Nos tempos da "Caderneta de Cromos" da Rádio Comercial, o canal do YouTube 1980s90stv era amiúde referido na rubrica pela quantidade de arqueologia audiovisual que disponibilizava de excertos de programas e sobretudo anúncios dos anos 80. No entanto, com o fim da "Caderneta de Cromos", já lá vão sete anos, esse canal deixou de fornecer mais vídeos mas os existente continuam disponíveis para visualização.
Neste artigo, vamos recordar alguns desses vídeos de anúncios desse canal, destacando sobretudo anúncios a produtos e/ou marcas que hoje em dia já desapareceram ou então persistem ainda à venda mas bem longe do fulgor desses tempos.
Em 1983, este anúncio aos televisores Newcolor apregoava ser "o melhor da técnica". Não fosse o facto de ser, como o nome indica, um televisor a cores (Portugal começara a ter emissões de televisão a cores apenas três anos antes) e a música apresentada, e eu até acharia que o modelo apresentado era dos anos 70.
Hoje com as questões de blackface e whiteface, anúncios como este de 1988 ao chocolate "Branco e Negro" da Regina dificilmente seriam feitos. Não sei se cheguei alguma vez a provar este chocolate enquanto ele foi produzido mas acho que uma barra que combinava chocolate branco e chocolate negro ainda seria hoje uma ideia vencedora.
Outro chocolate de efémera vida no mercado foi o chocolate Crown, com este anúncio de 1987 protagonizado por uma alegada jovem dos Alpes.
Quando se pensa em marcas de óleo em Portugal, hoje em dia tal como nos anos 80, pensamos logo nas duas marcas líderes, Fula e Vegê. Mas ao longo dos tempos, outras marcas quiseram desafiar desse domínio binómico. Em 1987, temos o óleo Tianica que como não podia deixar de ser, é ao som de uma versão instrumental de "Tia Anica de Loulé". Em 1988, temos o óleo de amendoim Sol do Campo com garantia de qualidade. Também evocando a sua qualidade (premiada em concurso) em jeito de arraial, eis o óleo Pima em 1985. (Será que estas marcas ainda existem para aí?)
Mas ainda em 1988, e sem nomear uma marca específica, temos este anúncio épico de dois minutos com uma visão do futuro (quiçá do então longínquo ano de 2019?) que elevava o óleo de soja ao "óleo do futuro". Adoro como o computador falante a certa altura perde a compostura para exclamar "Oh, que maionese!".
Um clássico dos anos 80, as sandálias de plástico coloridas. Havia até quem ia tomar banho à praia com elas calçadas para evitar picadas do peixe-aranha. Eu acho que cheguei ter umas azuis quando eu tinha para aí uns quatro ou cinco anos. Entre os fabricantes deste tipo de calçado estava a Jhol que vencia com este anúncio de 1985 onde várias crianças brincam numa réplica gigante de uma sandália enquanto se ouve o apelativo jingle: "É lindinho, tem cheirinho, é fofinho, Jhol!/ Sapatinhos Jhol é bom!"
Em 1985, os lençóis bordados "Ninho" ("o lençol do lar feliz") tinham um concurso destinado às noivas de Portugal. E estes oito segundos do anúncio deixam tantas questões no ar: que prémios estavam em jogo nesse concurso? Será que os lençóis Ninho eram mesmo um factor importante na felicidade conjugal dos casais portugueses da altura? E seria possível um anúncio assim hoje?
Dois anúncios a uma marca de vestuário que me recordo dos anos 80: a Traffic. Um de 1985, muito estiloso numa pedreira com modelos em poses dramáticas que a certa altura desatam a fugir sabe-se lá para onde, até pegando bruscamente nas duas crianças ali presentes.
Outro de 1987 que mesclava estáticas americanas dos anos 50 e 80, tendo o filme "Grease" como óbvia inspiração. A minha parte preferida é quando uma das raparigas pretende rebentar à chapada o enorme balão de pastilha elástica que um dos rapazes fabrica.
Outro clássico dos anos 80 e que me recordo ver na minha casa e nas dos meus familiares: as embalagens cúbicas e bicolores do gel de banho Tahiti Duche. E anúncios alegres, coloridos e cheios de belas moçoilas como este de 1985 eram um apelo extra.
