Tal como nos Jogos Olímpicos (como se viu neste cromo) também a partir da década de 80, a música passou a ser parte integrante dos Mundial de Futebol, sendo que a cada edição há pelo menos um tema que não conseguimos ouvir sem recordar um respectivo Mundial.
Eu tinha apenas dois anos aquando do meu primeiro Mundial, o de 1982 em Espanha, pelo que não tenho quaisquer memórias dessa edição, a não ser uns autocolantes da mítica mascote do Naranjito colados em carros e janelas. Por isso, o primeiro Mundial de que me recordo foi o de 1986 no México. Inicialmente atribuído à Colômbia, que viria a desistir por motivos financeiros, o México tornou-se o primeiro país a receber pela segunda vez o Mundial de Futebol, que teve como mascote uma simpática malagueta com sombrero, de seu nome Pique. 24 países participaram, incluindo o Iraque já regido por Saddam Hussein e Portugal, que regressava ao Mundial vinte anos depois do brilharete de 1966, mas cuja participação foi decepcionante, marcada pelo caso Saltillo. O Mundial de 1986 acabou por ser da Argentina, que viria a vencer, e mais concretamente de Diego Maradona, que no lendário jogo contra a Inglaterra marcou dois golos: o primeiro com a "mão de Deus" e o segundo num rasgo de brilhantismo raramente visto.
O Mundial teve um tema oficial cantado em inglês, "Special Kind Of Hero" interpretado pela britânica Stephanie Lawrence, mas a maioria recordará sobretudo esta cantiga em tom de banda filarmónica cujo refrão soava assim: "México 86, México 86, donde se vive la emoción, México 86, México 86, el mundo unido por un ballón!"
Dizem os especialistas que o Mundial de 1990 em Itália foi o pior de sempre, com poucos golos, jogos pouco emocionantes e um recorde de 16 cartões vermelhos. Não fosse a irreverência da equipa dos Camarões, liderada pelo "velhinho" Roger Milla, que não só derrotaram a campeã Argentina no jogo de abertura como chegaram até aos quartos de final e seria uma edição de cinzento total de ponta a ponta, incluindo na final onde venceu uma Alemanha pós-queda do Muro de Berlim e pré-reunificação.
Já na música, ou não estivéssemos em Itália, as coisas foram bem melhorzinhas. Para ilustrar a sua cobertura do Mundial, a BBC escolheu a conhecida ária "Nessun Dorma" da ópera Turandot, interpretada pelo inigualável Luciano Pavarotti (chegando ao n.º 2 do top britânico). E para o tema oficial, nada melhor do que juntar duas vozes poderosas, Edoardo Benatto e Gianna Nannini, para cantarem "Un' Estate Italiana". Embora eu fosse fã de Gianna Nannini, sobretudo dos seus hits "Bello e Impossibile" (1986) e "Voglio Fare L'Amore" (1988), confesso que na altura tinha um bocado de medo dela. A irmã do ás do volante Alessandro Nannini não só tinha aquela voz áspera como emanava uma aura de bad girl, capaz de dar porrada a qualquer mastronço que se metesse com ela.
O Mundial de 1994 nos Estados Unidos, onde o Brasil conquistou o quarto título, foi um dos mais musicais. Foi o primeiro Mundial a ter um álbum oficial (que continha perenes hinos de estádio como "We Are The Champions" dos Queen e "The Best" de Tina Turner) e as festividades tiveram a presença de várias estrelas da música como Jon Secada, Richard Marx e Diana Ross (que famosamente falhou um penalty durante a sua actuação) na cerimónia de abertura e Whitney Houston antes do jogo da final. O tema oficial "Gloryland" foi interpretado por Daryl Hall, acompanhado não pelo seu célebre comparsa John Oates mas pelo grupo gospel The Sound Of Blackness.
Em 1998, foi a vez da França acolher o primeiro Mundial com 32 equipas. Mundial esse que a própria França viria a vencer com uma equipa multi-étnica, encabeçada por Zinedine Zidane. Foi também um dos Mundiais mais conseguidos em termos de musicalidade: por exemplo, um dos temas oficiais era um dueto entre o senegalês Youssou N'Dour e a belga Axelle Red, "La Cour des Grands" e o célebre "Rendez-Vous" de Jean-Michel Jarre foi apresentado a uma nova geração, numa nova versão com os britânicos Apollo Four Forty. Mas dois temas destacaram-se nesse Mundial: um deles foi "Carnaval de Paris", tema instrumental dos britânicos Dario G com um inesquecível videoclip com crianças pintadas das cores das bandeiras dos países participantes a jogarem futebol. O sucesso foi tal que foi editada uma versão para o Mundial seguinte em 2002.
Mas como é óbvio, serão poucos aqueles que ao recordarem do Mundial de França, não se lembrem destas singelas palavras: "Goal, goal, goal. allez, allez, allez!" Ricky Martin já era uma estrela global devido ao seu hit "1,2,3 Maria" mas consolidou a sua fama com "La Copa de La Vida", prenunciando "la vida loca" que teria no ano seguinte.
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