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terça-feira, 15 de março de 2016

10 Momentos Curiosos do Festival da Canção (1980-1996)

por Paulo Neto



Serão poucos aqueles que não incluirão nas suas memórias televisivas de outrora recordações da família reunida em frente à televisão para ver o Festival da Canção, um dos pontos altos da saison televisiva da RTP durante anos a fio. Este ano, uma vez que Portugal não participa no Festival da Eurovisão não houve Festival da Canção e ainda assim, já há muito que o evento não tem a importância e o glamour de outrora quando a competição reunia sempre compositores e intérpretes conhecidos e a produção tinha toda a pompa e circunstância.   
Embora o foco central do Festival da Canção ao longo dos tempos tenham sido as canções, nomeadamente a eleição da canção que representaria o país no certame europeu, também houve vários momentos extra-concurso que marcaram o evento.

Neste texto pretendo abordar dez momentos curiosos e/ou marcantes do Festival da Canção nos anos 80 e 90, por ordem cronológica. Será que se recordam deles?

1980: Cores Frenéticas
A máxima "tarda mas não falta" aplica-se a Portugal em vários aspectos. Quando praticamente todos os outros países da Europa já tinham transmissões a cores, esta só chegou aos ecrãs nacionais a 7 de Março de 1980, dia em que a RTP completava 23 anos de emissões. Para assinalar tal efeméride, impunha-se a transmissão ao vivo e a cores de uma das suas jóias da coroa, o Festival da Canção pois claro. Como não podia deixar de ser, como o vencedor José Cid, muitos dos intérpretes presentes apresentaram-se com roupa bem colorida.
Porém quem tirou maior partido da chegada da cor a RTP nesse dia foram sem dúvida As Frenéticas, o grupo brasileiro que actuou como convidado. O grupo feminino fazia então sucesso em Portugal com o tema principal da telenovela "Dancin' Days", exibida na altura na RTP, e cantou alguns dos seus êxitos, envergando trajes reduzidos e supercoloridos.



1982: Isto é que vai uma festa!
No Festival da Canção de 1982, Alice Cruz e Fialho Gouveia conduziram a parte das votações. Porém a parte da apresentação das canções contou com uma dupla de "apresentadores" muito especial: o Agostinho e a Agostinha, o par ébrio e desbocado que Camilo de Oliveira e Ivone Silva lendariamente interpretaram em "Sabadabadu" e que recuperaram para o Festival. Antes da actuação de cada canção, os dois recuperavam uma adaptação da sua famosa cantilena do programa em que, a cada ocasião, conseguiam incluir na letra, o título, o intérprete, o autor e o compositor da respectiva canção. Eis como Agostinho e Agostinha apresentaram a canção vencedora, nada menos que o "Bem Bom" das Doce.



1983: O baton de Herman José
O 20.º Festival da Canção não podia ter sido mais histórico. Pela primeira vez, o evento saiu da capital, tendo lugar no Coliseu do Porto. Foi lá que nasceu o insta-love entre Armando Gama e Valentina Torres, e como já falámos aqui, aconteceu a fugaz mas inesquecível aparição de uma das heroínas da Enciclopédia de Cromos, Maria Teresa de Saint-Maurice, mais conhecida por Tessa e a sua interpretação de "Ave do Paraíso". 
Por entre os outros participantes, também esteve Herman José que com "A Cor Do Teu Batôn", alcançou um honroso segundo lugar e torno-se um dos seus mais populares temas do seu repertório como cantor. Pelo facto de Herman José possuir oficialmente apenas nacionalidade alemã, falou-se que poderia ser desclassificado em caso de vitória por não ter nacionalidade portuguesa, algo que alegadamente estaria nas regras da competição. Curiosamente, o Festival da Eurovisão desse ano realizou-se precisamente na Alemanha.



1984: Avé Suza
Devido a uma greve de músicos, as actuações do Festival da Canção de 1984 foram feitas com recurso a música gravada, à excepção da eventual vencedora Maria Guinot que tocou piano ao vivo enquanto cantava. Ainda assim, o Festival desse ano foi talvez aquele que foi mais recheado de estrelas pois não só na competição estavam artistas conhecidos como António Sala, Paco Bandeira, as Doce, Adelaide Ferreira, Paulo de Carvalho, Rita Ribeiro, Fernando Tordo e Samuel (em dose tripla), como o juri era composto por nomes como Ana Bola, António Macedo, Beatriz Costa, Carlos Cruz, Herman José, Maluda, Tonicha, Teresa Silva Carvalho, Henrique Mendes, Tomás Taveira e Virgílio Teixeira. 
Mas a estrela principal da noite foi Linda de Suza, então no auge da sua carreira, que na função de presidente honorária do júri, entregou o prémio da vitória a Maria Guinot, e ela própria foi alvo de sentida homenagem. Além disso, também actuou no certame cantando o seu famoso hit "Um Português" e ainda se atirou a uma versão semi-improvisada da "Tia Anica de Loulé".


1986: Vozes à solta
Sob o título "Uma Canção Para A Noruega", o Festival de 1986 foi algo sui-generis. Em vez de actuações ao vivo, as doze canções (apresentadas em grupos de três nos estúdios da RTP nos Açores, Madeira, Porto e Lisboa) foram apresentadas em actuações pré-gravadas. Após uma selecção interna a cargo de 43 funcionários da RTP, a vitória recaiu sobre Dora com o seu "Não Sejas Mau Para Mim". No entanto, um dos momentos mais marcantes foi uma excelente versão do tema "Cavalo À Solta", canção concorrente do Festival da Canção de 1971 na voz de Fernando Tordo, interpretada pelo Coro de Santo Amaro de Oeiras e quase todos os vencedores do Festival da Canção até então (Madalena Iglesias, José Cid e as Doce foram as únicas ausências).



