tímida Laverne Hooks (Marion Ramsey) que na hora do aperto revela sempre a sua grande coragem; a sensual e implacável Sargento Debbie Callahan (Leslie Easterbrook); o Comandante Eric Lassard (George Gaynes) que tem tanto de adorável como de pateta; o Capitão Harris (G.W. Bailey), o antagonista em cinco filmes, bruto e antipático mas que cai sempre na chacota de Mahoney e companhia e seu esbirro Carl Proctor (Lance Kinsey) que volta e meia, vai para inadvertidamente ao Bar Ostra Azul; e last but not least, o meu preferido, Larvell Jones (Michael Winslow) com a sua espantosa habilidade para imitar os mais diversos sons, que se revela muito útil não só para capturar bandidos mas sobretudo para pregar partidas.

Os seis primeiros filmes foram estreados anualmente entre 1984 e 1989, ao passo que o sétimo data de 1994. Desde 2006 que existem conversas sobre um oitavo filme, quer numa nova sequela com os mesmos actores, quer num reboot com um novo elenco, mas as coisas têm estado em águas de bacalhau. Em 2018, Steve Guttenberg anunciou que um oitavo filme vai acontecer, pelo que veremos em que moldes.

Eis os sete filmes ao momento, por minha ordem de preferência:

7.º Academia de Polícia: Missão Em Moscovo (1994)


Dirigido por Alan Metter, este é até ao momento o último filme da saga e apesar de ser o sétimo filme, a Warner Bros. achou que a saga já estava grande demais para continuar a ser numerada pelo que tecnicamente não tem o número 7 no título.
Neste tomo, o comandante policial russo Alexander Rakov (Christopher Lee) pede ao Comandante Lassard para que as autoridades americanas o ajudem a capturar o mafioso Konstantin Konali (Ron Perlman) e neutralizar o seu esquema diabólico: um jogo semelhante ao Tetris que desactiva os controlos de segurança de cada computador em que o jogo for jogado, permitindo vários roubos e esquemas de lavagem de dinheiro a nível mundial. Jones, Tackleberry, Callahan, Harris e o jovem cadete Kyle Connors (Charlie Schlatter), que quer provar o seu valor como polícia apesar do seu medo de alturas são os agentes enviados a Moscovo para capturar Konali e o seu bando.
Este foi o único filme da saga em que Marion Ramsey e Bubba Smith não apareceram como Hooks e Hightower, ao passo que George Gaynes, Michael Winslow e David Graf são os únicos actores a aparecerem nos sete filmes. Este foi também a estreia em cinema da actriz Claire Frolani como Katrina, uma agente russa e interesse amoroso de Connors.
Pergunto-me se o colapso da União Soviética foi o motivo pelo qual foi preciso esperar cinco anos pelo sétimo filme, enquanto os outros foram feitos praticamente um a seguir ao outro. Apesar de ser um dos primeiros filmes americanos a terem permissão para serem filmados na Rússia, a Warner Brothers fez uma distribuição muito escassa do filme nos cinemas pelo que é de longe o filme menos rentável da saga. E a opinião geral (incluindo a minha) é que este é o mais filme mais fraco da saga.



6.º Academia de Polícia 6: Cidade Sitiada (1989)

No sexto filme da saga, realizado por Peter Bonerz, a cidade de Wilson Heights está a ser assolado por uma onda de roubos minuciosamente calculados. Perante a incapacidade do Capitão Harris e de Proctor e sobre pressão do Governador e queixas dos munícipes, o Mayor (Kenneth Mars) da cidade decide pedir auxílio ao Comandante Lassard, para que com a ajuda do seu sobrinho Nick (Matt McCoy) e dos agentes Jones, Hightower, Tackleberry, Hooks, Callahan e Fackler (Bruce Mahler) investiguem quem está por trás desses roubos. Os agentes descobrem que os três membros do gang que tem feito os assaltos são burros demais para elaborarem crimes tão bem delineados e estarem sempre um passo à frente da polícia e que existe alguém bem superior por detrás disto tudo, uma figura misteriosa conhecida como Mastermind, que parece ter conhecimentos dos planos da polícia.
As coisas parecem perdidas quando Lassard é incriminado num roubo de jóias e a investigação dos agentes é arquivada. Ainda assim, Nick e os outros decidem continuar a investigar à revelia para limpar o nome do Comandante.
Num plot twist, fica-se a saber que o Mastermind é afinal o Mayor, que planeava baixar o valor da propriedade das zonas da cidade afectadas pelo roubo para depois obter grandes lucros na revenda.
Ausente do quarto e quinto tomos da saga, Bruce Mahler recuperou o seu papel como Douglas Fackler, um agente que inadvertidamente deixa um rasto de caos à sua volta. É também neste filme que vemos o filho de Tackleberry, Eugene Jr.




