Na TV portuguesa existiu uma meia dúzia de programas míticos que as gerações mais novas só conhecem de conversas com os mais velhos da família ou graças a imagens de arquivo vistas em ocasiões especiais - quando sobreviveram ao tempo (ou mais recentemente na RTP Memória, que vai impedindo que a poeira assente no vasto arquivo da televisão pública). Emissões marcantes como as do "Zip Zip" com o trio Solnado, Fialho e Cruz; "Se Bem Me Lembro" com Vitorino Nemésio, a chegada do Homem à Lua, e o que nos ocupa hoje: "A Visita da Cornélia".
Foto "Diário de Lisboa". Colorida por Enciclopédia de Cromos. |
Na época só não teve mais sucesso que a gigante "Gabriela" o maior êxito das primeiras 2 décadas da RTP. É complicado falar de programas que nunca vi, mas entretanto já fiz bastante pesquisa, portanto aqui ficam alguns pontos sobre o êxito congeminado por Raul Solnado e Fialho Gouveia.
Fonte: Logopedia |
Em 23 de Maio de 1977 a RTP exibiu a sessão experimental de "A Visita da Cornélia". (1)
Mas foi na noite de 6 de Junho de 1977 que a primeira sessão "a sério" do concurso chegou aos ecrãs a preto e branco nacionais e a TV nunca mais foi a mesma depois das conversas de Raul Solnado com a Vaca Cornélia (voz de Ana Mayer, "O Fungagá da Bicharada") e das exibições de concorrentes talentosos. Foi tal o sucesso junto do público que a partir de 16 de Agosto repetia-se a emissão na noite do dia seguinte no "II Programa". A finalíssima foi ao ar em 28 de Novembro de 1977, mas ainda se conseguiu esticar até ao fim de Dezembro com as emissões dos espectáculos extra-concurso.
Cada programa era gravado alguns dias antes no Teatro Vilarett (teatro lisboeta fundado 13 anos antes por Raul Solnado, que entretanto já lá gravara o "Zip, Zip"), e como tal, a imprensa já sabia antecipadamente os vencedores de cada emissão, e não se coibiam de o colocar na página da programação TV:
Ao contrário da tendência da maioria dos formatos de concurso, os concorrentes não tinham que ser apenas os mais sábios ou os mais atléticos, o que estava em causa era a sua capacidade de "representação e interpretação musical" conforme indica o blog "A Visita da Cornélia" - que aliás aconselho vivamente a que descubram, com tempo para ler a bela colecção de textos e fotos dedicadas ao concurso e seus intervenientes.
No mesmo local reproduz-se um texto de António Melo para o jornal Público "O Concurso que brincava com coisas sérias":
"As provas dividiam-se por três grupos disciplinares, que valorizavam a aprendizagem, a destreza e a criatividade. No primeiro, os concorrentes deviam demonstrar, antes de tudo, os seus conhecimentos de cultura geral. (...) O segundo grupo de provas aferia da habilidade manual, posta à prova num jogo da feira, onde com uma bola se têm de derrubar os bonecos expostos numa prateleira. (...)
Por fim, vinham as provas criativas, onde os pares de concorrentes exibiam os seus dotes na dança, no canto, no teatro e dispunham de um tema livre, onde podiam expandir-se à vontade. "
Uma das curiosidades que descobri no blog é que a Vaca Cornélia ia ter o nome de Vaca Margarida. As Margaridas de Portugal agradeceram a mudança para um nome menos comum...
Vários dos concorrentes da "Cornélia" tornaram-se conhecidos do público, e toda a visibilidade facilitou a descolagem de carreiras artísticas. Os mais destacados: o arquitecto, escritor e poeta José Fanha; o também arquitecto Francisco (Pitum) Keil do Amaral; um jovem Tozé Martinho e a sua mãe Tareka; Fernando Assis Pacheco, Gonçalo de Lucena, Lucilina Santos, Carlos Fragateiro, Francisca Meneses Ferreira, Rui Guedes, Maria do Carmo Ruella Ramos, Vitor (Ninéu) Sobreiro, Lira Keil, Hugo Maia Loureiro, o vencedor Vasco Raimundo, entre outros, como Victor Espadinha que interpretou um palhaço numa rábula e graças à participação na Cornélia começou a gravar discos, por exemplo.
