terça-feira, 20 de agosto de 2013

Perdoa-me (1994-95)

por Paulo Neto

Foi o primeiro reality show em Portugal (e há quem diga que foi a partir daí a televisão nacional foi por aí abaixo). Todas as semanas, o país podia assistir à reconciliação ao vivo e a cores de namorados desavindos, familiares de candeias às avessas, amigos de costas voltadas, emocionar-se com o reencontro entre os ex-entes queridos e deitar uma ou outra lagrimita. Falo claro do "Perdoa-me" que estreou na SIC em 1994, adaptando um formato original da produtora holandesa Endemol e que fazia sucesso por essa Europa fora. O programa teve duas séries exibidas entre 1994 e 1995, a primeira apresentada por Alexandra Lencastre e a segunda por Fátima Lopes (na sua estreia como apresentadora).


A premissa era simples. A parte culpada na zanga contactava o programa e dizia com quem queria fazer as pazes e expressava todo o seu arrependimento. Seguiam-se imagens de alguém da produção a bater à porta de casa do destinatário do pedido de desculpas com um ramo de flores na mão, convidando-o a ir ao programa a aceitar as desculpas daquele que o ofendera. Era frequente que o destinatário deixasse a dúvida no ar sobre se aceitava ou não, o que aumentava o suspense quando ele surgia em estúdio. Como era expectável, o resultado final mais frequente era ver as duas partes desavindas a abraçarem-se e fazerem as pazes, chorando baba e ranho. Mas também havia recusas. Se não me falha a memória, pelo menos uma vez em cada programa havia alguém que recusava o perdão e a ida ao programa.




Também acontecia ser uma terceira pessoa a promover a reconciliação entre duas pessoas. Um dos casos mais marcantes foi a de uma mulher que pretendia que uma amiga e a filha desta fizessem as pazes, e para tal convidou-as para irem à SIC, dizendo que era para a "Mini Chuva de Estrelas" onde actuaria o filho dela. Também ouvi dizer que um parzinho de namorados da escola onde eu andava tinha ido ao programa. Mas a ser verdade, foi num dos episódios em que eu não vi, pois embora fosse um acérrimo fã da programação da SIC nos anos 90, o "Perdoa-me" não era dos meus programas preferidos e por isso eu não fazia muita questão de o ver. Via mais por falta de alternativas do que outra coisa.  


Exibido nas noites de quarta-feira, "Perdoa-me" foi um sucesso como quase tudo o que a SIC estreava na altura, mas também foi alvo de duras críticas, nomeadamente por explorar a lágrima fácil e expor questões da vida privada em público que deveriam ser resolvidas em privado. Também foi questionada a veracidade das situações e houve pelo menos um caso em que dois rapazes tinham assumidamente fingido uma zanga só para aparecerem na televisão. E o certo é que as audiências baixaram na segunda série e o programa foi descontinuado, até porque surgiram outros programas do género que apelaram mais ao público como "Ponto de Encontro" e "All You Need Is Love".

Porém, o programa foi marcante para as suas duas apresentadoras. Foi lá Alexandra Lencastre conheceu Piet-Hein Bakker, na altura o chefe da filial portuguesa da Endemol, com quem viria a casar e ter duas filhas e marcou o início da celebrada carreira de Fátima Lopes na apresentação (na altura Emídio Rangel, definiu-a como "a bomba da SIC"). De referir ainda que o tema do programa era cantado por Rita Guerra e era na altura comum ouvir alguém trauteá-la, normalmente à laia da galhofa.

"Perdoa-me, desculpa,
não sei mais como alcançar-te,
não sei mais como explicar-te
que é contigo que eu quero estar.

Perdoa-me, perdoa-me
que eu vim aqui chamar-te.
Perdoa-me, perdoa-me
e a vida vai saudar-te"




Por fim, importa referir ainda que "Perdoa-me" também originou uma sitcom que o parodiava, sob o título de "Desculpem Qualquer Coisinha". A série foi exibida em 1994 na RTP e era da autoria de Ana Bola e protagonizada por Ana Bustorff.

Excerto do programa: 




Promo de "Desculpem Qualquer Coisinha":



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