5.º Academia de Polícia 2: A Primeira Missão (1985)


No segundo filme da saga, realizado por Jerry Paris, o Capitão Pete Lassard (Howard Hesseman), irmão do Comandante Lassard, recruta Mahoney, Jones, Tackleberry, Hightower, Hooks e Fackler  para o ajudarem na sua esquadra, já que os seus agentes têm sido incapazes de deter a onda de crimes naquela zona e corre o risco de ser deposto da sua posição se as coisas não mudarem dentro de 30 dias.
Entre os crimes, os mais preocupantes são os roubos e vandalismos causados por um gang liderado por Zed McGlunck que aterrorizam os moradores locais, como o indefeso comerciante Carl Sweetchuk (Tim Kazurinsky). Além disso, o Tenente Mauser (Art Metrano) pretende sabotar os planos de Lassard para ser promovido e o novo chefe da esquadra, com a ajuda de Proctor. Entretanto, ficamos a saber que a fixação de Tackleberry por armas é um típico caso de compensação de virilidade, já que é virgem aos 28 anos. Mas felizmente, ele apaixona-se pela Sargento Kathleen Kirkland (Colleen Camp), tão obcecada por armas quanto ele, integra-se bem no seio da sua abrutalhada família e os dois casam no final do filme.
Este foi o único filme da saga em que Leslie Easterbrook não apareceu como Callahan.



4.º Academia de Polícia 3: De Volta Aos Treinos (1986)


Jerry Paris voltou a assinar o terceiro filme da saga. Devido a cortes orçamentais, uma de duas Academias de polícia - uma liderada por Lassard, outra por Mauser - será encerrada, pelo que aquela que obtiver maior sucesso no próximo curso de formação será a que vai continuar.
O Comandante Lassard chama então a Tenente Callahan e os agora Sargentos Mahoney, Jones, Hightower, Hooks, Tackleberry e Fackler para treinarem os novos recrutas. Entre eles estão Violet (Debralee Scott), a esposa da Fackler, Zed e Sweetchuk, personagens do segundo filme, Bud Kirkland (Andrew Paris), o cunhado de Tackleberry e Karen Adams (a ex-Miss Universo Shawn Weatherly) por quem Mahoney se interessa. O agente japonês Tomoko Nogata (Brian Tochi) em formação de intercâmbio chega à Academia de Mauser, mas este julgando-o incapaz, transefere-o para Academia de Lassard. Mas na verdade, não só Nogata revela-se um exímio polícia como surpreendentemente conquista Callahan. 
Para sabotar a Academia de Lassard, Mauser e Proctor conta com a ajuda de dois antagonistas do primeiro filme, os Sargentos Copeland (Scott Thompson) e Blankes (Brant von Hoffman).  Felizmente Mahoney e os outros aparam-lhe os golpes e retaliam de formas hilariantes. Mas será durante um assalto durante o baile do Governador que os cadetes formados da Academia de Lassard mostrarão a sua superioridade face aos de Mauser. 
A lendária actriz pornográfica Georgina Spelvin recuperou aqui o seu cameo do primeiro filme como uma prostituta amiga de Mahoney numa cena em que seguindo o plano deste, ela faz com que Proctor vá parar todo nu ao Blue Oyster Bar onde os clientes aparentemente costumam dançar o tango vestidos de cabedal, um gag recorrente nos quatro primeiros filmes. 



3.º Academia de Polícia 4: A Patrulha do Cidadão (1987)


Para colmatar a falta de recursos humanos e materiais das forças policiais, o Comandante Lassard decide que a sua Academia irá treinar um grupo de civis para que estes formem uma patrulha que ajude os polícias. Mahoney, Jones, Hightower, Callahan, Hooks, Tackleberry, Sweetchuk e Zed ficam encarregados de treinar os civis inscritos, que incluem a idosa Lois Feldman (Billie Bird) cujo fascínio por armas ganha a amizade imediata de Tackleberry, o obeso e sempre faminto Tommy Conklin (Tab Thacker) mais conhecido como "House", um vizinho de Hightower, dois skaters delinquentes, Kyle (David Spade) e Arnie (Brian Backer), a quem Mahoney, que reviu neles o seu passado de meliante, convence um juiz a integrá-los na formação e duas jornalistas infiltradas, Claire (Sharon Stone, sim ela!) e Laura (Corinne Bohrer) por quem respectivamente Mahoney e Zed vão se interessar. 

Já o Capitão Harris acha ridícula a ideia de uma patrulha de civis a ajudar os polícias e planeia sabotar a formação e quem sabe, tomar o posto de Lassard como o director da Academia. Aproveitando a ausência de Lassard em Londres, Harris assume o controlo da formação, mas apesar de tudo, os voluntários saem-se bem nos treinos e os agentes pregam-lhe muitas e hilariantes partidas. Contudo, o programa é suspenso quando alguns voluntários desmancham um operação policial secreta mas os civis mostram o seu valor quando inadvertidamente Proctor liberta os detidos de uma cadeia durante uma visita promovida por Harris, capturando os bandidos numa louca perseguição em balões de ar quente!
O "deus" do skate Tony Hawk participou neste filme como figurante e duplo da personagem de David Spade. Este foi o único filme de saga a ser nomeado para um Razzie, o de Pior Canção. 