1988: Parecia o Festival, mas não era bem o Festival
Mais uma vez, a RTP optou por um peculiar processo para escolher a canção representante na Eurovisão. Seis canções foram apresentadas em actuações pré-gravadas numa emissão especial do programa "Deixem Passar A Música" quando já se sabia que a escolha recaíra sobre o tema "Voltarei", interpretado por Dora. Outra das canções a concurso também era interpretada por Dora, de seu título "Déjà Vu" que entrou na competição por ter vencido o Prémio Nacional de Música.


Esse certame realizou-se umas semanas antes na Figueira da Foz, com transmissão na RTP, e para muitos parecia mesmo o Festival da Canção, com actuações ao vivo, apresentação de Ana do Carmo e até a actuação do convidado especial Johnny Logan, que tinha vencido o Festival da Eurovisão (pela segunda vez!) no ano transacto. Foi, creio eu, a única que um vencedor da Eurovisão visitou Portugal enquanto detentor do título.


Eu, na altura com oito anos, pensei que este é que tinha sido o Festival, já que o outro programa passou-me ao lado, e achava que tinham decidido trocar de canção para Dora e só bem mais tarde é que percebi deste bizarro processo de selecção. De referir ainda que um dos cantores presentes era António Antunes, que viria ser depois conhecido como Tony Carreira.



1991: Bye, Ruth Rita, Bye
A edição de 1991 teve lugar na FIL, mais uma vez em dia de aniversário da RTP, e consagrou Dulce Pontes e o imortal "Lusitana Paixão". Este Festival da Canção também prestou homenagem ao cinema português, com a apresentação de cada canção a ser precedida por uma famosa cena de míticos filmes portugueses dos anos 30 e 40 e com uma apresentação de uma medley de canções desses filmes.
Além de Dulce Pontes, na competição estiveram presentes por exemplo, Toy, Emanuel antes da sua fama,  o grupo Blocco que integrava Ricardo Carriço (não é de agora que este é dado às cantigas) e... a inesquecível Ruth Rita de "A Roda da Sorte" que surgiu a tocar(?) teclado e a fazer coro na canção "Bye, Lili, Bye", cantada por Tó Leal e Gustavo Sequeira. A certa altura, Tó Leal até teve direito a um beijo repenicado de Ruth Rita!



1993: As ligas são de mais
Antes da grande final do 30.º Festival da Canção no Teatro São Luís, vinte canções foram apresentadas no programa "Sons do Sol" de Júlio Isidro com o intuito de apurar oito temas para a grande final que consagraria Anabela e "A Cidade (Até Ser Dia)". Essa pré-selecção estava a cargo de um júri composto por Fernando Tordo, Carlos Mendes, Rita Guerra, Dulce Pontes e João Filipe Barbosa. A polémica surgiu a propósito de uma das canções não apuradas, "As Palavras São De Mais" interpretada por Ana Paulino. Primeiro porque gerou uma enorme discórdia entre os júris com Mendes e Tordo a darem-lhe 12 e 10 pontos respectivamente e Rita Guerra a dar apenas 1 ponto. Também um dos júris, creio que Carlos Mendes, não se fez rogado em criticar a roupa com que Ana Paulino se apresentou durante a sua actuação, um vestido cuja racha deixava à vista uma liga que a cantora trazia na perna.



1994: Chamar a pontuação máxima
Após duas semifinais, uma no Porto e uma em Lisboa, uma das canções favoritas à vitória final era o "Chamar A Música" de Sara Tavares, a qual já se sabia ser a vencedora da primeira edição do "Chuva de Estrelas", cuja final já tinha sido gravada mas que ainda não tinha sido transmitida na SIC. E para espanto de todos, a vitória da canção acabou por ser, de forma inesperada porém justíssima, absolutamente esmagadora com os júris dos 22 distritos nacionais a darem todos unanimemente a pontuação máxima (10), alcançando assim a maior pontuação possível de 220 pontos. Sinal de que Sara Tavares era -e continua a ser- uma estrela de raro brilho no nosso panorama musical.



1996: Lúcia, a grande aposta
1996 terá sido porventura a última grande edição do Festival da Canção, julgo que foi depois desse ano que começou o declínio de interesse do grande público. Numa edição realizada no Teatro Politeama, o cinema português foi mais uma vez o tema de homenagem num espectáculo intermédio dirigido por Filipe La Feria. Até esse momento, Lúcia Moniz era apenas conhecida sobretudo por ser filha de Carlos Alberto Moniz e Maria Do Amparo e alguns mais atentos já a tinham visto ao lado do malogrado Beto a cantar na banda do programa "Não Se Esqueça Da Escova De Dentes", mas nesse ano 1996, Lúcia demonstrou ser uma grande revelação tanto enquanto cantora como actriz.
Lúcia Moniz não só venceu o Festival da Canção com "O Meu Coração Não Tem Cor", cujo tema viria a alcançar o melhor resultado de sempre para Portugal no Festival da Eurovisão, como também brilhou na sua estreia em representação na telenovela "A Grande Aposta", exibida na RTP, logo no papel de duas irmãs gémeas, uma delas cega! Foram os primeiros passos para uma frutuosa carreira de Lúcia Moniz tanto na música como na representação.


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