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quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

"Freedom '90" George Michael (1990)

por Paulo Neto

Ao falecer no passado dia de Natal, o nome de George Michael foi acrescentado à lista da enorme ceifa de celebridades do ano de 2016. Despedia assim deste mundo um dos maiores nomes da música pop das décadas de 80 e 90. (Não será exagero dizer que apenas Madonna e Michael Jackson estiveram num patamar superior ao de George nos anos 80.) O David Martins já lhe prestou aqui homenagem falando de "Last Christmas", um dos maiores sucessos dos Wham! e uma das mais lendárias músicas natalícias da era moderna, e hoje pretendo abordar um dos temas mais marcantes da sua carreira a solo.
Em 1990, George Michael estava disposto a deixar para trás a sua imagem de ídolo pop para se fazer notar mais pelo seu talento como intérprete e compositor. Depois do sucesso do seu primeiro álbum a solo "Faith" (1987), o álbum seguinte "Listen Without Prejudice vol. 1" marcou uma viragem no seu repertório, com sonoridades mais acústicas e melancólicas. (Um "volume 2", com sonoridades mais dançáveis esteve tentativamente previsto para 1991, mas nunca se concretizaria). Apesar das boas críticas, o álbum vendeu bastante menos que o predecessor (pelo menos nos Estados Unidos) e tudo terminaria numa longa e penosa batalha legal entre George Michael e a Sony Music. 


O álbum continha belíssimas baladas como "Praying For Time" (cujo videoclip pode-se considerar um dos primeiros lyric videos) mas aquela que se tornou a faixa mais famosa de "Listen Without Prejudice" é uma das mais dançáveis dos disco. "Freedom '90" (o "90" foi acrescentado para não se confundir com o tema dos Wham! também intitulado "Freedom"). Nele George Michael canta em como aproveitou os tempos em que era o ídolo das miúdas e estava nos píncaros do sucesso, mas que entretanto se tornou mais cínico quanto à indústria musical e que agora pretende fazer o que quer e como quer e não o que os outros pretendem, abraçando uma nova liberdade, culminando no explosivo refrão: "Freedom! Freedom! Freedom! You gotta for what you take!"

Mas é claro que a canção é sobretudo lembrada pelo videoclip, realizado por David Fincher, hoje um respeitadíssimo realizador de cinema ("Sete Pecados Mortais, Clube de Combate", "O Estranho Caso de Benjamin Button"), onde no que parece ser uma mansão algo decrépita, quase pós-apocalíptica, dez pessoas fazem o playback da canção, sendo que: a) George Michael não aparece no vídeo, b) os cinco homens que aparecem no vídeo são modelos e c) as cinco mulheres que aparecem no vídeo são supermodelos. Ou não estivéssemos no princípio da era dourada das top models.


As cinco supermodelos que surgem em "Freedom '90" são a camaleónica Linda Evangelista (que aqui está loura platinada), a eterna diva Naomi Campbell, a elegantérrima Christy Turlington, a sensual Cindy Crawford (que sim, estava toda nua quando foi filmada na banheira) e a alemã Tatjana Patitz, que com 1,80m era a mais alta das cinco. 


Mas também há que falar dos modelos masculinos que eram: John Pearson (o que está no sofá, com um blusão de cabedal e que é como que um George Michael substituto), Mario Sorrenti (o que está deitado no chão a acender e apagar um candeeiro, que mais tarde viria a ser um conhecido fotógrafo), Scott Benoit (o que está no chuveiro), Todo Segalla (o que está pendurado de pernas para o ar) e Peter Formby (o que está sentado debaixo de uma lareira vazia e que atira um avião de papel).

O videoclip de "Freedom '90" continha também um paralelismo com o videoclip de "Faith", a faixa-título do álbum anterior. Se no início de "Faith" é visto um disco de vinil a começar a ser tocado numa jukebox, em "Freedom" a música começa quando Linda Evangelista liga uma aparelhagem e o CD do álbum começa a tocar. Além disso, três objectos que apareciam proeminentemente em "Faith" - um blusão de cabedal, uma guitarra e a dita jukebox - são destruídos quando se ouve "Freedom!". 

Em 1996, Robbie Williams versionou a canção para o seu primeiro single após ter deixado os Take That, sentindo-se identificado com a letra. A versão de Williams foi criticada como quase sendo uma interpretação de karaoke e até o próprio admitiu que não se orgulhou muito da versão, não a tendo incluído no seu primeiro álbum. Não foi o começo mais fulgurante da sua carreira a solo, mas Williams não tardaria a mostrar que era capaz de bem melhor.




Entretanto a versão de George Michael tem sido amplamente usada no cinema e na televisão ("A História de uma Abelha", "Declaro-vos Marido e Marido", "It's Always Sunny In Philadelphia") e George Michael interpretou o tema na cerimónia de encerramento dos Jogos Olímpicos de 2012 em Londres, naquela que viria a ser uma das suas últimas actuações ao vivo.



Quando questionadas sobre o videoclip, Linda Evangelista afirma que ainda hoje quando as pessoas a conhecem falam do vídeo (ela entraria noutro vídeo de George Michael, "Too Funky") e Cindy Crawford referiu certa vez que com o passar dos tempos, descobriu algum humor negro no facto de uma canção ser vendida por aparecerem dez caras bonitas em vez do cantor que realmente a canta.  

 

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