sexta-feira, 31 de março de 2017

"Jardins Proibidos" Paulo Gonzo (1992 e 1997)

por Paulo Neto

Segundo reza a lenda, foi João Allain, o guitarrista da Go Graal Blues Band, que teve a ideia para o célebre stagename do cantor nascido em Lisboa a 1 de Novembro de 1956 sob o nome de Alberto Ferreira Paulo. Como o seu colega vocalista da banda adorava o Gonzo dos "Marretas" (e porventura pressentindo que o apelido Paulo seria mais musical que o primeiro nome Alberto), inscreveu-o para o primeiro concerto do Coliseu sob o nome de Paulo Gonzo. Consta que o dito a princípio não gostou muito da brincadeira mas cedo mudou de ideias e é por esse nome que todos conhecem o nosso maior crooner nacional.



Após mais de dez anos de actividade, a Go Graal Blues Band queimava os últimos cartuchos quando Paulo Gonzo decidiu aventurar-se a solo em 1986 com o álbum "My Desire", totalmente em inglês numa era em que tal era raro. Além dele, apenas Teresa Maiuko alcançou notoriedade nos anos 80 cantando na língua de Shakespeare. O disco de estreia foi marcado pelo hit "So Do I", mostrando que a voz de Paulo Gonzo era feita à medida para interpretar baladas. Em 1987, editou uma versão de "Stay", o tema principal da série "Cinderela 80".



Em 1992 fez a transição de cantar em português com o álbum "Pedras Da Calçada". Inicialmente a faixa-título e o single "Caprichos Da Lua" tiveram maior destaque mas nos anos seguintes, seria outro tema desse álbum que lentamente tornar-se-ia a canção-assinatura de Paulo Gonzo e que o catapultaria para um sucesso estrato-esférico. Uma certa canção onde ele cantava o seu desejo de fazer parte da intimidade física e espiritual da mulher amada. O seu título, "Jardins Proibidos".

A primeira vez que ouvi "Jardins Proibidos" foi em 1994 no concurso "Com A Verdade M'Enganas" de Herman José, que sucedeu à "Roda Da Sorte". A minha prova preferida do concurso era aquela onde um convidado musical cantava uma das suas canções com alterações à letra feitas pelo próprio Herman, tendo os concorrentes de descobrir qual a palavra errada e corrigir esse erro. Como essas letras alternativas feitas pelo Herman eram (obviamente) bastante cómicas, era frequente os cantores convidados desmancharem-se a rir quando tinham de cantá-las. Paulo Gonzo não foi excepção, pois recordo-me que ele largou uma risada ao cantar "rasga-se o Abreu e lá vou eu p'ra me perder". Também me recordo que um dos concorrentes acertou em todos os erros da canção, afirmando que aquela era a sua canção preferida.




A partir dessa altura, comecei a ouvir mais vezes "Jardins Proibidos" na rádio, e nem mesmo com o lançamento de um novo álbum de Paulo Gonzo em 1995, "Fora d'Horas" (que incluía temas como "Acordar", escrito por Pedro Abrunhosa e ainda hoje a única canção a mencionar Guronsan na letra, e "Leve Beijo Triste"), perdeu força.



E o tema continuou a ser uma escolha para vários programas de cantigas. Por exemplo, era uma das canções obrigatórias em quase todos os programas do "Cantigas Da Rua", e no programa da RTP "Selecção Nacional", através do qual foram seleccionados os cantores para o Festival da Canção de 1995, "Jardins Proibidos" foi a escolha do concorrente Ed Sant'Ana

E como é óbvio, "Jardins Proibidos" tornou-se também daquelas canções inevitáveis nas várias noites de karaoke por esse país fora, havendo sempre quem quisesse perder a sua voz nesses recantos.



Por fim em 1997, chegou a consagração definitiva de Paulo Gonzo com o álbum "Quase Tudo", uma espécie de best of, contendo temas dos álbuns "Pedras Da Calçada" e "Fora d'Horas" mais dois temas inéditos e uma regravação de "Jardins Proibidos" em dueto com Olavo Bilac.



Desde então, a versão de 1997 tornou-se a versão definitiva de "Jardins Proibidos" e a de 1992 tem sido como que varrida debaixo do tapete. Basta dizer que demorei imenso tempo a encontrar a versão de 1992 no YouTube. (Eu tive-a numa cassete da colectânea "Romantic Rock"). O que é pena pois é esta versão que eu prefiro. A versão de 1997 pode ser mais tecnicamente mais bem produzida e vocalmente melhor executada mas acho que perdeu a da intensidade da versão original, onde Paulo Gonzo canta o refrão quase em falsete mas com mais emoção. E embora as vozes de Gonzo e Bilac conjuguem muito bem, acho que um dueto desta canção é um pouco estranho, como se os dois quisessem a mesma mulher e não se importassem de a partilhar. Até gosto mais do solo de saxofone da versão original. 

Seja como for, graças ao sucesso de "Jardins Proibidos 97" e o inédito "Dei-Te Quase Tudo", o álbum "Quase Tudo" foi um arrasador campeão de vendas, chegando aos seis discos de platina (quando cada um equivalia ao dobro das vendas de um disco platinado actual), algo impressionante mesmo durante aquele que foi o período mais áureo das vendas discográficas em Portugal, e cimentando o estatuto de super-estrela nacional de Paulo Gonzo. "Jardins Proibidos 97" foi também escolhida para representar Portugal numa colectânea da Sony Music lançada em 1999 com música de artistas de todo o mundo associados a essa editora. 

Em 2000, a telenovela da TVI "Jardins Proibidos" cimentou de vez a canção no seu lugar de honra na baladaria nacional. Desde então e após os irrepetíveis píncaros de 1997, a carreira de Paulo Gonzo continua bastante bem-sucedida. Actualmente ele pode ser ouvido a cantar com Raquel Tavares o tema de abertura da telenovela "Amor Maior" e tem novo álbum, "Diz-Me".




Bónus:

"Stay" (Natal dos Hospitais 1987)


"Acordar" (1995)


"Dei-te Quase Tudo" (1997)



"Pagava P'ra Ver" (1998)




     

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