Voltamos a recordar telenovelas e esta é uma que me lembro de ter gostado imenso. "A Rainha Da Sucata" foi exibida no Brasil entre Abril e Outubro de 1990 e em Portugal entre 14 de Novembro de 1991 e 2 de Junho de 1992. Foi a primeira telenovela assinada por Sílvio de Abreu a passar no horário nobre no Brasil (ao contrário de Portugal, que já vira "Sassaricando" nesse horário) e talvez por isso, no país-irmão o público estranhou a dose invulgar de humor burlesco (característica das outras telenovelas do autor como "A Guerra dos Sexos" e a já referida "Sassaricando") e não haver tanto melodrama, o que levou Sílvio de Abreu a trazer mais dramatismo à história e a refrear a vertente mais cómica da trama. Em Portugal, no entanto não houve essa estranheza e o público até preferiu as tramas mais engraçadas. Foi a última telenovela do horário nobre a ser exibida na RTP1 sem a concorrência das estações privadas e como tal chegou a ter mais de 95% de share ao longo de toda a sua exibição.
A novela era protagonizada por Regina Duarte no papel de de Maria de Carmo Ferreira, uma empresária de grande sucesso, peça fundamental em transformar o negócio de sucateira do seu pai Onofre (Lima Duarte) num império empresarial. A sede geral do seu império é o edifício Sucata na Avenida Paulista e além de ser um complexo empresarial e comercial, tem também uma casa de espectáculos frequentada pela fina flor de São Paulo.
Laurinha (Glória de Meneses), Edu (Tony Ramos) e Maria do Carmo (Regina Duarte) |
Mas apesar da sua fortuna, Maria do Carmo continua a não ser bem vista pela alta sociedade paulista devido às suas origens humildes. No pólo oposto está a família de Betinho Figueroa (Paulo Gracindo) casado em segundas núpcias com Laurinha Figueiroa (Glória Menezes), que apesar do seu prestígio, está à beira da falência. Edu (Tony Ramos), o filho do primeiro casamento de Betinho, é um playboy irresponsável que fora em tempos a paixão de Maria do Carmo até descobrir que ele esteve por detrás de uma terrível humilhação a la "Carrie" no baile de formatura. Mas quando Maria do Carmo reencontra Edu, conclui que ainda sente algo por ele e propõe casar-se com ele, para que ela aumente o seu prestígio social e a família dele se salve da bancarrota. A princípio, Edu deixa bem claro que só casou com ela por interesse mas aos poucos, os dois vão se apaixonar.
Quem não se conforma com esta união é Laurinha, não só por não aceitar uma ex-suburbana na família mas sobretudo porque é secretamente apaixonada pelo enteado e fará tudo para destruir Maria do Carmo. Mais tarde vem-se a saber que Laurinha tem origens ainda mais duvidosas do que a nora, e que os seus dois rebeldes filhos, Adriana (Cláudia Raia) e Rafael (Maurício Mattar), são fruto de uma relação com um marginal, perfilhados por Betinho após o casamento.
Onofre (Lima Duarte) e Neiva (Nicete Bruno) |
Mas Laurinha não é a única ameaça para Maria do Carmo. Renato Maia (Daniel Filho), o ambicioso e pérfido braço-direito de Onofre planeia afastá-la e ser ele a assumir a liderança do império da Sucata. Durante o funeral de Onofre, vem-se a saber que ele manteve uma relação extraconjugal ao longo da vida com Salomé (Fernanda Montenegro), uma amiga da família que morre também ela pouco depois. Uma revelação que deixa Maria do Carmo e sobretudo a sua mãe Neiva (Nicete Bruno) em choque. Renato conclui que Mariana (Renata Sorrah), a filha de Salomé, é herdeira de Onofre e aproveita-se da sua ingenuidade para casar-se com ela. Após o enlace, Mariana sofre nas mãos de Renato que a manipula psicologicamente para que ela acabe morta ou internada num hospício.
Adriana (Cláudia Raia) e Caio (António Fagundes) |
Os momentos mais cómicos da telenovela foram sem dúvida aqueles que provinham do romance tempestuoso entre Adriana e Caio (António Gonçalves), irmão de Mariana. Ela, uma desajeitada aspirante a bailarina e ele um paleontólogo gago passam por divertidos altos e baixos juntos e para acrescentar mais confusão, existe ainda a noiva de Caio, a fogosa Nicinha (Marisa Orth).
