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segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Publicidade de Natal na RTP (1987)

Artigo reciclado de um artigo anterior de 2012





Analisando três blocos publicitários da RTP 1 do dia 23 de Dezembro de 1987, durante a transmissão do filme "Os Salteadores Da Arca Perdida". (Vídeos do canal Máquina Do Tempo, a partir do acervo de Afonso Gageiro.)


Um dos nomes incontornáveis da publicidade dos anos 80, o televisor Sony Black Trinitron, que de tanto aparecer na televisão, fazia-me parecer o Rolls Royce dos televisores. E claro está, no final lá vinha a famosa voz masculina a dizer "It's a Sony!". A marca japonesa era tão credenciada nos anos 80 e 90, que por exemplo, quando pude comprar o meu primeiro walkman, só havia uma marca possível a considerar.
Uma das diversas marcas que elevavam a fasquia da virilidade e elegância masculina. As camisas Victor Emanuel! (não, não é o actor de "Os melhores anos" e que fazia a voz do burro Pavarotti na "Quinta das Celebridades").
Um dos clássicos presentes de Natal para as mães: o mini-aspirador portátil Black & Decker. Este anúncio não é o que contem o famoso jingle "Não tem fio e não tem pilhas", relatando em vez disso o afã de uma dona de casa a limpar a sala antes da iminente visita da sogra.  
Célebres marcas nacionais que (julgo eu) já foram à vida #1: os pneus Mabor!
Carlos Cruz profere os votos de Festas Felizes do arroz Caçarola (que anos mais tarde, iria aparecer proeminente na primeira encarnação do concurso "O Preço Certo", apresentado por Cruz).
Além do esfregão Bravo tradicional, os encarregados de lavar a loiça do almoço de Natal tinha um novo: o esfregão Bravo  Inoxidável. E como miúdo tótó que se deixava levar por tudo que via na TV como eu era, lembro-me de chegar a pedir à minha mãe para comprar este esfregão só para saber se era mesmo tão fofinho como a actriz do anúncio declarava que era. (Pelo que me lembro, nem por isso.)
Uma das minhas prendas do Natal desse ano: o álbum "Muita Lôco" dos Ministars, oferecido por uns tios. Os arqui-rivais dos Onda Choc tinham surgido no início desse ano com o primeiro álbum homónimo (que tinha recebido nos meus anos em plena convalescença de papeira) e agora voltavam a ser campeões de vendas no Natal, versionado temas como "Contentores" dos Xutos & Pontapés, "I Wanna dance With Somebody" de Whitney Houston e "Lover Why" dos Century
Um curioso anúncio da gasolina Mobil de que já não me lembrava com um senhor em dificuldade em subir uma ladeira virtual até atestar com Mobil Superpower.
Uma boa prenda para os dias frios de Dezembro: o termo-ventilador Braun, portátil e "pendurável".
Uma sugestão de prenda mais cultural: o livro "Cerâmica Portuguesa e outros estudos" de José Queiroz.


- Célebres marcas nacionais que (julgo eu) já foram à vida # 2: cafés A Brasileira - Porto. Eles são (eram?) café.
- Depois do termoventilador, a Braun sugere-nos agora a força do vapor com o ferro de engomar Braun Vapor 6000 (ainda do tempo em que nenhum electrodoméstico digno do seu nome podia prescindir de ter um número - sobretudo "não sei quantos-mil" atrelado)     
- Eternos inevitáveis na publicidade natalícia eram os anúncios a perfumes. Neste vemos uma mulher tipicamente eighties a representar o perfume Quartz, "o presente que nenhuma mulher pode recusar".
- Um anúncio teaser com um estranhíssimo boneco (aqueles cornos pareciam ser braços de gente) que se dizia ser "o Bafo da Sorte" e que escrevia "6/47" num vídeo previamente "bafejado". Mais tarde vir-se-ia a saber que era uma campanha de promoção ao Totoloto, que brevemente passaria ter 47 números para escolher em vez dos iniciais 45.
Anúncio cheio de semi-megalomania eighties às baterias e pilhas Tudor.
- Outro anúncio que me ficou gravado na memória: o do espumante Raposeira onde, numa festa, um homem e uma mulher escapuliam-se para debaixo de uma mesa com uma garrafa de espumante e dois flûtes. Lembrava-me bem deste anúncio devido à parte em que ela não resiste em fazer chocar os flûtes, ao que ele responde com um "sssh" para não chamar atenções.
- Célebres marcas nacionais que (julgo eu) já foram à vida # 3: o óleo Tianica.
- Também este anúncio de Natal da Sumol com um coro infantil ficou-me na memória porque sempre que dava na televisão, a minha mãe dizia que eu era parecido com o miúdo de casaco amarelo e cachecol branco que segura uma cartolina que foram a letra O de Sumol. (Aos 5:19, o segundo a contar da direita na fila de cima).
- Interessante anúncio ao Volkswagen Golf, com um carro a ser magicamente montado peça a peça, condutor incluído. Mítico o slogan: "Não é um carro, é um Volkswagen!"
- Mais uma sugestão livreira: "África Negra" de Paula Costa e Susana Marta.