["Diário de Lisboa" 10-10-1977] |
Ao contrário da tendência da maioria dos formatos de concurso, os concorrentes não tinham que ser apenas os mais sábios ou os mais atléticos, o que estava em causa era a sua capacidade de "representação e interpretação musical" conforme indica o blog "A Visita da Cornélia" - que aliás aconselho vivamente a que descubram, com tempo para ler a bela colecção de textos e fotos dedicadas ao concurso e seus intervenientes.
No mesmo local reproduz-se um texto de António Melo para o jornal Público "O Concurso que brincava com coisas sérias":
"As provas dividiam-se por três grupos disciplinares, que valorizavam a aprendizagem, a destreza e a criatividade. No primeiro, os concorrentes deviam demonstrar, antes de tudo, os seus conhecimentos de cultura geral. (...) O segundo grupo de provas aferia da habilidade manual, posta à prova num jogo da feira, onde com uma bola se têm de derrubar os bonecos expostos numa prateleira. (...)
Por fim, vinham as provas criativas, onde os pares de concorrentes exibiam os seus dotes na dança, no canto, no teatro e dispunham de um tema livre, onde podiam expandir-se à vontade. "
Uma das curiosidades que descobri no blog é que a Vaca Cornélia ia ter o nome de Vaca Margarida. As Margaridas de Portugal agradeceram a mudança para um nome menos comum...
Vários dos concorrentes da "Cornélia" tornaram-se conhecidos do público, e toda a visibilidade facilitou a descolagem de carreiras artísticas. Os mais destacados: o arquitecto, escritor e poeta José Fanha; o também arquitecto Francisco (Pitum) Keil do Amaral; um jovem Tozé Martinho e a sua mãe Tareka; Fernando Assis Pacheco, Gonçalo de Lucena, Lucilina Santos, Carlos Fragateiro, Francisca Meneses Ferreira, Rui Guedes, Maria do Carmo Ruella Ramos, Vitor (Ninéu) Sobreiro, Lira Keil, Hugo Maia Loureiro, o vencedor Vasco Raimundo, entre outros, como Victor Espadinha que interpretou um palhaço numa rábula e graças à participação na Cornélia começou a gravar discos, por exemplo.
Este video faz em poucos minutos um bom apanhado do espírito do concurso, dos bastidores e do seu impacto, ao som do tema principal:
Durante muito tempo li e ouvi que a RTP teria gravado outros programas por cima das fitas d'A Visita da Cornélia. Seria mito urbano ou estas filmagens foram recuperadas de outra fonte?
Em Portugal o PREC tinha terminado há pouco mais de um ano, mas os ânimos ainda estavam exaltados e lendo as críticas da época e textos de tributo ao programa estes revelam outra dimensão que ajuda a compreender a popularidade do concurso: as ideologias em conflito, as polémicas nos conteúdos e reacções dos concorrentes, dos júris, da crítica e claro as leituras feitas pelos espectadores.
Os júris que avaliavam as prestações dos concorrentes ao longo das semanas incluía nomes como o escritor Luís de Sttau Monteiro, a jornalista Maria João Seixas, Raul Calado, o actor Paulo Renato e a locutora Maria Leonor.
Em Portugal o PREC tinha terminado há pouco mais de um ano, mas os ânimos ainda estavam exaltados e lendo as críticas da época e textos de tributo ao programa estes revelam outra dimensão que ajuda a compreender a popularidade do concurso: as ideologias em conflito, as polémicas nos conteúdos e reacções dos concorrentes, dos júris, da crítica e claro as leituras feitas pelos espectadores.
Os júris que avaliavam as prestações dos concorrentes ao longo das semanas incluía nomes como o escritor Luís de Sttau Monteiro, a jornalista Maria João Seixas, Raul Calado, o actor Paulo Renato e a locutora Maria Leonor.
Fonte: Lusa. |
- Museu RTP.
