Em 1995, a música de dança nas suas variadas vertentes (house, techno, jungle, etc.) já era um mercado vital na indústria musical e por esta altura, era quase que imprescindível que os grandes sucessos musicais nos mais variados géneros viessem acompanhados de um punhado de remisturas feitos à medida das pistas de dança. No entanto, foi nesse ano que surgiu uma canção que ficaria bem mais conhecida pela remistura de dança do que pela versão original e o resultado foi não só um grande sucesso, dentro e fora das pistas de dança, como revolucionou as carreiras de ambas as partes envolvidas.
Reza a história que os Everything But The Girl tiveram a ideia para o seu nome ao verem um slogan de uma loja de móveis que dizia: "Para as suas necessidades no quarto, vendemos tudo menos a rapariga". Foi assim que em 1982 Ben Watt e Tracey Thorne resolveram denominar o projecto musical em conjunto, paralelamente à relação pessoal que iniciaram um ano antes quando frequentavam a Universidade de Hull. Durante mais de uma década lançaram seis álbuns de originais, marcados por sonoridades que iam do pop-rock ao smooth jazz, que receberam elogios da crítica e algum sucesso comercial. O seu maior hit foi uma versão de 1989 de "I Don't Want To Talk About It", um original de 1971 de Danny Whitten e famosamente versionada por Rod Stewart em 1977. Pessoalmente, a minha canção preferida dos Everything But The Girl desta fase é "Old Friends" do álbum "Worldwide" de 1991, com um adorável videoclip.
O álbum de 1994, "Amplified Heart", marcava o regresso do duo britânico aos discos após os problemas de saúde de Ben Watt, a quem foi diagnosticado o síndroma de Churg-Strauss, uma doença que lhe afectou o sistema gastro-intestinal, pelo que Watt estava visivelmente mais magro aquando do lançamento deste álbum. O segundo single do álbum era "Missing", um tema melancólico onde Tracey Thorne cantava as saudades de um antigo amante que partiu. A versão original foi editada sem grande furor, atingido somente o n.º 69 do top britânico. Nesse mesmo ano, Tracey Thorne colaborou no álbum "Protection" dos Massive Attack tendo interpretado a faixa-título, entrando também no célebre videoclip da canção, realizado por Michel Gondry.
Foi então que o DJ nova-iorquino Todd Terry converteu o tema numa remistura de dança e aos poucos foi-se percebendo que a canção ganhava um maior impacto quando se ouvia Thorne cantar que sentia falta do amado como o deserto sente falta da chuva ao som das batidas house criadas por Terry. O mesmo se sucedia com o videoclip onde Thorne e Watt faziam de amantes separados pela distância, errando cada um na sua casa a tentar mitigar a saudade.
Em meados de 1995, a remistura de "Missing" amontoava o seu sucesso nas pistas de dança, pelo que se impunha uma edição comercial que rapidamente escalou pelos tops mundo fora entre 1995 e 1996, tendo sido n.º 1 na Alemanha, Canadá, Dinamarca e Itália. Nos Estados Unidos, onde os EBTG eram virtualmente desconhecidos, "Missing" chegou ao n.º 2 e tornou-se o primeiro single de sempre a passar um ano ininterruptamente dentro do top 100 americano. Ainda hoje é a 11.ª canção com a carreira mais duradoura no top americano, num total de 55 semanas.
Convencidos que a voz melancólica de Tracey Thorne casava bem com ritmos mais dançáveis, os Everything But The Girl acolheu essas sonoridades tanto para o álbum seguinte de 1996, "Walking Wounded", em que um dos singles, "Wrong", também foi remisturado por Todd Terry e para o disco de 1999 "Temperamental", até ao momento o último disco de originais do duo.
Quem também aproveitou o sucesso da canção foi o famigerado produtor alemão Frank Farian (o homem por detrás dos sucessos de Boney M e Milli Vanilli) que para o seu novo projecto na altura, a boyband No Mercy. Como já referi antes, estes não só gravaram uma versão de "Missing" como a batida do original foi usada como sample para o seu maior hit "Where Do You Go".
Devido à sua remistura, Todd Terry foi elevado à superliga dos DJs remixers, a par de nomes como David Morales ou Armand Van Halden, e nos anos que se seguiram não havia quem não quisesse um remix seu, tendo remisturado temas para Michael Jackson, Rolling Stones, Kylie Minogue, Garbage, Duran Duran, The Cardigans e The Corrs. A par disso, somou alguns hits em nome próprio entre 1996 e 1998, como "Keep On Jumping" e "Something Going On", com a ajuda das poderosas vozes de Martha Wash e Jocelyn Brown.
Como projecto musical, os Everything But The Girl encontra-se inactivo desde 2000, com Tracey Throne e Ben Watt a dedicarem-se a projectos em separado. Tracey Thorne editou em 2007 o seu primeiro álbum a solo, "Out Of Woods", e Ben Watt mantém-se activo como DJ e produtor. Mas se profissionalmente os dois seguiram caminhos separados, na vida pessoal os dois continuam juntos como sempre, embora mantendo essa parte das suas vidas o menos exposta possível. Sabe-se porém que têm três filhos, entre os 14 e os 17 anos e que se casaram em 2008.
Depois de "Missing", têm sido várias os temas que conheceram o sucesso através de uma remistura de dança, que muitas vezes é bastante diferente do original. O caso mais recente é "Cheerleader" que graças ao remix do DJ alemão Felix Jaehn tornou-se a música do Verão de 2015.
Nunca consegui gostar desta música. Nem desta nem da "Nothing Compares to You" da Sinead.
ResponderEliminarNão sou grande apreciador do género, mas para mim esta está na categoria "escuta-se". e até este artigo do Paulo nunca tinha compreendido o refrão :D
EliminarAhahaha...
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