No início dos anos 90, além das telenovelas no horário nobre e da hora do almoço nos dias de semana, a RTP também exibiu algumas telenovelas aos fins-de-semana como "Kananga do Japão", "Araponga" e "Despedida de Solteiro".
Foi também o caso de "Felicidade", exibida no Brasil entre 1991 e 1992 e em Portugal entre 1992 e 1993 (posteriormente reexibida na SIC), da autoria de Manuel Carlos, autor famoso por dar o nome de Helena às protagonistas femininas das suas telenovelas, uma tradição que começou em "Baila Comigo", que prosseguiu nesta novela e continuou com as suas novelas seguintes. A Helena de "Felicidade" foi Maitê Proença interpretando uma heroína de telenovela algo atípica, pois não era a típica protagonista boazinha.
A primeira fase da telenovela começa em Vila Feliz, uma cidade fictícia do estado de Minas Gerais. Helena é rapariga mais bonita da cidade, onde mora com os seus pais, o sonhador Ataxerxes (Umberto Magnani) e a sensata e amarga Ametista (Ariclê Perez) e com a sua irmã Lídia (Monique Curi). Helena tem um séquito de admiradores, em especial o poeta Zé Diogo (Marcos Winter). Porém Helena sonha com uma vida longe da cidadezinha e dos hábitos provincianos. Quem a acaba por conquistar é o advogado carioca Álvaro (Tony Ramos) que visita a vila e com quem tem um curto mas intenso romance. Helena acaba por casar logo com o seu próximo namorado, o engenheiro agrónomo Mário Silvano (Herson Capri). Porém o casamento fracassa e ambos seguem caminhos separados. Helena reencontra Álvaro e apesar deste estar casado com a desequilibrada Débora (Viviane Pasmanter), os dois retomam brevemente o romance. Helena acaba por ficar grávida e decide mudar-se para o Rio de Janeiro onde dá a luz Bia (Tatyane Goulart) e onde se passa o resto da acção.
Oito anos mais tarde, Helena trabalha para Cândida (Laura Cardoso), a mãe de Álvaro. Entretanto, Bia torna-se muito amiga de Alvinho (Eduardo Caldas), filho de Álvaro e Débora, sem que as duas crianças saibam são irmãos. Tudo isto leva a uma gradual reaproximação entre Álvaro e Helena, apesar dos esforços de uma cada vez mais instável Débora para os separar. Só no penúltimo episódio é que Helena revela a Álvaro que Bia é sua filha. Como castigo final, Débora sofre um acidente e fica paraplégica.
Ao contrário ao que era habitual nas telenovelas, o parzinho protagonista não era uma fonte de virtudes: Helena, ciente da sua beleza, quando queria aproveitava-se dos interesses que os outros tinham por ela e podia ser caprichosa e manipuladora, e Álvaro era ambicioso e materialista, preferindo ao início o dinheiro de Débora ao amor de Helena. Mas quem era mesmo má era Débora, que era totalmente obcecada pelo marido, e fazia todo o tipo de crueldades a Helena e Bia. Até parecia inacreditável que esta era a primeira telenovela da actriz Viviane Pasmanter e que ela só tinha apenas na altura 20 anos, pois interpretou magistralmente uma intensa vilã e uma personagem na casa dos trinta anos, não parecendo muito mais nova que um quarentão Tony Ramos. Lembro-me que a minha mãe, quando via a telenovela, repetia volta e meia: "Esta Débora é uma autêntica víbora!". Por isso era um bocado irónico que cada episódio terminasse com um arco-íris, mesmo sobre um amuo de Helena ou uma patifaria de Débora.
Porém a cena da telenovela que mais me marcou foi uma que envolvia duas personagens secundárias. Tuquinha (Maria Ceiça), filha de Batista (Milton Gonçalves), o administrador do prédio no Rio de Janeiro para onde Helena vai morar, realiza o seu sonho de ser porta-estandarte da sua escola de samba no Carnaval mas acaba por morrer esfaqueada pelo seu ex-namorado Tide (Maurício Gonçalves), um violento marginal.
Outra personagem marcante era o Chico Treva (Edney Giovenazzi), o coveiro de Vila Feliz, portador de uma deficiência mental e de uma aparência grotesca, também ele com um fraco por Helena. Apesar dos maus tratos da população, em especial das crianças que lhe dizem "não me leva, Chico Treva", tem um bom coração e acaba por influenciar a vida de várias personagens, em especial Helena e Bia.
Da banda sonora, há a destacar o tema de Bia, "Estrela Amiga", interpretada pelo grupo infantil Ping Pong.
O Álvaro nunca quis o dinheiro de Débora. Pelo contrário. Os pais dela e que estavam interessados no dinheiro dele. E Débora na segunda parte da novela tem 26 anose não trinta.
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