Olhando para trás, percebo que uma das vantagens de ter sido criança nos anos 80 era que a oferta de entretenimento infantil, em todos os aspectos desde brinquedos a filmes e programas de televisão, era bem menor comparada com a actualidade mas que isso nos fazia apreciar o pouco que tínhamos. Não que eu ache errado que as crianças de hoje tenham muitas e sofisticadas opções de entretenimento (quem me dera que assim fosse no meu tempo!) mas por vezes pergunto-me se elas darão verdadeiramente valor a tudo aquilo que têm ao seu dispor.
Nos meus tempos de criança, claro que adoraria por exemplo que houvesse canais integralmente preenchidos com desenhos animados e séries infanto-juvenis, mas também havia algo de mágico naquela antecipação pela hora dos espaços infantis da RTP como "O Tempo Dos Mais Novos" ou "Brinca, Brincando". E depois, apesar dos poucos recursos, não há como negar que nos anos 80 fez-se produções infanto-juvenis em Portugal de qualidade. Ao rever alguns desses programas em adulto quer na RTP Memória quer na internet, constato como certas coisas que me encheram olho em miúdo agora parecem tão parcas, até rudimentares, ao meu olhar adulto mas ao mesmo tempo estavam cheias de dedicação e coração, e fico com a sensação de que em criança vivi num tempo e num espaço tão distantes do actuais, onde tudo decorria a uma velocidade bem menor.
Recentemente graças ao site dos arquivos da RTP tive a oportunidade de rever alguns episódios de uma série que eu recordava vagamente desses meus tempos de petiz e dei comigo a dizer para mim próprio algumas vezes: "Tchi, já não me lembrava disto!". Trata-se de "Zarabadim", uma série infantil exibida entre 1985 e 1986 aos domingos no "Tempo do Mais Novos", da autoria de José Fanha e Dulce Fanha com canções de Carlos Alberto Moniz.
Mais uma vez, o meu olhar adulto ficou aquela duplicidade de sensações: por um lado, achei tudo tão datado e algo tosco (embora os cenários e figurinos até fossem assaz bons para o Portugal de 1985), por outro achei o conteúdo bastante didáctico, feito com muito esforço e dedicação de todos os envolvidos e perfeitamente capaz de entreter os petizes daquele tempo, como eu.
Mas o que era afinal o "Zarabadim"? Tudo começa quando dois jovens, a Joana (Ângela Pinto) e o João (José Wallenstein), decidem explorar os bastidores do teatro e espreitam um mágico (Zurc) a fazer truques com um chapéu. Os dois acabam por descobrir que se lançarem uns pozinhos de perlimpimpim e disserem a palavra mágica "Zarabadim!", tal como viram o mágico fazer, eles vão parar para dentro do chapéu e entrar num mundo mágico onde vão conhecer diversas personagens e aprender muitas coisas nas ruas desse universo. Os novos amigos que o João e a Joana vão fazer nesse mundo mágico são uma bailarina (Luzia Paramés), um palhaço (António Feio), um livro (Filipe Ferrer), um pinguim inventor (Francisco Pestana) e uma galinha (São José Lapa). E em cada episódio, eles visitam uma rua onde vão aprender coisas como formar palavras, as notas musicais ou formar novas cores a partir das cores primárias. E claro pelo meio, há várias cantigas. O último episódio foi uma retrospectiva dos anteriores.
Mas as cantigas mais marcantes eram as dos genéricos: o de abertura ("Zarabadim, zarabadim, pozinhos de Zarabadim!") interpretado por Carlos Alberto Moniz e o genérico final ("Olha o céu lá no fundo do chapéu, olha o Sol e a Lua a namorar") na voz de uma muito jovem Lúcia Moniz. Aliás, algumas canções do programa foram editadas em disco.
Além dos actores já mencionados, houve outros que foram tendo vários papéis ao longo da série, consoante episódio, como Cláudia Cadima, José Jorge Duarte, Cecília Sousa e o próprio Carlos Alberto Moniz. A narração era de Cucha Carvalheiro.
Uma das coisas que eu fiquei espantado quando revi a série é que eu tinha a ideia de que os actores que faziam de João e Joana eram adolescentes e afinal tratavam-se de um José Wallenstein e uma Ângela Pinto já com vinte e muitos anos.
Em 2013, José Fanha adaptou textos da série para uma peça de teatro.
Como já referi, "Zarabadim" pode ser vista no site de arquivos da RTP. (Embora faltem alguns episódios, nomeadamente o primeiro.)
A série está completa no site, mas o primeiro episódio é o que aparece em último lugar:
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