segunda-feira, 3 de junho de 2019

Mulheres Apaixonadas (2003)

por Paulo Neto

Tempo para recordar mais uma telenovela brasileira, neste caso já deste século, e esta foi mais um novelão com um elenco de luxo com mais de cem personagens! Exibida tanto no Brasil como em Portugal ao longo do ano de 2003, "Mulheres Apaixonadas" era mais uma telenovela da autoria de Manoel Carlos, célebre por dar o nome de Helena às protagonistas das suas telenovelas. A Helena desta telenovela foi interpretada por Christiane Torloni, mas ao contrário das outras Helenas, não era uma protagonista muito central, era mais como que o principal elo de ligação entre as várias histórias que exploravam os diferentes papel da mulher na sociedade (outro tema recorrente do autor) e algumas dessas histórias acabaram por ser mais marcantes que o percurso da protagonista.
Para manter a actualidade das temáticas abordadas da telenovela, era frequente algumas cenas serem gravadas no dia em que o respectivo episódio era exibido. 



Helena Moraes (Torloni) é professora de História e directora da Escola Ribeiro Alves, um reputado colégio liceal, casada há vários anos com Téo Ribeiro Alves (Tony Ramos), um músico de jazz com quem adoptou Lucas (Victor Curgula). Mas sob essa aparente felicidade, Helena passa por uma fase de dúvidas em questiona se é realmente feliz. E o reencontro com César Andrade Melo (José Mayer), uma paixão antiga, vai desencadear mudanças na vida de Helena e dos que a rodeiam. Viúvo no início da novela, César é pai de dois filhos, o problemático Rodrigo (Leonardo Miggiorin) e a alegre Marcinha (Pitty Webo), que estuda na Escola Ribeiro Alves. Tem também uma ligação extraconjugal com uma colega da clínica, Laura (Carolina Kasting), que espera que César assuma a relação após a viuvez. Mas a reaproximação entre Helena e César estraga-lhe os planos, e após várias reviravoltas, no final da telenovela, Helena e César casam-se e Téo e Laura acabam por ficar juntos.

Téo e Helena

Durante este período de mudanças, Helena descobre um segredo de Téo: Lucas é seu filho biológico com Fernanda (Vanessa Garbelli), uma ex-prostituta. A ligação de ambos foi breve mas Téo e Fernanda ficaram amigos e cada um costuma recorrer ao outro quando está com problemas. Fernanda é também mãe da encantadora Salete (Bruna Marquezine), que sente uma ligação especial com Téo e Lucas. Numa das cenas mais marcantes da telenovela, Fernanda morre e Téo fica paraplégico devido a balas perdidas num tiroteio no trânsito, deixando Salete à mercê da sua avó Inês (Manoelita Lustosa), uma mulher pérfida e insensível, que negligencia a neta e que só a acolheu com olho na fortuna de Téo. Mas apoiada por visões do espírito da sua mãe e de anjos, Salete sonha com uma vida melhor e tudo muda quando fica provado que ela também é filha de Téo, que prontamente a assume e que passa a viver com Lucas e Laura. Este foi o primeiro papel da actriz Bruna Marquezine aos oito anos, ela que mais tarde viria a ser uma grande celebridade no Brasil, tanto dentro das novelas, como fora delas, nomeadamente devido à sua relação intermitente com o futebolista Neymar.

César  e Helena

Laura 
Salete e Fernanda 


Lorena Ribeiro Alves (Suzana Vieira), irmã de Téo e dona do colégio dirigido por Helena, é uma mulher alegre e de muitas paixões. Tem dois filhos, Diogo (Rodrigo Santoro) e Vidinha (Júlia Almeida) do seu ex-marido Rafael (Cláudio Marzo), com quem continua a se dar bem. Um dia ao encontrar Expedito (Rafael Calomeni), filho do caseiro da sua fazenda, Lorena acaba por viver uma história ao estilo de Pigmaleão, onde ela transforma o jovem provinciano num belo modelo pronto a fazer sucesso no mundo da moda carioca e os dois acabam por se envolver romanticamente.