Assim que cliquei no play, recordei-me logo deste anúncio ao perfume Audace, em que uma jovem mulher de écharpe azul e vestido cor-de-rosa desperta a atenção de um homem pensativo numa varanda ao som de "I wanna be loved by you" de Marilyn Monroe.
Como já disse aqui antes, nutro um fascínio forasteiro por anúncios a pensos higiénicos e tampões por serem produtos que eu nunca tive nem alguma vez terei de usar na vida. Na minha casa, apenas a minha mãe era consumidora de tais produtos mas não me recordo de alguma vez ela ter comprado pensos higiénicos da marca Stayfree mas recordo-me de ver as embalagens com uma mulher a correr numa praia nas prateleiras dos supermercados nos anos 80. Quanto este anúncio de 1985 aos "pensos da mulher activa", é daqueles que grita "ESTAMOS NOS ANOS 80, POÇA!".
Outro produto que me lembro dos anos 80: a embalagem em forma de sapato de Búfalo Sport, um detergente especial para calçado. A marca Búfalo continua por aí na sua gama de graxas e ceras para calçado, mas nunca mais vi esta icónica embalagem.
Em 1985, um marido atrasa um pouco a sua ida para ao trabalho para apreciar mais uma vez a suavidade da pele da sua esposa, devidamente lavada com o sabonete com óleo de amêndoas doces Bedum, perdão, Cadum!
Por acaso lembro-me vagamente na altura de uma marca de produtos para a barba chamada Williams, mas já há décadas que nunca mais vi nada. Fica este simpático anúncio de 1983, onde num convento franciscano, um monge confia na espuma de barbear Williams para deixar a sua careca bem rapada sem cortes. (Outros monges provavelmente usaram outra marca e não tiveram tanta sorte).
Ainda hoje existem pelo país fora vários contentores destinados à reciclagem de matérias como o vidro, o papel e o plástico (os chamados Ecopontos ou Ilhas Ecológicos). Mas em 1985, Portugal dava os primeiros passos para este processo essencial para a preservação do meio ambiente e foi por essa altura que começaram a surgir no país os primeiros contentores para a reciclagem do vidro, os chamados vidrões, que eram arredondados, bastante avolumados e eram brancos para o vidro transparente e verdes para o vidro tingido desta cor. Nos anos seguintes os vidrões fizeram parte da paisagem urbano-rural nacional até serem substituídos por outros de formato mais moderno e integrados com outros destinados à reciclagem de outros materiais. Para a história fica este anúncio, o primeiro que alertou os portugueses para a reciclagem, com o slogan "vidro velho vira novo". Ó mãe, olhó vidrão!
Para terminar, ainda hoje existe a Lotaria Nacional, mas tirando a tradicional Lotaria do Natal, não me recordo de fazerem actualmente anúncios televisivos. Porém nos anos 80, havia quase um anúncio todas as semanas dedicados aos mais variados temas. Lembro-me por exemplo de haver lotarias dedicadas a cada um dos signos do Zodíaco. Nestes cinco exemplos acima referidos, temos: a Lotaria de Santo António de 1985 com, como não podia deixar de ser, um manjerico e uma quadra alusiva; a Lotaria Especial de Agosto de 1985 com o actor Carlos Miguel, o eterno "Fininho", com fato de mergulhador à beira de uma piscina; a Lotaria do Verão de 1985 com um alegre casalinho a veranear pela praia (na altura a taluda era de 54 mil contos, uns ainda hoje apetecíveis 270 mil euros); a Lotaria do Coração de 1988 relembrando todas as actividade solidárias da Santa Casa da Misericórdia que os apostadores apoiam ao jogar na lotaria; e para terminar a Lotaria das Férias Grandes de 1988 com um anúncio de animação em que uma família em partida de férias não só fica mais rica ao ganhar a lotaria como se transformam todos em super-heróis (incluindo o gato, o pássaro e o carro!). Será que com 100 mil contos (cerca de 500 mil euros), dá para comprar superpoderes? (Resultou com o Batman!)
Boa!
ResponderEliminarUm anúncio que, na minha infância, me inspirava terror - talvez mais nenhum anúncio me tenha inspirado tanto terror como esse - era de um senhor que, estando à mesa de um restaurante, começava a sentir indisposição e gases no estômago após, provavelmente, um opiparo almoço, e que soltava, em plena mesa, uma imensa chama da sua boca. Deveria ser um anúncio a uma pastilha tipo Rennie...
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