Graças aos U2 e a Sinead O'Connor, a Irlanda tinha-se tornado no início dos anos 90 uma inesperada potência mundial do rock e um grupo não tardou em aproveitar essa onda de expectativas. Oriundo de Limerick, a terceira maior cidade irlandesa, os The Cranberries eram formados pelos irmãos Noel Hogan (guitarra) e Mike Hogan (baixo), Feargal Lawler (bateria) e pela vocalista Dolores O'Riordan, dona de uma voz tão particular como a de Sinead O'Connor.
O primeiro álbum da banda "Everybody Else Is Doing With, So Why Can't We?" foi editado em 1992, mas foi só entre 1993 e 1994, enquanto acompanhavam os Suede numa digressão nos Estados Unidos, o tema "Linger" começou a gerar algum interesse nas rádios americanas.
Quando o videoclip começou a passar na MTV, foi subindo nos tops e aos poucos se tornou um hit internacional, ao ponto de até ter sido utilizado na banda sonora da telenovela brasileira "A Viagem". Neste álbum também estava "Dreams", ainda hoje um dos temas mais populares da banda.
Entretanto, a banda já tinha em marcha o seu segundo álbum "No Need To Argue", que saiu no final de 1994, onde a banda seguiu por outros rumos. O'Riordan, antes morena e discreta, surgia agora loura e exuberante e o primeiro single não podia ser mais diferente de "Linger", embora se tivesse tornado tão ou mais memorável.
Numa altura em que a Irlanda da Norte ainda vivia o sangrento e aparentemente interminável conflito entre católicos e protestantes e os ataques terroristas do I.R.A. se sucediam, "Zombie" afirmou-se como um novo hino de protesto à violência na Irlanda. Um ataque bombista do I.R.A. em 1993 que vitimou duas crianças serviu de inspiração para a composição do tema.
Mas a par da mensagem, o sucesso de "Zombie" devia-se ao poder dos riffs da guitarra e sobretudo ao refrão sing-along, talhado para ser cantado a plenos pulmões: "In your head, in your head, zombie, zombie, zombie, eh-eh-eh!". O videoclip realizado por Samuel Bayer (que também fez "Smells Like Teen Spirit" dos Nirvana) onde Dolores O'Riordan aparecia como uma espécie de deusa, toda pintada de dourado, e que continha imagens de soldados britânicos a patrulhar Belfast (convencidos que as filmagens eram para um documentário), também causou grande impacto.
Como na altura eu ainda não era grande fã de rock, esta já era suficiente para ser uma das canções mais "pesadas" que eu mais gostava até então. E confesso que cheguei mesmo a pensar que o refrão era uma espécie de cântico índio, ou algo assim, tipo: "Ih-ah-eeeh! Ih-ah-eeeh!". Foi só ao ouvir uma versão eurodance da canção que consegui perceber a letra.
"Zombie" foi n.º 1 dos tops em França, Bélgica, Dinamarca e Austrália, ganhou o prémio de Melhor Canção nos MTV Europe Music Awards de 1995 e o respectivo álbum foi campeão de vendas em todo o mundo, chegando a dupla-platina em Portugal. Dizia quem tinha o álbum que as letras das canções no folheto do álbum eram difíceis de ler pois apareciam escritas numa caligrafia algo imperceptível. Embora gostasse de "Zombie", confesso que preferia outras faixas como "I Can't Be With You" e sobretudo o bem calminho segundo single "Ode To My Family".
Embora nunca mais tivessem repetido o mesmo sucesso nos Estados Unidos e no Reino Unido, os Cranberries continuaram a ter bastante sucesso no resto do mundo, sobretudo na Europa Continental (especialmente em França), até meados da primeira da década do século XXI, destacando-se temas como "Salvation", "When You're Gone", "Promises", "Just My Imagination" e "Analyse". Depois de uma breve pausa onde Dolores O'Riordan editou dois álbuns a solo e os outros membros da banda dedicaram-se a outros projectos, os Cranberries reuniram-se em 2011 e continuam a actuar um pouco por todo o mundo.
Fogo, the memories!!!! :D Acho que ainda tenho isto numa cassete de audio gravado da rádio :)
ResponderEliminarE nunca percebi o raio da letra, só já em adulto vi as lyrics :D
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