terça-feira, 12 de maio de 2015

Nove Semanas e Meia (1986)

por Paulo Neto

Quer goste-se ou não, não há como negar o actual sucesso do filme "50 Sombras de Grey". Mas a pólvora do erotismo para o cinema de grande público não foi descoberta nesta saga. Aliás, apesar de ser um género que só esporadicamente gera grande impacto, verifica-se que cada década parece ter a sua obra de referência: por exemplo, "Emmanuelle" e "O Último Tango Em Paris" nos anos 70 ou "Instinto Fatal" nos anos 90. E nos anos 80, não há como não referir "Nove Semanas e Meia", o filme de Adrian Lyne (senhor habituado a filmar a esta temática, ou não fosse ele também o realizador de "Atracção Fatal", "Lolita" e "Infiel") protagonizado por Kim Basinger e Mickey Rourke.



O filme era a adaptação de um romance autobiográfico de 1978 de Elizabeth McNeill, pseudónimo da autora austríaco-americana Ingeborg Day (cuja identidade só foi revelada após a morte desta em 2011). Mas se o livro era dos anos 70, o filme gritava "ANOS 80!" por todos os poros. Embora tivesse sido rodado em 1984, só foi distribuído em 1986 e apesar de ter sido um fracasso na América, foi um êxito internacional e no mercado de vídeo, deixando para a memória colectiva várias cenas de antologia. De tal modo que é daqueles filmes que muita gente (incluindo eu) pode não ter visto de ponta a ponta mas está bem familiarizada com a história e a maioria das cenas.



O filme narra a história de uma curta mas bastante intensa relação entre Elizabeth McGrath (Basinger), uma mulher divorciada que trabalha numa galeria de arte no SoHo em Nova Iorque e John Gray (Rourke), um corretor de Wall Street, ao longo de nove semanas e meia. Os dois vão se encontrando algumas vezes por acaso e não tardam a consumar a atracção mútua. A princípio, Elizabeth experimenta novos e excitantes prazeres nas pouco convencionais práticas sexuais em que John a inicia. Mas à medida que as experiências vão se tornando cada vez mais bizarras e violentas, Elizabeth cai numa espiral de decadência e colapso mental, vendo-se obrigada a fugir da relação para salvar a sua sanidade mental.



Entre as cenas mais antológicas de "Nove Semanas e Meia" estão por exemplo a cena de sexo à chuva num beco escuro e outra em que Mickey Rourke alimenta uma Kim Basinger vendada com toda a espécie de géneros alimentícios. Duas cenas que no cinema tiveram o seu impacto mas que na vida real não só não teriam tanto glamour, como acabariam com consequências nefastas, como uma pneumonia ou uma maratona de vómitos na casa de banho.



Outra cena icónica é a do strip-tease de Basinger atrás de umas persianas ao som de "You Can Leave Your Hat On" de Joe Cocker, que a partir daí tirou-se a canção quintessencial para ilustrar cenas de strip-tease quer no audiovisual ou na vida real. O filme também incluiu músicas dos Eurythmics, Bryan Ferry, John Taylor (Duran Duran), Stewart Copeland (Police), Corey Hart, Brian Eno e Jean-Michel Jarre. Entre os outros actores, destaque para Margaret Whitton ("O Segredo Do Meu Sucesso", "Um Romance À Medida") e Christine Baranski ("The Good Wife", "Mamma Mia", "Grinch").


"Nove Semanas e Meia" serviu para firmar Kim Basinger como sex-symbol dos anos 80 (no departamento das louras, só Michelle Pfeiffer fez-lhe sombra) e se hoje a sua cara está severamente brutalizada pela prática em part-time de boxe e por cirurgias plásticas pouco felizes, na altura Mickey Rourke era um homem atraente ao ponto de muitas mulheres compreenderem porque é que a personagem de Basinger se submetia a todas as suas taras. 

Nos anos 90, surgiram uma sequela "Outras Nove Semanas e Meia" (com Mickey Rourke a recuperar a sua personagem ao lado de Angie Everhart) e uma prequela "The First Nine and Half Weeks".

Trailer:


Cena da comida:

Cena do striptease:


     

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2 comentários:

  1. Gostaria de ver um dia destes este filme erótico. Foi uma das apostas cinematográficas da RTP na grelha de 1991/1992. Um filme marcante, sem dúvida, depois da escandaleira da "Emanuelle", e antecipou a escandaleira de "Instinto Fatal" e do remake da "Lolita", que não deverá ser tão perfeita como o primeiro filme de Stanley Kubrick.

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    1. Também não o vi, além de algumas cenas soltas que se vão vendo pela TV, mas depois do texto do Paulo também fiquei curioso :)
      E até hoje desconhecia a existência da prequela!

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