Hoje consagramos um segundo artigo para recordar êxitos do eurodance. Depois de no primeiro artigo termos analisado quatro temas de 1994, hoje vamos viajar por diferentes anos para recordar mais quatro canções que dançámos nos anos 90, fosse na discoteca, em festas em casa de amigos ou nos nossos quartos.
"It's My Life" Dr. Alban (1992)
E começamos com aquele que é um dos meus temas de eurodance preferidos de sempre. Reza a lenda que o nigeriano Alban Uzoma Nwapa teve a oportunidade de estudar medicina dentária na Suécia (daí que ele seja de facto um doutor). Para financiar os estudos e depois a sua clínica, foi fazendo alguns trabalhos como DJ e pelo meio, ia fazendo alguns improvisos de rap. Em 1990, um encontro com o produtor Denniz Pop levou-o um contrato discográfico e nesse ano lançou o seu primeiro álbum "Hello Afrika", cuja faixa-título conheceu algum êxito nos tops Europeus.
O segundo álbum "One Love", editado em 1992 teve ainda mais sucesso devido a temas como "Sing Hallelujah" e sobretudo "It's My Life". Este acabou por se tornar a canção mais emblemática de Dr. Alban, com a sua atmosfera algo dark das partes do rap a darem largas ao triunfante refrão de sing-along, para além da letra dedicada a todos aqueles que metem sempre o bedelho onde não são chamados e que dão opiniões que ninguém pediu. O sucesso de "It's My Life" nos tops europeus prolongou-se até bem dentro de 1993 devido ao seu uso num anúncio ao Tampax.
Em 2014, Dr. Alban colaborou com o cantor marroquino Chawki para uma nova versão, produzida pelo conhecido produtor sueco RedOne.
"Another Night" (MC Sar &) The Real McCoy (1993)
Como em muitos projectos de eurodance, também neste caso o que parecia não era bem assim. The Real McCoy era inicialmente um projecto dos produtores alemães Frank Hassas e Juergen Wind que obteve algum sucesso na Alemanha com versões de temas dos Technotronic como "Pump Up The Jam" e "It's On You". Já o MC Sar era basicamente fictício. No início esse papel foi atribuído ao francês George Mario, que fazia playback das partes de rap interpretado por Olaf Jeglitza, com Patsy Petersen como vocalista feminina. Mas chegados a 1993 e o lançamento de "Another Night", os papéis inverteram-se: Jeglitza passou a dar a cara pelo projecto sob o nome de O-Jay enquanto Petersen passou a fazer playback, já que a vocalista recrutada para a gravação da faixa foi Karin Kasar. Mas como esta alegadamente não tinha interesse em fazer promoções e contentava-se em ser cantora de estúdio, Patsy Petersen permaneceu no projecto para os videoclips e actuações ao vivo.
Versão europeia (1993)
Versão americana (1994)
A primeira edição "Another Night" de 1993 fez algum sucesso na Alemanha e quando o tema começou a alcançar alguma notoriedade no Canadá, chamou a atenção de Clive Davis, o célebre dono da editora Arista, que à semelhança do que fez com os Ace Of Base, ofereceu ao colectivo um contrato discográfico e grandes veículos para promover a música na América. Uma nova versão foi editada em 1994, conhecendo um êxito global, chegando mesmo ao n.º 1 do top na Austrália.
O projecto, que entretanto fez cair o MC Sar da sua denominação, somou mais alguns hit singles em 1995 com "Run Away", "Love & Devotion", "Come And Get Your Love" e "Automatic Lover", se bem que as coisas ficaram ainda mais confusas em termos das caras de projecto, pois embora Karin Kasar continuasse a ser a vocalista feminina desses temas, além de Olaf Jeglitza e Patsy Petersen, também Vanessa Mason surgiu como uma terceira cara do projecto, o que resultou na bizarria de de haver duas mulheres a fazer playback nos videoclips e actuações televisivas, quando era claro que só havia uma voz feminina...que não era de nenhuma delas. (Aparentemente Vanessa Mason foi recrutada por ter uma voz mais parecida com a de Karin Kasar para as actuações ao vivo.)