Eis que surge Madonna herself, que acabava de editar o álbum "You Can Dance" que continha remisturas de vários dos seus êxitos e um tema inédito: "Spotlight".
- Mais um livro, desta vez um clássico moderno da literatura portuguesa, "Um Amor Feliz" de David Mourão Ferreira, que já ia na quarta edição. O livro, que relata a relação amorosa entre um escultor viúvo e uma mulher espanhola casada, chegou a ser adaptado para uma mini-série que passou na RTP em 1990, com Rui Mendes no principal papel.
- Um anúncio ao espumante Freixenet Carta Nevada, em tons tão dourados que não sei como não houve retinas feridas quando dava este anúncio na televisão.
- Um grão de café fantasiado de Pai Natal dá os votos de Boas Festas em nome da Delta Cafés.
- Uma variação do anúncio da Mobil de há cinco minutos atrás, desta vez com um senhor num camião.
- Para terminar, um anúncio do Grupo Amorim, dedicado à indústria da cortiça.

Extras: 

Mais dois intervalos do mesmo dia


Inclui a programação para o dia seguinte (Véspera de Natal)


Momento de continuidade com Helena Ramos (onde esta esclarece que não existia o 51.º capítulo da telenovela "Roque Santeiro")



sábado, 21 de dezembro de 2024

Noeli (1984)

Com o Natal mesmo à porta, recordamos hoje uma série animada bem adequada a esta época. No seu original "Mori no Tonto-Tachi", "Noeli" foi uma série animada japonesa de 1984 de 23 episódios. A série passou duas vezes na RTP1, a primeira entre Novembro de 1987 e Abril de 1988 aos Sábados de manhã no espaço "Juventude & Família" e a segunda diariamente durante as férias de Natal entre 15 de Dezembro de 1990 e 6 de Janeiro de 1991. 


A série passa-se na Lapónia, numa pequena comunidade liderada pelo titular Noeli, um simpático velhinho de barbas brancas que todos os anos por altura do Natal sai pelo mundo para distribuir presentes para todas as crianças. (Sim, trata-se do Pai Natal!). Nessa povoação, vivem também os Tontos, que trabalham nas mais diversas funções para preparar a saída anual de Noeli: existem os fabricantes de brinquedos, os guardadores de renas, os lenhadores, os moleiros… A série acompanhava a vida nesse povoado desde o início do Inverno até à chegada da Primavera. 



Mas embora Noeli seja a personagem-título, a protagonista da série é a jovem Elisa, uma menina bondosa e sonhadora. Elisa vive na mansão de Noeli e da esposa Maria, uma vez que o seu pai Emílio é o zelador-mor da mansão, bem como a sua mãe Helga e o seu avô Elias. 






Elisa também tem um grupo de amigos com quem vive grandes aventuras em pleno convívio com a natureza e os animais. O seu melhor amigo é Mário, um rapaz curioso e intrépido que por vezes sente-se um bocado ignorado no meio da sua extensa família, também composto pelos seus pais, a sua avó, a irmã mais velha Mafalda e dois irmãos gémeos mais novos. Do grupo também fazem parte Hugo e Ana, filhos do chefe da fábrica de vidro, e João e Carina, dois órfãos que foram criados pelo avô. De vez em quando também são acompanhados por Paulo, o filho do ferreiro e órfão de mãe. 

Em cima: Elisa, João, Carina, Ana
Em baixo: Hugo, Mário, Mafalda, Paulo



Elisa também é próxima de Álvaro, o Tonto tratador das renas que escolhe as oito que acompanharão Noeli na sua viagem. Outro Tonto com quem Elisa e os amigos simpatizam muito é Matias, que traz as cartas das crianças de todo o mundo para Noeli. Lembro-me que num dos episódios, Elisa e os seus amigos reparam que Álvaro, Matias e os outros Tontos nunca receberam nenhuma carta, e eles decidem escrever cartas para agradecer todo o seu esforço e dedicação.    

Noeli, Maria, Emílio, Helga, Elias


O site "Brinca Brincando" (um enésimo agradecimento!) refere que no Natal de 1989 (e creio que voltou a repetir algures nos anos 90, após a segunda exibição), passou um compacto de uma hora da série produzido nos Estados Unidos, chamado "Aventura de Natal, que não só tinha uma equipa de dobragem diferente da série, como alterou os nomes das personagens: por exemplo, o próprio Noeli que passou a ser abertamente referido como Pai Natal e o Mário passou a chamar-se Paulo. 

A versão que passou na RTP era a espanhola, com o mesmo genérico e os créditos em espanhol, mas obviamente com dobragem em português. Dobragem essa que contou com nomes como Argentina Rocha, Carmen Santos, Isabel Alarcão, João Perry, José Gomes, José Jorge Duarte, José Pedro Gomes, José Wallenstein, Manuela de Freitas e Teresa Madruga

Genérico:


Excerto:







quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

O Natal dos Hospitais 1990

O "Natal dos Hospitais" é há várias décadas uma instituição da quadra natalícia em Portugal, tendo gerado vários artigos aqui no blogue da "Enciclopédia de Cromos". Desde o início deste século que a RTP transmite esta telemaratona na primeira quinzena de Dezembro, mas quem nasceu e cresceu nos anos 70, 80 e 90 sabe que nesses tempos o "Natal dos Hospitais" costumava ser uns dias antes da noite da Consoada, dando um elã extra às nossas férias de Natal em petizes. 


No ano passado, a "Enciclopédia de Cromos" fez um deep dive na edição de 1985 do "Natal dos Hospitais" e este ano propõe uma revisita a outra edição, a saber a de 1990, também ela disponível para visualização no portal de Arquivos da RTP. 
Esta edição, organizada como era hábito em esforço conjunto pela RTP, o Diário de Notícias e a Philips portuguesa, teve lugar no dia 21 de Dezembro de 1990, tendo como ponto principal o Hospital São Francisco Xavier em Lisboa, mas com ligações ao Porto e aos arquipélagos da Madeira e dos Açores. 

Uma particularidade desta edição do "Natal dos Hospitais" é que teve a sua própria theme song, que foi cantada várias vezes ao longo do evento, e como vão perceber, fica no ouvido. Pergunto-me se havia a intenção de fazer deste o tema oficial do "Natal dos Hospitais" para os anos vindouros, mas pelo que me lembro só foi utilizada neste ano. E eis o refrão que se vai ouvir bastante ao longo desta maratona e garanto-vos que, se a ouvirem, não vos sairá da cabeça até ao Dia de Reis!

Natal, Natal, Jesus é nosso guia
Natal, Natal, que seja qualquer dia
Em coro abençoado, cantemos por igual,
A paz ao nosso lado é Natal! 



