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quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

O Clone (2001-02)


por Paulo Neto

No início do século XXI, mesmo com a fábrica de telenovelas nacionais da TVI em plena marcha, algumas telenovelas brasileiras da Rede Globo exibidas na SIC ainda obtiveram bastante sucesso, como foi o caso de "O Clone", estreada no Brasil a 1 de Outubro de 2001 e em Portugal já em 2002. Por coincidência, a telenovela estreou no Brasil durante um período onde dois dos principais temas - a cultura muçulmana e a clonagem - estavam na ordem do dia já que a novela estreou poucas semanas após os ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001 em Nova Iorque e Washington, e em Novembro do mesmo ano, o médico italiano Severino Antinori anunciou que estava a trabalhar na primeira clonagem de um ser humano.



A telenovela era da autoria de Glória Perez e direcção de Jayme Monjardim. Além de características habituais como a abordagem a temas fracturantes e/ou preocupantes da sociedade actual e a divulgação dos costumes de um povo ou comunidade, com "O Clone", Glória Perez iniciou mais uma característica típica que continuaria nas suas telenovelas seguintes: a de uma realidade internacional alternativa onde em qualquer país todos falam português do Brasil fluentemente. Neste caso, em Marrocos, todos eram versados no idioma de Vinícius de Moraes.

Lucas e Jade


A trama de "O Clone" inicia-se em 1983 e estende-se até à então actualidade e passava-se entre o Rio de Janeiro e a cidade marroquina de Fez. Os protagonistas eram Giovanna Antonelli e Murilo Benício, que se desdobrou entre três papéis: os gémeos Diogo e Lucas, e Léo, o clone do título.
Jade (Antonelli) é uma bela muçulmana nascida e criada no Brasil que se muda para Fez após a morte da sua mãe, ficando à guarda do seu tio Ali (Stênio Garcia). Jade tem dificuldades em se adaptar às regras rigorosas do tio, que defende os costumes e tradições muçulmanas contra a influência ocidental, mas acaba por ficar muito amiga da sua prima Latiffa (Letícia Sabatella) e da governanta Zoraide (Jandira Martini).

Os irmãos gémeos Diogo e Lucas (Benício), filhos do abastado empresário Leônidas (Reginaldo Faria), chegam à cidade marroquina, onde ficam fascinados com o misticismo do local e as paixões que ele desperta. Diogo, o gémeo dominante que está prestes a suceder ao pai nos negócios, envolve-se com madura e sensual Ivete (Vera Fischer) enquanto Lucas se apaixona por Jade. O amor de ambos não é aceite pela família da jovem, que está noiva de Said (Dalton Vigh), e depois de muitas tentativas de fuga falhadas, os dois acreditam que não estão destinados a ficar juntos e desistem de lutar.

Leônidas e Ivete

Entretanto Diogo morre num acidente de avião após uma discussão com o pai ao descobrir que este namora com Ivete. Motivado pela tristeza de Leônidas pela sua perda, o cientista Augusto Albieri (Juca de Oliveira) decide criar um clone com o ADN de Lucas. A experiência é bem sucedida, através de uma inseminação artificial em Deusa (Adriana Lessa), uma mulher que pretende engravidar e que dá à luz um rapaz chamado Leandro, mais conhecido como Léo, que cresce sem saber que é o primeiro clone humano.

Léo e Albieri
Deusa



Os anos passam e Jade e Lucas viveram infelizes longe um do outro. Jade teve uma filha de Said, Khadija (Carla Diaz) e sofre com a dureza de Said, que mesmo apaixonado pela esposa, nunca se conformou por ela amar outro e trata-a com severidade, e nem quando Said arranja uma segunda esposa, Ranya (Nívea Stelmann), ou com a mudança da família para o Brasil a situação se altera.
Já Latiffa casou com Mohamed (António Calloni), irmão de Said e teve dois filhos, Samira (Stephany Brito) e Adim (Thiago de Oliveira) e é feliz no seu papel de esposa e mãe muçulmana. Só fica fora do sério quando o marido ou a cunhada solteirona Nazira (Eliane Giardini) falam na ideia de uma segunda esposa.
Jade, Khadija e Said
Samira, Mohamed, Latiffa e Amin


Lucas assumiu contrariado o lugar do irmão casando mesmo com a namorada deste, Maysa (Daniela Escobar) de quem teve uma filha Mel (Débora Fallabella). Reflexo do casamento infeliz dos pais, Mel é uma jovem problemática que acaba por cair na droga, que a arrastará para uma espiral dolorosa, mesmo depois de se apaixonar por Xande (Marcelo Novaes), que tinha sido contratado como seu guarda-costas. O problema da toxicodependência foi vivido por outras personagens: Nando (Thiago Fragoso), um jovem com uma carreira promissora de advogado a quem a droga deita quase tudo a perder, Regininha (Viviane Victorette), amiga de Mel que acaba por falecer, e Lobato (Osmar Prado) que luta há vários anos contra a dependência ao álcool e cocaína.

Maysa


Xande e Mel

Ao fim de muitos anos, Jade e Lucas reencontram-se e o amor que ambos julgavam extinto reacende-se, ainda que as dificuldades sejam maiores que nunca. Além disso, além de Said, existem mais outros dois apaixonados por Jade: o garboso Zein (Luciano Szafir) e o clone Léo, ou não tivesse ele o  ADN de Lucas.

Zein

Karla

Odete

Alicinha



Entre outras personagens contam-se Edna (Nívea Maria), a amargurada esposa de Albieri; Alicinha (Cristiana de Oliveira) uma mulher pérfida e dissimulada; Miro (Raúl Gazolla), namorado de Alicinha e objecto de desejo de Nazira; Karla (Juliana Paes), jovem sensual e oportunista que planeia um golpe de maternidade em Tavinho (Victor Fasano); Abdul (Sebastião de Vasconcellos), um muçulmano ultraconservador que abomina as mulheres "espetaculosas"; Odete (Mara Manzan), uma excêntrica comedora de fogo com o seu bordão "cada mergulho é um flash" e Dona Jura (Solange Couto), mãe de criação de Xande e dona do bar no bairro de São Cristóvão, também ela com um bordão popular: "Não é brinquedo, não!".


Dona Jura

Nazira


"O Clone" contou ainda com a participação da actriz portuguesa Maria João Bastos no papel de Amália, uma jovem e elegante jornalista que a certa altura disputa Leônidas com Yvete, mas que acaba com Cecéu (Sérgio Marone). Além disso muitas personalidades da cultura e do desporto apareceram na telenovela, sobretudo no Bar da Jura, como o rei Pelé, Roger (que na altura jogava no Benfica), Ronaldinho Gaúcho, Dunga, Jairzinho, o basquetebolista Óscar Schmidt, os cantores Alcione e Martinho da Vila e a apresentadora Ana Maria Braga. E até mesmo estrelas internacionais da música como o italiano Alessandro Safina e o americano Michael Bolton, que tinham músicas suas na banda sonora da telenovela.

Amália e Leônidas
Pelé e Roger


Com os acontecimentos do 11 de Setembro, temeu-se que a telenovela não fosse bem aceite pelo público, já que um dos núcleos principais era com personagens muçulmanas. No entanto, tal não veio acontecer e pelo contrário, não só "O Clone" foi um sucesso como aumentou interesse sobre a cultura muçulmana em vários países onde foi exibida. Por exemplo, no Brasil, popularizaram-se algumas expressões árabes como Inshalah e Maktub, bem como instrumentos típicos árabes. Em Portugal, a telenovela suscitou uma grande procura por aulas de dança do ventre e viu-se nas feiras e nas lojas de roupas alguns adereços de inspiração árabe como túnicas e faixas com berloques de atar à cintura.



Outro grande factor do sucesso da telenovela foi par protagonista e tal foi a química entre Murilo Benício e Giovanna Antonelli que se tornou mais um caso de uma química que extravasou para fora das câmaras, para uma relação que durou quatro anos e que gerou um filho em comum. (Curiosamente, a anos mais tarde Benício namorou com Débora Fallabella, que fazia de sua filha em "O Clone" e cujo romance começou em "Avenida Brasil".)   

Capa da banda sonora internacional
Capa do álbum com músicas de dança do ventre

"O Clone" também notabilizou-se por produzir oito (!) álbuns de bandas sonoras: além dos dois habituais volumes com os temas nacionais e internacionais da telenovela, também foi editado um álbum com músicas de dança do ventre, dois álbuns com temas instrumentais da autoria de Marcus Vianna, um álbum com a música tocada no bar da Dona Jura, outro com a música lounge da discoteca Nefertiti e um com temas utilizados na versão transmitida em Espanha e na América Latina.    

Genérico do abertura:











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