por Paulo Neto
Um dos principais acontecimentos televisivos do ano 2000 não se deveu a nenhum programa mas sim a uma engenhosa estratégia na guerra das audiências, envolvendo um objecto autocolante, uma personagem fofinha e aldrabice q.b. Falo, é claro do DOT, com o qual a SIC tentava impor-se na guerra das audiências nesse ano. Não me recordo em que altura do ano 2000 é que a DOTmania teve lugar, pela informação que consegui apurar terá havido uma primeira fase durante o primeiro semestre do ano, e depois uma segunda fase lá mais para o final do ano para tentar contrariar o boom do primeiro Big Brother português que ditaria o princípio do fim do domínio da estação de Carnaxide.
Mas o que era afinal o DOT? Era uma rodela de cartão com uma película no centro com uma superfície autocolante que podia ser obtido na compra de um Menu no McDonald's, no abastecimento nos postos da BP, em compras no Modelo e na Worten e na aquisição da revista TVMais e que se destinava a ser-se colado no canto direito do televisor no início de alguns programas da SIC, surgindo no ecrã uma silhueta a indicar o sítio certo, e que assim deveria permanecer até ao final do programa, mesmo nos intervalos, pelo que durante esse tempo não se podia mudar de canal ou desligar o televisor, sob pena de quebrar o quer que fosse o trabalho que a coisa fazia. Depois era juntar o cupão em anexo, enviar pelo correio ou deixar em algum dos recipientes nos McDonald's, na BP, no Continente ou na Worten que lá haviam para o efeito para se habilitar a ganhar um de entre um variado conjunto de prémios.
Segundo este artigo do "Público", esta iniciativa foi patenteada por uma empresa holandesa e começou, alegadamente com enorme sucesso, na Hungria, e Portugal era o segundo país a implementá-la. Supostamente o DOT gravava um "código a cores" durante a emissão do programa e só aqueles correctamente activados é que seriam elegíveis para ganhar os prémios (automóveis, televisores, aparelhagens, scooters, consolas de jogos, viagens à Disneyland Paris, vales de 50 contos/250 euros em combustível grátis...). A apresentação da extracção dos prémios principais esteve a cargo de Ana Marques no segmento "A Família DOT".
Em Portugal, o DOT teve uma inesquecível campanha na SIC protagonizada por um boneco animado com a forma do aparelho e voz de José Carlos Malato e que tinha o slogan "Adopte um DOT".
Eu admito: colei um DOT duas vezes na nossa televisão da cozinha durante a emissão de "Negócio Fechado", um concurso efémero apresentado por Henrique Mendes, que creio ter depois depositado num recipiente no McDonald's da Praça da República em Coimbra, onde eu estudava na altura. E não, não pensei muito em por que raio aquilo saberia se eu tinha visto o programa até ao fim sem nunca ter mudado de canal. Era mais novo e ingénuo. Don't judge me! E o certo é que ainda houve muitos portugueses a concorrer.
No entanto, com o passar do tempo, começaram a surgir as suspeitas de que a alegada tecnologia do DOT era uma fraude. Na internet, descobri alguns relatos de quem decidiu abrir os DOTs após o fim da campanha e descobriu que eram apenas feitos de cartão e não tinham nenhum dispositivo lá dentro. Encontrei também no YouTube um testemunho que afirma ter mudado de canal com o DOT colado e mesmo assim acabou por ganhar uma aparelhagem.
Actualmente a opinião geral é que o DOT não passou de uma manobra de fidelização de audiências televisivas e das marcas envolvidas, cuja eficácia foi possível num tempo onde a televisão generalista ainda era o principal meio de comunicação e a internet ainda não estava muito disseminada em Portugal.
Além da inesquecível campanha, o DOT também proporcionou vários e divertidos sketches em "O Programa Da Maria", sendo que o mais famoso era aquele em que Nuno Lopes encarnava o Marco do Big Brother a dar pontapés no DOT que estava ao seu lado. (Aos 11:18)
Eis aqui outro sktech, com a participação de Fernanda Serrano.
Eis aqui outro sktech, com a participação de Fernanda Serrano.
Entretanto o leitor do blogue Guilherme Fontes publicou na página do Facebook da Enciclopédia de Cromos um anúncio australiano da campanha do DOT naquele país também no ano 2000, utilizada por um canal para fazer frente à estação que transmitia os Jogos Olímpicos de Sydney.
Na verdade, basta ir ver as patentes do Dot para perceber que aquilo funcionava sim. Os discos de cartão tinham uma película fotossensível que reagiria conforme determinadas cores que fossem mostradas no ecrã. O que pode ter acontecido no caso do senhor que mudou de canal e ainda assim venceu o sorteio foi ter havido um erro por parte da SIC, que não transmitia cores "exclusivas" na área onde se colaria o Dot, fazendo com que ele fosse ativado com uma qualquer luz. Isso é falha da SIC, no entanto, e não do dispositivo. A patente para o pequeno círculo já acabou na Europa e em mais uns países então quem quiser pode dar outro nome a esta coisa e fazer um dinheirinho com a nostalgia
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