Parte 1https://arquivos.rtp.pt/conteudos/natal-dos-hospitais-parte-i-2/ 

O programa começa com a chegada nessa tarde chuvosa de uma ambulância para o Hospital Francisco Xavier e após uma imagem da fachada do dito hospital, dá-se a ligação para o palco onde a banda residente interpreta a versão completa do tema da edição, com os músicos em vestimentas a fazer lembrar os Reis Magos e as vocalistas em trajes de anjos.  
- A imbatível dupla Eládio Clímaco e Ana Zanatti dá as boas vindas aos telespectadores,
- A primeira actuação é a de um rancho folclórico que ficou por identificar, mas creio que deveria ser oriundo das redondezas da Serra da Estrela, já que esta é mencionada na cantiga.
- Dois funcionários da Rádio Difusão Portuguesa, Jorge Afonso e Maria Júlia Guerra, dão as suas saudações a todos os que estejam a assistir, sobretudo os mais infortunados. Referem também que a transmissão deste evento pela Antena 1 não será em directo mas será transmitida em diferido no dia de Natal. 
- Sucede-se a ligação ao Porto, mais concretamente ao Hospital Magalhães Lemos, que começa com um número de dança de temática natalícia pelo Grupo de Bailado do Boavista Futebol Clube
- Este bloco no Porto vai decorrer sob o signo da magia, com a presença de um muito jovem Luís de Matos. O nosso mais renomeado ilusionista tinha então somente 20 anos mas já era então uma presença ocasional nas produções da RTP Porto. Em palco, Luís de Matos manobrou uma bengala flutuante e vários maços de cartas que apareciam e desapareciam do nada. Entre as actuações no Porto, Luís de Matos efetuou vários truques de magia. 
- Em voz-off (à qual Luís de Matos referia como "voz mistério"), a apresentadora Madalena Balça anuncia actuação do Septeto Jazz do Porto com o tema "Do Nothin' Until You Hear From Me". 
- Depois de um truque de Luís de Matos com uma folha de jornal, um jarro de leite e uma lâmpada e alguns dados sobre o Hospital Magalhães Lemos (cujo nome homenageia um dos principais nomes da psiquiatria em Portugal), a actuação da fadista portuense Sara Pinto, ou simplesmente Sara, com "Malhão Do Sul". Natural do Bonfim, nesse ano de 1990 Sara editou o seu primeiro álbum "Raminho De Violetas" e participou no Festival da Canção com "Deixa Lá (O Pior Já Passou)". Após a actuação, Sara ajudou Luís de Matos num truque com cartas...e uma espada! (Infelizmente, Sara Pinto faleceu de doença prolongada em 2023.)
- O grupo Sol Nascente trouxe um tema popular, Luís de Matos transformou leite num lenço branco e depois em vários confetes brancos e seguiu-se a actuação do grupo Terramar. Este projecto portuense, com Luísa Saraiva como vocalista, lançou em 1991 o seu único álbum "Não Me Sigas Na Calçada", cuja faixa-título foi a canção mais conhecida. (Durante a actuação vê-se as míticas duas cruzinhas, que a RTP utilizava para anunciar um novo programa a começar na RTP2.)
- Um sketch de humor com Óscar Branco e José Raposo, como o Irmão Morcão e o seu acólito e depois, José Alberto Reis (aka o Júlio Iglesias de Guimarães) canta "Uma Noite Juntos".
- Graças ao coelho Artur de Júlio Iglesias, ficamos a saber que a próxima actuação era a dos GNR, que levaram aquela que é pessoalmente uma das minhas canções favoritas deles, "Morte Ao Sol", a faixa que abra o álbum "Valsa Dos Detectives" de 1989. 
- Depois de só termos ouvido a voz dela, finalmente Luís de Matos fez Madalena Balça (então uma das apresentadoras do programa matinal "Ponto De Encontro" - nada a ver com o futuro programa da SIC do mesmo nome) surgir em carne e osso no palco. Os dois chamam de novo ao palco todos os artistas que actuaram no Porto.
- Um Pai Natal entregou a Madalena Balça uma carta que diz que o Boavista Futebol Clube oferecia um videogravador ao Hospital Magalhães Lemos. Para terminar em beleza este bloco do Porto, a actuação da Tuna Universitária do Porto.



Parte 2https://arquivos.rtp.pt/conteudos/natal-dos-hospitais-parte-ii/

Nesta segunda parte, havia a habitual ligação às Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores, mas também incluiu algumas actuações em Lisboa.
- Novamente a actuação da banda residente com o tema desta edição.
- Um sketch com o actor Rui Luís vestido de Pai Natal e o artista João Canto e Castro, conhecido por imitar vozes (aliás poderão reconhecer a sua voz, tanto a real como a das imitações dos bonecos do "Contra Informação"). Confrontado com a impossibilidade de poder tocar no "Natal dos Hospitais", João Canto e Castro liga a "Cavaco Silva" e "Alberto João Jardim" para intercederem a seu favor.
- E por falar em jardim, passamos para a Madeira onde somos recebidos pelo Coro de Câmara da Madeira, dirigido por Vítor Costa, com a canção "Da Serra Veio Um Pastor". 
- A apresentadora anuncia agora a actuação do grupo Outra Banda com o tema "Ser Ilhéu". (E olhem, até gostei da canção, merecia ter sido um hit!)
- Não, não é o Clark Kent madeirense, é João Miguel Pires a cantar sobre a menina "Pintucina". 
- Ricardo Spínola, uma voz que tinha levado a Madeira além-fronteiras, interpretou "Jogo Em Ti A Vida". Mas não seria a cantar que a voz de Ricardo Spínola ficaria imortalizada, mas sim na dobragem do "Dragon Ball" - foi ele a voz do Tartaruga Genial! 
-  Uma banda com o curioso nome de Salsinhas de Abalada levou um tema em inglês, "December 24".
- A ligação à ilha da Madeira termina com os votos de Natal da apresentadora e o coro infantil da Madeira com "Vai Ser Natal Outra Vez". 
- De volta a Lisboa, novamente a theme song e vemos chegar as duas Primeiras Damas da nação: Maria Barroso (acompanhada pelo neto petiz) e Maria Cavaco Silva
- João Canto e Castro volta a tentar a sua sorte e desta vez liga para o Vaticano para falar com o "Papa João Paulo II" himself!
- E vamos agora aos Açores, sob a apresentação de Vítor Cruz, para ouvir "Reis Do Faial" do grupo Bela Aurora
- O Coro Doutor Edmundo Machado de Oliveira cantou "A Lira", tema tradicional da Ilha Terceira, e "We Wish You Merry Christmas".  
- À guitarra e à viola, José Pracana e Alfredo Gabo da Câmara tocaram a "Canção de Alcipe" do filme "O Bocage" e depois acompanharam Piedade Rego Costa no fado "És Tudo Para Mim". Seguiu-se o grupo Os Serrotes com "Dias de São Miguel".
- Para terminar em beleza esta ligação aos Açores, ninguém menos que Ágata! Sim, mesmo não sendo açoriana, foi lá que a artista de verdadeiro nome Fernanda de Sousa marcou presença nesta edição do "Natal dos Hospitais" com "Amor Latino". Na altura, ela já actuava há três anos sob o nome Ágata, e tinha um álbum editado em 1989, mas ainda estava a três anos do disco "Perfume de Mulher", que a catapultaria para o estrelato.   
- De regresso ao Hospital São Francisco Xavier, Rui Castelar e Dina Isabel deixam os seus votos e anunciam a próxima actuação: o "Auto Do Menino Sagrado" por parte do Grupo Juvenil da Cruz Vermelha Portuguesa. (Ai, Jesus, aquela flauta!)
- Ana Zanatti e Eládio Clímaco leem a habitual mensagem de Natal do "Diário de Notícias". Segue-se o coro do Hospital de São José, primeiro com um tema colectivo e depois com o Dr. Pedro Vasconcelos como solista na conhecida ária napolitana "Funiculi Funicula".  
- Outra vez a canção: "Natal, Natal, Jesus é nosso guia…"
- Atuação da cantora Ilda de Castro, que uns anos antes teve um grande hit com "Beijinho Português" ("Ai, beija um, beija dois e beija três, como é que gostoso o beijinho português.") e aqui levou outro tema de que eu até me recordo bem "Bom Dia, Bom Dia". Infelizmente não consegui encontrar grande coisa sobre Ilda de Castro na net além da sua discografia disponível online, (certamente não é Ilda Teresa Castro que vem na Wikipédia) e a última publicação na sua página oficial do Facebook é de Março de 2022, anunciando a sua ida ao programa "Casa Feliz" da SIC. 
- 1990 foi um ano triunfante para Rui Veloso cujo álbum "Os Mingos E Os Samurais" foi todo um campeão de vendas, pelo que ele também não poderia faltar. Veloso cantou "A Paixão (Segundo Nicolau da Viola", que juntamente com "Não Há Estrelas No Céu", andava então na boca toda a gente. 
- Segue-se o cantor José Reza, a cantar sobre um amor de um Verão passado. 




