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quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Colectânea N.º 1 (1995)

por Paulo Neto

Entre os "Jackpots" e "Polystars" dos anos 80 e a actual série NOW, nos anos 90 a principal série de colectâneas de êxitos musicais em Portugal foi sem dúvida a série "Número 1" que durou entre 1991 e 1996 e que reunia grande parte dos hits da altura num só disco, daí que fossem sempre campeãs de vendas. Em termos de compilações, só mesmo as inúmeras colectâneas de dance-music da Vidisco faziam-lhes frente. A série também era popularmente conhecida como "Fido Dido" porque era hábito que a simpática mascote da 7Up ilustrasse a capa de muitos dos volumes da série, se bem que não de todos. Inclusivamente, recordo-me que a edição do Natal de 1994 tinha antes o célebre Sonic na capa. A série, que constituía uma pareceria entre algumas das maiores editoras discográficas da altura (Sony Music, BMG, EMI-Valentim de Carvalho), editava dois volumes por ano, um no Verão e outro no sempre apetecível período natalício.

Eu tive alguns volumes dessa série. Um dos mais populares foi aquele editado no Verão de 1995, um daqueles em que Fido Dido abrilhantou a capa e que recebi de presente dos meus pais por ter concluído o 9.º ano.





Este volume continha dois CD, cada qual com catorze faixas e reunia muitos daqueles que tinham sido os maiores hits desse ano de 1995. Quantas dessas músicas ainda se recordam.

