por Paulo Neto
Ora aqui está um tesourinho televisivo esquecido dos anos 90. Lembro-me que dava na RTP1 ao fim da tarde de segunda a sexta e que estreou em 1995 mas não me lembro quanto tempo durou.
A premissa do programa "Golo! Golo! Golo!" era bem simples. Num cenário que replicava a grande área de um campo de futebol com uma baliza em evidência, um telespectador em casa inscrito via telefone interagia carregando com a tecla 5 do seu telefone fixo (ainda estávamos a uns anitos da massificação dos telemóveis), fazendo disparar a bola embutida num canhão robótico, tentando marcar golo na baliza defendida por um guarda-redes convidado, muitas vezes de uma equipa do escalão principal do futebol nacional (na altura, ainda denominado de 1.ª Divisão).
Ao que eu pude apurar, a ideia original do programa era da Turquia e foi depois vendida a vários países como Argentina, Espanha, Indonésia, Brasil e claro, Portugal. A apresentação estava a cargo de Jorge Correia, secundado pela inconfundível voz-off de António Macedo e por um grupo de oito cheerleaders (duas delas eram Filomena Nascimento, que viria a apresentar "O Templo Dos Jogos" na SIC, e Sofia Cerveira, que viria tornar-se uma conhecida apresentadora, primeiro na RTP e depois na SIC). E, numa daquelas coincidências boas demais para ser verdade, elas eram coreografadas por João Frango! O programa era filmado em directo no Zona Mais, uma discoteca em Lisboa que na altura a RTP converteu como um dos seus estúdios.
Mas vamos lá esmiuçar este episódio de "Golo! Golo! Golo!" onde o guarda-redes convidado era Ivo, que então defendia as cores do Sporting Clube Farense e na assistência estava a claque do clube algarvio, os South Side Boys. Na altura, o Farense era presença assídua na 1.ª Divisão e vinha da sua melhor classificação de sempre na época anterior, um quinto lugar e o acesso à Taça UEFA, com o histórico Paco Fortes nos comandos da equipa.
Valter Santos, de 14 anos e residente em Pinhel, foi o primeiro telespectador concorrente. Os seus três remates pelo canhão robótico (Nuno Markl, quando do episódio da "Caderneta de Cromos" dedicado a este programa, chamou-lhe de "caranguejola") entraram na baliza, não dando hipóteses a Ivo de se mexer. Com cada golo a valer dez contos da moeda antiga (cerca de 50 euros), Valter ganhou 30 contos.
O segundo concorrente, José Nuno Martins de Guimarães (que a julgar pela voz, devia ter uma idade semelhante à do concorrente anterior), marcou os dois primeiros golos no canhão mas o terceiro remate foi parar às mãos de Ivo.
Na ficha técnica, pode-se ler "Consultor Especial: Humberto Coelho". Como puderam comprovar, foi um tesourinho com uma boa dose de cringe. Jorge Correia, mais conhecido como jornalista desportivo, não estava muito à vontade na apresentação de entretenimento. Os espectadores no estúdio estavam um tanto atolados e as cheerleaders não faziam muito mais do que agitar os pompons com o entusiasmo de uma couve de Bruxelas.
Quanto a Ivo Soares, como muitos outros futebolistas, transitou de jogador para treinador, começando no Juventude Campinense (onde na época 2007/08, ainda defendeu a baliza) e passou por outros clubes algarvios como o Olhanense, o Lusitano de Vila Real de Santo António, o Louletano, treinando actualmente o clube da sua localidade natal, o Moncaparachense, onde joga o seu filho João Soares, não como guarda-redes, mas como médio-avançado esquerdo.
De acordo com este vídeo do canal YouTube brasileiro Switcher, o programa fez muito mais sucesso no Brasil sob o nome de "Gol Show", apresentado pelo eterno mago da televisão brasileira Sílvio Santos. As dinâmicas eram diferentes em relação a outros países porque os telespectadores ganhavam mais ou menos prémios consoante acertassem na baliza, não só quando marcavam golos aos guarda-redes convidados (como por exemplo o lendário José Luís Chilavert do Paraguai), mas também se acertassem na trave, na barra ou num pequeno orifício no canto superior da baliza que era o que dava direito ao prémio maior. Além disso, os telespectadores não carregavam nas teclas de telefone para disparar a bola do canhão mas sim dizendo Gol. E em 1998, alguém conseguiu que a bola acertasse no orifício que dava a o prémio maior e pela primeira vez num concurso televisivo do país-irmão, foi atribuído um prémio de um milhão de reais.
onde Sílvio Santos explica como trouxe o programa para o Brasil e mostra imagens das versões de outros países, incluindo Portugal.
Cromo da "Caderneta de Cromos" sobre "Golo! Golo! Golo!": (Soundcloud)
Muito Bom! Esta foi mesmo do baú, adorava o programa, mas durou pouco tempo ar.
ResponderEliminarFui ao programa como membro da claque do Tirsense, mas fiquei na bancada atrás da baliza. O guarda-redes era o Goran. Era em direto. Já contactei por telefone a RTP para me ajudar a obter as imagens dessa nossa ida ao programa, mas por causa da pandemia (é o que dizem), está difícil conseguir. Não vou desistir.
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