É um dos clássicos dos anos 80, indispensável em qualquer festa "Remember the 80's" por esse mundo fora, presente em várias colectâneas de música dessa década e o disco mais vendido de sempre por um artista ou grupo norueguês. No entanto, "Take On Me" dos A-Ha foi daquelas canções em que foi precisa muita insistência e retoques para alcançar o sucesso.
Os A-Ha formaram-se em 1982 quando Morten Harket, Pal Waaktaar e Magne Furuholmen decidiram deixar as bandas em que estavam e tentar uma carreira internacional em conjunto, mudando-se de Oslo para Londres. Escolheram o nome A-Ha porque era algo que significava o mesmo em inglês e norueguês, e era o nome de uma das composições de Waaktaar.
Capa da primeira edição de 1984 |
Uma das canções da banda anterior de Waaktaar e Furuholmen era "The Juicy Fruit Song" continha elementos de "Take On Me". Morten Harket gostava dessa canção e sugeriu que trabalhassem uma outra canção baseada nessa. Quando finalmente conseguiram um contracto com a Warner Brothers, "Take On Me" foi editado duas vezes em 1984, mas apenas conseguiu algum sucesso na Noruega. Porém o manager da banda conseguiu convencer a Warner Brothers americana a investir no grupo e foi feita mais uma tentativa. Com uma nova remistura a cargo de Alan Tarney, a versão definitiva de "Take On Me" ficou pronta para ser lançada no Outono de 1985.
E foi aí que entrou outro elemento-chave: o videoclip. E "Take On Me" é daquelas canções que é impossível não ouvir sem pensar no respectivo videoclip. Com o conceito inovador de misturar imagem real com sequências animadas em estilo de banda desenhada, filmadas na técnica do rotoscópio, a história de uma rapariga que está a ler um livro de BD num café (a bailarina Bunty Bailey, com quem Harket tinha começado a namorar pouco tempo antes) que é puxada por um Morten Harket animado para um mundo onde tudo é banda desenhada a preto e branco e com os dois acabando a serem perseguidos por dois sujeitos mal encarados e armados com chaves inglesas, para no final ela vê-lo numa espécie de exorcismo (numa cena decalcada do filme "Viagem Alucinante" de 1980) para se transformar de personagem animada em ser humano. O videoclip realizado por Steve Barron venceu seis prémios nos MTV Video Music Awards de 1986.
Mas pessoalmente para mim, as minhas cenas preferidas não são aquelas que envolvem animação: aquela em que a empregada do café, pensando que a rapariga deu à sola sem pagar a conta, amarrota furiosa o livro de BD e aquela em que Bailey, recém-escapada do mundo em BD e dos gunas que perseguiam a ela e Harket, reaparece no caixote de lixo do café para espanto de todos lá presentes.
Numa estratégia ainda nova para a altura, o vídeo estreou um mês antes da edição da nova versão de "Take On Me", gerando expectativa no público. Tudo isso, mais o apelo da canção em si, com o ritmo frenético ao longo de toda a canção, o inconfundível riff de sintetizador e a nota impossivelmente aguda que Morten Harket atinge no refrão (ele é praticamente o único que consegue cantar essa nota sem parecer a sirene da Lisnave), gerou o sucesso que o tema estava destinado a alcançar. Atingiu o n.º 1 do top americano e de vários outros países. No Reino Unido, apesar de ter impedido de atingir o 1.º lugar do top britânico por "The Power Of Love" de Jennifer Rush, foi o nono single mais vendido de 1985. Desde então, o single já vendeu sete milhões de cópias no mundo inteiro e é uma das canções dos anos 80 com mais downloads no iTunes. (E nos idos de 2004, foi o meu toque de telemóvel, nessa gloriosa era dos toques polifónicos.)
Apesar de nunca mais terem igualado o sucesso do "Take On Me" nos Estados Unidos, onde são considerados one hit wonders, os A-Ha viriam a somar mais hits no resto do mundo nos anos seguintes. Por exemplo, o single seguinte "The Sun Always Shines On TV" (pessoalmente a minha canção preferida dos A-Ha) deu-lhe o primeiro lugar do top britânico que tinha sido negado a "Take On Me". Entre outros sucessos da banda nos anos 80 contam-se "Hunting High And Low", "Stay On These Roads", "Touchy!" e "The Living Daylights", o tema do filme "007 - Risco Imediato".
"The Sun Always Shine On TV" (1986)
"The Living Daylights" (1987)
Entre as muitas covers de "Take On Me", quero destacar quatro: uma versão ska de 1998 dos Reel Big Fish que fez parte do filme "BASEketball" dos criadores de "South Park"; uma versão de 2000 da boyband anglo-norueguesa A1 que foi n.º 1 do top britânico; uma versão punk-rock de 2001 dos alemães Emil Bulls; e uma versão acústica de 2009 da espanhola Anni B Sweet. (Ah, e parece que em 2013, foi samplada num tema de Pitbull e Christina Aguilera.)
Com alguns hiatos de permeio, os A-Ha continuam a actuar pelo mundo fora e a editar discos. O álbum de 2000 "Minor Earth Major Sky" marcou o regresso da banda após seis anos e foi bem recebido junto do público e da crítica, demonstrando que os A-Ha não eram relíquias dos anos 80 e que a sua música adaptava-se bem ao século XXI.
"Summer Moved On" (2000)
Em 2015, o norueguês Kygo, um dos DJs e produtores do momento, editou uma nova remistura de "Take On Me". Eis um vídeo de uma actuação onde se constata que, aos 56 anos, Morten Harket continua a atingir aquela nota de castratto (se bem que não consta que alguma vez tenha sido removida alguma parte da sua anatomia para tal)!
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