Páginas

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Top 5 Memórias de Verão (Paulo Neto)

Quando se é criança e adolescente existem dois momentos no ano que são aguardados com colossal expectativa: o Natal e o início das férias de Verão, vulgo Férias Grandes pois compreendiam três meses sem escola. Ao início do mês de Junho começava-se a contar os dias para o fim das aulas, numa expectativa gulosa apenas refreada pelo stress dos testes finais e para alguns, o receio de chumbar o ano. Mas uma vez resolvidas as questões escolares, era tempo de abraçar o tempo de sol e descanso, alternando entre brincadeiras na rua durante horas a fio e momentos de dolce fare niente em casa, sobretudo a ver televisão ou jogar no computador ou na consola. Ao princípio, todas aquelas semanas a fio pareciam uma eternidade porém, mais depressa do que julgávamos, chegava o mês de Setembro e não tardava a começar o novo ano lectivo. Neste artigo vou recordar cinco das minhas mais queridas memórias de viver o Verão nos anos 80 e 90.




   
#5 Colónias de Férias: Nos meses de Julho de 1988, 1989 e 1990, as minhas Férias de Verão arrancaram com a minha integração na Colónia de Férias da Zona Alta. A bem dizer não era uma colónia pois ficava na minha cidade e não se pernoitava por lá, ia-se para casa depois das cinco. Era essencialmente um programa de ocupação de tempos livres no âmbito da iniciativa governamental Férias Desportivas que um clube desportivo da minha cidade (a União Desportiva e Recreativa da Zona Alta) levava a cabo por essa altura.


Entre as diversas actividades incluíam-se alguns exercícios desportivos, visitas de estudo (por exemplo à Barragem de Castelo do Bode), gincanas, idas às Piscinas Municipais e expressão plástica. Às quatro horas, era servido o lanche de pão com manteiga ou doce e groselha ou sumo de laranja. Durante a Colónia costumava reencontrar vários rapazes e raparigas da minha escola pelo que por vezes parecia um prolongamento da escola, inclusive no facto dos mais rufias continuarem a fazer das suas. Mas a sensação que guardo é que até o bullying em tempo de férias acabava por ser bem menos aziago do que o de tempo escolar. A cada ano, a colónia tinha dois ciclos de quinze dias e no final de cada um, havia um espectáculo onde apresentávamos teatrinhos e cantigas aos nossos pais e amigos. Como eu sempre gostei de cantar e era bem mais afinado em petiz, claro que aproveitava sempre para mostrar os meus dotes vocais nessas galas.  


#4 A programação da TV: Sendo viciado em televisão desde a mais tenra idade, claro que um dos meus maiores prazeres das Férias de Verão era poder ver toda a televisão que eu queria. Até porque em quase todos os anos lectivos, eu tinha a chatice de ter mais aulas de tarde do que de manhã, o que implicava quase sempre só sair das aulas depois das seis e perder o mítico "Brinca, Brincando". Entre os inúmeros programas que abrilhantaram meus Verões passados contam-se "O Verão Azul", "Gladiadores Americanos", "Os Marretinhas", a primeira série do "Tsubasa", "Crossbow - Guilherme Tell", "Cheers - Aquele Bar" e um remake eighties da "Missão: Impossível" que foi filmado na Austrália. O Verão de 1993, no breve período onde a minha família foi proprietária de uma antena parabólica, ficou marcado pela descoberta da MTV e do mundo dos videojogos, graças a um programa da cadeia britânica SKY, "Games World" que era semelhante ao nosso conhecido "Templo dos Jogos" mas que também tinha uma rubrica de competição onde cinco concorrentes jogavam vários tipos de jogos até só restar um, que depois ia jogar contra os jogadores residentes, cada um assumindo uma personagem. Foi assim que fiquei a saber que existia uma consola o NEOGEO que nunca chegou a Portugal mas que em vários países rivalizava com a Sega Mega Drive e o Super Nintendo.

Mas ainda assim, quando se fala em programação televisiva de Verão, um programa é imbatível e esse só podia ser...