Lorena  e Expedito

Marina
Diogo e Luciana

Além de Lucas e Salete, Téo é pai de Luciana (Camila Pitanga), fruto de uma relação com a cantora Pérola (Elisa Lucinda), anterior ao seu casamento com Helena. Luciana é estagiária na clínica de César (com quem terá um breve envolvimento) e foi sempre apaixonada pelo primo Diogo, apesar do rapaz ser um mulherengo bon-vivant. Por isso, Luciana não se conforma quando Diogo aceita casar com Marina (Paloma Duarte) quando esta revela que está grávida dele e as duas chegam a ter várias cenas de briga. Porém o casamento fica logo condenado ao fracasso, sobretudo depois de Marina perder o bebé. Desesperada, Marina acaba por seduzir Expedito, roubando-o à sogra, enquanto Diogo conclui que Luciana foi sempre a mulher da sua vida. Lorena acabará por encontrar consolo nos braços de outro jovem (participação especial de Reynaldo Gianechini).
Na altura em gravava esta telenovela, Rodrigo Santoro fazia sucesso em Hollywood pois nesse ano de 2003, estrearam três filmes em que ele entrou: "Os Anjos de Charlie 2", "300" e "O Amor Acontece."

Hilda, Helena e Heloísa


Leandro e Hilda

Helena tem duas irmãs, Hilda (Maria Padilha) e Heloísa (Giulia Gam). As três irmãs são muito unidas e confidentes umas das outras. Hilda vive um casamento longo e feliz com o seu marido Leandro (Eduardo Lago) de quem tem uma filha, Elisa (Gisele Policarpo) e é dona de um delicatessen num hotel de luxo, mas a vida prega-lhe um enorme golpe quando descobre que sofre de cancro da mama. Heloísa é mais problemática das três, já que sofre de ciúmes doentios do marido, Sérgio (Marcelo Antony), acusando-o constantemente de traição e desconfiando de todas as mulheres que se aproximam dele. Apesar dos conselhos das irmãs e das juras de amor e de fidelidade do marido, Heloísa entra numa espiral de obsessão cada vez maior cometendo actos cada vez mais tresloucados e o inevitável acontece: Sérgio acaba por deixá-la e envolve-se com Vidinha. A Heloísa chega a ser internada num hospital psiquiátrico e no fim, só lhe resta fazer terapia num grupo de apoio a mulheres que amam demais.

Sérgio e Heloísa

Raquel e Marcos


Outra história marcante desta telenovela foi a de Raquel (Helena Ranaldi), vinda de São Paulo para recomeçar a vida no Rio de Janeiro, dando aulas de Educação Física na Escola Ribeiro Alves. Na verdade, ela fugiu do seu marido abusivo, Marcos (Dan Stulbach), que a certa altura vai ter com ela, jurando estar mudado e pedindo reconciliação. Mas cedo se descobre que Marcos não mudou nada e volta a agredir a mulher, tendo uma raquete de ténis como sua arma de eleição. Para complicar as coisas, Raquel tinha-se entretanto envolvido com um dos seus alunos, Fred (Pedro Furtado). Marcos acaba por atrair o rapaz para um emboscada em que ambos morre, deixando Raquel sozinha e grávida de Fred.

Fred (Pedro Furtado)

Cláudio e Edwiges
Edwiges (Carolina Dieckman), irmã de Expedito, é uma jovem simpática e dinâmica que se desdobra em vários empregos para ajudar a família. Um deles é a tomar conta de cães e é durante uma situação atribulada que ela conhece Cláudio (Erik Marmo), um amigo de Diogo e os dois rapidamente se apaixonam, vivendo algumas das cenas mais românticas da telenovela ao som de "Velha Infância" dos Tribalistas. No entanto, não só a mãe do rapaz é contra o namoro por a rapariga ser pobre, como Edwiges insiste em manter-se virgem até ao casamento. A moçoila acaba por não resistir às pressões e termina o namoro e Cláudio acaba por ceder aos avanços de Gracinha (Carol Castro), a filha dos empregados da família, que volta e meia arrasta a asa ao rapaz. Gracinha acaba por engravidar, o que complica a vida do rapaz. Mesmo assim no final, Cláudio e Edwiges acabam por casar e a rapariga tem finalmente a sua primeira vez. 

Leopoldo, Dóris e Flora
Dóris e Carlão

Uma das personagens mais odiadas da telenovela foi Dóris (Regiane Alves), com a qual o autor quis retratar o tema dos maus-tratos a idosos. Furiosa pelo seu pai Carlão (Marcos Caruso), sem dinheiro para pagar um lar, ter decidido acolher os seus pais Leopoldo (Oswaldo Louzada) e Flora (Carmem Silva) no já pequeno apartamento da família, obrigando-a a ter de partilhar um quarto com o irmão Carlinhos (Daniel Zettel), a rapariga maltrata constantemente os avós, chamando-os de estorvos e chegando a roubar-lhes o dinheiro da reforma. Por amor à neta, o casal de idoso esconde tudo do filho e da nora, até que Carlão descobre as patifarias de Dóris e numa das cenas mais marcantes, chega a bater nela com um cinto. No final, Leopoldo e Flora vão para um lar para artistas aposentados.