Depois do fracasso do segundo álbum e respectivos singles e de uma tentativa de reciclagem do projecto com novas caras, Olaf Jeglitza adquiriu os direitos ao nome de The Real McCoy e passou a actuar sob esse nome. Em 2006, colaborou com o grupo polaco Ich Troje para a canção que representou a Polónia no Festival da Eurovisão desse ano. E desde 2016 que Jeglitza e Karin Kasar têm actuado juntos como The Real McCoy e afirmaram que estiveram em estúdio para gravar mais material novo.
"Max Don't Have Sex With Your Ex" E-Rotic (1995)
Também vindo da Alemanha, este projecto de euro-dance fez-se notar por um elemento muito particular: referências sexuais nos títulos e nas letras (daí o nome). Com o produtor David Brandes ao leme da produção, as caras iniciais do projecto eram a cantora Liane "Lyane Leigh" Hegmann e o rapper Richard "Raz-Ma-Taz" Smith. O primeiro single dos E-Rotic foi "Max Don't Have Sex With You Ex", com Smith a fazer o papel do titular Max que, apesar da fogosidade da companheira actual, sente-se muito tentado em fazer revisão de matéria dada com a ex, ao que Leigh responde, pedindo encarecidamente para que ele não ceda à tentação. Pelo meio existe ainda espaço para uns gemidos profundos de Leigh (o que leva a pensar que este diálogo está a ocorrer na cama).
O single seguinte "Fred Come To Bed" era uma sequela, em que a namorada do Max decide vingar-se do pulo de cerca do amante com o amigo dele Fred. Seguiu-se depois o álbum "Sex Affairs" e mais singles como "Sex On The Phone", "Billy Use A Willy" e "Fritz Love My Titz". Mais tarde veio-se a saber que a voz do rap de "Max..." não era de Richard Smith, mas sim Marcus "Deon Blue" Thomas.
Embora Lyane Leigh continuasse a ser a voz em estúdio, a partir do segundo álbum, esta e Smith foram substituídos por outros como as caras do projecto. Entre os discos subsequentes, destaque para um álbum com músicas dos ABBA de 1997. Em 2000, os E-Rotic participaram na pré-selecção da Alemanha para o Festival da Eurovisão desse ano com "Queen Of Light", ficando em sexto lugar.
Desde 2014, Lyane Leigh tem actuado sob o nome de E-Rotic acompanhada ora por Stephen Appleton ora por James Allan.
"Captain Jack" Captain Jack (1995)
Este projecto também era da Alemanha e tal como os E-Rotic se destacaram pela temática sexual, os Captain Jack iam pela vertente militar.
Um primeiro tema "Dam Dam Dam" passou despercebido, mas o single seguinte do projecto, a faixa homónima, gerou mais atenção pelos seus cantos militares combinadas com a batida dance e, vá-se lá saber porquê um solo de guitarra de flamenco. "Captain Jack" foi um hit europeu, chegando ao n.º 1 do top na Holanda e na Hungria. As caras do projecto (e desta vez, parece que também eram mesmo as vozes) eram Franky Gee (um cubano-americano nascido com o nome de Francisco Gutierrez) no papel da personagem Captain Jack e a vocalista feminina Liza Da Costa.
O primeiro álbum "The Mission" foi editado em 1996 e continha mais hits como "Soldier Soldier" e "Drill Instructor", e colaboraram no disco de tributo aos Queen por parte de vários grupos de eurodance com uma versão de "Another One Bites The Dust". Seguiram-se mais álbuns e singles, incluindo uma colaboração com os Gypsy Kings em 1997, que não repetiram o sucesso inicial, mas o projecto Captain Jack continua activo. Liza Da Costa deixou o colectivo em 1999 e Franky Gee continuou a assumir o papel de Captain Jack até à sua morte em 2005 em Espanha, vítima de uma hemorragia cerebral aos 43 anos. Desde 2012, que Bruce Lacy e Michelle Stanley dão a cara pelo projecto.
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