No que toca a adaptações em animação de clássicos infantis, o poderio da Disney é de tal forma dominante que quando pensamos nas personagens dos contos infantis, tendemos a imaginá-las conforme o estúdios da Disney rabiscaram-nas. Por exemplo, pensamos logo na Branca de Neve com o laçarote azul e vestido de mangas de balão, na Pequena Sereia com a longa e flutuante cabeleira ruiva, no Aladino com o colete roxo e o nariz à Tom Cruise ou na Malévola de "A Bela Adormecida" com o toucado em forma de chifres.
Mas para quem cresceu anos 80, existe uma excepção: a Alice do País das Maravilhas. Sim, tal personagem lembra a Alice da Disney de cabelos louros e vestido azul, só que esta tem uma rival de peso na Alice da série anime dos anos 80, de chapéu e vestido vermelho e avental branco. É o meu caso pois, até como nunca vi o filme da Disney por completo, tendo a ver a Alice da série animada como a minha Alice definitiva e foi uma série que acompanhei com muito agrado.
A série animada (Fushigi no kuni no Alice) era uma co-produção de 1983 entre Japão e Áustria e foi exibida pela primeira vez em Portugal em 1987, no incontornável "Brinca Brincando". Tal como o filme da Disney, adaptava as aventuras imaginadas por Lewis Carroll e publicadas em dois volumes: "Alice No País Das Maravilhas" e "Alice Do Outro Lado Do Espelho". De seu verdadeiro nome Charles Lutdwige Dodgson, Lewis Carroll foi durante a sua vida mais conhecido pelo seu trabalho como matemático. Reza a história que Carroll inventou essas histórias para entreter a pequena Alice Lidell e as suas irmãs ao longo de um passeio pelo rio Tamisa.
A série animada teve 52 episódios e apresentava algumas variações criativas em relação aos livros, nomeadamente o facto de Alice entrar e sair do País Das Maravilhas em cada episódio, o que faz do dito lugar mais um fruto da imaginação de Alice do que um universo paralelo descrito nos livros e no filme da Disney.
Alice é uma menina de sete anos que vive nos arredores de Londres. Ao contrário da irmã Célia, que passa vida agarrada aos livros, Alice prefere brincar no jardim e aborrece-se com as formalidades impostas pelos seus pais. Um dia, ao visitar uma loja de antiguidades em Londres, Alice descobre dentro de um cartola um simpático coelhinho branco, o Benny Bunny que se torna o seu novo companheiro de brincadeiras. A certa altura, Alice descobre que Benny Bunny consegue falar e através dele, ela entre no País das Maravilhas onde conhece personagens tão estranhas como a Rainha de Copas, o Coelho Branco tio de Benny Bunny, o rei e a rainha dos Xadrez, os gémeos Tweedledee e Tweedledum, o dragão Jabberwocky ou o ovo Humpty Dumpty com quem vive bizarras e divertidas aventuras.
Outras diferenças da série consistiam na existência em personagens que não existiam nos livros como Benny Bunny ou Don Fernando (uma espécie de clone de Dom Quixote) bem como várias histórias que foram criadas propositadamente para série, o maior destaque à vida familiar de Alice (normalmente era uma situação vivida no núcleo da família de Alice que despoletava o tema de cada episódio) ou novas características das personagens originais. Por exemplo, embora aqui a Rainha de Copas fosse tão antipática e despótica como a dos livros e a do filme da Disney, era mais fácil de ser levada à razão, sobretudo por Alice, e embora passasse a vida a ameaçar cortar a cabeça de quem a desagradava, o máximo que fazia era aprisionar alguém por uns tempos.
A dobragem portuguesa da série foi dirigida por João Lourenço e incluía nomes como Carmen Santos, Isabel Ribas, António Feio, Ermelinda Duarte, Luís Mascarenhas, Manuel Cavaco, Luísa Salgueiro e Argentina Rocha. Uma vez que a versão que a RTP adquiriu foi a alemã, ficou na memória o tema do genérico, interpretado na língua germânica por Lady Lily: "Alice, Alice im Wunderland..."
Durante a exibição da série em Portugal, foi comercializada a respectiva caderneta de cromos, distribuída pela Impala, cujas saquetas podiam conter senhas que podiam ser trocadas por bonecos de PVC. A série foi reexibida em 1989 na RTP e em 1994 na TVI e já teve várias edições em VHS e DVD, incluindo em 2005 uma edição de DVD da Planeta DeAgostini.
Genérico:
Tema do genérico (versão integral em inglês):
1.º episódio:
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