CD 1
1. Back For Good - Take That: O CD 1 começava com um dos maiores hits da pioneira boyband britânica Take That, o seu único grande êxito nos Estados Unidos e um dos marcos na baladaria dos anos 90. Mas a partir daí as coisas entraram em curva descendente, com a saída de Robbie Williams do grupo e os restantes membros a prolongarem as actividades do grupo até ao ínicio de 1996. Como é sabido, Robbie Williams viria a ter uma fulgurante carreira a solo e os outros membros concretizaram um inesperadamente bem-sucedido regresso em 2006 que se prolonga até hoje, que até incluíu a participação de Williams num dos álbuns.  
2. Think Twice - Céline Dion: A diva canadiana era até então conhecida sobretudo por ter vencido o Festival da Eurovisão de 1988 pela Suíça e por ter cantado o tema do filme da Disney "A Bela e O Monstro", mas foi em 1995 que Céline Dion seria definitivamente catapultada para estrelato global com "Think Twice", que fez disparar as vendas do álbum "The Colour Of My Love", editado originalmente em 1993. Além de ter sido amplamente utilizado nos programas de cantorias da altura, o videoclip onde Dion, enrolada apenas num lençol, tentava resolver os seus problemas amorosos com um artista de esculturas de gelo ficou na memória. 
3. The Conquest Of Paradise - Vangelis: Este tema composto pelo compositor de "Momentos de Glória" e "Blade Runner" para o filme "1492 - A Conquista", um dos dois filmes sobre a descoberta da América por Cristóvão Colombo que saíram no ano de 1992, teve um inesperado ressurgimento anos mais tarde. Tudo começou na Alemanha, quando o pugilista germânico Henry Maske passou a utilizar o tema para a sua entrada na arena antes dos seus combates. O renovado interesse do público pelo tema espalhou-se da Alemanha para outros países europeus, Portugal incluído. Aliás, seria também utilizado na campanha do PS para as eleições legislativas de 1995 e ainda há quem se refira à faixa como "a música do Guterres".   
4. Non C'é - Laura Pausini: Como já escrevi há alguns anos, em meados dos anos 90, assistia-se em Portugal a um renovado interesse pela música italiana que coroou Eros Ramazzotti e Laura Pausini como o rei e a rainha do top nacional. Editado no seu país em 1993, o álbum de estreia da italiana só chegaria a Portugal no final de 1994, mas não se perdeu nada pela demora, com canções como o avassalador "La Solitudine" e este "Non C'é" a dominarem as rádios nacionais.     
5. Here Comes The Hotstepper - Ini Kamoze: o jamaicano Ini Kamoze viu-se com um inesperado hit global devido à inclusão do seu tema "Here Comes The Hotstepper" ter sido incluído no filme "Prêt-À-Porter" de Robert Altman, que se debruçava sobre os bastidores do mundo da moda e que tinha um elenco luxuosíssimo (Sofia Loren, Marcello Mastroianni, Kim Basinger, Julia Roberts e é so para começar) e vários cameos de conhecidos estilistas e manequins. Não se tardou a que a vida imitasse a arte e este tema também fosse utilizado em desfiles de moda. Os célebres "na na na na" foram originalmente usados no tema de 1963 "Land Of 1000 Dances".
6. No More "I Love You"s - Annie Lennox: Depois do sucesso do seu primeiro álbum a solo "Diva" (1992), a cantora escocesa, famosa por ser a metade feminina dos Eurythmics, lançava um novo álbum a solo "Medusa", constituído por integralmente por covers de canções. O primeiro single foi este "No More «I Love You» 's", originalmente gravado em 1986 pelos The Lover Speaks, mas a versão de Lennox foi bem mais sucedida, tendo mesmo ganho um Grammy. Célebre também é o videoclip em que Lennox se fazia acompanhar por quatro bailarinas travestis.  
7. She's A River - Simple Minds: A banda de "Don't You Forget About Me" continuava então bem activa  mas este "She's A River", do álbum "Good News From The Next World", acabou por ser o seu último grande hit. No entanto, os Simple Minds continuam a tocar um pouco por todo o mundo e a editar discos, com o seu último álbum, "Big Music" a sair em 2014. 
8. Independent Love Song - Scarlet: As Scarlet eram duo pop/rock britânico composto por Cheryl Parker e Jo Youle que em 1995 tiveram direito aos seus quinze minutos de fama onde foram uma "two hit wonder" graças ao fortíssimo refrão deste "Independent Love Song" e o single seguinte "I Wanna Be Free". O duo separar-se-ia em 1996 após o fracasso dos singles subsequentes e do segundo álbum.  
9. Whoops Now - Janet Jackson: O álbum de 1993 "janet." foi um marco na carreira de Janet Jackson, não só por ser um dos seus comercialmente mais bem sucedidos, como por marcar a fase onde a irmã de Janet Jackson roumpeu com a imagem conservadora que tinha até então, abordando francamente temáticas sexuais. Este "Whoops Now", um tema alegremente despretensioso com algumas influências Motown, foi a última gota a ser espremida do respectivo opus. 
10. I've Got A Little Something For You - MN8: Outro grupo britânico que em 1995 viveu os seus minutos de glória. Misto de boyband e grupo hip hop/r&b, os MN8 gozaram de algum sucesso na Europa nesse ano, sobretudo com este mesmíssimo tema. Porém nos anos seguintes, o sucesso não teve continuidade e o grupo dissolveu-se em 1999. 
11. Vulnerable - Roxette: os suecos Roxette sempre tiveram queda para a baladaria e esta, incluída no álbum "Crash! Boom! Bang!", tem a particularidade ser das poucas cantadas pela parcela masculina do duo, Per Gessle, em vez dos habituais chilreios de Marie Fredriksson.  
12. Be My Lover - La Bouche: os La Bouche, duo americano radicado na Alemanha composto por Melanie Thornton e Lane McCray, já tinham tido um hit em 1994 com "Sweet Dreams" mas seria o single seguinte "Be My Lover" que se tornaria um clássico dance-pop da década de 90 (quem nunca trauteou o "la la la ri la la la..." inicial?). O duo conheceu sucesso por mais algum tempo na Alemanha. Melanie Thornton iniciou depois uma carreira a solo em terras alemãs bruscamente interrompida quando morreu num desastre aéreo em 2001. Lane McCray ainda actua ocasionalmente sob o nome La Bouche com outras parceiras.    
13. Mariana - Diva: O grupo de Natália Casanova já tinha deixado a sua marca com o clássico de 1989 "Amor Errante". O segundo álbum finalmente surgiu em 1995 e o tema principal foi este "Mariana", dedicado à filha de Natália Casanova. 
14. In Existence - Beautiful World: Já falei sobre este tema cantado em swahili neste tópico

