Nos tempos em que a televisão parava o país e só havia dois canais, tudo o que passava na caixinha mágica deixava a sua marca: não só os programas, mas também os separadores, os momentos de continuidade e claro, os anúncios publicitários aos mais diversos tipos de serviços e produtos. E para quem foi criança nos anos 80 como eu, foi provavelmente através da televisão que soube da existência de certos produtos, como os preservativos. Mesmo que ainda faltasse muito tempo para ver um preservativo ao vivo, quanto mais dar-lhe qualquer tipo de uso.
Consta que os primeiros preservativos a serem comercializados remontam ao século XVII, quando eram feitos a partir de tripa animal, para evitar gravidezes indesejadas e a doença venérea mais temida da altura, a sífilis. Com o tempo, passaram a ser feitos de outros materiais (em especial o látex) e a serem mais fáceis de usar e de aceder e na segunda metade do século XX, a comercialização de preservativos foi gradualmente aumentando a sua importância junto do mercado de saúde e higiene. O principal ponto de viragem foi anos 80, onde além da prevenção contraceptiva, os preservativos revelaram-se essenciais para a prevenção de uma nova doença que se propagava de forma alarmante no mundo inteiro: a SIDA. E com tudo isso em jogo, a necessidade de prevenção foi-se sobrepondo paulatinamente à vergonha de ter de comprar preservativos nas farmácias diante de estranhos (e sobretudo diante de conhecidos).
Entre as principais marcas de preservativos, uma destacou-se desde logo em Portugal através das suas campanhas publicitárias: a Control, criada em 1946 em Itália pelo grupo Artsana. E nos anos 80, uma campanha vencedora marcaria a publicidade televisiva sem sequer mostrar os ditos cujos preservativos. Bastava uma beldade que aparentava não trazer roupa vestida a olhar sorridente para a câmara e dizer em italiano a célebre frase: "Ho fatto l'amore con control." Depois vinha uma voz em português: "Preservativos Control. Porque amar é natural." Chegou a haver algumas versões em que a beldade italiana era dobrada em português com a frase a transitar do pretérito perfeito para o presente do indicativo ("Eu faço amor com Control!")
E porque já então haveria alguma preocupação com a equidade entre os géneros, chegou a haver um anúncio em que quem olhava para a câmara e dizia a célebre frase era um senhor que ostentava um magnífico bigode.
Para muitos de nós, "Ho fatto l'amore con Control" foi provavelmente a primeira frase em italiano que ouvimos na vida e claro que teve todo o tipo de paródias, quer nas galhofas entre colegas de escola quer em programas de comédia na televisão. Por exemplo, no episódio do "Euronico" dedicado à Itália, havia um sketch em que um Luís Aleluia todo ferido e enfaixado dizia para a câmara: "Ho fatto l'amore senza Control".
Claro que esta não foi a única campanha marcante da Control. Sempre na vanguarda do mercado, nos anos 90, lançaria um daqueles anúncios que marca uma geração. O anúncio "De quem é isto?" em que um professor com um ar mega-austero acha um preservativo na sala de aula e profere a dita pergunta com uma severidade algo desmedida. Um aluno de óculos, meio envergonhado e já antecipando uma descompostura, levanta-se e diz "É meu." mas pouco depois, os outros colegas vão se levantando e reclamando a propriedade do preservativo num misto de solidariedade e rebeldia.
E eis a versão em italiano:
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O Spartacus nunca imaginou ser referenciado numa publicidade a preservativos! "É meu!"
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