por Paulo Neto
Todos os anos, um dos primeiros sinais do arranque da quadra natalícia é a overdose de anúncios a brinquedos na televisão. Quando era petiz e assistia aos espaços de desenhos animados da RTP em finais de Novembro e ao longo do mês de Dezembro, era certo que nos intervalos iria levar com um bombardeamento de jogos e brinquedos que me deixavam em êxtase e com esperanças de receber alguns deles pelo Natal. Obviamente que eu me interessava mais por aqueles essencialmente direccionados aos rapazes (Playmobil, Lego, Transformers, Micro Machines, carros telecomandados, as pistas de automóveis, os jogos de tabuleiro, as consolas de jogos) e só a custo suportava os milhentos anúncios de Barbies, Nenucos e Barriguitas.
Infelizmente não recebi a grande maioria dos brinquedos anunciados que eu cobiçava, como por exemplo, os carros telecomandados Nikko, a estação de serviço de cinco andares da Galp ou os jogos Pulgas Na Cama e Traga-Bolas. Claro que na hora da verdade acabava por não ficar decepcionado pois lá recebia aquele Playmobil que me deixava de olhos arregalados quando o via numa loja ou outros brinquedos menos célebres a quem eu dedicava a mesma atenção que dedicaria aqueles anunciados na TV.
Um dos jogos que muitos, incluindo eu, sonhavam receber a cada Natal era o "Quem É Quem"? Como não podia deixar de ser, o jogo tinha um anúncio mítico: "Acertei! E ganhei no Quem É Quem!"
O jogo era simples, consistindo apenas em dois tabuleiros, cada um com um lote de divertidas personagem com caras mais ou menos cómicas com nomes anglo-saxónicos. Estranhamente no lote de personagens, pelo menos na versão comercializada em Portugal, não figurava o Jack, a personagem que o miúdo do anúncio adivinha. Através de perguntas com resposta de Sim ou Não, cada jogador tinha de descobrir qual era a personagem escolhida pelo adversário antes que este descobrisse a sua. Por exemplo, se tinha chapéu, cabelo louro, nariz grande, bigode... Consoante as respostas, os jogadores iam eliminando hipóteses baixando os painéis com as personagens excluídas. Quando só tivesse duas ou três hipóteses finais em aberto, o jogador era obrigado a arriscar.
Lembro-me que ninguém gostava quando lhe calhava uma mulher pois eram apenas cinco mulheres (na primeira versão, chamavam-se Anita, Anne, Claire, Maria e Susan) e os homens eram bem mais. Por isso, habitualmente estabelecia-se uma regra de que não se podia perguntar logo qual o sexo da personagem.
Apesar da sua simplicidade, o "Quem É Quem" era a cada Natal um dos presentes mais desejados, tanto por rapazes como por raparigas. Eu só o tive bem mais tarde, já no final da adolescência, ao comprar a versão "jogo de viagem" mas ainda assim eu, o meu irmão e até a minha mãe ainda nos divertimos a jogar, o que prova que o apelo do "Quem É Quem" transcendia idades.
Pelo que sei, o "Quem É Quem" continua a ser comercializado mas num anúncio que eu vi recentemente, parece que agora está todo electrónico e XPTO, com luzes e botões.
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