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segunda-feira, 29 de maio de 2017

"Blue Monday" New Order (1983)


por Paulo Neto

Há músicas que por vezes associamos a memórias passadas, algumas delas aparentemente inusitadas. Foi o que aconteceu comigo em relação a "Blue Monday", um dos temas mais emblemáticos dos New Order, que sempre que ouço penso em futebolistas a marcarem golos. Mas já vamos falar sobre isso.



Os New Order foram como que a fénix que renasceu das cinzas dos Joy Division. Após o suicídio de Ian Curtis em 18 de Maio de 1980 (com apenas 23 anos), os restantes membros dos Joy Division lamberam as feridas e continuaram sob o nome de New Order. Bernard Sumner, além das guitarras, foi promovido a vocalista, com Peter Hook no baixo e Stephen Morris na bateria, juntando-se Gillian Gilbert nas teclas. No início a banda manteve-se na mesma linha alternativa pós-punk dos Joy Division (o primeiro single, o excelente "Ceremony", era uma faixa semi-obscura dos Joy Division), mas acabaram por adicionar sonoridades mais electrónicas. E o sucesso não tardou a chegar, dissipando dúvidas que mesmo sem o génio poético e transtornado de Curtis, o projecto dos seus colegas tinha pernas para andar. Hoje em dia temas como "Bizarre Love Triangle", "True Faith", "The Perfect Kiss" ou "Regret" são clássicos incontornáveis e "World In Motion", criada como hino de apoio à selecção inglesa no Mundial de 1990, continua a ser uma das melhores canções sobre futebol de sempre.



"Blue Monday" é outro dos grandes clássicos dos New Order e ainda hoje se mantém como o single de 12 polegadas mais vendido de sempre. Reza a história de que a banda começou a escrever a canção como um tema para um encore dos concertos (sabem, aquela altura em que as bandas fingem que se vão embora mas depois ainda voltam e tocam mais uma ou duas canções), que desse para ficar a tocar num sintetizador quando regressassem ao palco e saíssem novamente dele. Porém, a ideia acabou por evoluir para um single. "Blue Monday" teve inspiração de quatro outros temas: a batida de "Our Love" de Donna Summer, a linha de baixo do clássico disco-sound "You Make Me Feel Mighty Real" de Sylvester, os arranjos de "Dirty Talk" dos Klein + MBO e os coros foram samplados de "Uranium" de Kraftwerk.  

Capa da edição de 1983


O single foi editado no Reino Unido em Março de 1983, chegando ao n.º 12 do top britânico. Porém um novo relançamento em 1985, ajudado pelo facto do tema não estar incluído no álbum subsequente "Power Corruption Lies", conseguiu ainda melhor chegando ao n.º 9 no Reino Unido e ao top 5 de países como a Alemanha, a Holanda e a Nova Zelândia. Porém a versão mais popular de "Blue Monday" será o remix de 1988 de Quincy Jones e John Potoker, ilustrada no famoso videoclip onde se vê um cão de raça Weimarenen a equilibrar-se numa bola de ténis. "Blue Monday 88" teve ainda mais sucesso comercial que a versão original chegando ao n.º 1 do top da Nova Zelândia, n.º 2 na Irlanda e n.º 3 no Reino Unido na Alemanha.

Capa da edição de 1988




E agora é que entra a minha história com esta canção. Quando eu andava no 3.º e 4.º ano da escola primária, entre 1988 e 1990, eu só tinha aulas de tarde, pelo que ocupava as minhas manhãs a fazer o que restava dos TPC e a ver televisão. Na altura a RTP abria as emissões com o espaço informativo "Bom Dia" e às segundas-feiras havia sempre espaço para um resumo da jornada do campeonato nacional de futebol decorrida no fim-de-semana anterior. Esse resumo terminava sempre com uma montagem de todos os golos marcados em cada jornada ao som de "Blue Monday" (ou então, agora que penso nisso, como não me recordo de ouvir a voz de Bernard Sumner nessas montagens, creio que terá sido antes utilizada a versão instrumental do tema, intitulada "The Beach"). Por isso, sempre que ouço "Blue Monday" vem-me logo à cabeça o Académico de Viseu, o lanterna vermelha da época 1989/1990, a ser goleado ou Mats Magnusson, o implacável artilheiro sueco do Benfica, a rematar impiedoso contra as balizas adversários.

Como na altura vivia-se num mundo pré-internet, só em 1993 é que descobri o título da música que eu até então apelidava de "a música dos golos da jornada" quando vi o videoclip na MTV.

Capa da edição de remisturas de 1995




Em 1995, "Blue Monday" foi reeditado com novas remisturas, da qual a mais destacada foi a dos Hardfloor, em promoção ao disco "The Rest Of New Order", um álbum de remixes dos principais temas da banda, que procedeu ao álbum best of de 1994.

Em 1998, a banda americana Orgy gravou um versão punk-metal de "Blue Monday" que serviu para introduzir o tema a uma nova geração nos Estados Unidos. A versão dos Orgy foi ainda incluída na banda sonora dos filmes "Ainda Sei O Que Fizeste No Verão Passado" e "Oh Não! Outro Filme de Adolescentes!".




Após um interregno a partir de meados dos anos 90 onde os membros da banda encetaram novos projectos pessoais, os New Order reformaram no início do século XX, tendo editado em 2001 o álbum "Get Ready". Desde então editaram mais três álbuns de originais (o mais recente, "Music Complete" em 2015) e fizeram algumas digressões. Com a saída de Peter Hook em 2007, actualmente a formação inclui os membros originais Sumner, Morris e Gilbert bem como Phil Cunningham e Tom Chapman.




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