CD 2
1. Scatman (New Radio Edit) - Scatman John: Um dos êxitos que marcaram o ano de 1995 veio da proveniência mais inesperada. O épico euro-dance composto dos contorcionismos vocais de um músico jazz de 50 anos, cuja letra falava de como lidava com a sua gaguez, foi um êxito mundial e o Scatman John Larkin chegou a actuar em Portugal no programa da RTP "Zona Mais", apresentado por Carlos Cruz. O single seguinte "Scatman's World" e o álbum do mesmo nome ainda tiveram algum sucesso mas o disco seguinte passou quase despercebido. Infelizmente Larkin faleceu em 1999. A versão do tema incluída na compilação não era aquela que é a mais conhecida, mas uma nova remistura.
2. Nadar (SDL Hip Hop Remix) - Black Company: O primeiro grande hit do hip hop nacional já foi falado neste tópico. Tal como no tema anterior, não é a versão original que foi incluída neste CD mas sim uma remistura.
3. Cotton-Eye Joe - Rednex: Outro clássico do ano de 1995. Os suecos Rednex descobriram a pólvora ao misturar country com euro-dance. O resultado era um pouco como misturar vinho com Coca-Cola, mas inesperadamente entranhava-se mais do que se estranhava. Seguiram-se alguns hits de sonoridade semelhante mas em Portugal, além deste "Cotton Eye Joe", o grupo é mais lembrado também pela balada "Wish You Were Here". Os Rednex continuam ainda no activo e são particularmente populares na Roménia, onde até já tentaram ir ao Festival da Eurovisão por aquele país. 
4. Holding On To You - Terence Trent D'Arby: Como se pode ver no alinhamento desta compilação, existiam na altura várias estrelas dos anos 80 em busca de mais alguns fogachos de fama em meados da década seguinte. Era o caso de Terence Trent D'Arby (ou como dizia o meu tio, o Terence da Arábia), autor de hits como "Sign Your Name" e "Wishing Well". Para o seu álbum de 1995 "Vibrator", D'Arby surpreendeu com uma radical mudança de look, trocando as suas famosas tranças por um corte a pente 2 regado com água oxigenada. Já a sua voz continuava em grande forma. Embora longe da glória de outrora, Terence Trent D'Arby continua activo na música e até tem as suas tranças de volta, mas desde 2001 que responde pelo nome de Sananda Maitreya.  
5. Unchained Melody - Robson & Jerome: "Unchained Melody" é uma das canções mais gravadas de sempre com mais de 500 versões em diferentes línguas. Foi originalmente gravada em 1955 por Todd Duncan para "Unchained", um filme pouco conhecido de temática prisional. A versão mais famosa é sem dúvida aquela gravada em 1965 pelos Righteous Brothers, popularizada pelo filme "Ghost- Espírito do Amor". Em 1995, o célebre produtor Simon Cowell, ainda longe de se imaginar o rei dos júris de talent shows, convenceu dois actores ingleses Robson Greene e Jerome Flynn a gravarem uma versão do tema. A versão acabou por ser o single mais vendido de 1995 no Reino Unido e permanece como um dos mais vendidos de sempre naquele país. Robson e Jerome iniciaram então uma breve carreira como popstars interpretando clássicos dos anos 50 e 60 até voltarem à representação. Jerome Flynn é actualmente conhecido pelo seu papel de Bronn em "Game Of Thrones".  
6. Stay - Eternal: Formadas em 1993, as Eternal foram um resposta britânica aos grupos r&b americanos da altura como as En Vogue e as SWV. Este "Stay" foi o seu primeiro single mas só em 1995 é que chegou ao éter nacional, quando até uma delas, Louise Nurding, já tinha deixado o grupo com uma carreira a solo fisgada. Os restantes membros (Kelle Bryan e as irmãs Easther e Vernie Bennett) continuaram mais uns anos como trio, tendo em 1997 conseguido o seu maior hit com "I Wanna Be The Only One". O grupo terminou em 2000, quando já só integrava as irmãs Bennett, mas estas e Kelle Bryan têm feito algumas actuações esporádicas desde 2013.    
7. Whatever - Oasis: 1995 foi o ano do surgimento da britpop, com várias bandas rock britânicas a florescerem que nem cogumelos, criando novas sonoridades. A liderar o movimento estavam os Oasis que deixaram a sua marca logo no primeiro álbum "Definitely Maybe" de 1994. Antes de oficialmente lançarem o segundo álbum, "(What's The Story) Morning Glory", que seria um dos álbuns que marcaram a década de 90, os irmãos Gallagher e companhia editaram o tema inédito "Whatever", que com seis minutos e vinte segundos, era o tema mais longo da compilação. O tema foi utilizado em 2012 para a campanha dos 125 anos da Coca-Cola.
8. Perfume - Entre-Aspas: A banda algarvia tinha-se feito notar com o seu álbum de estreia de 1992 "Entre S.F.F.", nomeadamente com os temas "Visita" que foi o tema da série da RTP "A Esfera Ki" e sobretudo o contagiante "Criatura Da Noite". Agora para os Entre Aspas, era tempo para promoverem o segundo álbum "Lollipop" do qual este "Perfume" foi o tema que se destacou. Mal sabiam que anos depois, iriam colher uma pequena flor.     
9. Undecided (Deep Radio Mix) - Youssou N'Dour: O David Martins já falou aqui do esplendoroso "7 Seconds", dueto entre Youssou N'Dour e Neneh Cherry. Na onda do sucesso do tema, o álbum de  N'Dour "The Guide" mereceu alguma atenção junto do público, destacando-se este "Undecided". A versão mais conhecida é aquela produzida pelos Deep Forest, conhecido projecto de world-music, e como em equipa que ganha não se mexe, também contava a participação de Neneh Cherry a fazer coro.   
10. Open Your Heart - M-People: Desde 1991 que os M-People vinham assinando vários temas bem-dispostos, numa mescla de pop, dance, soul e jazz, tudo polvilhado pela poderosa voz de Heather Small. Este tema não será dos maiores hits da banda, como "Moving On Up" e "Search For The Hero" mas é bem ilustrativo do seu repertório. Apesar de não terem editado mais nenhum álbum de originais desde 1997 e de uma carreira a solo de Heather Small desde 2000, os M-People ainda continuam semi-activos e ainda actuam esporadicamente.   
11. Bubbling Hot - Pato Banton: Nascido em Birmingham sob o nome Patrick Murray, o artista reaggae Pato Banton iniciou a sua carreira em 1982 mas o seu ponto alto foi em 1994 quando a sua versão de "Baby Come Back" dos Equals chegou ao 1.º lugar do top britânico. Este "Bubbling Hot" foi um dos singles subsequentes.    
12. The First The Last Eternity (Till The End) - Snap feat. Summer: Ao terceiro álbum "Welcome To Tomorrow", já ficava claro que os tempos de hits esmagadores como "The Power" e "Rhythm Is A Dancer" já estavam para trás, mas o colectivo alemão Snap! ainda conseguiu fazer-se notar com este novo disco, sobretudo devido à faixa-título e este tema. Os Snap! ainda continuam activos mas só têm conseguido alguma notoriedade com novas versões dos seus antigos hits. (Por exemplo três versões de "Rhythm Is A Dancer" editadas em 1996, 2003 e 2008).  
13. Gente Comme Noi - Spagna: a cantora italiana Ivana Spagna conheceu algum sucesso internacional em 1987 com os hits "Easy Lady" e "Call Me", em cujos videoclips passeava a sua estratosférica cabeleira loura. Mas desde então que a sua carreira tem-se restringido ao seu país natal. Porém em 1995, o seu tema "Gente Comme Noi" com o qual conseguiu o terceiro lugar no Festival da San Remo desse ano, teve alguma rodagem nas rádios portuguesas.   
14. Tell Me When - Human League: Para terminar mais uma banda dos anos 80 que ainda procurava queimar alguns cartuchos na década seguinte. A saber, os Human League, autores de clássicos eighties como "Don't You Want Me", "Human" ou "(Keep Feeling) Fascination". Os Human League tiveram um breve regresso à forma com o álbum "Octopus", do qual este "Tell Me When" foi o single principal, que até inspirou a redescoberta dos seus hits anteriores num subsequente álbum best of e uma nova versão de "Don't You Want Me".  

