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terça-feira, 5 de abril de 2016

Derek Redmond (Jogos Olímpicos de 1992)

por Paulo Neto 

Como é sabido, por vezes não são só aqueles que sobem aos pódios dos Jogos Olímpicos que fazem história. Por vezes são aqueles que ficaram aquém do esperado que acabam por escrever uma grande história e relembrar que muitas vezes, o simples facto de competir nos Jogos Olímpicos já é uma vitória. E como o britânico Derek Redmond acabaria por descobrir, para tal bastou apenas cruzar a linha da meta.






Em 1992, Barcelona engalanou-se para receber os Jogos Olímpicos. Numa altura de profundas transformações no mapa político-geográfico, os atletas antigos países da recém-colapsada União Soviética (à excepção das repúblicas bálticas que voltaram a ter equipa própria) competiram numa equipa unificada sob a bandeira olímpica, a África do Sul regressou aos Jogos Olímpicos com o fim do apartheid, a Alemanha voltou a competir como um só país após a reunificação da RFA e da RDA, Cuba, Coreia do Norte e Etiópia regressaram após dois boicotes consecutivos, Croácia, Eslovénia e Bósnia Herzegovina competiram pela primeira vez como países independentes ao passo que os atletas das restantes repúblicas jugoslavas competiram sob a bandeira olímpica.
O basebol e o badminton passaram a fazer parte do programa olímpico oficial bem como o judo feminino. Hóquei em patins, taekwondo e pelota basca foram as modalidades de demonstração. Os Jogos de Barcelona decorreram sob ambiente de festa, da esplendorosa cerimónia de abertura com o arqueiro Antonio Rebollo acendeu a pira olímpica disparando uma flecha até ao encerramento. Cobi, a mascote oficial, tornou-se uma das mais populares mascotes olímpicas de sempre.  
No entanto para Portugal, os santos da Península não fizeram milagres e embora o nosso país levasse a sua maior delegação de sempre com uma centena de atletas, não conseguiu qualquer medalha. Nem sequer no hóquei em patins onde Portugal quedou-se pelo quarto lugar. Os melhores resultados lusos foram o sexto lugar do canoísta José Garcia (que será o chefe de Missão para os Jogos Olímpicos de 2016) e o sétimo de Manuela Machado na maratona.

Os Jogos Olímpicos de 1992 foram o palco de fabulosos triunfos como os do ginasta bielorrusso Vitaly Scherbo que conquistou seis medalhas de ouro e o da equipa americana de basquetebol, a lendária Dream Team composta por estrelas da NBA. Mas uma das mais famosas histórias desses Jogos ocorreu durante uma semifinal dos 400m.

Aos 26 anos, Derek Redmond era um talentoso atleta da corrida de uma volta à pista, tendo sido recordista nacional e ganho a medalha de ouro na estafeta dos 4x400m nos Campeonatos Europeus de 1986 e nos Mundiais de 1991. Porém a sua carreira foi sempre minada por lesões. Por exemplo, uma lesão no tendão de Aquiles impediu-o de competir nos Jogos Olímpicos de 1988 minutos antes da sua primeira prova. Chegado a 1992, Redmond tinha passado por oito cirurgias.



No entanto, em Barcelona as coisas pareciam estar a correr-lhe bem. Redmond venceu as suas corridas na primeira ronda e nos quartos de final, pelo que quando se apresentou na sua corrida da semifinal era um dos candidatos a apurar-se para a final. Só que a meio da corrida, Redmond sofreu uma rotura num tendão que deitou as suas aspirações por terra. Ainda assim e apesar da extrema dor, o britânico decidiu terminar a sua prova, nem que fosse ao pé-coxinho. Entretanto, um homem tinha conseguido esquivar-se a toda a vigilância e corria na pista. Tratava-se de Jim Redmond, pai de Derek, que se dirigiu para junto do filho. Amparado pelo pai e sob uma enorme ovação do público presente no estádio, Derek Redmond cruzou por fim a linha de meta. Embora oficialmente desqualificado por causa da ajuda do seu pai, não havia como não vê-lo como um vencedor.




Alguns recordaram outro episódio protagonizado por um pai de um atleta olímpico, quarenta anos antes, quando em 1952 nos Jogos de Helsínquia, um homem todo vestido e com uma boina na cabeça lançou-se para a piscina após os 400m livres masculinos. Veio-se então a saber que era o pai do vencedor, o francês Jean Boiteux, que quis comemorar a alegria da vitória junto do filho.

   

Derek Redmond terminou a sua carreira no atletismo em 1994. Desde então dedicou ao basquetebol, foi comentador desportivo e também envolveu-se no desporto motorizado. Foi casado entre 1994 e 2000 com a nadadora Sharron Davies (medalhada nos Jogos Olímpicos de 1980) de quem teve dois filhos. Jim Redmond foi um dos que transportaram a tocha olímpica dos Jogos Olímpicos de 2012 em Londres.

Derek Redmond em 2013

Jim Redmond em 2012


E afinal quem acabou por ganhar os 400m nos Jogos Olímpicos de 1992? Foi o americano Quincy Watts, que no ano seguinte protagonizou um divertido anúncio da Nike, onde durante uma ópera um viking propõe-lhe uma troca dos seus ténis super-almofadados pela sua esposa "super-almofadada". Watts recusa a proposta e foge do palco, enquanto a tal viking almofadada grita "QUIIIIIIIIIINCY!".



   


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