- Quem se lembra da “Visita da Cornélia”? [Vídeo].
- Infopédia.
- Santa Nostalgia.
- O meu amigo Raul.
- A totalidade do blog "A Visita da Vaca Cornélia".
Nos anos 90 a televisão do Estado exibiu a continuação "A Filha da Cornélia" - apresentada por Fialho Gouveia - que obviamente não conheceu o sucesso da "mãe".
Fiquei pasmado quando descobri que existiu até uma colecção de cromos! Podem ver a capa a cores no blog "Santa Nostalgia". Cada envelope surpresa tinha 3 cromos e custava 1$50. A colecção completa era de 235 cromos. Era coisa para gastar um tubo de cola!
Outro produto derivado foi a revista semanal "Vacavisão". A seguinte imagem encontrei no blog do próprio José Fanha, "Queridas Bibliotecas":
Ao ler as noticias da época e os testemunhos de espectadores e participantes apercebi-me que não eram exageradas as declarações sobre a popularidade deste programa que durante a segunda metade de 1977 colou os portugueses ao ecrã com entretenimento de qualidade.
Fotos d'"A Visita da Cornélia (1977)", retiradas dos exemplares do Diário de Lisboa entre 13-06-1977 - e 26-12-1977:
(1) Canal da Crítica - Mário Castrim ["Diário de Lisboa" 24-05-1977] A opinião de Castrim sobre o emissão experimental do dia anterior:
O precioso arquivo do "Diário de Lisboa" tem bastantes artigos de opinião do crítico Mário Castrim, que analisa os espectáculos da Cornélia, sempre sob o seu filtro de esquerda. Pode clicar sobre a imagem para a aumentar e ler melhor:
Canal da Crítica - Mário Castrim ["Diário de Lisboa" 07-06-1977] A opinião de Castrim sobre o programa nº1:
Canal da Crítica - Mário Castrim ["Diário de Lisboa" 16-08-1977]
Programação TV ["Diário de Lisboa" 01-10-1977] No ínicio de Outubro já se pede o "abate" da vaca.
Canal da Crítica - Mário Castrim ["Diário de Lisboa" 13-12-1977]
Canal da Crítica - Mário Castrim ["Diário de Lisboa" 20-12-1977]
Canal da Crítica - Mário Castrim ["Diário de Lisboa" 27-12-1977]
["Diário de Lisboa" 12-11-1977] |
Outro produto derivado foi a revista semanal "Vacavisão". A seguinte imagem encontrei no blog do próprio José Fanha, "Queridas Bibliotecas":
Ao ler as noticias da época e os testemunhos de espectadores e participantes apercebi-me que não eram exageradas as declarações sobre a popularidade deste programa que durante a segunda metade de 1977 colou os portugueses ao ecrã com entretenimento de qualidade.
Fotos d'"A Visita da Cornélia (1977)", retiradas dos exemplares do Diário de Lisboa entre 13-06-1977 - e 26-12-1977:
(1) Canal da Crítica - Mário Castrim ["Diário de Lisboa" 24-05-1977] A opinião de Castrim sobre o emissão experimental do dia anterior:
O precioso arquivo do "Diário de Lisboa" tem bastantes artigos de opinião do crítico Mário Castrim, que analisa os espectáculos da Cornélia, sempre sob o seu filtro de esquerda. Pode clicar sobre a imagem para a aumentar e ler melhor:
Canal da Crítica - Mário Castrim ["Diário de Lisboa" 07-06-1977] A opinião de Castrim sobre o programa nº1:
Canal da Crítica - Mário Castrim ["Diário de Lisboa" 16-08-1977]
Canal da Crítica - Mário Castrim ["Diário de Lisboa" 13-12-1977]
Canal da Crítica - Mário Castrim ["Diário de Lisboa" 20-12-1977]
Tal como o Zip-Zip e O Passeio dos Alegres, é um daqueles programas tão míticos que dava a ideia que duraram muito tempo e afinal só tiveram uma temporada de uns quantos meses (no caso da Cornélia, seis meses).
ResponderEliminaro endereço do blog mudou de nome para http://visita-cornelia.blogspot.com
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