Páginas

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Saúl Ricardo "O Bacalhau Quer Alho" (1996)

por Paulo Neto

Agora que é presença regular na televisão devido à sua participação em "A Quinta", nada como recordar os tempos em que o pequeno Saúl Ricardo era a estrela infantil mais badalada em Portugal depois da Maria Armanda.



Saúl Ricardo dos Santos Noronha nasceu a 18 de Agosto de 1987 na Figueira de Foz. Em 1995, quando ainda não completara oito anos, participou no "Big Show SIC", surgindo como um mini Quim Barreiros a cantar "O Mestre da Culinária", deixando toda a gente em estúdio espantada com a actuação. Inês Santos, a vencedora do Chuva de Estrelas que nesse programa era a júri convidada, definiu na perfeição o que todos acharam: "O Quim Barreiros encolheu, foi à máquina de lavar."





Tal foi impacto causado por aquele micro-talento que rapidamente surgiram propostas para um contrato discográfico. E em 1996, surgia o seu primeiro álbum cuja faixa-título seria o seu grande hit, "O Bacalhau Quer Alho".





O sucesso do disco não se fez esperar e pouco depois já não havia quem neste país não tivesse trauteado o refrão: "O bacalhau quer alho / É o melhor tempo / Quem comer alho / Fica rijo como um pêro". E sabem quem é que escreveu este magnífico opus? Os irmãos António e Filipa Lemos que mais tarde ganhariam notoriedade como parte dos Santamaria. Antes dos Santamaria, os irmãos Lemos ganhavam a vida actuando como o duo Tony Lemos & Marlene, mas sobretudo compondo canções para os artistas da facção pimba da editora Vidisco (algo que após o sucesso dos Santamaria, eles compreensivelmente quiseram manter em discrição). Eu sei disso porque certa vez, acho que na festa de anos de alguém, vi a cassete do primeiro álbum do Saúl e a maioria dos temas eram da autoria dos dois manos. E, como se impunha, dois temas eram da autoria do Quim Barreiros himself.

"Dona Tila" no Big Show SIC (1997):



Seguiram-se três anos de grande sucesso e uma carregadíssima agenda de espectáculos por todo o Portugal e também no estrangeiro. E foram-se somando hits como "Cozinhar É Comigo" (mais conhecido como "cozinho eu p'ra mim"), "Os Pitos", "Dona Tila", "Espeto Um Prego" ou "As Bolas De Snooker". Em 2000, tentou-se uma ligeira mudança de repertório com "Gosto De Ti À Brava" mas o disco não teve tanto sucesso. Foi a partir daí que começou a circular o boato de que Saúl teria morrido num acidente de viação, ou algo assim. Mas não só continuava vivinho da Silva como continuou a lançar um álbum por ano entre 2002 e 2005. 

Foi então que quando completou 18 anos, Saúl descobriu que os seus pais desbarataram todo o dinheiro que havia ganho desde criança. Foram tempos conturbados em que fez de tudo para sobreviver e onde o próprio admitiu ter tido pensamentos suicidas. Mas quando tudo parecia perdido, surgiram dois apoios que o fizeram persistir na adversidade: a namorada Marisa (actualmente sua esposa) e o público que afinal nunca o esquecera e que gradualmente foi acorrendo de novo aos seus concertos. Talvez porque se há coisa que o povo gosta mais do que cantigas sobre bacalhau, são histórias de ídolos caídos que voltam erguer-se.





Actualmente com 28 anos, Saúl Ricardo vive actualmente um renascimento da sua carreira, reconstruída pelo seu próprio pulso. Mesmo sem o fulgor dos outros tempos tal como sucede com outros artistas (a perfect storm da música pimba dos anos 90 é irrepetível), continua a actuar por todo o país, cantando os temas brejeiros com trocadilhos que são a sua marca (cada um é para o que nasce) como o hit-single de 2011 "A Fábrica Da Chouriça" e a marcar presença na televisão, não só nos típicos programas 760 de fim-de-semana das estações generalistas, mas também em "Som de Cristal" e agora em "A Quinta". Saúl pode continuar pequeno mas fez-se um homem.

Excerto do Perdidos & Achados sobre Saúl Ricardo (2011):

     

1 comentário: