Gosto muito quando existe uma grande história por detrás de um grande hit, e é o caso de "Torn", o single que revelou a australiana Natalie Imbruglia em 1997, um sólido clássico "nineties" que ainda se hoje se ouve nas rádios. Mas vamos então por partes:
Parte 1: "Torn" foi composto em 1993 por Scott Cutler e Anne Preven da banda americana Ednaswap em parceria com o produtor inglês Phil Thornalley, anteriormente conhecido pela sua colaboração com os The Cure, produzindo o álbum de 1982 "Pornography" e chegando a integrar brevemente a formação da banda como baixista. A canção foi tentativamente pensada para um álbum a solo de Preven.
Parte 2: Por entre os meandros insondáveis da circulação de demos por entre companhias discográficas, a canção acabou por chegar até à cantora dinamarquesa Lis Sorensen, que acabaria por ser a primeira a gravá-la, adaptando-a para a língua dinamarquesa com o título "Braendt" ("ardida") ainda nesse ano de 1993.
Parte 3 - Os Ednaswap acabaram mesmo por gravar "Torn" para o seu álbum homónimo de 1995 tendo sucessivamente regravado novas versões para EPs editados em 1996 e 1997 e para um lado B de um single de 1998.
Parte 4 - Em 1996, a cantora norueguesa Trine Rein regravou a canção em inglês, tendo obtido algum sucesso nos países nórdicos. Cheguei a ver o videoclip no canal Sol Música da TV Cabo.
Parte 5 - Natalie Jane Imbruglia nasceu a 4 de Fevereiro de 1975 em Sydney, filha de pai siciliano.
Tal como a sua compatriota Kylie Minogue uns anos antes, Natalie Imbruglia gozara de grande popularidade na telenovela australiana "Neighbours" (a sua personagem, Beth Brennan, era apenas para entrar em meia-dúzia de episódios mas acabou por ficar dois anos) mas sentiu que o próximo passo da sua carreira passava pelas cantigas. Em 1994, deixou a telenovela e mudou-se para Londres. Em 1996 assinou contrato com a BMG após enviar uma demo com quatro canções, incluindo uma versão de "Torn".
A versão de Imbruglia, igualmente produzida por Phil Thornalley e com Katrina Leskanich da banda Katrina & The Waves ("Walking On Sunshine") no coro, foi editada em single em Outubro de 1997 e entrou directamente para o n.º 2 do top britânico, acabando por vender mais de um milhão de cópias no Reino Unido. Entre finais de 1997 e princípios de 1998, o single atingiria o n.º1 em Bélgica-Flandres, Canadá, Dinamarca, Espanha e Suécia e foi nomeado para o Grammy de melhor interpretação pop feminina, tornando-se de longe a versão mais popular da canção. Também devo dizer que a versão de Imbruglia é também a minha preferida, graças à sua interpretação emotiva com uns laivos certeiros de sensualidade e negrume, mas sem ser tão dramática como a de Trine Rein ou tão agressiva como a dos Ednaswap.
Na altura, houve uma mini-controvérsia quando se soube que a versão de Natalie Imbruglia não era a original, chegando mesmo a falar-se em plágio (os tablóides britânicos chamaram "Torn-gate"), mas a própria não demorou a relembrar que nunca tinha escondido que se tratava de uma versão e que em momento algum dissera que a tinha escrito.
Outro dos grandes factores para o sucesso de "Torn" na versão de Natalie Imbruglia foi sem dúvida o videoclip realizado por Alison McLean, gravado a partir de apenas um ângulo. Nele, Natalie Imbruglia interage com o actor e bailarino Jeremy Sheffield (que por exemplo, foi um dos bailarinos do videoclip de "I Want To Break Free" dos Queen) naquele que parece ser a cena romântica filmada num apartamento e o vídeo vai alternando entre cenas gravadas e momentos entre filmagens. Para ajudar à espontaneidade do conceito, a realizadora nunca disse aos dois quando é que a câmara estava ligada. É notória a química entre Imbruglia e Sheffield, fazendo com que a cena do beijo entre ambos seja uma das mais belas cenas do género ne um videoclip. Por fim, ao som do lendário solo de guitarra no final da canção, existe outra icónica cena de Natalie a dançar enquanto o cenário está a ser desmontado.
Parte 6 - Desde então, "Torn" já foi versionado muitas vezes, em vários estilos e línguas. Pretendo destacar a versão em português do Brasil "Amor É Ilusão" editada em 2005 pela girlband Rouge.
Na senda de "Torn", o álbum de estreia de Natalie Imbruglia "Left Of The Middle" acabou por vender sete milhões de cópias no mundo inteiro, sendo ainda o álbum de estreia mais vendido de sempre de uma cantora australiana e produziu mais três hits "Big Mistake", "Wishing I Was There" e "Smoke". No auge da sua fama, Natalie Imbruglia chegou a namorar com Lenny Kravitz e David Schwimmer.
O seu segundo álbum "White Lillies Island" foi editado em 2001 mas em quatro anos, o hype à sua volta já se tinha esfumado e passou algo despercebido, apesar de alguns bons singles com "Wrong Impression". A minha canção preferida de Natalie Imbruglia pós-sucesso global é "Shiver" do seu terceiro álbum "Counting Down The Days" de 2005. Ainda assim, ela continua activa na sua carreira musical: o seu último álbum é "Male" (2014) e como o nome indica, é um álbum de versões de canções originalmente interpretadas por homens, incluindo temas de Daft Punk, Damien Rice, Cat Stevens, The Cure, Neil Young e Tom Petty.
Entre discos, Natalie Imbruglia continuou a ter prestações na representação, nomeadamente no filme "Johnny English" com Rowan "Mr. Bean" Atkinson. Em 2013, tornou-se oficialmente cidadã britânica.
Selecção de vídeos de Natalie Imbruglia:
Selecção de vídeos de Natalie Imbruglia:
"Big Mistake"
"Wishing I Was There"
"Wrong Impression"
"Shiver"
"Instant Crush" (cover de um tema dos Daft Punk)
Vezes e vezes sem conta, que ouvi a música e o respectivo disco.
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