#3 Jogos Sem Fronteiras: "O" programa de Verão por excelência eram os "Jogos Sem Fronteiras". Eu era novo demais para recordar a primeira vaga em que Portugal esteve envolvido entre 1979 e 1982, pelo que para mim os JSF eram algo totalmente novo para mim quando regressaram em 1988 após seis anos de interregno. Claro que um programa mítico como este merece futuramente o seu próprio cromo por isso não vou entrar em muitos detalhes aqui. Mas sem dúvida que um dos pontos altos em cada semana dos meus Verões de petiz e adolescente passava por apoiar a equipa portuguesa (tristemente nunca houve nenhuma da Torres Novas!) ao longo de um mão cheia de jogos divertidos e emocionantes, muitos deles envolvendo quedas numa piscina, e ouvir o árbitro suíço Denis Pettieux anunciar "Attention! Prêts?" antes de soprar o apito. E claro, via o Eládio Clímaco e a Ana do Carmo como quase membros da minha família e ainda hoje sou incapaz ouvir este tema sem um saudoso sorriso de orelha a orelha. 



 
#2 As Piscinas Municipais: Sem praia por perto e com um rio impróprio para consumo, para os cidadãos de Torres Novas a maneira mais acessível de ir a banhos foi durante Verões a fio nas antigas Piscinas Municipais que funcionaram entre 1973 e 2004. Foi nessas piscinas que aprendi a nadar, evoluindo gradualmente da piscina infantil para as duas piscinas principais, a coberta (a única que também funcionava de Inverno para as aulas e treinos de natação do clube local) e a "destapada", e depois para a piscina das pranchas (apesar de nunca ter ido além da prancha 3m, as duas mais altas eram demasiada areia para a minha camioneta).
Também recordo com saudade o bar onde ia comprar gelados, a voz circunspecta mas afável da funcionária que volta e meia advertia sempre com a mesmíssima entoação: "Atenção senhor banhista: na zona de banho é proibido fumar, comer, beber e andar calçado. O duche inicial é obrigatório.", o piso instável dos balneários e como no Verão de 1991, pareciam passar o primeiro álbum dos Enigma em loop, deixando-me para sempre com uma bizarra associação das piscinas àqueles cantos gregorianos em batida pop. (Tenho um amigo quarentão que uma vez me disse que as músicas que ele mais se lembrava de ouvir nas piscinas nos anos 70 eram os épicos "Whiter Shade Of Pale" e "Je T'Aime Moi Non Plus"!)


Um novo complexo de piscinas foi inaugurado em 2006, mais moderno e sobretudo direccionado à vertente desportiva, mas sem possuir infelizmente a mesma magia e a apetência para a vertente lúdica das instalações anteriores. Do antigo recinto, só resistiu a piscina das pranchas.  



#1 As idas ao Algarve:  Apesar da minha família ir Domingo sim, Domingo não às praias do Oeste como a Vieira de Leiria e o Pedrógão ao longo de Julho e Agosto, o ponto alto das minhas Férias Grandes entre 1986 e 1990 (excepto em 1988 em devido à tenra idade do meu irmão, nascido em Janeiro desse ano) chegava em Setembro quando rumávamos até Altura. Para já, havia o seu quê de contra-corrente em começar as férias em Setembro quando a maioria já estava de regresso. Depois porque tinha o aliciante de a família arrancar a viagem a meio da noite. Como eu nunca consegui adormecer a andar de carro, nem sequer em bebé, ficava desperto a ver o sol nascer pela estrada, como que um preâmbulo do glorioso período que estava para vir.


E era de facto glorioso. Os banhos de praia da Alagoa, as brincadeiras na areia, as mini lagoas formadas na maré baixa, os jogos de cartas com outras crianças da minha terra que também iam lá passar férias, os passeios de gaivota, os baloiços enferrujados da Fabrigimno junto à praia, os jantares de cataplana no Restaurante das Marés, os bolos apregoados pelos vendedores que iam das inevitáveis bolas de Berlim (com creme e sem creme, pois claro!) a pastéis de nata e feijão e os deliciosos jesuítas. Como na altura ainda não se notava a sobre-exploração turística que infelizmente começava a alastrar um pouco por toda a costa algarvia, eu ficava com a sensação que o Algarve era um lugar mágico e cheguei a sentir inveja de quem morava lá. A minha família regressou a Altura em 1995 e 2000 mas embora ainda tenhamos passado férias bem agradáveis, já tinha perdido muita da magia e do sossego de outrora. Mas para sempre ficaram as memórias...
 

1 comentário:

  1. Muito bem Paulo, obrigado pela partilha de memórias, principalmente cálidas e boas como estas!
    Conto ainda este Verão acabar o meu album de memórias de verões passados para partilhar aqui também :)

    ResponderEliminar