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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Anjo Selvagem (2001-03)

por Paulo Neto

Hoje em dia, não é invulgar as telenovelas nacionais serem esticadas e prolongadas durante mais de um ano (no caso de "A Única Mulher" até chamam a esses esticões de temporadas), mas durante muito tempo era invulgar uma telenovela, nacional ou estrangeira, ter mais de 200 episódios. Até que em 2001, a TVI estreou uma telenovela que se prolongaria por quase ano e meio, atravessando três anos civis, num total de 366 episódios. 



Após o sucesso de "Jardins Proibidos" e "Olhos De Água", a TVI percebeu que a ficção telenovelesca nacional era um produto a explorar ao máximo e por isso em Setembro de 2001, na sua nova grelha da rentrée, a estação de Queluz estreou nada menos do que três telenovelas: "Filha do Mar" e "Nunca Digas Adeus" no horário nobre (ao qual se encaixava ainda a terceira edição do "Big Brother") e "Anjo Selvagem" para antes do "Jornal Das Oito". Sim, foi a partir daqui que a TVI começou a atafulhar o seu horário nobre  com mãos-cheias de telenovelas, algo que se verifica ainda hoje. 

Embora tivesse sido considerada pela crítica a mais fraca dessas três telenovelas (algo com que devo concordar), "Anjo Selvagem" foi a que obteve mais sucesso junto do público, ao ponto de eventualmente ter passado também a ser exibida no horário nobre e a ser prolongada para além do previsto. Estreada a 3 de Setembro de 2001, só terminou a 21 de Fevereiro de 2003.

Pedro (José Carlos Pereira) e Mariana (Paula Neves)

   
A telenovela era uma adaptação de um original argentino de 1998, "Muñeca Brava". "Anjo Selvagem" era a história de Mariana de Jesus (Paula Neves), uma jovem órfã que foi criada num convento. De dia, Mariana porta-se como uma autêntica maria-rapaz que brinca com os miúdos da aldeia perto do convento, mas de noite gosta de fugir para ir dançar às discotecas com São (Teresa Tavares), a sua melhor amiga.

Álvaro (Alexandre Sousa) e Helena (Manuela Carona)



Mariana (Paula Neves) e Francisco (António Pedro Cerdeira)



Rosa (Luísa Ortigoso) e Casimiro (Carlos Areia)



Quando Mariana completa 18 anos, vê-se obrigada a sair do convento e a arranjar emprego. E é assim que ela vai parar à Quinta da Nossa Senhora do Carmo. Os donos da quinta são Álvaro Salgado (Alexandre de Sousa) e Helena Brandão (Manuela Carona), que há vários anos vivem um casamento de fachada, já que Álvaro aceitou casar-se com Helena para que o pai desta salvasse a sua família da ruína, renunciando assim à sua paixão proibida por Rosário, uma empregada da quinta. Os seus filhos são Pedro (José Carlos Pereira), um jovem boémio e mulherengo, e a presunçosa Marta (Sara Moniz). Infelizes com o rumo das suas vidas, Helena refugia-se no álcool e Álvaro mantém um relacionamento com Andreia (Vera Alves), a sua secretária, que planeia um golpe do baú. 
Na quinta vivem ainda Angélica (Isabel de Castro), mãe de Álvaro, uma idosa saudosista e dois irmãos de Helena, o ambicioso Marcelo (Eduardo Viana) e Francisco (António Pedro Cerdeira), que vive preso a uma cadeira de rodas após um acidente em que perdeu a mãe e a noiva.

Zeca (Pedro Giestas)


Marta (Sara Moniz)