2.º Academia de Polícia (1984)

1984 foi um ano antológico na cultura pop, sobretudo na música e no cinema, com o primeiro filme da saga a estrear neste ano, juntando-se a um sem-fim de filmes icónicos em vários géneros que lançados neste ano. 
Reza a lenda que o produtor Paul Maslansky teve a ideia para o filme quando viu em São Francisco um invulgar grupo de recrutas policiais que à primeira vista estariam longe de ser o tipo de pessoas que se alistariam na polícia a ser repreendido por um sargento e mais tarde veio a saber que tinha sido uma medida autárquica para criar uma força policial mais diversa. Então Maslansky pensou "e se estes polícias acabassem por ser bem-sucedidos?" e assim nasceu a ideia para o filme, longe de imaginar que se tornaria uma saga tão mítica. 
Neste primeiro filme, dirigido por Hugh Wilson, a Mayor de uma cidade não identificada resolve colmatar a falta de agentes policiais permitindo que todos os candidatos interessados se alistem, independentemente das capacidades físicas e níveis de educação. Muitos dos polícias, como o Chefe Hurst (George R. Robertson) e o Capitão Harris estão descontentes com essa decisão e esperam que muitos dos aparentemente incapazes novos recrutas falhem ou desistam da formação.
Carey Mahoney, um jovem que vive de pequenos golpes, é forçado a entrar no programa da Academia para fugir à prisão e tenta por todos os meios ser expulso de lá, mas em vão. Além dos recorrentes Jones, Tackleberry, Hightower, Hooks e Fackler (que se alista contra a vontade da esposa), entre os novos recrutas estão Karen Thompson (Kim Cattrall), uma socialite por quem Mahoney se interessa e o obeso e medroso Leslie Barbara (Donovan Scott) que quer aprender-se a defender do bullying que sofre pelo seu peso e por ter dois nomes femininos. Com a ajuda de Blankes e Copeland, dois cadetes mal-intencionados, Harris tenta forçar os novos recrutas a desistir, mas Mahoney e os outros respondem a cada reprimenda com hilariantes partidas. Hightower, por atacar Copeland que proferiu insultos racistas a Hooks, e Mahoney, ao defender Barbara durante uma briga na cantina, chegam a ser expulsos mas os dois bem como os outros recrutas mostram o seu valor quando ocorre um tumulto na cidade. 







1.º Academia de Polícia 5: Missão Em Miami (1988)


Foi um pouco difícil decidir qual o meu filme preferido da saga entre o primeiro e o quinto filme, mas acabei por optar por este, talvez por ter sido o primeiro filme da saga que eu vi e também um dos primeiros filmes que a minha família viu no nosso vídeo VHS e por isso é aquele do qual guardo memórias mais afectivas. 
Este foi o primeiro filme sem o protagonista Mahoney, uma vez que na altura Steve Guttenberg filmava "Três Homens E Um Bebé". Por isso, a sua personagem foi a modos que substituído pela de Nick Lassard, interpretada por Matt McCoy, com características semelhantes, como a astúcia e o gosto para pregar partidas. 
Neste filme realizador por Alan Myerson, o Comandante Lassard ruma a Miami acompanhado por Jones, Callahan, Hightower, Tackleberry, Hooks e House para uma convenção nacional da polícia onde vai receber o prémio de Polícia da Década e onde encontra o seu sobrinho Nick. Entretanto, o Capitão Harris descobre que Lassard passou a idade da reforma obrigatória e vê a oportunidade ideal para se mostrar como o novo líder da Academia. 
Durante a viagem, o Comandante leva inadvertidamente uma mala com diamantes roubados. Os traficantes roubaram as jóias (René Auberjonois e Archie Hahn) perseguem então os polícias para recuperar os diamantes e acabam por raptar Lassard, que julga que é tudo uma simulação policial que faz parte da convenção. Os polícias lançam-se numa perseguição aos bandidos pelos Everglades da Flórida e Lassard acaba por demonstrar a sua bravura apesar da idade e de um ou outro parafuso a menos e é dispensado da reforma obrigatória, para desespero de Harris.
Três cenas divertidas que me lembro deste filme: as bolas de golfe de Lassard a lançarem o caos no aeroporto, Hooks a levantar a voz durante uma simulação de uma manifestação ao ponto de assustar os polícias participantes e fazê-los cair numa piscina e Nick a escrever "DORK" com creme bronzeador no peito um adormecido Harris que o deixa com essa palavra marcada. 




E agora vocês, leitores, quais são os vossos filmes preferidos desta saga? Contem tudo nos comentários e/ou na página de Facebook da Enciclopédia de Cromos.

Bónus: Genérico da série animada



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