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sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

A Vida Continua (1989-93)

por Paulo Neto 


Quando eu era criança e pré-adolescente, uma das muitas coisas que eu gostava nas férias grandes era o facto de poder ver televisão mais tempo, sobretudo a programação das tardes da RTP, porque vários dos meus anos lectivos eram maioritariamente durante a tarde. Era também por essa altura que a RTP fazia uns ajustes na grelha e exibia alguns programas ao longo do Verão.
E foi no Verão de 1991 que eu vi esta série, cujas duas primeiras temporadas foram exibidas de segunda a sexta feira à tarde na RTP 1. As outras duas temporadas foram posteriormente exibidas na RTP2 durante o "Agora, Escolha". 





"A Vida Continua" ("Life Goes On") foi uma série americana que contava os dramas quotidianos de uma família de classe média dos arredores de Chicago e foi inovadora por ser a primeira série, creio que no mundo inteiro, a ter um actor portador de Síndroma de Down (ou Trissomia 21) como um dos protagonistas, numa altura onde ainda era muito raro e esporádico haver actores portadores de deficiência na televisão. A série teve quatro temporadas, exibidas nos Estados Unidos entre 1989 e 1993. 

 



A família Thatcher é composta pelo pai Drew (Bill Smitrovich), a mãe Libby (Patti LuPone), o filho Charles, tratado por todos Corky (Chris Burke) de 18 anos, e a filha Rebecca, ou Becca, (Kellie Martin) de 14 anos. Existe ainda Paige (Monique Lanier na primeira temporada, Tracey Needham nas outras), a filha do primeiro casamento de Drew, que a princípio ainda vive com eles mas a certa altura passa a viver sozinha e o cão Arnold que no genérico é ignorado pelos donos durante a sua azáfama matinal que no fim acaba sozinho com a sua tigela de comida vazia.
Por falar em genérico, o título da série vem de um excerto da letra da canção "Obladi Oblada" dos Beatles cantada pelo elenco. 





Embora houvesse episódios mais focados em algumas questões pessoais e profissionais de Drew e Libby, a série focava sobretudo em Corky e Becca. Depois de ter passado a vida em aulas de ensino especial e com o apoio dos pais, Corky pretende acabar o liceu na escola da irmã e provar a todos que apesar do Síndroma de Down, é perfeitamente capaz de obter a sua educação numa escola normal. Através de Corky, a série mostrava todos os desafios que os portadores de Trissomia 21 enfrentam no dia-a-dia na sua luta pela integração na sociedade e desfazer os mitos sobre as supostas incapacidades. Inevitavelmente Corky sofre bullying na escola e o cepticismo dos professores face às suas capacidades mas aos poucos vai fazendo amigos e vai provando o seu valor. A série chegou mesmo a demonstrar que pessoas com Síndroma de Down também têm desejos afectivos e físicos, mostrando Corky a se interessar por algumas raparigas, com ou sem Síndroma de Down. No final ele acaba casado com Amanda Swanson (Andrea Friedman), também com Trissomia 21, e a trabalhar num cinema.



Já Becca é a típica adolescente que vive todos os seus dramas típicos da idade, desde a acne às paixões não correspondidas. Apesar de inteligente e empenhada, ela é algo desajeitada socialmente e é vista na escola como apenas uma marrona. Becca tem um paixoneta pelo popular bonitão Tyler Benchfield (Tommy Puett) mas acredita que ele nunca olharia para ela duas vezes. Com o tempo, Becca vai ficando mais segura de si e acaba por conseguir namorar com Tyler, que entretanto também se tornou amigo de Corky, por este fazer-lhe lembrar de um irmão falecido que sofria do mesmo síndroma.   


Entretanto, na segunda temporada, Libby engravida pela terceira vez e dá a luz um rapaz, Andrew, no último episódio (também o último que vi quando acompanhei essa série no Verão de 1991).



Nas duas últimas temporadas, a história principal é a da relação de Becca com o novo namorado Jesse McKenna (Chad Lowe), que era seropositivo. Numa altura em que havia ainda muito estigma para com os seropositivos e muitas noções erradas quanto à transmissão do vírus HIV, a série aproveitou para informar os telespectadores sobre a doença, como é ou não transmitida, e a importância de ter sexo protegido e fazer testes de HIV. No final da série, há um fast forward que mostra uma Becca mais velha que conta que Jesse acabaria por morrer de SIDA e que agora está casada e com um filho chamado Jesse. 


Já não me lembro assim muito da série "A Vida Continua" mas lembro-me de gostar muito de ver e de caso estivesse na rua nessas férias, fazer questão de voltar a casa todos os dias para ver um novo episódio. Recordo-me ainda que tive um pequeno crush pela Becca/Kellie Martin que mais tarde, entre inúmeros telefilmes, também entrou na série "E.R.". 

Genérico (1.º episódio)


Genérico (4.ª temporada, com Arnold finalmente a ter a sua comida)





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