Na música, como na vida, existem bons e maus exemplos em todas as áreas. Por isso, não gosto nada quando ouço alguém dizer que só género musical X é bom e/ou que todo o género Y não presta. Pessoalmente, embora eu tenha os meus géneros musicais preferidos, faço por ter uma mente aberta quanto aos géneros a que estou menos familiarizado. Por exemplo, não sou apreciador de heavy metal mas por entre vários temas que me deixaram entre a indiferença e a desaprovação, existem também alguns temas de heavy metal que eu gosto ou até que me emocionam. Por exemplo, gosto da maioria do repertório dos Moonspell.
Algo semelhante se sucede com a música que cai sobre esse termo complexo e abrangente que é a "música pimba", termo esse convencionado nos anos 90 para definir a aglutinação (quando não mesmo fusão) entre o nacional cançonetismo/música ligeira e a música popular-brejeira que se verificou nessa década e que resultou num fenómeno sócio-cultural a nível nacional. Embora eu defenda que esse termo tem as costas demasiado largas e por vezes é mal aplicado, eu admito que uma boa parte da música produzida nessa área é atreita a me causar vergonha alheia. Mas isso não significa que não possa haver qualidade e profissionalismo por parte daqueles que interpretam e produzem esse tipo de música nos mais diversos matizes. E o tema de que falo hoje é um desses bons exemplos.
Há já várias décadas que o cantor António Marante percorre Portugal inteiro de fio a pavio (bem como as comunidades portuguesas além fronteiras) quer na liderança do agrupamento musical Diapasão, formado em Gondomar em 1980, quer na sua carreira paralela a solo, e para as gentes do Norte, Marante é todo um ícone. A restante formação dos Diapasão, que se manteve mais ou menos inalterada é composta por Manuel Bessa (baixo), Francisco Marques (guitarra), António Filipe (teclados), Armando Mendes (bateria) e Jorge Marante (percussão).
Com mais de vinte discos editados (alguns deles galardoados a ouro e platina), os Diapasão são uma daquelas bandas que sabem como ninguém animar arraiais, bailaricos e festas populares neste país. Em 1994, já contavam com quase década e meia de actividade quando editaram o tema que se tornou a piéce de resistance do seu repertório, o hit que lhes trouxe a maior notoriedade: a faixa-título do álbum "A Bela Portuguesa". A fórmula do tema era bastante habitual nos Diapasão: um ritmo que apela a dar ao pé sozinho ou alegremente agarrado a alguém e uma letra que evocava a arreigada temática do regresso dos emigrantes a Portugal e elogiava os encantos da mulher portuguesa. Mas essa composição tão singela e sincera beneficiou do fenómeno da música pimba que explodia na altura e "A Bela Portuguesa" acabou por se tornar um hit das massas, com o povo a trautear alegremente o refrão:
Eu sei, eu sei
És a linda portuguesa
Com quem me quero casar
Já corri mundo
E não encontrei outra igual
Com quem eu queira ficar
A mais formosa
Mais gostosa das mulheres
Que Deus pode criar
Ai a saudade
E a esperança de um dia
Voltar para te abraçar
O videoclip também era bastante singelo mas eficaz na sua simplicidade, com imagens intercaladas dos Diapasão a tocar num comboio ou a passear numa estação ou no campo e as de uma bela portuguesa de longos cabelos castanhos, blazer amarelo e vestido preto, com paisagens nortenhas de premeio.
"A Bela Portuguesa" ganhou uma segunda vida em 2006, graças a um divertido anúncio do detergente Skip alusivo às festas dos santos populares, com Marante a gravar uma nova versão do tema, interpretado em playback pelo actor protagonista do anúncio. O Skip chegou a ter uma promoção onde oferecia um CD com as versões do tema (a original e a do anúncio) na compra de uma caixa de detergente,
E em 2011, o tema foi mais uma vez lembrado por Fanny Rodrigues no seu vídeo de apresentação na entrada de "A Casa dos Segredos 2", que cantou uma versão pseudo-francesa: "Je sais, je sais, tu es la belle portugaise, com quem eu quero caser..." Por causa disso, os media apelidaram Fanny, não sem alguma ironia, de "la belle portugaise".
Enquanto isso, os Diapasão continuaram sempre bem activos quer em concertos quer na gravação de discos ao longo destes anos (o seu álbum mais recente é de 2015) e é certo sabido que nenhum concerto dos Diapasão, ou até mesmo de Marante a solo, fica completo sem que se toque "A Bela Portuguesa".
Sem comentários:
Enviar um comentário