Parte 3https://arquivos.rtp.pt/conteudos/natal-dos-hospitais-parte-iii-2/

A partir de José Reza, quase todos os artistas que doravante pisaram o palco, traziam uma prenda para a Árvore de Natal, recebida por umas assistentes com uniforme de enfermeira (tendo em conta que a saia de uma delas nem se via por debaixo da bata, não estou em crer que fossem de facto enfermeiras), certamente para depois ser entregues aos pacientes do São Francisco Xavier. 
- Actuação de Tila Maria em lamés dourados, que afirmou cantando "Eu Sou De Lisboa". 
- Seguiu-se o cantor madeirense Gabriel Cardoso que disse cantando que as três coisas que ele (e toda a gente) mais quer na vida: "Saúde, Dinheiro E Amor". 
- Segundo a sua apresentação, Maria Mendes tinha vivido em Paris mas apostava então numa carreira por cá. Em tons azul de forte, cantou em portunhol "Canta Corazón". 
- Acompanhado pela sua banda, o intemporal Toy trouxe a canção com que concorreu ao Festival da Canção, "Mais E Mais", tendo ficado em terceiro lugar e valendo-lhe o Prémio de Melhor Interpretação. (E confesso que era a minha preferida do Festival desse ano.) 
- Outra vez a canção composta expressamente para este "Natal Dos Hospitais".
- Maria Júlia Guerra e Jorge Afonso leem a mensagem de Natal da Rádio Difusão Portuguesa.
- Após um percalço com a música, o Grupo de Bailado de Jorge Trincheiras dançou "Credo da Missa Crioula" numa ária interpretada por José Carreras. Entre os nomes dos bailarinos, notei o de Leonor Keil que viria a tornar-se uma consagrada bailarina contemporânea e o de Ana Bacalhau (mas não creio que fosse a conhecida cantora desse nome).  
- Não, não é a Rogue dos "X-Men", é Lília Kramer, artista vinda da Alemanha, para cantar "Quem Fui Eu?"
- Silêncio que se vai cantar o fado, primeiro com Gonçalo da Câmara Pereira e "São Rosas" e depois com Lena Maria e a "Criança".
- E por falar em crianças, um grupo de quinze crianças dos 3 aos 13 anos esteve em palco para acompanhar Alexandra Cruz em "Uma História de Natal". 
- Rui Rocha (não o líder da Iniciativa Liberal) trouxe "Um Amor E Um Desejo".
- Os moinhos de maré do Seixal inspiraram o tema "Moinho De Passagem", trazido pelo grupo Luar De Janeiro.
- Eládio Clímaco e Ana Zanatti leem a mensagem de Natal da RTP. Segue-se mais uma vez a theme song, desta vez sem a presença da vocalista principal. (Já se verá mais adiante porquê.)
- O Trio Odemira trouxe o seu magnum opus "O Anel De Noivado" (também conhecido como "A Igreja estava toda iluminada"). Foram também vistas imagens do Trio a visitar os pacientes do São Francisco Xavier.  
- Por estas alturas, Jorge Fernando tinham deixado de lado o fado para enveredar por uma onda mais de música ligeira ("Umbadá", a sua entrada no Festival da Canção de 1985, será o exemplo mais emblemático desta fase). Aqui levou um tema com mensagem religiosa, mas cujo título desconheço (arriscaria "De Onde Vem Esta Voz").
-  Ó minha Lenita Gentil que partiste tão cedo para vir ao Natal dos Hospitais cantar "Lisboa Cidade Sol"! Enquanto isso o cantor Manuel Clemente Azevedo, ou simplesmente Clemente, trouxe "Baila Cigana".
- E está explicado porque é que a vocalista principal do tema desta edição do "Natal dos Hospitais", que respondia pelo nome de Ariane, não estava presente na última performance da banda residente: ela também teve a sua própria actuação a solo, cantando "Maria do Mar" (num timbre a lembrar Edith Piaf) acompanhada por António Chainho e Pedro Nóbrega.    
- Para terminar esta terceira parte, a actuação de um grupo de danças e cantares tradicionais composto por… empregados bancários! 