Por fim, houve a história de amor entre duas alunas do colégio, Clara (Alinne Moraes) e Rafaela (Paula Picarelli). Apesar da oposição dos pais da primeira, as duas lutam para assumir a relação e no final, trocam um beijo durante uma actuação de "Romeu e Julieta" no colégio. 

Clara e Rafael

Outras histórias:
- Santana (Vera Holtz), professora de Geografia na Escola Ribeiro Alves, e os seus problemas de alcoolismo.
- Sílvia (Natália do Valle), mãe de Marina, descontente com a negligência do marido, dá por si num tórrido e hilariante affair com o taxista Caetano (Paulo Coronato).
- Estela (Lavínia Vlasak), prima de Helena e suas irmãs, é uma socialite que vive uma vida de luxo até que reencontra o padre Pedro (Nicola Siri), que lhe dera a primeira comunhão, no casamento de Diogo e Marina e acaba por se apaixonar por ele, levando-a pôr em causa a futilidade com que vivia a sua vida. Embora obviamente ao início o sacerdote recuse os avanços da jovem, mais tarde acabará por lhe corresponder.
- Depois de Dóris e Heloísa, a personagem mais irritante era Paulinha (Ana Roberta Gualda), outra aluna do colégio, sempre de sete pedras na mão, que despreza o pai Oswaldo (Tião D'Avila) por ser o porteiro da escola e que insulta Clara e Rafaela pela sua ligação.

Santana

Caetano e Sílvia

Estela e Padre Pedro 
Paulinha  e Oswaldo 


Do elenco, ainda fizeram parte nomes como Serafim Gonzales (Onofre), Marly Bueno (Marta), Chaguinha (Ivan), Paulo Figueiredo (Afrânio), Guilhermina Guinle (Rosinha), Walderez de Barros (Alzira) e Regina Braga (Ana). Três dos jovens actores do consagrado filme "A Cidade Do Deus" - Roberta Rodrigues (Zilda), Diego Gonçalves (Jairo) e o já referido Daniel Zettel - estrearam-se aqui em termos de televisão.

O genérico tinha a particularidade de ter várias fotografias de pessoas comuns em cenas familiares. Algumas dessas fotos foram enviadas por telespectadores e chegou a haver 15 versões diferentes do genérico.

"Mulheres Apaixonadas" foi a primeira telenovela da SIC a ser exibida com uma legendagem adaptada para surdos. A autora dessa legendagem era a Prof.ª Maria Auta de Barros, que na altura também leccionava a minha pós-graduação em Legendagem de Audiovisuais na UAL.  

A banda sonora da telenovela teve Rodrigo Santoro na capa da edição brasileira e Carolina Dieckman na da edição portuguesa, que incluía temas de artistas portugueses como Paulo Gonzo, Pedro Miguéis e EZ Special. 


Genérico de abertura:



Tribalistas "Velha Infância" (cenas de Cláudio e Edwiges):




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3 comentários:

  1. Vi numa revista antiga a palavra "Mapa-Tipo" que não via a ser usada há muito tempo. Penso que podia ser uma boa tag e uma sugestão para futuros posts. https://planeta-reboque.blogspot.com/2004/02/rtp-mapa-tipo-de-maro-de-1981-seleco.html https://www.coisas.com/TV---SEMANARIO-DA-RADIOTELEVISAO-PORTUGUESA-N-180-de-1966,name,227027076,auction_id,auction_details

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  2. Deveriam ter colocado uma imagem a marcar a efeméride do início do Zip Zip! Este é o ano dos 50 anos do programa por isso ainda tem tempo mas ficava bem um post a marcar o início das comemorações!

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  3. Eu apreciei algumas novelas do Manoel Carlos Páginas da Vida / Viver a Vida mas nesta altura não andava virado para este tipo de programação. Por vezes até poderia ser curioso saber que novela veio substituir e o que dava nos outros canais. São factores que podem condicionar o acompanhamento de determinado programa.

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