Dona Arménia (Aracy Balabanian) e "as suas filhas": Gino (Jandir Ferrari), Gera (Marcelo Novaes) e Gerson (Gerson Brenner) |
Outro núcleo divertido foi o da Dona Arménia Giovanni (Aracy Balabanian) que fala português de forma muito particular, referindo-se às mulheres no masculino e aos homens no feminino, como é o caso das "suas três filhas" Gerson (Gerson Brenner), Geraldo (Marcelo Novaes) e Gino (Jandir Ferrari), três viris e garbosos rapazes que na verdade são três autênticos meninos da mamã. Arménia viveu sempre em conflito com a família de Maria do Carmo pois pensa ser a legítima dona do terreno no qual a Sucata foi construída e quando consegue provar isso, ameaça demolir tudo e "botar a prédio na chon". Quando Maria do Carmo cai em desgraça vítima das armadilhas dos seus inimigos, Arménia passa a administrar as empresas, revelando-se um desastre.
Dos irmãos Giovanni, Gerson, que começa a novela noivo de Maria do Carmo e sofre quando ela o troca por Edu, é o mais próximo da mãe. Geraldo, ou Gera, é o mais desbocado e namoradeiro. Gino é o mais sensível e durante algum tempo mantém uma ligação secreta com alguém, que se desconfiava ser outro homem, mas que na verdade se trata de Samira (Maria Helena Dias), uma turca madura que o iniciou nos prazeres da carne. No auge da trama, os três irmãos acabam a competir por Ingrid (Andréa Beltrão) uma jovem sofisticada e curiosa, filha de Isabelle (Cleide Yaconis), a requintada irmã de Betinho. No final, Ingrid não se consegue decidir e decide levar os três com ela para a Europa. O núcleo da Dona Arménia fez tanto sucesso que ela e os filhos regressaram numa telenovela posterior, "Deus Nos Acuda".
Paula (Cláudia Ohana) |
Rafael (Maurício Mattar) e Alaíde (Patrícia Pillar) |
Outras personagens marcantes foram Jonas (Raul Cortez), o mordomo dos Figueroa e a chave de muitos mistérios da trama; Paula (Cláudia Ohana), uma intrépida jornalista, amiga de Adriana e que no início da novela está envolvida com Edu; Alaíde (Patrícia Pillar) a bela filha de Lena (Lolita Rodrigues), a empregada dos Figueroa, que vive um romance proibido com Rafael; e Guida (Mónica Torres), secretária e cúmplice de Renato que revela certas tendências masoquistas.
Na recta final, Laurinha suicida-se saltando do tecto da Sucata mas fazendo-o de forma a parecer que foi empurrada por Maria do Carmo, incriminando-a. Mas Edu consegue provar a inocência da esposa e Maria do Carmo acaba feliz ao lado dele e recuperando o controlo das suas empresas.
O site "Brinca Brincando" salienta que tal como outras telenovelas de Sílvio de Abreu, existiam muitas referências cinematográficas na telenovela, não só assemelhando os acontecimentos de certas personagens a cenas de certos filmes (como a já referida cena de humilhação de Maria do Carmo no baile a fazer lembrar "Carrie") mas utilizando mesmo músicas de filmes como "O Homem Elefante", "Fahrenheit 451" ou "Viagem Alucinante".
O tema do genérico era "Me Chama Que Eu Vou", interpretado por Sidney Magal. O cantor teve uma aparição especial numa cena da novela a cantar este tema na Sucata, acompanhada por um grupo de bailarinos de lambada que incluía Adriana e Alaíde.
Genérico:
Chamada de elenco:
Para terminar, uma memória relacionada com esta telenovela que eu nunca esqueci. Além dos discos oficiais, era frequente ver-se à venda por esse Portugal fora cassetes com versões manhosas dos temas das telenovelas, e "A Rainha do Sucata" não foi excepção. Pois bem, nunca me esqueci de certa vez ter visto num expositor de cassetes do café perto do trabalho da minha mãe, uma cassete que tinha escrito "A Rainha da Chupada" num modo semelhante ao do logótipo da telenovela ao lado do desenho de uma mulher em fato de banho com um rosto semelhante ao de Regina Duarte. Vinha ainda escrito em letras pequenas "só para adultos - interpretado por Os Séxis". O alinhamento continha faixas como "Sacudindo a bunda" e "Maria do Carmo, Elu, Konas e Laurinha Filha Boa". O que eu não dava para ouvir hoje essa cassete...
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De certeza que não sonhaste com essa cassete de noite para contar de dia? ;)
ResponderEliminarÉ daquelas coisas inacreditáveis demais para serem imaginadas ou sonhadas.
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