Parte 4https://arquivos.rtp.pt/conteudos/natal-dos-hospitais-parte-iv-2/

Ana Zanatti e Eládio Clímaco procedem ao habitual sorteio de televisores Philips a serem entregues a diversas unidades hospitalares e/ou estabelecimentos prisionais por todo o país. O Pai Natal (Rui Luís) entra em palco com um pónei e Maria Barroso foi convidada a retirar os sobrescritos sorteados (ela ainda perguntou ao neto, que tinha o mesmo nome do seu célebre avô, se ele também queria fazê-lo mas o petiz recusou). Os televisores a cores foram para a Misericórdia de Anadia, o Centro de Dia de Santa Tecla (distrito de Braga) e a Maternidade Bissaya Barreto em Coimbra. 
O seguinte bloco de actuações foi dedicado ao público infantil:
- Primeiro os Ministars com "A Namoradinha de Roque", versão de "Jailhouse Rock", do álbum "É De Caras".
- Seguiram-se três meninas a cantar uma canção sobre a esperança: a Sara, a Joana e a Inês. (Foi também anunciado um rapaz chamado Duarte mas ele não apareceu).
- O palco foi pequeno para todos aqueles que, trajados a rigor, acompanharam Cristina Paço D'Arcos a.k.a Kika em "Namorar". Com então claras pretensões de ser a Xuxa portuguesa, Kika tinha participado nesse ano no Festival da Canção com "Terceiro Milénio", tendo-se quedado pelo último lugar. Grande parte do repertório de Kika esteve a cargo nada menos de Eugénio Lopes a.k.a. Gimba. 
- Segue-se uma muito jovem Ruth Marlene, ainda a uns anos dos seus primeiros grandes hits como "Só À Estalada" e "A Moda do Pisca-Pisca", numa canção em que diz que gosta muito de estudar, mostrar do que é capaz, cantar, dançar e viver em paz. 
- Os Onda Choc com a faixa-título do seu então mais recente álbum "Feira Popular", uma versão de "Puppet On A String" de Sandie Shaw. E a vocalista principal nesta canção era nada menos que Joana Seixas, então com somente 14 anos, que viria tornar-se numa reconhecida actriz. 
- Para terminar este bloco, Rita Andreia pedindo um "Natal Sem Guerra". 


