Em finais de 2012 fiz um post sobre algumas lengalengas que fui ouvindo desde a infância [post aqui]. Se fiquei surpreendido com o feedback ao artigo foi a ausência de reacções. Talvez estas lengalengas sejam muito locais, ou quem sabe, até inventadas na minha família há muitas décadas. Se alguém tiver informações sobre a origem delas, ou outras variações, comunique nos comentários ou directamente no email.
Vamos então a mais algumas que sempre ouvi a minha mãe ou familiares contar:
Diálogo entre dois compadres:
- Compadre Romão!
- Hão?- Tá dormindo ou acordado?- Tou acordado compadre!- Então empreste-me lá um cruzado(1)!- Tou dormindo!- Tá dormindo e tá falando?- Tou sonhando que nã me paga!
(1) - Cruzado - moeda portuguesa em circulação entre os séculos XV e XIX.
"Arre Burrinho"
Esta disse-me a minha mãe que uma vizinha cantava enquanto se fazia uma espécie de baloiço comigo ou a minha irmã em cima dos joelhos. Uma simples pesquisa no Google devolveu várias versões desta lengalenga ou ladainha com a estrutura:
"Arre burrinho
para S. Martinho
carregadinho
de pão e vinho."
Repetindo depois com localidades e cargas diferentes.
Do que a minha mãe recorda da versão da minha vizinha seria algo assim:
"Arre burrinho
carregadinho de vinho
(...)
Arre burrinho
para Olhão
carregadinhode carvão"
"No Centro larento"
"Lá no centro larento
da Avenida larida
um pinote larote
escorregou larou
agarrou-se larou-se
ao meu vestido larido
nem um prega laregalhe deixou larou"
"Se visses o que eu vi"
Esta tem inúmeras versões, a minha mãe recorda-se desta:
"Se visses o que eu vi
fugias como eu fugi
a minha sogra em cuecasa fugir atrás de mim"
A minha tia Aura indicou-me mais um par delas:
"Se visses o que eu vina Rua do Tio GaianaUm pássaro a fazer ninhonas barbas da tua mana."
"Se visses o que eu viLá na casa de jantarO copo e a garrafaTodos os dois a namorar"
E mais outra:
"Tenho fé no café
Esperança no chocolate
Tenho fé que hás-de ser minha
Antes que o teu pai me mate"
"Antes que o teu pai me mateA segunda quadra foi acrescentada pela minha tia Aura.
E a tua mãe me tire a vida
A minha palavra está dada
A minha mãe comprometida"
"A-A-A-Todos cantamos cá"
A minha mãe aprendeu esta para cantar numa festa no Colégio Nossa Srª de Fátima (Asilo das Meninas), onde as docentes eram freiras:
"A-A-A-Todos cantamos cá
A cantar com alegria
vai correndo o nosso dia
A-A-A-Todos cantamos cá
E-E-E-Que lindo que isto é
E-E-E-Que lindo que isto é
I-I-I- Foi para Deus que nasciFaço toda a sua vontadeSou feliz na EternidadeI-I-I- Foi para Deus que nasciO-O-O- Eu nunca ando sóTenho um anjo meu amigoque me guarda de todo o perigoO-O-O- Eu nunca ando sóU-U-U- Porque não cantas tu?U-U-U- Porque não cantas tu?"
Mais alguns excertos:
"Três vezes nove são vinte e seteQuem matou o cão foi o baeta"
---
"Serra madeiraCarapinteiraDebaixo do chãoEstá uma velhaa vender figuinhosa meio tostão"
---
"Preta da Guinélava a cara com caféTem vergonha de ir à missacom sapatos de cortiça"
Esta última deve ter sido cantada muito tempo antes de a minha mãe e as outras crianças da zona verem (ou saberem sobre o que estavam a cantar) pela primeira vez uma pessoa de pele negra. A terra era pequena e eram outros tempos...
Como sempre, o leitor pode partilhar experiências, corrigir informações, ou deixar sugestões aqui nos comentários, ou no Facebook da Enciclopédia: "Enciclopédia de Cromos". Visite também o Tumblr: "Enciclopédia de Cromos - Tumblr".
Se gostou, Partilhe: »»
|
Tweet | Save on Delicious |
Mesmo! Adoro quando os meus familiares mais velhos dizem coisas do género, ainda tenho mais para apontar para um próximo cromo!
ResponderEliminarTenho na minha memória uma história ou lenga lenga, (não sei bem) que a minha mãe contava que penso que se chamava "Hoje é o dia do batizado da minha boneca". Alguém conhece? Gostava de a relembrar para passar aos meus netos
ResponderEliminarViva. Perguntei cá por casa, ninguém reconheceu, mas quem sabe nos comentários de outro leitor surja a resposta. Também fiquei curioso para saber mais.
Eliminar