Playlist das 28 canções:


6 comentários:

  1. The Conquest Of Paradise, ou como a política estragou uma música que adorava :D

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  2. Boa parte deste disco foi a minha banda sonora da rádio no meu trabalho de Verão de 95 :D
    Juro que pensava que o I've Got a Little Something for You era algum dos primeiros trabalhos dos Back Street Boys... obviamente nunca vi o videoclip...

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  3. Na altura que saiu este duplo CD tinha comprado a primeira aparelhagem com cd player incorporado.foi um dos primeiros cd's que comprei e custou aproximadamente 5 contos.muito dinheiro para aquela altura e mesmo para agora sería um cd caro.
    do genero cheguei a ter o electricidade 94 e o top star 91 em cassete.

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  4. Ena, 5 contos? acho que nunca gastei tanto num CD, nem mais tarde! As compilações acho que as comprei quase todas em promoção, excluindo algumas em cassete que ainda seriam recentes na altura que as comprei.

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  5. Gostei de rever (ouvir, vá) fantásticas memórias desses tempos e tenho de reconhecer que já tinha esquecido algumas. Algumas são "trash sound" mas há material bom aqui e mesmo o menos bom traz memórias. Obrigado pelo lembrete.

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    1. Até o "lixo" dá boas recordações :D É para isso que cá estamos, obrigado pelo comentário!

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