Parte V: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/natal-dos-hospitais-parte-v-2/

Tempo para mais um sorteio de televisores a cores Philips. (Ainda valeria a pena referir, no ano do Senhor de mil novecentos e noventa, se um televisor era a cores? Estou em crer que, mesmo apenas dez anos após a televisão a cores ter chegado a Portugal, já não se deveria fabricar ou vender por cá televisões a preto e branco, pelo menos novinhas em folha.) Maria Cavaco Silva retirou os três envelopes que contemplaram o centro de dia da Santa Casa da Misericórdia da Guarda, Centro de Dia de Três Povos (no distrito de Castelo Branco) e a Associação de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental de Condeixa-A-Nova. 
- Manuela Paulino anuncia a próxima actuação, precisamente a dos seus dois filhos Nuno e Henrique Feist, então com 19 e 18 anos com "Crime Of Passion". Desde tenra idade que os manos Feist mostravam grande talento para a música, onde têm construída uma vastíssima carreira. E, claro, para além do seu extenso currículo como cantor, Henrique Feist é conhecido por ser a voz portuguesa do Son Goku do "Dragon Ball".  
- A saudosa Cândida Branca Flor, também ela vista a visitar os pacientes do São Francisco Xavier, num "Bailinho Português". 
- Quem também infelizmente já não está entre nós é Roberto Leal, o artista sempre com um pé em Portugal e outro no Brasil. 
- Quem na altura estava em início de carreira era Rita Guerra, anunciada como a "revelação musical de 1990", mas que viria a confirmar-se como uma das melhores cantoras da nossa praça. Neste "Natal dos Hospitais" ela trouxe a canção que deu título do seu primeiro álbum "Pormenores Sem A Mínima Importância".
- Um interessante diálogo musical entre violino e guitarra com Pedro Teixeira da Silva e Tó Gonçalves
- Acompanhada ao piano por Raúl Camacho, a grandiosa Simone de Oliveira cantou "Tango Ribeirinho". 
- Altura agora para as danças indianas com o Grupo Baghini (que em hindu significa "fraternidade"). 
- Mais um sorteio de televisores Philips, agora com o Dr. Veiga Anjos, em representação do Diário de Notícias, a retirar os envelopes sorteados, para a Maternidade Alfredo da Costa, a Cadeia das Mónicas no distrito de Lisboa e o Hospital Distrital de Amarante.
- Acompanhados pela banda residente, Luísa Oliveira cantou "Se Não És Tu" e Tony Jackson  versionou "How Am I Supposed To Live Without You" de Michael Bolton, "What A Wonderful World" de Louis Armstrong e "Isn't She Lovely" de Stevie Wonder. Ambos participariam futuramente no Festival da Canção: ela em 1993 sob o nome de Liza Mayo com "Talvez Noutro Lugar", ele vencendo em 2001 como metade do duo MTM com Marco Quelhas e "Eu Só Sei Ser Feliz Assim", participando depois no Festival da Eurovisão desse ano em Copenhaga. 
- Nesse ano, e ao contrário do que era (e continua a ser) hábito, o Coro Infantil de Santo Amaro de Oeiras não trouxe o seu perene hit "A Todos Um Bom Natal", mas sim outra cantiga de Natal, este "Um Feliz Natal". 
- Paco Bandeira foi outro dos artistas a visitar os pacientes do hospital. Ao palco levou o tema "Chamavam-lhe Feiticeira".
- Ainda vivendo o ponto alto da sua carreira iniciado com o incontornável "Conquistador" no ano transacto, os Da Vinci tinham editado nesse ano o álbum "A Dança Dos Planetas" de onde foi retirado este "Eu Nasci Em Portugal", sonoramente muito semelhante a "Conquistador". Iei-Or, Pedro Luís e companhia foram ainda vistos a visitar a secção de pediatria do hospital. De referir que nesta fase os Da Vinci contavam nos coros com Maria João Silveira, que mais tarde seria apresentadora na RTP e RTP África, com destaque para a temporada de 1998 dos "Jogos Sem Fronteiras". 
- Seguiu-se Lena D'Água com "Já Não Sou Quem Era", um dos cinco temas inéditos de António Variações, por ela gravados para o álbum "Tu Aqui" de 1989. (Mais tarde esse tema seria recuperado em 2004 pelo projecto Humanos.) Os vinte anos seguintes seriam pessoalmente conturbados para Lena D'Agua, mas felizmente ela ainda está cá para as curvas e lançou este ano um novo álbum "Tropical Glaciar".
- Despedimo-nos de Marco Paulo no mês passado e agora recordamo-lo aqui, ele que foi durante décadas a fio um dos pontos altos de cada edição do "Natal Dos Hospitais". Durante a sua actuação com "Ai, Ai, Ai, Meu Amor", Marco Paulo foi visto a abençoar um recém-nascido na secção de maternidade do hospital. 




Parte 6https://arquivos.rtp.pt/conteudos/natal-dos-hospitais-parte-vi-2/

O último sorteio dos televisores Philips, pela mão de precisamente o representante da Philips Portuguesa, que foram para o Centro Paroquial Social de Chaves, a Santa Casa da Misericórdia de Castelo de Vide e a Santa Casa da Misericórdia de São Pedro do Sul. 
- Após as despedidas com votos de boas festas por parte de Eládio Clímaco e Ana Zanatti, veio o coro infantil da Escola Sueca em Portugal, com uma cantiga sobre o dia Santa Luzia, comemorado na Suécia a 13 de Dezembro. Nesse dia, as procissões realizadas um pouco por todo esse país são lideradas por uma rapariga vestida de branco com uma coroa de velas acesas na cabeça, como a jovem que é vista no centro do palco. E seguiu-se uma versão em sueco do tema oficial deste Natal dos Hospitais. 
- O nosso mais aclamado tenor lírico Carlos Guilherme com a sua versão de "Teus Olhos Castanhos".
- Da revista "A Grande Festa" no Teatro Variedades, uma rábula humorística com Sandra Marina e Paula Cruz, esta conhecida da TV pela telenovela "Passerelle" e a série "Pisca-Pisca Tudo Na Maior". 
- A voz poderosa de Teresa Maiuko num tema bem ritmado, cujo título desconheço. 


Parte 7: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/natal-dos-hospitais-parte-vii/

- Este último bloco fecha o evento com chave de ouro, sob o signo do humor. Primeiro com Fernando Pereira, sob o avatar de um cantor cigano, num medley portunhol com "Volare", "As Pombinhas Da Catrina", "Três Pombinhas A Voar", "Candeeiros Bem Bonitos", "Atirei O Pau Ao Gato" e "Ó Elvas, Ó Elvas". 
- Carlos Alberto Moniz com o mítico tema do concurso "Arca De Noé", que na altura ia na sua segunda temporada. "Vamos fazer amigos entre os animais…"   
- Para fechar com chave de ouro, só podia ser ele: Herman José. Acompanhado por Ana Bola (que ostentava uns vistosos leggings com estrelas) e Vítor De Sousa, e sob o seu lendário alter ego de José Estebes, os três tiveram um pequeno apontamento de humor antes de se lançar no seu grande hit: "Vamos Lá Cambada!" (um hino tão colossal que já teve o seu próprio artigo aqui no blogue). No final, além de algumas crianças da audiência, os outros artistas também surgiram em palco, que Herman aproveitou para interpolar "O Anel De Noivado" e "Trocas E Baldrocas". 
- Nesse ano, não houve o "A Todos Um Bom Natal" a fechar o "Natal Dos Hospitais", mas sim novamente o tema desta edição, já com Ariane de volta ao coro. Cantemos mais uma vez: Natal, Natal, Jesus é nosso guia…




Eu tinha algumas memórias de ver a edição de 1990 do "Natal Dos Hospitais" mas, como é óbvio, recordei muitas coisas de que já não me lembrava. Para mim, foi mais uma bonita recordação dos meus tempos da infância e pré-adolescência, quando o "Natal dos Hospitais" era mais um dos ingredientes que tornavam a quadra natalícia tão fascinante para mim (acho que o programa começou a perder a sua magia quando passou a ser feito na primeira quinzena de Dezembro, quando antes era a poucos dias da Consoada). Ao rever esta edição, duas coisas se destacaram para mim.
- Primeiro, a assistência nesse ano estava particularmente animada, batendo energicamente as palmas em cada canção e as câmaras a captarem vários espectadores (em especial crianças e jovens) a dançarem ao som das canções apresentadas. Mas ao contrário do que era frequente em muitos anos, não foram vistos na plateia muitos pacientes em macas e cadeiras de rodas e funcionários do hospital (sobretudo comparado com a edição de 1985 aqui analisada no ano anterior, onde podiam ser vistos bem perto do palco). Suponho que se tenha decidido que não valia a pena transportar um grande número pacientes para o palco, dado o frio e a chuva nesse dia poder afectar a sua recuperação. 
- Depois, talvez por ser o início dos anos 90, esta edição introduziu para a nova década algumas novidades relativamente aos anos anteriores, embora a maioria delas apenas tenham acontecido nesse ano. A mais óbvia foi a já amplamente referida theme song. Depois, a ordem de ligações até então costumava ser Açores, Madeira, Porto, Lisboa e nesse ano foi Porto, Madeira, Açores, Lisboa. Houve a iniciativa de ter alguns artistas a visitar os pacientes do hospital, com essas imagens captadas durante as respectivas actuações e o gesto dos artistas entregarem uma prenda para a árvore de Natal presente em palco. Não houve uma chamada de novo ao palco no final de cada bloco dos artistas que aí actuaram (à excepção da ligação ao Porto), como era habitual nas edições dos anos 80, tal como não houve o "A Todos Um Bom Natal" no fim. Essas alterações não tornaram o "Natal Dos Hospitais" de 1990 melhor nem pior, apenas um pouco diferente.