Quando Mariana chega à quinta para trabalhar como empregada, reconhece Pedro de uma das suas saídas nocturnas no qual se gerou uma atracção mútua. Após algumas picardias, em que ele lhe chama de "trinca-espinhas" e ela de "bacalhau seco", Pedro e Mariana acabam por se apaixonar. Mas os obstáculos são muitos, desde a legião de mulheres interessadas em Pedro e dispostas a tudo para o seduzir, além de que Mariana também não é indiferente a Francisco, passando pela diferença de classes sociais. Mas a principal barreira será a possibilidade dos dois serem irmãos, quando Álvaro desconfia que Mariana possa ser a filha que teve com Rosário. Essa situação esclarece-se a certo ponto, quando Helena revela que Pedro não é filho de Álvaro, mas sim fruto de um caso extraconjugal, e Mariana confirma que não só é mesmo filha de Álvaro e Rosário como também tem um irmão gémeo, João (Hugo Sequeira). No final, depois de se livrarem de Pilar (Sofia de Portugal), uma das ex-namoradas de Pedro que se revela uma psicopata e que toma medidas tresloucadas para os separar, Pedro e Mariana casam-se e têm uma filha. Na última cena, vê-se a filha de ambos responder a um miúdo que lhe chama trinca-espinhas: "Trinca-espinha, o caraças.", tal como dizia Mariana.  
Outro par romântico da telenovela era formado por Marta e Zeca (Pedro Giestas), o motorista dos Salgado. A princípio ela faz troça dele e das suas desajeitadas declarações de amor, ao ponto de nem sequer tratá-lo pelo nome verdadeiro mas sim por Leonel, um nome que ela acha mais chique para um motorista. Mas aos poucos Marta vai perdendo a pose de menina queque e acaba por ceder à paixão do motorista.

Bruno Nogueira numa participação especial


Do elenco principal fizeram ainda parte Maria Dulce (Madre Superiora), Cristina Cavalinhos (Irmã Bochechas), Manuel Cavaco (Luciano), Luísa Ortigoso (Rosa), Canto E Castro (Padre Manuel), Paula Luís (Anabela) e Madalena Bobone (Lina), além de participações ao longo da telenovela de nomes como Carlos Areia (Casimiro), Frederico Moreno (Ruca), Dina Félix da Costa (Rita) Margarida Vila Nova (Bárbara), Márcia Leal (Inês), Joaquim Nicolau (Amílcar), Sofia Grilo (Carolina), Vítor Norte (Pierre), Pedro Lima (Paulo), Rui Santos (Alex) e de um então desconhecido Bruno Nogueira (Joca).  

Para ser sincero, "Anjo Selvagem" não foi uma telenovela que gostei por aí além e nunca percebi bem o porquê de todo o sucesso que alcançou, e muito menos porque foi prolongada durante tanto tempo, até porque praticamente não havia nenhuma trama além da principal e era mais que certo que o casalinho principal iria terminar junto. Muitos também apontaram o double standard de Mariana manter-se casta até ao fim da telenovela, enquanto Pedro volta e meia acabava na cama com as suas outras pretendentes. 

Mas reconheço que o grande trunfo da novela foi sem dúvida o desempenho de Paula Neves como protagonista, de tal modo carismático que ainda hoje ela é recordada como a Mariana de "Anjo Selvagem", revelando o potencial que demonstrava desde "Riscos".
Mas salvo algumas excepções como Pedro Giestas, Sara Moniz, Luísa Ortigoso, Eduardo Viana, Teresa Tavares ou Rui Santos, no geral a prestação do elenco tivesse foi algo fraco, em grande parte devido à excessiva caricaturização das personagens e da fragilidade do guião. E claro está, foi "Anjo Selvagem" com que José Carlos Pereira passou de estudante de Medicina a galã de telenovelas e ícone da imprensa cor-de-rosa, já que a sua vida real tem-se mostrado mais atribulada do que os seus papéis nas novelas.

"Anjo Selvagem" foi também a primeira telenovela portuguesa a ter um episódio filmado em directo, exibido a 20 de Fevereiro de 2002, para as comemorações do 9.º aniversário da TVI. Em 2006, a TVI adaptou outra célebre telenovela dos mesmos autores originais de "Anjo Selvagem": "Doce Fugitiva."

O tema do genérico inicial da novela era interpretado pelos Maxi, uma boyband de Leiria, que à custa desse tema ainda continua no activo e pode de vez e quando ser vista num dos programas de Domingo à tarde. Ainda se lembram como era o refrão?

Só a ti vou-me entregar
Só a ti eu vou-me dar
Meu anjo selvagem!
Só a ti vou amar
Pede a Lua, pede o Sol
Pede o mundo se quiseres
Nada eu te vou negar
Meu anjo selvagem!


"Anjo Selvagem" foi reexibida em 2012 na TVI Ficção numa versão mais condensada.

Genérico:




Excerto do episódio em directo (20/2/2002):




Participação de Bruno Nogueira:




Maxi "Anjo Selvagem": 











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