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terça-feira, 20 de maio de 2014

Eleições Legislativas 1995

por Paulo Neto

Nos quarenta anos de democracia em Portugal, os anos 90 foram a época de maior estabilidade política, sem quaisquer eleições antecipadas. Com a economia estável e um crescimento geral da qualidade de vida da população, esta tornou-se menos interventiva na vida política. O que no entanto não impediu que tivesse surgido um forte desejo de mudança após dez anos de governação do PSD sob a liderança de Cavaco Silva que culminou em 1995, nas eleições legislativas desse ano, realizadas a 1 de Outubro.   

 

Com Cavaco Silva saído da liderança (já a pensar na corrida à Belém, que perderia nas presidenciais 1996 contra Jorge Sampaio), coube a Fernando Nogueira a ingrata tarefa de tentar travar ao máximo a imparável onda rosa. Fernando Nogueira apostou tudo numa imagem de pessoa séria e respeitável, sem os vedetismos de Pedro Santana Lopes e Durão Barroso que Nogueira derrotara nas eleições internas do PSD, e como tal a de "um homem de confiança" como rezava o seu slogan.


Com a queda do Comunismo na Europa de Leste, a CDU procurava reinventar-se para os novos tempos e suavizar a sua imagem. Álvaro Cunhal finalmente cedia a cadeira vermelha a Carlos Carvalhas, candidato presidencial em 1991. 


O CDS-PP, liderado por Manuel Monteiro, apostou numa campanha irreverente com cartazes que não deixavam margem para subtilezas, além de incluir Manuela Moura Guedes como sua 3.ª candidata na lista por Lisboa e até recrutar Iran Costa, que nesse Verão dominou os tops e as ondas radiofónicas com "O Bicho", para actuar em alguns comícios    


Mas nessas eleições, o PS seguia para uma vitória que se adivinha incontestável e António Guterres caminhava a passos largos para São Bento. A campanha socialista, celebremente coordenada pelo publicitário brasileiro Edson Athayde (ele próprio tornar-se-ia uma celebridade, tendo até apresentado o programa "Anúncios de Graça" na RTP), também foi fundamental para que a viragem à esquerda do poder político fosse inevitável. O famoso logótipo do punho deu lugar a uma mais prosaica rosa e Guterres deu tudo para fomentar a imagem de homem sério mas acessível, e até a sua famosa gaffe dos 6% do PIB acabou por jogar a seu favor. Outros trunfos foi um dos cartazes ter os ídolos desportivos Carlos Lopes e Rosa Mota, também eles candidatos na listas socialistas pelos círculos emigrantes e o tema de Vangelis "The Conquest of Paradise" a soar ao longo da campanha. O tema, composto para a banda sonora do filme de 1992 de Ridley Scott "1492 - A Conquista" tinha voltado a ser um hit um pouco por toda a Europa nesse ano (o que em Portugal levou à redescoberta do compositor grego, autor das igualmente célebres bandas sonoras de "Blade Runner" e "Momentos de Glória").         

Mas o que fez das eleições legislativas de 1995 umas das mais cromas de sempre? 
- Nas primeiras eleições legislativas da era das televisões privadas, a SIC teve papel de destaque na cobertura televisiva da campanha e no dia das eleições que deixou dois momentos para a história: a revelação de uma projecção de resultados logo às 18:30, quando as urnas ainda não estavam encerradas e uns repórteres da SIC de mota a tentarem entrevistar Guterres e a sua esposa Luísa, quando estes seguiam num carro rumo as celebrações na sede de campanha. Ás perguntas destes jornalistas motoqueiros, Luísa Guterres respondeu simplesmente: "Não faço declarações, só posso dizer que estou muito contente.
- Foi talvez o momento mais cromo da campanha, mas não foi protagonizado por nenhum dos principais candidatos mas sim pelo the one and only Major Valentim Loureiro.


- Mas como uma imagem vale mais que mil palavras, o melhor é assistir a este best of dos momentos mais cromos das Legislativas de 1995, compilados no programa "A Noite da Má Lingua"


Mais um vídeo com os melhores (?) momentos da campanha: Link Sapo Vídeos



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